terça-feira, 29 de março de 2016

Café com leite - Antônio Maria


É preciso amar, sabe? Ter-se uma mulher a quem se chegue, como o barco fatigado à sua enseada de retorno. O corpo lasso e confortável, de noite, pede um cais. A mulher a quem se chega, exausto e, com a força do cansaço, dá-se o espiritualíssimo amor do corpo.
Como deve ser triste a vida dos homens que têm mulheres de tarde, em apartamentos de chaves emprestadas, nos lençóis dos outros!  Como é possível deixar que a pele da amada toque os lençóis dos outros! Quem assim procede (o tom é bíblico e verdadeiro) divide a mulher com quem empresta as chaves.
Para os chamados “grandes homens”, a mulher é sempre uma aventura. De tarde, sempre. Aquela mulher, que chega se desculpando; e se despe, desculpando-se; e se crispa, ao ser tocada, e cerra os olhos, com toda força, com todo desgosto, enquanto dura o compromisso. É melhor ser-se um “pequeno homem”.
Amor não tem nada a ver com essas coisas. Amor não é de tarde, a não ser em alguns dias santos. Só é legítimo quando, depois, se pega no sono. E há um complemento venturoso, do qual alguns se descuidam. O café com leite, de manhã. O lento café com leite dos amantes, com a satisfação do dever cumprido.
No mais, tudo é menor. O socialismo, a astrofísica, a especulação imobiliária, a ioga, todo ascetismo da ioga... tudo é menor. O homem só tem duas missões importantes: amar e escrever à máquina. Escrever com dois dedos e amar com a vida inteira.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Fernão Capelo Gaivota


Ao invés de semearem
"verdades" em solo pedregoso
as pessoas poderiam
bater asas
até o alto
libertarem-se da manada
como fez
Fernão Capelo Gaivota.

Você é livre para opinar.
Voar requer sair do chão.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

terça-feira, 22 de março de 2016

Deus é naja - Caio Fernando Abreu


Tenho um amigo, cujo nome, por muitas razões, não posso dizer, conhecido como o mais dark. Dark no visual, dark nas emoções, dark nas palavras: darkésimo. Não nos conhecemos a muito tempo, mas imagino que, quando ainda não havia darks, ele já era dark. Do alto de sua darkice futurista, devia olhar com soberano desprezo para aquela extensa legião de paz e amor, trocando flores, vestida de branco e cheia de esperança.Pode parecer ilógico, mas o mais dark dos meus amigos é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Rio sem parar do humor dele- humor dark, claro. Outro dia esperávamos um elevador, exaustos no fim da tarde, quando de repente ele revirou os olhos, encostou a cabeça na parede, suspirou bem fundo e soltou essa: -"Ai, meu Deus, minha única esperança é que uma jamanta passe por cima de mim..." Descemos o elevador rindo feito hienas. Devíamos ter ido embora, mas foi num daqueles dias gelados, propícios aos conhaques e às abobrinhas.

Tomamos um conhaque no bar. E imaginamos uma história assim: você anda só, cheio de tristeza, desamado, duro, sem fé nem futuro. Aí você liga para o Jamanta Express e pede: -"Por favor, preciso de uma jamanta às 30h15, na esquina da rua tal com tal. O cheque estará no bolso esquerdo da calça". Às 20h14, na tal esquina (uma ótima esquina é a Franca com Haddock Lobo, que tem aquela descidona), você olha para esquina de cima. E lá está- maravilha!- parada uma enorme jamanta reluzente, soltando fogo pelas ventas que nem um dragão de história infantil. O motorista espia pela janela, olha para você e levanta o polegar. Você levanta o polegar: tudo bem. E começa a atravessar a rua. A jamanta arranca a mil, pneus guinchando no asfalto. Pronto: acabou. Um fio de sangue escorrendo pelo queixo, a vítima geme suas últimas palavras: -"Morro feliz. Era tudo que eu queria..."

Dia seguinte, meu amigo dark contou: - "Tive um sonho lindo. Imagina só, uma jamanta toda dourada..." Rimos até ficar com dor na barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele Consolo na Praia, sabe qual? "Vamos não chores / A infância está perdida/ A mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu" – ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além da mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema – Drummond, o Carlos, pergunta: "Mas, e o humour?" Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja - descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.Segure seu humor. Seguro o meu, mesmo dark: vou dormir profundamente e sonhar com uma jamanta. A mil por hora.

segunda-feira, 21 de março de 2016

quinta-feira, 10 de março de 2016

Lista para a festinha

É natural olhar e escutar. Mas o poeta espera da vida muito mais. 
Não me conte em detalhes teu café da manhã. Nem o jantar com amigos, o que comeram, beberam e quanto custou.
O poeta não liga para o que cada um vai pagar, e se isso é justo. Não liga para a maneira como você administra teu patrimônio. Se vai se empanturrar de cerveja ou de refri na festa.
Além de organização, a vida precisa de emoção.
mais do que repetição - como a musiquinha da Xuxa no carro da vendedora de picolés - o cotidiano quer nos despertar.
Mais do que suprir necessidades fisiológicas, o café da manhã deveria dar prazer. Escute teu amor narrar o sonho bizarro que teve. Dê um tempo para as contas.
Mais do que ordens, obrigações e demarcações de poder, o trabalho deveria humanizar.
O poeta observa e conclui: a vida oferece muito mais!
Escute o pulsar da vida. Em alguns casos os excessos triplicam, em outros a escassez alardeia. Lugares onde a estupidez dá as cartas, lugares onde o amor faz besteira.
As coisas acontecem. O mais complicado é nossa sensibilidade captar isso... E se encantar.
Houve uma lista para a festa de amigos. Durante a semana o grupo debateu pelo whatsapp onde, quando e por que, qual seria o cardápio e o que cada um iria pagar.
mais sensibilidade e menos administração.
Como o prazer andou esquecido, perdi meu apetite. Vou ficar por aqui, embriagado pelo pulsar de um bom livro.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

domingo, 6 de março de 2016

Para Bukowski


Ridícula essa inocência de olhar pro umbigo e fazer planos de perder peso, aumentar a musculatura e angariar olhares e corpos de algumas vadias. Aiaiai que bosta quase não ler e escrever, quando saem algumas linhas sofridas é pra amassar a folha e acertar a lixeira. O pior é o vexame matutino de dar de cara com o que escreveu ontem à noite depois de entortar uma garrafa de líquido duvidoso. 
Ridícula essa pretensão de imitar Charles Bukowski.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Inri Cristo


“Eu te perdoo por não me levares a sério”, fala docemente o homem que se autoproclama Jesus Cristo.
Tudo o que ele diz é em obediência a Deus, que chama de “Meu paizinho”.
Essa devoção a um Deus onipresente e onipotente, em vez de me comover, me faz rir.
Mas não o rejeito. Com tanta igreja e representantes de Deus no mercado, é ele quem mais me atrai. É que, como eu, ele também está ******* pra essa sociedade de *****.
Carrega uma cruz: ser impedido de falar. Não ter mídia. E tem razão. Com tantos canais falando ***** por aí, por que não deixar ele viajar no verbo?
Somos parecidos. Embora ele seja profeta do caos, das revelações e previsões catastróficas, me pareço com ele, no aspecto poético, pois a tudo observamos e escutamos, não abrimos igrejas nem cobramos dos fiéis.
Mas não deixo de rir quando ouço dizer que Deus fala com ele. Sua obediência e fidelidade me dão inveja. Por que não consigo ser assim? Nessas horas quase me autoflagelo.
A culpa se esvai quando percebo que também sou contador de histórias, como ele, o padre, o pastor, o pai, a mãe, a professora, o avô, a avó... Creio que, quanto mais imaginação e invenção, mais agrada a Deus.
Mas que entidade é esse Deus?
Se foi ele que criou tamanha máquina (fantástica) que é o universo, por que dedicaria tempo a se importar com nossas *********?
E se Jesus, na verdade, for representado não por uma figura humana, e sim, por exemplo, por uma vaca, gato ou jumento?

Diante de tantos discursos, decidi dar mais crédito aos mais cômicos e imaginativos. Eles tornam a vida mais leve. É por isso que já sou quase fã de Inri Cristo. 

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 2 de março de 2016

Ana Cristina Cesar

faz três semanas
espero
depois da novela
sem falta
um telefonema
de algum ponto
perdido
do país

A poeta carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983) foi escolhida como autora homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty em 2016, que vai acontecer entre 29 de junho e 3 de julho, em Paraty (RJ). Ela é a segunda mulher a ser lembrada pelo evento. A primeira foi Clarice Lispector em 2005. Na edição deste ano, o autor homenageado foi o escritor Mário de Andrade.
Expoente da geração da Poesia Marginal, que nos anos 1970 se firmou distribuindo edições caseiras no Rio de Janeiro, ao largo do mercado editorial e sob o peso da ditadura militar, Ana C., como era chamada por amigos, fundou uma vertente marcante na poesia brasileira contemporânea (Fonte G1).

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

No fundo, somos uns solitários


A esposa reclama que a máquina de lavar roupas estragou. A outra diz que está com saudade, que foi ao salão, mudou o cabelo e está louca para encontrá-lo.
Trocam-se os papéis.
Separa-se, encara pensão alimentícia e torna a garota linda e cheirosa sua esposa oficial. Reordenam-se as regras e logo a ex-outra é quem vai reclamar do vazamento da torneira da pia e da caixa de descarga do banheiro.
Enquanto isso a ex-oficial tricota artimanhas para estar sempre por perto e reivindicar o que lhe é de direito: fazer o impossível para tornar a vida dele um inferno.
Ser e não ser. Um dia somos namorados, noutro dia não. Um dia maridos ou esposas, noutro dia não. Amantes e ex-amantes. O campeonato da vida muda suas posições em alta velocidade. E nem percebemos que somos uns tontos!
Não descrevo fatos reais, munição perfeita para sites e revistas de fofocas. Farejo assunto qualquer para aguçar a curiosidade de meus onze leitores (pressinto que logo, logo, chegarei a quinze).
Fios, teias, boa parte imperceptíveis, nos conectam à realidade. Mas como esta anda vulnerável à neblina e ao lusco-fusco do “ouvi dizer”!
Será que um marido perfeito pode ser amante perfeito? Será que a amante perfeita pode ser esposa perfeita? Quem consegue andar tranquilo nas trilhas da monogamia? E nas trilhas da poligamia?
Inventamos as regras não sem renúncia. Culpamo-nos quando desobedecemos as mesmas. Também inventamos a tragédia e a comédia? Somos tontos, ridículos e sérios ao mesmo tempo. E temos dificuldade para perceber o quanto estamos aprisionados.
Leio um poema de Neruda e me pergunto como ele vê essas danças de troca de papéis. Somos razão, somos pulsão, somos vontade de poder, de sexo, de carinho... e de solidão.
Diz um trecho do poema “Cavaleiro solitário”, traduzido por Paulo Mendes Campos:

 “Os entardeceres do sedutor e as noites dos esposos
unem-se como dois lençóis me sepultando,
e as horas depois do almoço em que os jovens estudantes
e as jovens estudantes, e os sacerdotes se masturbam,
e os animais fornicam diretamente,
e as abelhas cheiram a sangue, e as moscas zumbem coléricas,
e os primos brincam estranhamente com as suas primas,
e os médicos olham com fúria para o marido da jovem paciente,
e as horas da manhã em que o professor, como por descuido,
cumpre o seu dever conjugal e toma o café,
e ainda mais, os adúlteros que se amam com verdadeiro amor
sobre leitos altos e longos como embarcações;
seguramente, eternamente me rodeia
este grande bosque respiratório e enredado
com grandes flores como bocas e dentaduras
e negras raízes em forma de unhas e sapatos.”


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Poema de Emily Dickinson


Neste poema Dickinson fala a respeito de um enterro que ela provavelmente presencia por morar perto de um cemitério. Este enterro é associado por ela ao seu próprio, como revelado na terceira estrofe. A tradução é de paulo Mendes Campos.

Não era a morte, pois eu estava de pé
e os mortos estão todos deitados; 
não era a noite, pois todos os sinos 
punham a língua de fora ao meio-dia. 

Não era o orvalho, pois na carne 
sentia sirocos a rastejar... 
Nem o fogo, pois os meus pés marmóreos 
podiam guardar para si um frio santuário. 

Era no entanto como se fossem. 
Formas que vi 
arrumadas para o enterro 
lembravam as minhas, 

como se a minha vida, recortada 
e emoldurada, 
ficasse irrespirável sem uma chave; 
e como se fosse meia-noite, um pouco,

quando tudo que bate de leve pára, 
e o espaço olha em torno, 
e a geada horrenda, manhãs primeiras de outono, 
bloqueia o chão palpitante. 

Principalmente como o caos – frio, incessante – 
sem saída ou ponto de apoio, 
sem qualquer notícia da terra 
para justificar o desespero.

ORIGINAL

1. It was not death, for I stood up, 
2. And all the dead lie down; 
3. It was not night, for all the bells 
4. Put out their tongues, for noon. 
5. It was not frost, for on my flesh 
6. I felt siroccos crawl, 
7. Nor fire, for just my marble feet 
8. Could keep a chancel cool. 
9. And yet it tasted like them all; 
10. The figures I have seen 
11. Set orderly, for burial, 
12. Reminded me of mine, 
13. As if my life were shaven 
14. And fitted to a frame, 
15. And could not breathe without a key; 
16. And I was like midnight, some, 
17. When everything that ticked has stopped, 
18. And space stares, all around, 
19. Or grisly frosts, first autumn morns, 
20. Repeal the beating ground. 
21. But most like chaos,--stopless, cool, 
22. Without a chance or spar,-- 
23. Or even a report of land 
24. To justify despair.

(Poema extraído da monografia de Aline Dimingues de Paiva. Cfe. site http://www.ufjf.br/bachareladotradingles/files/2011/02/Aline-Domingues.pdf)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O galo do professor


O galo Gedeão, antes condenado, renasceu. De lambuja, ganhou uma companheira, a Gerusa. Os dois desfilam no pátio de uma casa a duzentos metros do mar, na praia de Arroio Teixeira. Parecem um casal de velhinhos, renovados após descobrirem um grande amor. Agradecida com o doce lar, Gerusa brinda a humanidade botando um ovo por dia.
Vamos à história do simpático casal. Um professor, o galo sapiens da história, após uma semana comendo frutos do mar, rememorou os galos e galinhas caipiras que sua mãe assava aos domingos no forno de fogão à lenha, acompanhados da imbatível salada de batatas – o que seria da vida dos descendentes de alemães sem a maionese aos domingos?
Naquela noite chegou a sonhar com o imponente galo caipira assado na sua infância. Junto aos familiares, em torno da mesa, o banquete só iniciava depois da oração puxada pelo pai. Após agradecerem a Deus, o pai escolhia o primeiro pedaço de carne, seguido pelos irmãos mais velhos.
Com tantas lembranças da infância, galináceos criados no pátio vivendo de alimentação saudável, como grama, frutas, milho e legumes, o professor não titubeou em rejeitar a ideia de se fartar com um daqueles frangos assados aos domingos em vários pontos da cidade, criaturas que foram abatidas com mais ou menos sessenta dias de vida, alimentadas com ração duvidosa, muitas vezes repletas de hormônios.
Pensou que um banquete à altura dos da sua história não podia ser apressado. Precisava engordar o galo à sua maneira. 
O galo foi encomendado a preços módicos, de um feirante. No dia da entrega este não trouxe um jovem e imponente galo, como prometera. Era um galo idoso, de esporas mal cuidadas. O que fazer? Fechado o negócio, o galo passou a viver livre, leve e solto no pátio. E como na natureza tudo renasce, no espaço verde e pertinho do mar, respirando toda aquela maresia, o galo revigorou. Em pouco tempo estava no ponto... No caso: pronto para o abate. Era o momento tão esperado: fazer um delicioso frango caipira com direito a todos os temperos que cultivava no pátio.
Se quando criança via sua mãe puxar o pescoço de galos e galinhas, depená-los, temperá-los e assá-los, particularmente o professor nunca o havia feito. Sua consciência deu sinal de alerta quando pensou na morte do galo.
Invadiram a memória do professor lembranças da infância, as aulas de catecismo e a missa obrigatória nos finais de semana. A missão de Noé de salvar um casal de cada espécie de bichos que povoavam a terra insuflou sua sensibilidade. As determinações de Deus a Noé, de proteger todos os bichos, despertou o lado humano, demasiado humano, do professor. E ele teve certeza de que devia proteger, batizar e dar uma companheira a Gedeão.
Foram também decisivas suas leituras de Immanuel Kant, nas aulas de filosofia no ensino médio. Para o grande filósofo alemão do século VIII, se você tem consciência do que faz, e o faz usando o bom senso de homem livre, então você sabe que o melhor para você não deve causar danos aos outros. Em outras palavras, que a realização do teu desejo não prejudique os outros. E, dando mostras de seus progressos em termos de sensibilidade e humanidade, o professor compreendeu que esses outros  não significam apenas os sapiens, mas também os bichos. No caso desta história, os galináceos.
Hoje o galo não é apenas o dono do terreiro. Às cinco da madrugada inicia uma sequência de cantos. Além de pontual, exibe um potentíssimo gogó. Aos poucos seu canto desperta outros galos. O canto de um puxa o canto do outro, dando mostras de que estão sintonizados. Ensinam-nos uma lição: que sozinhos não bordamos uma nova manhã, a cada manhã.
Mas o reino animal tem suas surpresas e armadilhas. Gedeão e Gerusa correm perigo. Precisamos avisar o professor de que as raposas da praia estão à espreita. Por enquanto, com tantos turistas, comida é o que não falta. Mas quando o verão acabar...
Como na vida tudo se renova, o professor não se contenta em sentar na varanda dando milho aos galináceos, esperando mais e mais ovos e realizando a vontade de Deus: “Crescei e multiplicai-vos”.  Ele também planeja criar uma associação para cuidar dos bichos maltratados e abandonados da praia onde vive.

(Teco, o poeta sonhador, em: de bichos & gentes)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...