quarta-feira, 22 de outubro de 2008

JÁ NÃO SEI...


(Para Aline & Cia, da secretaria do IMEAB - Ijuí.)
Já não sei
se o que me empurra
adiante
são meus cabelos,
queixo ou ombros
tamancos, pernas
ou ancas.

As pernas fraquejam, é certo,
cambaleiam no refluxo
de querer voltar atrás.

Não estou certa
se o que me arranca à frente
- em espiral –
é o sentimento de perda
ou de prazer.


Deveres,
deveres,
sussurram
meus tamancos!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

TEMPORÃ



Madurinha
no quintal
uma pitanga
se exibiu.


A temporã
ninguém soube
ninguém viu...

Dia depois
apareceram
outras dez.

A manhã
nem chegou
ao meio
e alguém
subiu
no galho
e comeu...


Vamos
inventar
outras frutas
temporãs?

Pitanga no inverno
quiwi no verão
bergamota
em qualquer
estação!

domingo, 19 de outubro de 2008

É PROIBIDO FUMAR


De todas as placas de proibido, a que eu não agüento mais ver é a de “é proibido fumar”. É que minha mãe fuma duas carteiras de cigarro por dia. Isso depois que o cardiologista prensou ela contra a parede, dizendo que, se ela continuar fumando desse jeito, vai virar um esqueleto ambulante.


Aquelas fotos horripilantes nas carteiras de cigarros, colocadas pra apavorar os que fumam, não me comovem mais.


Desenhei no caderno, dia desses, um esqueleto com cabeça de caveira, com um cigarro na boca. Mas não dei nome ao meu personagem.


Justamente naquele dia minha mãe me ajudou a fazer o tema de casa. Ela sempre elogia meus desenhos. Não dessa vez.


Todos os dias ela acorda no meio da noite e vai fumar na área de serviço. Basculante entreaberta, mão esticada pra fora, cigarro entre o “fura bolo” e o “pai de todos”, tragadas e mais tragadas.


Não estou mais ligando pra essa história de que o cigarro faz mal pra saúde, embora minha tia não agüente mais levar minha mãe ao pronto-socorro, pra baixar sua pressão, que de vez em quando fica a mil.


Ontem acordei e fui ao banheiro. A cena me marcou: minha mãe fumava, escorada na janela. Deu uma tragada profunda, e um clarão iluminou seu rosto.


Era a caveira que eu tinha desenhado no caderno.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MÁRIO QUINTANA


Descobrir continentes é tão fácil
como esbarrar com um elefante:
poeta é o que encontra
uma moedinha perdida.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

POMBA SURFISTA

Nunca
teve
grilos
e minhocas
na cabeça

nunca
teve
medo
de sair
do chão

sim-ples-men-te
a pomba
surfava
sobre o fio
de alta tensão!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

MOSTRA LITERÁRIA E PEDAGÓGICA

IMEAB – Instituto de educação Assis Brasil – Ijuí/RS - MOSTRA LITERÁRIA E PEDAGÓGICA – de 07 a 14 de outubro de 2008.

Na abertura da mostra, dia 07/10, às oito horas da manhã, o professor e escritor Américo Piovesan proferiu palestra tematizando o tema MOTIVAÇÃO PARA A LEITURA. ...

A seguir, na biblioteca da escola, todas as turmas, de terceira série até a sexta série, participaram de oficina com o escritor Américo e com o músico Guerrinha. Houve a declamação de poemas, contação de histórias e muita música. Foram mais de 450 alunos interagindo e vendo o quanto a leitura e a escrita (poético-literária) fazem parte de seu dia-a-dia.
Aproveitamos para agradecer à direção, coordenações e professores pela oportunidade. Ano que vem haverá muito mais!

NÓS

Quando você menos espera, os cadarços do sapato se desatam. É um embaraço breve e passageiro, e não perdemos a máscara, como acontece quando nos olhamos no espelho, no banheiro de uma festa, e não conseguimos disfarçar olheiras e pés de galinha, e aí resta o apelo à embriagues ou sair de fininho.
No lance decisivo, na hora de evitar o gol, ou no contra-ataque, ao tentar fazer um gol de letra, o cadarço da chuteira se solta, e passamos batidos. Resta lamentar e, da próxima vez, sem distração, mudar o jeito de fazer o nó.
Os cadarços precisam estar bem amarrados, a cara não. Amarremos casas, instrumentos, ferramentas, e liberemos os sentimentos. Mas quantos fazem confusão, e invertem a ordem!
As obras concretas precisam de liga, de ferro, para não serem levadas pelo vento. As amizades precisam de laços para nos aproximar uns dos outros.
Existem nós que nos prendem aos outros que precisam ser desamarrados. São fraquezas, medos, timidez. Não, não somos uma ilha, pertencemos a uma teia de relações. Cabe refletir sobre a liberdade de ir e vir em meio a essa teia.
O amor não deve amarrar a paixão. Nossas vidas, sem paixão, não têm combustão, não têm arranque, como carro velho com bateria pifada.
Amor convencionado é como sapato apertado, e os calos doem cada vez mais. Quando voltamos para casa, a primeira coisa que fazemos é tirar os sapatos e as meias, e colocamos os pés sobre a cadeira.
Pena que o alívio e o prazer ficam entre quatro paredes.
Amor que se satisfaz com as regras tem medo da paixão, é gravata que usamos de vez em quando, e nos sufoca porque não estamos habituados.
Afrodite, deusa do amor, livrai-nos das amarras sociais, que nos fazem desfilar o amor e a paixão numa ordem unida, para um futuro pré-determinado que não escolhemos.

sábado, 11 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

SÁBADO NO SUPERMERCADO


É sábado de tarde, entramos no supermercado, assumo a direção do carrinho, e meu pai tira do bolso uma lista quilométrica de compras. Isso mesmo. Ele anota tudo o que precisa, antes de sair de casa. Mas quase sempre esquece o mais importante – iogurte e a revista “Recreio” pra mim.


Passa por todos os corredores e gôndolas, observa atentamente a composição dos produtos - validade, quantidade de gordura, se são orgânicos, etc. etc.. Pra isso, ele procura os óculos de uns quatro graus, no estojo guardado no bolso. Mira, vira, desvira, olha contra a luz, a tarde passa voando, e eu ainda nem joguei bola!


Começam os acidentes e o congestionamento nos corredores... Monstrinhos de quatro, cinco anos, pilotando o carrinho de compras de seus pais, passam a toda velocidade, tiram de fininho, derrubam os pacotes das prateleiras!


Aí surgem os funcionários. Hoje em dia não tem mais aqueles que usam maquininha para remarcar os preços. Meu pai sempre fala que AN-TI-GA-MEN-TE havia o monstro da inflação, e todo dia os funcionários empunham suas maquininhas e tac, tac, tac... Em compensação, hoje tem que cuidar a qualidade dos produtos... Os funcionários estão aí para colocar ordem na bagunça, e aumenta o congestionamento, como se fosse hora do rush, na grande São Paulo.


Senhoras vagarosas, de calculadora mão, fazem das compras no supermercado o passeio de sua vida! A calculadora é a arma que usam para espantar o monstro da inflação!!


Legal são as promotoras de vendas. Desde erva-mate até chazinho pra bebê. Meu pai não fica provando tudo, só porque é de graça. Mas meu tio, Carola, sim. Prova fermentado de uva, suco de goiaba, queijo, salame... Depois, ele fica apertado e vai voando pro banheiro do supermercado!


Se eu me perco do meu tio, é só ir direto pra sessão de vinhos, que lá está ele. Parece um especialista... Pesquisa os rótulos, o ano da safra, se é cabernet ou merlot... No final, ele compra um “sangue de boi”, um daqueles vinhos baratos que nossas mães usam para fazer sagu!


Na hora de passar no caixa, sou eu quem escolhe qual a moça que vai nos atender. Tenho umas três preferidas. Primeiro, olho a cor dos seus olhos, como enfeita os cabelos, descubro o seu nome olhando o crachá, presto atenção nos seus dentinhos, no desenho dos lábios...


Como sou poeta sonhador, observo todos os detalhes do rostinho de minhas caixas preferidas. Acho que o meu pai nem desconfia. Está estressado com o monstro da inflação, que anda louco pra abocanhar o seu sagrado salário – é o que o meu pai diz!




TRAQUINAGEM

(Para Rosemeri)
Obrigado pelas flores
as cores de tua pele
o sorriso.

De nada importam
teus amores indecisos.
De teu cheiro preciso
passear contigo
andar, voar
da traquinagem preciso.

Vamos fugir de tudo?
Ir pra algum lugar
sem ter que se levantar
nem assinar o ponto
pra passar do ponto
em qualquer canto...

Vamos beber no primeiro bar
tirar as asas da sarjeta
e não fazer a barba
uma dança num bordel
inventar perfumes de flores
numa tarde qualquer.

Já temos tudo
que nos dê prazer.
a lua
o horizonte
cada manhã pra viver.

Acorde-me
quando o velho dia amanhecer.
Aprendi a fazer a barba
a mil sonhos desfazer
e à liberdade sufocar.

Traze flores se quiseres
O que quiseres serei
Escravo, lírio trêmulo,
menino ingênuo outra vez!



terça-feira, 7 de outubro de 2008

CADÊ A CHAVE?


Você tem medo do escuro?
Você tem velas e lanterna guardadas em casa?
Se de noite faltar luz, você demora para lembrar onde guardou?
Seus pais esquecem onde deixam os objetos?


Dia desses, no campeonato de pais do colégio, meu pai perdeu a chave da moto. Ele costuma guardá-la no bolso da calça. Diz que é mais seguro, que assim não vai perdê-la, e blábláblá...
Fardou-se no vestiário, carregou a mochila e as roupas até o banco de reservas e foi fazer seu aquecimento. Perdeu o jogo por 6X2, saiu mancando por causa de uma pancada na canela, tomou meia garrafa de água, gargarejou e cuspiu, juntou a mochila e suas roupas, passou pela torcida na arquibancada, levou vaia e foi, cabisbaixo, se vestir no vestiário.

Pôs a mão no bolso e... Nada! “- Tenho certeza de que guardei no bolso! Sempre foi mais seguro!” Revira a mochila, de seis compartimentos, tira pra fora as coisas todas que ele carrega - caneta, clips, trident, lenço pro nariz, aspirina, band-aid, três celulares, sendo dois pifados que eu uso para jogar, cartões de amigos, bilhetes com recados, óculos para o sol, protetor solar, etc., etc., etc. – e nadica da chave!
Refaz, então, o percurso para ver se não está caída no chão, fala com o guarda, chama a atenção de meio mundo... Aí, antes que eu fique vermelho de vergonha, resolvo ajudá-lo...
No cantinho mais escuro do vestiário está a chave, sossegadinha no chão. Meu sexto sentido farejou a maldita!!
Depois de rir meio amarelo e dizer que esquecimento é coisa da idade, papai me chamou de “meu herói” e me deu um beijo na testa!
Ufa! Ainda bem que não foi na arquibancada, na frente de todo mundo... Foi na penumbra do vestiário, e só o guarda viu a cena! Ele fez uma cara de feliz. Coisas de pai!

domingo, 5 de outubro de 2008

Adoro as pizzas e os salgados da padaria do meu bairro. Mas desconfio que o meu pai goste bem mais! Quando vai até lá, ele sempre visita o freezer, onde são guardadas as pizzas, e o balcão dos salgadinhos.

Pizza tem que ser de frango. Acho que comecei a gostar com ele. A primeira coisa que ele faz é olhar a data de fabricação. Quanto aos pastéis, risolis, cochinhas, pão de queijo e croquetes, ele pergunta se foram feitos naquele dia. A moça que atende faz uma careta e responde sempre que sim.

Acho que meu pai tem medo de comer coisas estragadas. Ah, tem a ver com os recortes de jornais que ele guarda falando dos alimentos saudáveis e dos vilões – para o coração, rins,
pulmões, baço, fígado... E aí, ele não faz economia nos conselhos que me dá para me alimentar bem.

A quantidade de chás que ele compra é de fazer inveja a qualquer curandeiro. Parece que faz coleção. De tantos tipos que ele tem, a maioria perde o prazo de validade, sem ele ter usado.
Mas a sua maior paixão é o alho. Ele descobriu que o alho é ótimo pra saúde. Não é que ele mastiga o dente de alho a qualquer hora do dia? Precisa ver a cara que ele faz! Ele prende a respiração, dá umas quinze ou vinte mastigadas bem rápidas e vai correndo tomar um copo d’água.

Acho que os vampiros querem distância de meu pai... Ele deve fazer parte da lista de pessoas que não são bem-vindas na sociedade vampiresca .




Meu pai deve ter mascado muito chicle quando era criança. Hoje ele quer me assustar, dizendo que o chicle foi feito com as patas do cavalo.


Porém, quanto ao sorvete, nem preciso pedir para irmos à sorveteria. É ele quem convida a gente. Claro, ele leu numa tal de “Vida e saúde” os benefícios do sorvete para o organismo, além da alegria e das lembranças (meio poéticas?) que tomar sorvete traz. Nessas horas ele sempre fala das coisas de antigamente. Não sei por que mas, para meu pai, antigamente tuuuuudo era melhor!

Ele gosta de falar dos cheiros das coisas, no tempo de criança. Do pão feito no forno de tijolos e barro, cheiro de puxa-puxa e de açúcar no tacho, cheiro da uva madura depois de uma chuva de verão... Ah, e o cheiro da óstia de toda missa de domingo. Se ele não ía pra missa, estava proibido de jogar futebol!


Quando não estou jogando futebol, vou à padaria com meu pai. É que ele me deixa gastar, com o que eu quiser (desde que não seja chicle), 0,99 de cada vez. E, é claro, adoro ver ele perguntar pra moça se os salgados “foram feitos hoje?”, e ver a carranca que ela faz quando responde que sim.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

VIRA-LATA

Sou vira-lata
acuado no canil
que cansou
de farejar
e latir...

Horas e horas espero
pela gatinha caridosa
que passa e não me dá bola
rente ao meu quintal...

Ela se exibe, rebola,
e um perfume de love
agita uns quantos buldogues...
Meu vira-latas desespera
murcha as orelhas e espera...

Quando ela vem
e fica pertinho
faz um cafuné
no meu focinho
eu abano o rabo...
Faceiro, lato
pro que vejo
ou não vejo...
Até mesmo...
Até mesmo pro diabo!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O MELHOR

Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan

Chegar em primeiro, subir no pódio, é tudo que esperam de mim. Nem bem saí da barriga de minha mãe, já escolheram meu nome - um nome de craque.
As roupas que vou usar, as cores preferidas, o time que vou torcer, não ajudei a escolher. A cor dos meus olhos não puderam escolher... Mas a torcida foi intensa, organizada, e só o tempo fez eles buscarem outras coisas.
Meu pai é canhoto e sabe de cor as mil e uma vantagens de chutar com a esquerda. Porém, até hoje ele não sabe dizer por que só escreve com a mão direita. Canhoto é mais inteligente, ele diz, mas não sabe explicar por que ganha tão pouco. Aí ele fala: inteligente não significa ganhar muito dinheiro, mas viver bem. Ter muitos amigos, saúde e alegria, sem temer, de vez em quando, algumas decepçõezinhas – do tipo levar uma goleada em grenal.
Abro o jornal, ligo a TV, converso com os amigos, e o futebol está sempre no meio. Faz companhia, a mim e aos meus amigos, até nos nossos sonhos. Sim. Até nos sonhos. Dia desses, era véspera de jogo - competição que sempre chamam de “Copa Integração” - e de noite sonhei que meu time começou perdendo por dois a zero. Muita aflição, correria, e no final viramos pra quatro a dois. Fiz dois gols, é claro!
Como vocês podem ver, não decepcionei meus pais. De novo estou no pódio. Mas não vou dizer quem sou dos três. Se sou o terceiro colocado, sou o menos estressado em ter que sempre vencer. E já vou avisando: a cor não interessa. Não é por que visto vermelho que sou colorado! Não parece que, por não ter a obrigação de chegar em primeiro, estou menos tenso, nervoso, e sim mais relaxado?
Como vocês podem ver, se sou o segundo, meu prazer maior não é estar ali, e sim no banheiro, fazendo xixi. Mas sabe como são as solenidades. Dizem que é feio quebrar o protocolo!
Se sou o primeiro colocado, parece que dos três sou o mais entediado, por ter que ficar no topo da escada, talvez nem tenha feito tanta força pra chegar lá em cima... Ou isso é papo furado, coisa dos comentaristas de rádio, colunistas de jornal, que todo dia precisam dizer alguma coisa, e fazem de conta que não sabem que vivem repetindo, repetindo, sempre o mesmo assunto. “Segundo o matemático Osvald de Sousa, o time x tem 89% de chance ganhar o campeonato”, “o time y tem 90% de chance de ser rebaixado”, e tantos outros papos furados!
Pensando bem, até que eu gostaria de chegar em primeiro lugar, mas não tem problema se for de mentirinha, de faz de conta. Acho que o mais importante é brincar. Não é isso o que está faltando ao Ronaldinho Gaúcho? Ele joga sem alegria, o seu corpo, molenga, passeia no meio do campo, e o seu coração vagueia noutro lugar!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

HOMENAGENS



Vamos dar um tempo aos desenganados, para que a solidão invada seus leitos e faça o inventário de suas vidas. Falemos dos vivos, os outros deixarão suas obras gravadas em nossa memória, boas ou más, por muito tempo depois, nas datas comemorativas.
Falemos dos que se esforçam e rastejam, passo a passo, Everest acima em busca da pureza. Dos nietzchianos que, solitários, vão até a montanha trocar confidências com Zaratustra.




Os que acreditam na missão do homem, ser bom, belo e justo. Os que lutam contra as forças maléficas do inferno e do purgatório, e almejam a brancura de sua alma indolor, falemos com devoção. Aqueles que dedicam um terço da vida a plantar mistérios em Platão, que dormem e acordam com a idéia e a essência na cabeça, falemos com admiração.
Falemos das crianças vistosas, bem-vindas às milhares de informações processadas com alegria por seus cérebros piscantes.
Falemos dos loucos, que atravessam os séculos como pombos-correio, dizendo muito, o que é pouco, para nossa atrofiada razão. Que causam calafrios e estranhamento nos burgueses, operários, humildes, caquéticos. Seus faróis alucinados apontam para todas as direções, e derramam jatos de luz nos personagens pálidos da noite.
Falemos da primavera, da seiva em disparada antecipando brotos, flores e frutos, nos quintais, pomares e sítios. Do canto dos pássaros e de nossa sapiência com o riso de novas melodias. Da cadência da chuva, qual banda afinada de colégio, ansiosa por agradar a platéia.
Dos moribundos cochichemos preces antecipadas, choros e lamúrios, fé e esperança, até se dissiparem em nuvens nômades de verão. Todavia, achemos graça, sem culpa, dos graciosos e ridículos momentos de suas vidas, e marchemos de cabeça erguida para outras direções, sabendo que a vida nem sempre concordou com o nosso desejo.




Falemos das empregadas domésticas, que torcem, lavam e passam nossos pijamas, calças, camisas e cuecas. Dos pernilongos, aranhas e baratas, que usurpam nosso tempo nas gôndolas sortidas de marcas de inseticidas nos hipermercados.
Falemos do varal, do vento e do sol, que não cobram ágio e, alegres, secam nossas roupas.
Sobretudo, falemos dos vivos, os que renascem dia após dia, sejam calvos, brancos, amarelos, pardos, pálidos também, que se esforçam para vencer seus venerados hábitos, e que descobriram que o conhecimento é um ato corajoso, uma corrida vertiginosa ladeira abaixo, buscando no final tudo desaprender.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A RAPOSA

Uma raposa passeia no sótão...
- Toc, toc, tuc...
Tuc, tuc, toc, tuc!

Se é velhinha e neurótica, não sei...
Não nos conhecemos pessoalmente.
Mas vivemos sozinhos,
mesmo rodeados de gente.

Não sei o que pensa de mim.
Dela, também nada sei...
Nem consigo adivinhar
o que ela faz - se é mãe
tia ou vovozinha...
Apenas sei que,
quando caminha,
com muito estrondo,
sacode a minha vida!

- Tuc, tuc, toc...
Toc, toc, tuc, toc!

Correria no sótão,
e não sei se está saindo
pra dormir fora
ou se está chegando
pra dormir agora...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

CARPA DE PESQUE-PAGUE


Peixe sênior de pesque-pague, seduz carpas graúdas e veteranas, incumbindo-lhes a missão de cupido, para puxar suas orelhas, e as da sua pretendente, a qual espera o dourado vistoso, que amanhã vai enfrentar confiante as corredeiras do rio Uruguai.
Ninguém percebe, ou disfarça muito bem, que se lamenta porque a tempo não sobe a corredeira. Piracemas pertencem a um mundo ideal de utopias distantes que quase deletou da memória.
Carpa de pesque-pague, já não se entedia com a ração fracionada, embora sua alma de dourado jogue sob pressão e, por isso, às vezes, tem a coragem de piruetar no meio do açude.
A ração e o pesqueiro não o afastam totalmente da fúria, quando seu instinto assassino olha de atravessado para as carpas domésticas. Às vezes, em sonho, aventura-se com alma de tubarão. Mas boa parte das vezes é medroso e faz de conta que não enxerga a lama que se deposita no fundo do lago, vê apenas um límpido azul na parede de seu pequeno horizonte, como se fosse painel de publicidade.
Não deixa seu lago desembocar nas ruelas escuras e pútridas dos subúrbios, pois está hipnotizado pelas vitrines dos shoppings do centro da cidade.
Não se deixa arrastar pelas correntes furiosas que atracam em novos portos e mundos, prefere a água parada de sempre, mal-cheirosa e turva, pois a conhece de antemão, e as reações dela não mais o assustam e surpreendem.
As safras se repetem e, sênior, é apanhado por redes de malhas cada vez mais grossas. Mas o tédio da domesticação deixa alguma liberdade para se divertir com as carpas salvacionistas e, ambos, mergulham fundo no barro da futilidade, com demasiada seriedade, que até esquecem de rir de si e tirar o pó dos móveis da sala de visitas, e sua alegria monótona e previsível, como o choro de um cãozinho faminto, já não os surpreende.

ALGODÃO DOCE

Algodão doce
é neve
colorida

primavera
que roubou
o cardápio
da sorveteria

e espalhou
por aí
essências
de framboesa
maracujá
chocolate
morango
abacate
e abacaxi.

É neve
pra lamber
os dedos
e o beiço.

Não gela
refresca
desmancha
e derrete
na boca.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

BRUNA, BRUMA, BRAHMS

BRUNA
BRUMA
BRAHMS

Tudo começou
com o murmúrio
de um piano
numa tarde
breve
de sol
arco-íris
e chuva

Bruna
beijou
as ondas
com seu lábio
doce e leve
de pluma.

Ao longe
um piano
tocava Brahms
e os pés de Bruna
tamborilavam
canções
de espuma.

Antes tímida
a bruma
banhou Bruna
e semeou vertigens
em seu corpo
de mulher
sereia
e menina.

O sol já vai se pôr
e gaivotas
irrequietas
mais um poeta
sonhador
aguardam
a maré subir
e trazer
Bruna
bruma
o amor!

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

Pode-se escrever sobre o amor usando apenas a imaginação? Ou necessitamos da experiência, seja boa ou dolorosa? É necessário que o coração abra suas comportas e esvazie o reservatório da razão, e derrame combustível na fogueira imaginária?
Para tudo na vida precisamos ser desafiados, seja nossa razão, coração ou imaginação. O desejo deve, faminto, bater à nossa porta. Disse o filósofo grego, Sócrates, que o amor é o que não temos, e que nos faz falta. Resta definir o que realmente falta em nossas vidas. Adélia Prado, grande poeta brasileira da atualidade, resolve o dilema num verso: “Eu não quero faca nem queijo, eu quero é fome”!
Que fome é essa? De beleza, criação, amor, conhecimento, prazer, emoção! A banda de rock, Os Titãs, fala disso numa música. Primeiro, faz a seguinte pergunta: “você tem fome de quê?” E a resposta vem no desenrolar da música... “A gente não quer só comida... A gente quer...”
Para saciar nossa fome precisamos ultrapassar os limites que nossa cultura nos impõe. Se a ciência sofre, desde Adão e Eva, da “doença da curiosidade”, nós também, em todos os espaços de nossas vidas, precisamos ser tocados por esse vírus. Enquanto, na fronteira da Suíça com a França, os cientistas estão colocando pra funcionar o acelerador de partículas, visando desvendar os segredos da origem do universo, nós, em meio ao tédio, dor, repetição do cotidiano, podemos buscar algo que ultrapasse esses limites. Como? Em arte falamos do belo, do sublime, momentos que cada um pode experimentar do seu jeito. Não há receita, conselho, manual de auto-ajuda... Cada um precisa ver/descobrir a partir de si mesmo.
Não sabemos até que ponto nossa cultura blindou e decorou o amor, que nos deixa famintos, com contornos idealistas. Em Platão o amor deve afastar-se da sensibilidade (inconfiável e mutável – “coisa” do corpo) e tornar-se idéia pura, universal e eterna. Esse amor, o “amor platônico”, chamamos de amor sublimado. Até que ponto endeusamos, no rastro de Platão, o amor, por exemplo no cinema, literatura e filosofia, na tentativa de compensar sua ausência ou falta na concretude de nossa vida? Enfim, cá estamos nós, “mal amados”, em nada satisfeitos, a barriga reivindicando uma fome que não só é comida. Desejamos, com muito amor, buscar através da palavra (seja poema, conto, crônica, música ou teatro...) ultrapassar os limites da linguagem e da vida cotidiana, e penetrar nas camadas mais livres, misteriosas e profundas que permitam dizer e amar algo novo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O SONHADOR E O MAR

Flagrei-me consultando o mapa do Guia Quatro Rodas, meus olhos desejando conhecer a vasta extensão do litoral do Brasil. Meus sonhos aterrissavam nas praias, caminhavam de pés descalços pela orla, a água lambendo meus dedos...

O sol estava se pondo, e não pude evitar compará-lo com os que vi noutros tempos.

Sei, a primavera traz boas lembranças, o calor, festas, final de ano que se avizinha, tudo se insinua ante meus olhos, nas vitrines, cores do vestuário, braços e pernas já se bronzeando...

Há o apelo para que relaxemos, a mística para conhecermos lugares distantes... Não tendo outra saída, aqui no noroeste do estado, rodeado de soja e banhado pela terra vermelha, recorro ao amigo poema!

__________________________________

O SONHADOR E O MAR

Minhas nóias de consumo

descarrilaram trilhos poéticos

e a primavera fez brotar

velhos sonhos materiais.

Aflições existenciais

foram pro espaço

edifiquei em seu lugar

uma casa perto do mar.

Tijolos brita areia

ferro cimento

planta planos

fui às compras...

Vizinhos passantes

a diretoria do bairro

engenheiros arquitetos

aprovaram a sinceridade

dos meus planos

todos estão sensibilizados

com a bravura dos meus sonhos...

Meus sonhos...

seja o mais breve ano novo

seja agora neste instante

(e cada segundo que passar)

buscam delirantes

o cheiro cor som

sabor do mar...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Flagrei-me consultando o mapa do Guia Quatro Rodas, meus olhos desejando conhecer a vasta extensão do litoral do Brasil. Meus sonhos aterrissavam nas praias, caminhavam de pés descalços pela orla, a água lambendo meus dedos...
O sol estava se pondo, e não pude evitar compará-lo com os que vi noutros tempos.
Sei, a primavera traz boas lembranças, o calor, festas, final de ano que se avizinha, tudo se insinua ante meus olhos, nas vitrines, cores do vestuário, braços e pernas já se bronzeando...
Há o apelo para que relaxemos, a mística para conhecermos lugares distantes... Não tendo outra saída, aqui no noroeste do estado, rodeado de soja e banhado pela terra vermelha, recorro ao amigo poema!

O SONHADOR E O MAR

Minhas nóias de consumo
descarrilaram trilhos poéticos
e a primavera fez brotar
velhos sonhos materiais.

Aflições existenciais
foram pro espaço
edifiquei em seu lugar
uma casa perto do mar.

Tijolos brita areia
ferro cimento
planta planos
fui às compras...

Vizinhos passantes
a diretoria do bairro
engenheiros arquitetos
aprovaram a sinceridade
dos meus planos

todos estão sensibilizados
com a bravura dos meus sonhos...

Meus sonhos...
seja o mais breve ano novo
seja agora neste instante
(e cada segundo que passar)
buscam delirantes
o cheiro cor som
sabor do mar...

domingo, 24 de agosto de 2008

OLIMPÍADAS NA INFÂNCIA

É uma grande alegria ler um livro para teu filho (de oito anos), e ele saborear e se divertir contigo no rastro das peripécias dos personagens, suas manhas e nóias... Claro, a criança não vai abrir mão das promessas, pouco convictas, que seu pai fez na véspera: disputar olimpíadas, ao estilo das da China, a começar com a competição de judô em cima da cama, com direito a eliminatórias, fases semi-final e final. Tudo devidamente cronometrado e observado pelo “árbitro”. Seu pai sendo punido se, num momento de desvantagem, apelar para as cócegas. Torneio de vôlei na garagem, com três sets de vinte e cinco pontos cada partida. Finalmente queimada, numa competição de, pelo menos, trinta pontos...
Na infância é barbada ganhar/passar o tempo. Ao brincar, nos desvencilhamos do tempo e, de certa maneira, relativizamos o espaço. Pode-se brincar de muita coisa. E há um ganho extra: exercitamos nosso (cada vez mais) preguiçoso corpo.
Mas voltemos à história do livro. Se o corpo ficou exausto com tantas olimpíadas e campeonatos que teu filho te submeteu, espalhar livros pela casa é uma estratégia que pode dar muito certo. Jornais e cds também contribuem para isso. Nos intervalos de uma e outra competição, você diz para teu filho que está com sede, que precisa respirar um pouco... Aí você abre um livro, que tinha sido folheado na noite anterior, que te despertou interesse, antes de você ser vencido pelo sono, etc., etc. Você começa a ler em voz alta. Por via das dúvidas, é bom deixar um copo com água por perto, caso tiver que ler o livro até o fim.
Eis que irrompe o momento mágico. Iniciada a viagem com os personagens, teu filho embarca contigo, páginas e mais páginas... Nessa aventura, você tem mais de uma opção. Podes ler até o fim, ou deixar algumas histórias/capítulos para ler depois, como curiosidade adicional – como fazem as telenovelas. Mas quem disse que você deseja parar? E o menino quer conhecer o autor. As ilustrações, caricaturas, etc. contribuem nessa hora. Você então recorda a tua adolescência, já lia os livros dele – além do mais, ele já era tão importante a ponto de participar de tuas aulas de literatura... E, assim, o autor está pertinho da gente, mesmo sem nos darmos conta.
Para encurtar esta história, meu filho me fez perceber que há um mundo imaginário fantástico que se descortina com os livros, e participar desse mundo não é privilégio apenas da infância... Por isso, obrigado pelos teus livros, e pelas histórias que contas, Moacyr scliar. (O livro aqui citado intitula-se Um país chamado infância, e foi publicado em 1997, pela editora Ática).

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Turma do Teco


Sexta-feira 15 de agosto a Turma do Teco participará da Segunda Aldeia Sesc Ijuí com a Peça Teatral baseada no livro Segredos do Coração. O roteiro, direção e performace é da Professora e atriz Eloísa Borkenhagen. Os alunos envolvidos são da E.E.E.F. Pedro Maciel do Itaí.
Após o Espetáculo haverá um momento de interação, onde a platéia poderá fazer perguntas a respeito da trama teatral.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

TAMANCOS

Não desviemos o olhar

desses tamancos coloridos...

São pernas de pau

ansiosas

por escalar

o topo do céu...

Desejam subir, subir,

e conquistar o infinito...

Não fechemos os ouvidos

para o ecoar deste grito:

- Voltem, desçam, vooooltem!

Sem vocês, donas

de tamancos esquisitos,

jamais alcançaremos

o topo do amor!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Teco na Imprensa


A TURMA DO TECO NAS ESCOLAS


No dia 07 de agosto a Turma do Teco apresentará uma peça teatral baseada no livro Teco, o peta sonhador, em: segredos do coração. A professora Eloísa e seus alunos, da Escola E.E.F. Pedro Maciel, do Itaí-RS. vão compartilhar, com alunos, professores e comunidade, da escola municipal Amazonas, de Ijuí-RS, suas alegrias, dramas, paixões, travessuras, segredos, etc. A comunidade escolar vai dialogar e refletir sobre os valores que vivenciamos na sociedade, tais como amizade, competição, solidariedade, individualismo, tolerância, entre outros.

quinta-feira, 24 de julho de 2008


Alguns Integrantes da

Mosaico Produções e Mosaico Editorial


Fernando Beier - Guerrinha
José Augusto Fiorin

Américo Piovesan

Lançamento do Livro: Teco Poeta Sonhador

Ao ficarmos diante do olhar do leitor e de seu contato com nosso livro, nos enchemos de expectativa. Já no processo da escrita, não conseguimos fugir da presença silenciosa dos leitores e dos nossos personagens.

No dia de lançamento, os encontros e os abraços dos amigos, das crianças e de leitores que não conhecíamos, torna-se inesquecível. Sabemos que eles estão do nosso lado porque tem cumplicidade com nosso projeto e com a literatura.

Teco, o poeta sonhador, em Segredos do coração, já vinha dialogando com crianças de escolas, antes de seu lançamento oficial, dia 19 de julho. No dia anterior, na feira do livro da E.E.E.F. Pedro Maciel, do Itai-RS, a emoção foi intensa ao assistirmos a adaptação do livro para o teatro, com roteiro e performance da professora e atriz Eloísa Borkenhagen, juntamente com seus alunos atores desta escola. Os personagens do livro aventuraram-se numa viagem repleta de criatividade, e subiram no palco, encantando crianças e adultos. Mostraram que a imaginação e a inventividade não tem limites, possibilitando outras tantas interpretações do texto.

A proximidade da obra literária (e poética) com o teatro mostra-nos que a arte como um todo não pode ser deixada de lado, principalmente nas escolas. Ela amplia nossa sensibilidade, fazendo-nos sonhar e buscar uma sociedade menos competitiva e egoísta, colocando em seu lugar valores como respeito, tolerância e solidariedade.


Teco na Imprensa


terça-feira, 1 de julho de 2008

Oficina no IMEAB - de Ijuí-RS.

O INCENTIVO À LEITURA E À ESCRITA NO IMEAB

Ler histórias é poder sorrir com as situações vividas pelos personagens, viajando num mundo imaginário. Ter curiosidades e, através das mesmas, sentir emoções, tais como: tristeza, raiva, alegria, medo segurança, etc.
Através da poesia descobrimos e compreendemos o mundo lúdico, viajamos para lugares inesquecíveis, dando asas à imaginação, permitindo-nos ampliar o vocabulário, e também despertando o interesse na leitura e escrita.
Os alunos da terceira série da Turma 31 da escola IMEAB demonstraram curiosidade e interesse em conhecer o professor e escritor Américo Piovesan, tendo contato com seu segundo livro de literatura infanto-juvenil, Teco, o poeta sonhador, em: Segredos do coração. Juntamente com sua professora, Marlise Didoné Martini, as crianças leram o livro na biblioteca da escola, continuaram o bate-papo em sala de aula (sobre questões que a leitura do livro suscitou), e tiveram a oportunidade de conhecer o escritor e saciar sua curiosidade através de dezenas de perguntas.

O arroto - escrito por Teco, o poeta sonhador

O ARROTO

O arroto
é um pára
quedas
furado
descendo
em parafuso
nas asas
do vento...

Certo dia o arroto
aprendeu a surfar
num túnel imenso,
depois de pegar uma onda
nuns goles de guaraná...

Ao se esborrachar
nas paredes do estômago,
o arroto teve uma pressa louca
de voltar e dar um susto
no céu da boca!

Quem não souber
o barulho que ele fez,
que aprenda a arrotar!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SUPER-HERÓI

Por Teco, o Poeta Sonhador

Empinou a bicicleta
no dorso quente do asfalto
e num piscar de olhos
tornou-se meu herói.

O céu alegrou-se
fez uma rampa
sacudiu sua capa
paixão e máscara!

Rodas
rodopiando
refesteladas
desconcentrando
o pôr-do-sol!

Aprendeu com as pandorgas,
com a Esquadrilha da Fumaça
ou com os filmes de ação?

A rua asfaltada
é a tela do meu cinema
com o pôr-do-sol atrasando
a próxima exibição...


É que ele quer contar
pra lua cheia
que acabou
de chegar
as aventuras
do meu herói
que se chama...
que se chama...
(eu não queria contar...)
que se chama Baltazar!

Teco presente na II Festa das Letras




No dia 20 de maio, o escritor Américo Piovesan participou da II Festa das Letras, no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, de Frederico Westphalen-RS. Foram ministradas palestras para educandos do Ensino Fundamental e Curso Normal, abordando o tema “A importância da leitura e da escrita em nossas vidas”. Na ocasião o escritor apresentou, para professores e alunos, os livros Teco, poeta sonhador, em: os mistérios do porão e Teco, o poeta sonhador, em: Segredos do coração.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

EMBAIXADAS

Escrito por Teco, o poeta sonhador.


Do seu jeito pé papudo,
o pé falou pra bola:
- Bola, se você
não pegar efeito
escapulir do goleiro
e entrar no ângulo,
vou cravar um espinho
no teu estômago
e ver você murchar
devagarinho!

Do seu jeito quica bola,
a bola falou pro pé:
-Pé, se de noite você
não me abraçar
debaixo do cobertor
e contar histórias
de aventura
e humor,
vou fazer você
errar o pé
e levar um tombo!

A bola e o pé
continuam
de embaixadinhas
conversando...

- Pé, bola, bola, pé...
Pé, bola, bola, pé...

Nem jogo é...
é blablablá!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

PAIXÕES

A ressaca

do último namoro

nos faz jurar

que nunca mais

vamos amar

pois não vale

a pena sofrer.

Mas basta chegar

uma nova paixão

e é como chuva torrencial

que varre as mágoas

para oceanos distantes

e juramos - como quem

tatua promessas

em braços,

ombros e pernas

e em lugares outros -

que agora vai

vai ser para sempre,

que esta será

a última vez!...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O TEMPO



O tempo é um cão
que se estica sob o sol
depois de roubar
a elegância do lagarto.
E as vizinhas feiticeiras
empinam as vassouras
e fazem a calçada dançar
como se fosse voar...

Vestidos compridos
de minhas tias
paqueram o sol
e ele só tem olhos
para o verde do quintal
e a lerdeza do varal.

Sapos gorduchos
disfarçados de edredons
se espreguiçam na janela.

Tempo tantã
não sabe se é relâmpago
não sabe se é sol
chuva raio ou vendaval...

Tempo que não é Santo.
Não diz que milagre
fará amanhã!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

INFÂNCIA TEMPORÃ - Escrito por Teco Poeta Sonhador


Passou a infância.
Depois do parque
do circo e da praça
doamos as roupas
a nossos irmãos.

Como se fosse natural
tomamos vergonha
se estamos nus.

Dia após dia
a alegria recua
até os porões do coração,
e os brinquedos
acenam agitados
de dentro dos baús.

Repetem, repetem
os marmanjos:
- Vamos renovar
nosso estoque de sonhos!

Desfruto, todas as manhãs,
de frutas temporãs.
São meus brinquedos do dia-a-dia
que renovam o estoque de alegria
!

terça-feira, 25 de março de 2008

Poema de Teco

Poema de Teco, o poeta sonhador


Pingos prateados
de chuva
voam da árvore
até o veludo
do chão.


São notas musicais
que pousam
de pára-quedas
no meu coração.

quinta-feira, 6 de março de 2008

APRENDIZ


escrito por Teco, o poeta sonhador

Os poetas
triplicaram
as pernas
da imaginação.

Trouxeram
imagens esvoaçantes
como sombras na parede
das pás do ventilador.

À noite
espreito
(e desenho)
o pôr do sol
a cor das nuvens
o despertar dos ventos
as estrelas em movimento.

borboletas
tontas
invento
nas folhas
em branco
ao vento
tontas
e atracadas
na lâmpada
da sacada...

O lápis
quer desvendar
mistérios.
São as pernas
das idéias
seguindo a marcha
das centopéias.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

CIENTISTA INVENTOR

Escrito por TECO, o poeta sonhador


Pedro comia de tudo

a qualquer hora do dia.

Orgulhava-se de ser

predador de iguarias.



Quanto mais comia

mais fome ele tinha...


Até que um dia,

de tanto atacar a geladeira,

os sonhos triplicaram.


Sonhou que devorava

o Cruzeiro do Sul

depois das Três Marias

depois do Planeta Vênus

depois de degustar a Lua

e mastigar o Sol...

Mas os sonhos

viraram pesadelos...

Quando ele acordou

o apetite havia fugido!


Comia nos pesadelos,

acordado não comia.




Certa noite

a mãe de Pedro

deu pra ele beber

uma poção polvorosa...

(Ela disse que era

muito saborosa,

e que foi enfeitiçada

por uma bruxa engenhosa).


A poção fez ele detonar

dúzias e dúzias

de puns coloridos,

que mais pareciam

fogos de artifício...


Como um balão furado

Pedro desinflou de todo lado

e expulsou os tais monstros

feitos do líquido enfeitiçado!


Voltou a sonhar e a relaxar

como se estivesse num SPA...


No sonho viajou e fez amigos

no Cruzeiro do Sul,

Marte, Vênus e a Lua,

e após descansar nas nuvens

realizou seu mais novo plano,

que virou eterno vício:


Virou cientista inventor

de fogos de artifício!

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...