quinta-feira, 19 de maio de 2016

Neuras

Noite de tempestade. Possuído, já de madrugada, liguei pra ela. No outro dia ela rugiu: “Por que me ligou naquela hora?”. Sem ideia do ocorrido, limitei-me a responder: “Não me lembro. Bebi todas. Desculpe”. Consciente dos desmandos do meu eu mais profundo, de tudo o que ele apronta quando estou fragilizado, horas depois enviei-lhe esta mensagem: “Te liguei sem querer... querendo”.
Tinha esperança de que isto faria algum efeito em seu coração. Rolou silêncio. Indiferença. Então percebi que sou o único que precisa de um ombro pra chorar. Inocente, me amarrei em quem não tem ombro pra dar.
Passaram-se dois, três dias, e tudo foi silêncio. Já acostumado com tantas cusparadas afetivas, narrei o episódio pra alguns amigos, e eles riram. “Pobre poeta”. “Agora você está no ponto de literatura. Em quantidade e coisa que presta”. Estaremos aguardando”.
Assim que a noite cai, respiro fundo. Finalmente meu eu poético emparedou o outro eu, pai de tantas neuras. Por alguns dias tudo estará sob controle. Escreverei um best seller, se depender da sua aura. Óbvio.  Sempre haverá o risco da velha tempestade.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Encontrei no senhor Google


Vendo nosso país navegar nas águas do incerto presente, rumo a um melancólico futuro, busquei algum consolo no grande poeta e cronista Paulo Mendes Campos. 

 “Um choro explica toda a minha vida,/ a que vivi e a que senti, ouvida/ relembra meu futuro entrelaçado/ no Rio presente/ mas passado,/ jarras ansiosas nas janelas/ até que novas flores morem nelas,/ bondes unindo o triste ao paraíso/ de um abraço, de um sorriso,/ tranças que se destrançam por um nada /se um anjo pula corda na calçada/ namorados dançando o ritual/ do fogo na moldura do portal...”

domingo, 15 de maio de 2016

Chutar o balde


Ontem você viveu um dia que gostaria de esquecer. Em vez de ficar na tua diante de umas baboseiras que alguns “amigos” postaram no Watsapp, num grupo articulado para jogos de futsal, você se aventurou em argumentar sobre. Depois de ler umas ****** que dois retardados postaram, fazendo piadinhas sobre tua pessoa, você decidiu pegar pesado, ironizando sobre o grau de inteligência dos mesmos. Foi o teu primeiro erro fatal: você esqueceu que dois terços da população brasileira não consegue entender um texto. Imagina então qual a sua probabilidade de compreender uma ironia. Você jogou no mesmo nível de baixeza, e levou o troco. Te chamaram de boiola,  porque ficava se achando, te mandaram pra Venezuela ou pra Cuba (quem dera!)... Você se deprimiu, claro, e saiu desse grupo no watsapp (isso é a democracia... Você só aceita ouvir e ler o que quer...). Você demorou algumas horas pra se dar conta de que as pessoas perderam totalmente o respeito. Aí você repensa tua vida. Mudar de estado, ou de país, estudar espanhol e, se de fato se confirmarem as nuvens negras que se insinuam por aqui, ir-se embora... Hoje, quem mais cobra a conta é o sentimento de culpa: perder tanto tempo compartilhando opiniões, em torno de um senso comum maçante, enquanto as boas leituras estão cada vez mais escassas. Depois da ressaca moral, e do balanço final, talvez tenha restado um saldo positivo: há momentos em que devemos chutar o balde. Porém, sem tanto stress meu amigo. Parodiando o que diz o grande Pessoa, pra tudo valer à pena, a alma não pode ser pequena.

Imagem do site http://www.equilibrioemvida.com/2016/04/designer-cria-imagens-que-nos-convidam-a-filosofar-sobre-a-vida-moderna/


Matemática - Paulo Mendes Campos


O homem diminui à medida que a cidade cresce.

Quando aldeota, cada cidadão era um gigante. Orgulho da terra. Quando província, cada morador, um considerável conhecido. Filho da filha do fulano. Quando cidade, habitante, transformado e reduzido. Hoje, cidade metrópole, apenas um pequeno inquilino. No máximo, um número. Sob controle da máquina do Estado, para pagar e recolher, matematicamente, todos os impostos. Os devidos impostos.

(Jornal Diário da Tarde)

Imagem do designer polonês Igor Morski, do site http://www.equilibrioemvida.com/2016/04/designer-cria-imagens-que-nos-convidam-a-filosofar-sobre-a-vida-moderna/

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O homem nu - Fernando Sabino


Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Os livros e o custo das coisas


Estou lendo um livro do filósofo americano Thoureau, que tem como título Walden. É um daqueles livros que te pega na veia, quando buscamos respostas sobre o que é realmente importante na vida. Para quem pensa em levar um cotidiano simples, sem muito apego às coisas, já que as coisas que nos rodeiam (dependendo de como lidamos com elas) podem nos tirar a liberdade, diz Thoureau: "O custo de uma coisa é a quantidade do que chamo de vida que é preciso dar em troca, à vista ou a prazo".
Dias atrás conversava com um amigo sobre o livro de Thoureau. Disse-lhe que suas ideias confirmam o que venho intuindo sobre o que considero importante fazer no resto de tempo que me resta. Pensei estar exagerando, pois Walden foi escrito em 1854. Foi aí que meu amigo disse que a leitura desse livro "salvou" sua vida. Atravessava uma fase crítica, não via um sentido para continuar a viver. Foi do encontro com as ideias de Thoureau que ele reviveu.
Ontem, em certo momento da leitura do livro, Thoureau confirma o que meu amigo sentiu. Vejam o que ele diz:
"Nos livros, provavelmente, existem palavras exatas sobre nossa condição, as quais, se realmente conseguíssemos ouvir e entender, seriam mais saudáveis para nossa vida do que a manhã ou a primavera, e possivelmente dariam um novo aspecto à face das coisas que vemos. Quantos homens marcaram a data de uma nova época em suas vidas com a leitura de um livro! Talvez exista o livro que nos explique nossos milagres e nos revele outros" (Walden, p. 110).

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Poesia, é o que temos para hoje


Faz uma semana que ela te deixou e você ainda não arranjou um novo amor. Para sublimar a dor você viajou na poesia. Escreveu rimas breves e líquidas, como o amor que você sentiu na carne ou viu nas novelas.
Novo sonho, outra perspectiva no olhar, agora você aborda as pessoas nas ruas, praças, feiras e shoppings. Você grita, para plateias apressadas, dizendo que há pouca sensibilidade, pouca vogal, rimas e gramática. Devora Drummond, Pessoa, Adélia Prado, inclusive o diabo, dorme no máximo cinco horas por dia.
No jantar teu amor flertou com outra, o mundo veio abaixo, nada mais fez sentido. 
Nas festas e feiras todo mundo quer beber e dançar canções simplórias e repetitivas, de dor de corno e sexo parcelado a juros altos, sem dar a mínima pra poesia.
Mas você não pode perder o foco. Tens de ser a número um. A sociedade competitiva e sua meritocracia está de olho em você!
Vai, seja o topo da pirâmide social. Tens um nome e talentos a revelar e, se Deus quiser,  o mundo logo vai aplaudir.
Engole o choro, guarde na gaveta o teu sentimento em forma de poema, providencie roupas de marca, retoque a maquiagem e grite para quem quiser ouvir: "Poesia... É o que temos para hoje!"

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

Imagem do designer polonês Igor Moroski, do site http://www.equilibrioemvida.com/2016/04/designer-cria-imagens-que-nos-convidam-a-filosofar-sobre-a-vida-moderna/.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Início de inverno


Quanto mais você quer que ele fale, mais ele se cala. Curioso pelo seu comportamento perto do inverno, pergunto aos plátanos, quando saio a caminhar.
Com o olhar, pergunto às garçonetes, que insistem em satisfazer minha gula de anjo. Mas de anjo não tenho nada, pois ando curioso com o movimento de suas ancas e pernas, quando sorriem para os clientes em cada mesa que passam.
Minhas perguntas silenciosas dirigem-se aos dramas da amiga que conheci a poucos dias. Mas o que ela sente não tem nada a ver com a profusão de minhas tristezas.
Olho pra todo lado pra evitar olhar o centro. Mas este desliza, torna-se oco. O que se esconde por lá?
Minha gata simplesmente sumiu. O ambiente está abafado, as contas descontroladas, na última semana de abril.
Um conhecido diz que sua prole aumentou. O medo do câncer também. O medo dos agrotóxicos e do excesso de luz.
Um quilinho a mais, o esforço ladeira abaixo.
O conselho da amiga, tão singelo e ingênuo.
Quanto mais você quer falar, mais você se engasga.
Quanto mais você quer emagrecer, mais você engorda.
Devem ser bons presságios, ou sinais imperceptíveis do inferno. Ou, quem sabe (tomara), bons fluidos que sopram com os primeiros frios deste inverno.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sábado, 23 de abril de 2016

Amada amante...


ET - É a bela, recatada e do lar?
TECO - Não. A outra. 
Para o bem da tradição, da família e da propriedade.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

terça-feira, 19 de abril de 2016

Don Juan

Eu sou a alegria da dona de casa, que dedicou sua vida a criar filhos e cuidar do marido.
Sou a esperança daquelas que abriram mão de realizarem suas mais loucas fantasias.
Eu sou o delírio do amor tardio cheio de recompensa.
Desperto as garotas para salão de beleza, academia, a parcelar cremes e perfumes, fazer ioga e massagens, atualizar o dízimo na casa de Deus.
Abro as portas das livrarias para que elas comprem livros que ensinam a arte de ser feliz e de como ter uma alimentação saudável, uma mente saudável, e as estimulo a que decorem as rezas dos gurus da autoajuda.
Abandonei a missão de inventar a minha ficção para ajudá-las a insuflarem a sua.
Deixei de ser fixo, de partir de um ponto fixo, de ter ideia fixa. O que me fixa agora são os movimentos da sua paixão.
Não sei se vai ter segundo tempo. Eu sou o juiz padrão Fifa que deixa o jogo correr.
Eu sou o santuário onde elas rezam. O santo do altar, as velas perfumadas.
Eu sou o tempo da Quaresma, o tempo da Novena, o templo da vitrine do shopping.
Eu sou o apelo para um telefonema na manhã seguinte dizendo “amor, senti tua falta”, “amor, pensei o tempo todo em você!”.
Eu sou a noite mal dormida impichado pelo ciúme febril, as unhas roídas pela alta voltagem do medo de ser abandonado.
Eu sou as fantasias que elas repetem e oscilam como o pêndulo.
O tempo passa, o tempo não passa, e a dor é incompreensível, nasce num lugar e se sente noutro.
E se eu estiver blefando?
Em vez de ser “o cara”, se eu fosse o vírus da gripe, o inseto da zika, o corrupto inocentado, se eu fosse um verme à espera da tua morte para corroer tuas carnes de maneira impiedosa, se eu fosse o Deus tão proclamado, ou um reles mortal pecador promíscuo irresponsável, você me destituiria do cargo?
Muito prazer. Na minha fantasia, sou Don Juan.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Sexo explícito

Chamou-me atenção esses dias num grupo que criamos no wattsapp para articular nossos jogos de futsal semanais. Uma das primeiras postagens, de um amigo, não foi para confirmar se ele ia jogar naquele dia ou não. Ele simplesmente postou oitenta e poucos vídeos pornôs.
Na hora pensei se nós adultos não estamos cada vez mais infantilizados... Acreditava que as energias sexuais em pré-adolescentes e adolescentes são bem mais evidentes...
Bom, pensei, deve haver alguma explicação para esse bombardeio de videos pornôs em redes que permitem as pessoas mostrarem seu "verdadeiro eu" que, à luz do dia, é/deve ser reprimido - para o bem da saúde mental das famílias e dos casamentos. 
O fato me fez lembrar desta história do Luis Fernando Veríssimo, "Sementinhas":


- Professora, sabe sexo explícito? 
- Pronto - pensou a professora. Chegou a hora. A turma ainda não estava na idade para educação sexual, mas quem sabe qual é a idade, hoje em dia?
- Professora, sabe sexo explícito?
- Eu já ouvi, Maurício. É sobre isso que nós vamos conversar hoje.
- Mas, professora...
- Senta, Maurício.
O menino estava impaciente. Ela entendia. Todos deviam estar impacientes. O sexo estava por toda parte. Era natural a curiosidade deles. Mesmo naquela idade.


- Todos sabem o que é uma planta, não sabem? Agora eu quero o nome de uma planta. Judite?
- Flor - disse a Judite.
- Muito bem. E que tipo de flor?
- Rosa! - apressou-se a dizer a Rosa.
- Muito bem. Eu vou desenhar uma rosa. E a professora desenhou uma semente.
- Isto parece uma rosa?
- Não senhora.
- Claro que não. Isto é uma semente. É o começo da rosa. Toda plantinha começa com uma semente. Alguém bota uma semente na terra e a plantinha vai crescendo, vai crescendo...
- Professora...
- O que é, Maurício?
- Sabe sexo explícito?
- Espera um pouquinho, Maurício. Nós já chegamos lá.
- Mas, professora...
- Senta, Maurício.
- Mas...
- Senta!
- Tá bem.
E o menino sentou, com cara de mártir.
- Primeiro tem a semente. Depois a plantinha vai nascendo da semente. Vocês também começaram de uma sementinha, como esta. Dentro da barriga da mamãe. E quem foi que botou a sementinha na barriga da mamãe? Alguém sabe?
- Foi o meu pai - disse o Maurício. - Mas, professora...
- Foi o papai, certo. Vejo que essa parte vocês já sabem. E como é que o papai põe a sementinha na barriga da mamãe? Quem sabe?
Silêncio.
- Professora...
- O que, Maurício...
- Nós sabemos tudo isso.
- Tudo?
- Tudo - confirmou a Rosa.
- Sabe sexo explícito? - insistiu o Maurício.
- Sei - disse a professora, desconfiada. - Que que tem sexo explícito?
- Passarinho faz sexo expíucito.
- Como é?
- Expíucito. Passarinho faz sexo expíucito.
Por um longo tempo, enquanto as crianças riam, a professora ficou paralisada. Depois apagou a semente do quadro-negro e disse para todo mundo pegar lápis colorido e desenhar uma paisagem bem bonita.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...