terça-feira, 16 de agosto de 2022

Caminho de casa

 

O cara se perdeu?

O cara se afobou?

O cara se escondeu?

Vi no jornal

que o cara se afogou.

Esses lagos

nesses parques

na reta final do inverno

estão chamando a atenção:

- Meia volta, volver, Cadelão!

Teu caminho de casa não é pro norte,

teu caminho de casa

é pro sul!

 

(B. B. Palermo)


sábado, 13 de agosto de 2022

O tempo todo



O Luiz de cara perguntou:

- Palermo, seu bisonho, o que tens feito pelo mundo?

Lembrei das tiradas do Carleone, e parodiei:

- Sempre que possível, nada!

Derrapei pela diagonal, fazendo a única queixa

que estava ao meu alcance:

- Véio, precisa desse refletor na minha cara?

Tá me dando um calorão!

Escuta, Luiz Henrique Berger,

cadê a caneca de cerveja?

- Calma, garoto, da próxima vez, quem sabe,

tu faça por merecer!

 

O dia evapora e todo mundo faz perguntas

temerosas.

Carente de ruminações profundas,

quando o nobre amigo perguntou das novidades pra 2022,

eu falei:

- O TEMPO TODO ando esquisito das ideias!

 

(B. B. Palermo) 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Conversas de bar

 

Tive ótimas fases.

Eu iluminava Ijuí.

Não conquistava uma,

conquistava dez.

Tu deve se lembrar.

Eu era o Don Juan

das calçadas.

mas o tempo passa.

Hoje sou peão e sou

broxa.

 

(B. B. Palermo)


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Sacanagem, João

 

João, o que aconteceu?

Sacanagem, disseram

que você morreu.

Uma bobagem,

coisa sem fundamento,

disseram que foi choque elétrico.

Você que sonhava com novo apartamento,

você que buscava uma escola decente

pros filhos.

E a turma, João, como fica?

Sacanagem, ontem estavas disposto

e com a boca

nas orelhas...

...

Agora percebo como sou fraco,

ainda tenho vontade de chorar

relendo estas linhas

uns 30 anos depois.

 

(B. B. Palermo)

Desapegar

 

Tá difícil me livrar
de recortes de jornais e tals
que fui juntando
em décadas.
O mantra que venho seguindo nos últimos meses
é "desapegar, desapegar...".



domingo, 31 de julho de 2022

Arthur

 

Arthur é um cão que chamam de Preto,

um carente de humanidade

mais do que a maioria

dos sapiens.

Circula desde cedo por entre os malucos

que frequentam o bar do Manetta.

Pobrezinho, carente de humanidade

enquanto nós somos carentes de humildade,

carentes de coragem,

carentes de dúvidas

e de sensibilidade.

Arthur merece circular também

por entre as páginas

de algum romance,

como a cadela Baleia, do Graciliano.

Ou de alguma crônica ou poema...

que seja.

 

(B. B. Palermo)


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Pragmatismo


 O Grêmio se estrebuchou pra conquistar

um ponto contra a Chapecoense,

numa retranca danada.

A coisa escorregava

pelas laterais e diagonais

e pencas de passes errados,

e os esforçados corriam

pra lá e pra cá.

Os papos no bar eram de indignação

dada a covardia do time,

então eu lembrei do pragmatismo, e disse:

"Um ponto fora de casa é legal".

Foi divertido, me pediram pra traduzir esse conceito

e aí desandei a falar de William James

e rolou o óbvio...

fiquei falando sozinho.

É legal saber que, mais do que praguejar contra o time,

as criaturas se empolgam quando falam de carros,

Fipes e negócios de ocasião.

Se você quer ser poeta,

saiba a pedreira que vem pela frente.

Você é de outro planeta.

Só há uma única certeza:

somos um bando de fodidos!

          

(B. B. Palermo)

terça-feira, 26 de julho de 2022

Para um amigo que partiu

 

Depois que você morre

deve ser triste

pois você nunca saberá

se teve trajetória importante

ou se caiu no esquecimento.

Pode ser triste hoje lembrar

mas é também gratificante

ter viva, pre-sen-te-men-te,

a memória de um amigo

que se foi há 10 anos.

Hoje você se toca

de que na época tinha

pouca lucidez,

você assistia futebol na TV

e estava bêbado

10 horas da noite

quando o telefone tocou.

Mas é consolador

lembrar

que o amigo que partiu

faz um bocado de falta...

 

muita falta.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 22 de julho de 2022

Vaquinha para comprar um rádio

 

A molecada carente de pedra

subiu da Vila Pedreira de madrugada

e furtou o rádio do bar do Manetta.

Nosso divino amigo sofreu de insônia nas noites seguintes,

pois era iminente o risco de outros roubos.

Então ele subiu na Belina e desceu até a vila

e puteou todo mundo, gritando:                                      

O bicho vai pegar!!

Os amigos ficamos preocupados com sua integridade física.

Entendemos que ele não precisava se arriscar

por causa de um radinho velho - embora saibamos

que os animais se apegam a essas pequenas coisas

cotidianas.

Gente, é triste ver o bar mergulhado

numa melancolia barulhenta.

Decidimos então fazer uma vaquinha

para que outro rádio desembarque do Paraguai.

Todos estão convidados a participar.

Somos uns bêbados sensíveis.

E tem mais, um bar sem radinho trazendo

o resultado do Jogo do Bicho,

tocando a Voz do Brasil  

e depois as canções antigas

não é um bar de confiança.

 

(B. B. Palermo)


quinta-feira, 21 de julho de 2022

O gato Américo


 

Perguntei pro meu amigo,

o tutor do gato Américo,

se o bichano era eu.

Fiquei confuso

e também feliz da vida

ao perceber que o gato e eu

temos a mesma cara

e o mesmo nome.

Se um dia rolar encrenca

eu mudo de nome

e geografia.

Serei o pai do Palermo

ou seu irmão gêmeo

morando na

Sicília!


terça-feira, 19 de julho de 2022

Anotações em guardanapos assistindo futebol na TV do bar

 

Ao empinar o copo de cerveja,

o Betão empina junto o dedo mindinho.

Não sabemos se é uma questão de etiqueta, de coordenação

ou se ele está se exibindo pras gurias.

Toda vez que o Cesinha corre pra calçada fumar,

o time faz um gol.

No intervalo, na calçada diante do bar,

se dizemos uma frase de efeito                      

ele canta desafinado uma canção.

A estatística não nos engana:

90% das vezes que o Elson vai pro banheiro mijar,

o time recua as linhas e leva um sufoco do adversário.

O Telmo é multitarefas.

Consegue olhar o jogo na TV,

escutar o jogo de outro time no celular

e ainda servir cerveja pra um bando de malucos barulhentos.

Toda vez que passa um jogo do Grêmio,

o Pedro Byke, numa tranquilidade impaciente,

pergunta se vai passar o jogo do Inter.

Se tem uma coisa que ferve sua adrenalina,

mais do que a performance do Inter

ou uma jogada de craque nos jogos na Afucotri,

é a véspera do resultado do Jogo do Bicho.

Quando o Grêmio está com deficiente poderio ofensivo,

o seu Ivo reclama indignado, do técnico:

"Por que não bota os lebreiros?!"

Como a maioria de nós que está no bar tem muita rodagem,

quando os caras vão a toda hora no banheiro mijar

nos perguntamos se eles têm problema na próstata

ou se é a ceva que é diurética.

O Pedro Borges não debate geometria,

filosofia,

astronomia

ou até metafísica

com tanta desenvoltura no departamento da universidade onde trabalha

como acontece no bar.

E os debates esquentam nos momentos

em que o jogo está mais tenso.

Perguntaram ao João Grandão se o Carleone  

(que tirava um cochilo debruçado na mesa dum cantinho do bar)

tem problemas com álcool, e ele respondeu:

"Claro que não! Só quando falta!".

 

(B. B. Palermo)


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...