sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Acenda a tua luz

 

- Como tu está, meu gatinho?

- Tirando a preguiça, a velhice e o alcoolismo,

me sinto ótimo, baby. Traga a tua lanterna,

que o dia clareou observando sabiás acasalarem

e gatas no cio

nos vigiam.

As noites de novembro são um saco

e os bares andam sem graça.

Acenda a tua luz

antes que o cérebro exploda

e o coração vire pedra.

Baby, dessa vez pinte nossa casa

com as cores certas,

e pare de jurar que a tua rotina

é insuficiente para nos 

derrubar.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Ira

 

A banda Ira consegue acalmar

um lúcido bebum.

Talvez signifique alguma coisa.

Não tem como fugir das tragédias,

vejo no Face, nos sites ou de amigos que me ligam.

Suicídios, o câncer, os negócios estranhos,

listas de inimigos fantasmas.

Não compreendo o fato de ainda ser

um otimista

estranho.

A música desses caras ajuda

a suportar.

 

(B. B. Palermo)



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

As tubulações clandestinas do WhatsApp


Sombras clandestinas

cheiram a urina,

mentiras maravilhosas

alegram ratões

idiotas.

A merda desce faceira

e a todos comove

pelas tubulações do Whats.

Torço para que a bateria do celular volte a ser virgem

e perca sua luz.

Me recolho no quarto escuro

e sozinho me sinto bem.

Uma frase explode na cabeça,

agora de manhã,

segundo tempo do meu sono:

"Alegre-se, talvez alguém se lembre de você

quando morrer".

 

(B. B. Palermo)

 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Mente bloqueada

 

- Beiço, tu não vai acreditar...

- Que manda, Cadelão?

- Uma senhora distinta da city,

daquelas que se enrolam em bandeiras

e rogam aos céus "Oh, Deus! Oh, Pátria! Oh, Família!"

disse que minha mente está bloqueada.

- Putz.

- E complementou:

"Pra um moço cheio de ideias e que poderia

ter um futuro brilhante, isso É LAMENTÁVEL!".

- Deixa eu adivinhar: tu ficou faceiro com algumas cevas

e correu pro Face se divertir um pouco,

debochando dessas mentes notáveis? É isso?

- Rapaz, bem que a monja Coen me disse

que o álcool distrai a mente.

- Acho que a dona da city quase acertou.

O álcool corrompeu a tua mente, hehehe...

- Oh, vida cruel! Eu sempre acreditei

que o álcool me libertaria.

- Deixa de drama, maluco! Vamos beber.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Anjo rebelado


 

Hora de chegar de voadora nos lares,

hora de ser um leão celestial, curioso e furioso

entre os bichos domésticos.

Hora de ser meio santo, meio deus,

e aprender, primeiro, a perdoar a si mesmo,

para depois tentar compreender

as proximidades/distâncias entre a terra e o céu.

Hora de roubar a lanterna do Diógenes, o Cão,

para iluminar as máscaras podres do irmãos

zumbis.

Hora de inventar uma vacina eficaz

que possa abrandar a fúria cancerosa

das ações políticas.

Hora de ser um magrão quixotesco

acompanhado de um gordo sonhador,

montados em seus cavalos

e incendiando nossas tardinhas

afogadas no tédio.

Hora de ser um anjo rebelado

dormindo no leito de prostitutas

beatificadas.

Anjo esse que foi até os lixões

e becos

e favelas

para ver nosso futuro.

 

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Como ser um grande escritor - Bukowski

 

você tem que trepar com um grande número de mulheres
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados;

apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana

e vença
se possível.

aprender a vencer é difícil –
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.

lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas
(em 1977).

e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma derrota total
mesmo que a razão para esta derrota
pareça certa ou errada

um gosto precoce da morte não é necessariamente uma cosa má.

fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente
o tempo é a cruz de todos
mais o
exílio
a derrota
a traição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora de sua janela

bata na máquina
bata forte

faça disso um combate de pesos pesados

faça como o touro no momento do primeiro ataque

e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem?
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo

também.


domingo, 23 de outubro de 2022

Amo ser monge

 

Seu olhar é exótico,

de quem não compreende

o que a aproxima deste ser,

planeta ou meteoro invisível

movendo-se num ritmo

imprevisível.

Tu parece um monge - ela disse.

Depois queimou no fogo do inferno

a política, a arte, a ciência.

Tagarelou tanto, que passei a odiar

a política, a arte, a ciência.

Não tive outra escolha senão fazer uma pose

de derrubar as bolsas, falando:

Amo ser monge.

Torto, manco, cérebro enorme e vazio,

bíceps avantajado de quem mora em academia,

pernas finas e um gingado

de capoeira.

 

(B. B. Palermo)


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O último punk

 

- Cadelão, Cadelão... Porra, Cadelão!

- Fala, Beiço... Deixa eu dar mais um pega.

- Não, não, cara. Não quero mais fumar.

Olha ali, do outro lado da rua.

- Quê? Os tiras?

- Capaz. Não viaja.

Olha aqueles dentes tortos,

e o sorriso banguela...

- Onde?

- Ali!

- Porra! É ele? Tu tem certeza de que isso é maconha?

- Bah, Cadelão. Não sei. É ele ou não é?

- Velho... Quem mais seria? Observa, violão detonado,

cantando "cheirando cola em uma sacola de mercado".

Claro que é ele!

- Meu, tenho certeza que um dia cruzei pelo maluco

na praia de Garopaba.

Lembro que carregava uma prancha de surf

e estava cheio de loves com uma fofa.

 

- Wander... Wander!

- Quê?

- Chega aqui. Canta pra nós aquela...

- Bah, garotos, só canto por dinheiro.

Quero 10 pilas ou um pega.

- Claro, claro.

- "Bebendo vinho", pode ser?

- Vai tomar no c*, Wander! Que música é essa?

Toca as tuas. "O último romântico da rua Augusta",

"Canivetes, corações e despedidas".

E, depois, a cereja do bolo:

"Jesus voltará"!

 

(B. B. Beiço)




terça-feira, 18 de outubro de 2022

Plateias

 

- Wolve, tu pedala e corre por aí,

e filma e cronometra tua performance,

pra te exibir nas redes sociais,

ou são as tais redes que te convocam e

"obrigam" a tamanho esforço?

- Véio, eu curto o que tô fazendo,

embora não saiba se no mês que vem

vou persistir com tal esforço.

- Imagine que um de nós sobreviva a um naufrágio,

junto com uma garota belíssima, refugiando-se numa ilha...

Nos sentiremos felizes se não pudermos mostrar

aos amigos e curiosos a diva que nos faz companhia?

- Hehehe... Elementar, Beiço, elementar...

- Acho que não tememos a morte ou a solidão.

Nosso pavor é o de hoje não termos uma plateia.

- Deus me livre, nem quero imaginar que no meu velório

vai ter uma plateia fingindo que algum dia

deu importância pra minha vida!

 

(B. B. Palermo)


Pobres zumbis

 

Carros passam,

pessoas passam,

essa vida é inútil, meu amor.

Seres barulhentos,

opiniões castradas e

castradoras,

olhares faiscando como fuzis.

Tudo são quedas-d'água

que fluem cruelmente em nosso

interior.

Existe algo que nos arrebate

que nos faça ir além

do obscurantismo e do ódio e das intrigas

e dos planos frustrados

pro amanhã?

Ah, pobres zumbis!

Estamos encurralados

e embrutecidos,

somos uns requintados

mortos-vivos.

 

(B. B. Palermo)


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Sonhando com a monja Coen

 

Escuta só, Cadelão, o sonho que tive ontem de noite:

estava numa sala com pouca luz, incensos queimando,

num silêncio que dava até pra ouvir a respiração

e as batidas do coração.

A monja Coen tentava me conduzir ao relaxamento,

ao controle dos pensamentos e tals.

Dizia "Respira fundo, Beiço... depois solta... solta devagar..."

O mais louco é que, durante o sonho, eu estava

numa ereção do caralho, o que acontece com frequência,

depois que passei a consumir açafrão,

alho e pimenta do reino.

Cara, acho que não era tesão pela monja,

creio que era uma mistura entre meu cotidiano relapso

e a vida "ideal" que a monja me inspira.

Meu, nosso subconsciente é surreal.

Mais perto do desfecho do sonho

a monja despontava em imagens sedutoras

e se transfigurava na ministra, aquela,

vestindo uma lingerie pré-adolescente

e usando uns acessórios de sex shop,

me chamando "vem, vem, Beiçudinho escroto!".

 

(B. B. Palermo)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...