sexta-feira, 26 de maio de 2023
De outro planeta
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Loucuras e loucuras
Quando os caras atravessam
as fronteiras do sensato
e embarcam no ridículo,
navegam numa certa loucura.
Mas nesse tipo de paraíso
vislumbro a morada
dos medíocres.
Acho que a loucura sensata
é a que abre as portas
para sonhos e utopias.
Sensatos,
medíocres
ou ridículos,
o aconselhável é o esforço
para não sermos
sujeitos
comuns.
(B. B. Palermo)
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Cresça rápido, Palermão!
Rapaz, percebo que no Texas
barba, cabelo, unhas e pentelhos
crescem bem rápido!
Só as pimentas e salsinhas,
couve, alface, rúcula e as ervas
andam com o pé no freio,
como se meus dedos
as oprimissem.
Quando minhas conversas à noitinha
na esquina do bar
são INÚTEIS,
apaga-se a lâmpada
no poste da calçada,
como se meus raciocínios
produzissem
curtos-circuitos.
Eu sei que ela manda
o seguinte recado:
- CRESÇA RÁPIDO, PALERMÃO!
(B. B. Palermo)
segunda-feira, 15 de maio de 2023
Chamam-me
O padre
o pai
a mãe
chamam-me
para que os ajude a encontrar
seus filhotes perdidos.
Andarilho rebelde,
jamais contemplarei
como um profeta
estrelas ou nuvens
à beira dos lagos.
Sou prático,
um estressado com as 4 cadeiras
em torno da mesa da sala
com jaqueta, camisas e meias repousando,
umas senhoras vermelhas de plástico,
disfarçadas de cabides.
Pensamentos distraem-se com o joão-de-barro
catando coisas
na grama.
Bem que eu poderia construir meu ninho
no alto das torres
como fazem as caturritas.
No domingo, o padre Alfredo
chamou o rebanho
pra caridade,
Vamos levar arroz, feijão, papel higiênico,
leite e café aos necessitados!
Fugi da igreja e fui vender meus poemas,
reivindicava a alegria
de algumas cervejas.
Como sempre
não existo
portanto
não fui notado
pela alta voltagem
da sensibilidade
comunitária.
(B. B. Palermo)
segunda-feira, 8 de maio de 2023
Licor de pitanga
- Pô, Cadelão, nem bem sarou o dedo
estraçalhado pelo anzol
e já tá subindo numa pitangueira?
- Beiço, tu já provou licor de pitanga?
- Hum... Já bebi de tudo,
inclusive gasolina.
- Véio, imagina o sabor dessas pitangas amadurecidas pela maresia.
Degusta uma aí, sente o sabor...
- Tu vai adoçar?
- Claro, mas não com açúcar.
Vai ser mel, do Zé do Mel. Conhece?
- Ouvi falar.
- Cara, as abelhas do Zé só beijam flores de eucaliptos e maracujás.
- Legal. Mas vê se não usa canha marca diabo.
Aliás, tu acha que consegue deixar curtindo por pelo menos uns 30 dias?
- Bah, cara, vai ser o meu maior desafio
pra 2023.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 27 de abril de 2023
O cara do anzol
Ontem à noite demorei pra dormir.
A respiração seguia o ritmo do dedo latejando,
antecipando o pesadelo:
no mar, estava sendo fisgado por gigantesco anzol,
peixes aguardavam na praia
pra me esfolarem e fritarem
num panelão de óleo fervente.
A causa do pesadelo, só pode, foi que desde domingo testemunhei uns caras pescando dúzias e dúzias de peixes enormes, tudo com linhas de mão.
Como vinha cheio de tédio dos últimos dias de abril, não vi outra saída senão pescar.
Ontem de tarde, depois de uma sesteada
de mais de uma hora, preparei meu equipamento.
Como tinha observado daqueles pescadores,
eu devia arremessar o troço a uma distância mínima de uns 80 metros,
afastado das ondas próximas da praia.
Claro que não dominava técnica nenhuma.
Arremessei do meu jeito,
e foi um bom arremesso,
mas um dos anzóis ficou cravado no dedo mindinho da mão esquerda.
Na UPA, formou-se fila de enfermeiras e auxiliares.
Tentavam lembrar da última vez que um imbecil
conseguiu se autofisgar.
O médico cravou a agulha
pra anestesiar a região
e eu berrei:
"Aiaiai... caralho!" "Pqp... como dói!".
Disse a enfermeira:
"Senhor Palermo, já imaginou a dor que o peixe sente ao ser fisgado?".
E o médico:
"Querido, nada de álcool por 3 dias.
Agora é anti-inflamatório e antitetânica".
E brincou, mostrando-me o que restou do anzol:
"Tu não quer levar essa joia?
Use como piercing na orelha ou no nariz!".
Sussurei:
"Enrola num guardanapo, vou levar".
Entrada da noite, fui ao bar mostrar o machucado
e justificar minha ausência pelos próximos 3 dias.
Amigos malvados, encorajados pelas doses de vodca
e uísque baratos, praguejaram:
"Arranca fora esse curativo, Cadelão!
Faz como eu fazia nas minhas pescarias desde piá: mija em cima!
Deixa de ser cagão, pescador de meia-tigela!"
(B. B. Palermo)
segunda-feira, 24 de abril de 2023
Quando eu era louquinho
Você-é-tudo-e-nada
ao-mesmo-tempo.
Num dia, revolucionário,
faz picadinho da tábua de valores,
mas logo se vê juntando os cacos de vidro
de mais um prato que quebrou.
Durante semanas brotam
cacos-espalhados-pelo-chão.
Hoje foi viagem total.
Um livro meu tem a possibilidade
de ser adaptado para o teatro,
e nessa le-va-da fui até o quarto borrifar perfume,
queria chegar logo ao bar pra beber umas
e brindar com os amigos
os-momentos-quem-sabe-possíveis-de-se-eternizarem.
Tanto delírio me levou a derrubar e espatifar
o frasco no chão.
Comentário de uma amiga psicanalista:
Diz muito o fato de você deixar as coisas caírem
e virarem fragmentos-de-histórias.
Em poucos anos de terapia
você compreenderá.
Quando eu era louquinho
cortava a realidade feito meteoro.
Hoje as coisas que toco
quebram com mais e mais facilidade.
O perfume não era importado.
Era apenas imitação.
Mas no final das contas
ficou um pouco do perfume
em-cada-poema-e-nas-minhas-mãos.
(B. B. Palermo)
domingo, 16 de abril de 2023
Rebelião dos bichos
O Zé lia seus poemas para mim
enquanto a bicharada se empoleirava
nas mesas próximas do bar,
declamando suas qualidades culinárias.
Gritavam todos ao mesmo tempo,
ninguém dava ouvidos a ninguém
- como desenvolviam suas panquecas,
seus camarões ao molho e etcétera e tals.
Zé pegava carona
numas sinfonias de Beethoven e Bach,
senti que desejava alcançar os olhos
de Deus.
No meio do bombardeio,
eu tentava entender onde o poeta iniciava,
desenvolvia e fechava suas narrativas.
Ele carregava uma pasta
com uns 1.100 poemas.
Não suportou emprestá-los
para que eu os degustasse com calma, em casa,
longe da rebelião dos bichos.
Será que um dia a galera vai ter alguma sensibilidade
e vai conseguir sentir o sabor
de uma obra de arte?
Imagino como foi com o pobre do Van Gogh,
pintando seus quadros
em meio a uns bárbaros
totalmente insensíveis
ao desabrochar
da criação.
(B. B. Palermo)
sexta-feira, 14 de abril de 2023
Singela
Pelas ruas
ando
desolado
à procura de um destino
a que possa me agarrar
como um náufrago
no oceano.
No alto
da janela
de um prédio
ouço singela voz.
Pareciam as canções
que me embalaram
na infância
fadas
princesas
ou afagos de mamãe.
Singela, assim a batizei
e fiz as perguntas que há séculos
me perseguem:
O que tens para mim
para ti
para o nosso lar
o que trazes das esquinas
das feiras
das promessas feitas
todo ano?
Sua voz trouxe
sossego
a alma náufraga
se aquietou.
Agora a eternidade
me pertence
embora haja espaços
vazios
que voz nenhuma
preenche.
(Zé & B. B. Palermo)
quarta-feira, 5 de abril de 2023
Capitu
terça-feira, 28 de março de 2023
Pé de cana
Fazia um bom tempo que eu vinha
com o pé afundado no acelerador,
aí fiquei puto comigo mesmo
e decidi ouvir os conselhos do Cadelão.
"Zé, saia da sombra desse pé de cana,
foge da zona de conforto,
dance com teu Urso, pega o violão,
vá pescar e te inspire,
o mundo aguarda ansiosamente
o teu talento florescer ".
Bom mocinho, decidi pescar com o Marcão,
expert dos movimentos da areia,
dos peixes e dos ventos,
de política, história, música, poesia
ou seja lá o que for.
O molinete estava agarrado ao chão,
anzóis aguardavam ansiosamente
a mordida do peixe grande.
Marcão evaporou todo apressado,
foi atrás de vodca, matambre e costela
pra um assado.
Assumi o comando do molinete,
mas logo me distrai e fui bater papo
com um grupo de senhoras marisqueiras,
que sonhavam deliciosos pastéis
enquanto cavoucavam na areia.
A distração cobrou seu preço.
O molinete balançou e vergou e foi arrastado
feito flecha para o mar.
Seria o sonho se realizando?
Finalmente fisguei o peixe tão desejado.
Bem do jeito como acontece nos meus sonhos,
eu cheguei atrasado,
a mim só restou a base que sustenta molinete, linha e anzóis.
Gritei pra elas, com o troço na mão:
"Senhoras, vocês viram o que aconteceu?
Hoje fisguei o peixe sonhado,
mas não estava preparado!"
Não lembro se elas ficaram tristes
ou choraram de tanto rir.
Bobinhas, passam a vida curvadas
tirando da areia
toneladas de mariscos,
nunca viverão as aventuras
de um velho pescador
que duela com o mar.
(B. B. Palermo & Zé)
O PATIFE tá enrolando de novo
Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...
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Quando os caras atravessam as fronteiras do sensato e embarcam no ridículo, navegam numa certa loucura. Mas nesse tipo de paraíso vis...
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Irmãos, está aberta a temporada de fiascos, atiramos pra tudo quanto é lado, sem ligarmos pra possibilidade de cruzar nosso caminho uma b...