quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Uma tarde agradável de terça

Uma garota insaciável pra satisfazer

e o meu feijão está aguardando, de molho,

há umas 24 horas.

2 dias fugindo de uma refeição decente,

isso em nome da inspiração e do amor.

É uma tarde agradável de terça,

tudo estaria mais ou menos,

porém nada de cerveja na geladeira.

Uma tarde agradável,

a maioria dos moradores do bairro

estão ocupados no trabalho,

então me convenço de que as coisas

estão no seu lugar.

Penso numa sortida salada verde,

arroz integral, um bife acebolado,

ovos galados cozidos, uma boa noite de sono

e não lembro quando foi a última vez.

Ela deseja um garoto sarado e ereções sucessivas...

Sabemos que ela merece, todos temos nossas fantasias,

mas estou fora de forma,

não lembro em que ano fiz o último checkup.

É que alguns de nós, machos pra valer,                         

fugimos de médicos e exames porque compartilhamos

a ideia envergonhada de que "quem procura, acha".

Não somos mais garotos, a pança só cresce e -

ao tentar mais uma vez -

nos damos conta de que os pés estão gelados,

enquanto a outra extremidade, a nossa cara,

está suando em bicas.

 

Nunca chegamos atrasados a um novo encontro,

nova paquera, novas possibilidades de gostar

e sentir falta de alguém.

Porém, entra em campo um outro EU,

um monstrinho pra lá de neurótico, perguntando:

Quanto de vida ela vai te dar?

Quanto de vida ela vai te roubar?

Como se nossa vida fosse algo

tão valioso.

 

(B. B. Palermo)

 


sábado, 5 de fevereiro de 2022

Divina comédia humana

Fale-me do amor,

da dor,

da saudade

e da ansiedade,

nem precisa jogar areia nos meus olhos,

fique tranquila,

eu choro cascatas

em 10 vezes sem entrada e sem juros.

 

Fale-me que a liberdade

e a felicidade

são reais,

convença-me a calçar sapatos

3 números a menos.

 

Convença, a mim e ao Belchior,

de que o amor é tão concreto

quanto o sexo casual.

 

(B. B. Palermo)

 



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A fumaça sobe


Sentada num sofá confortável,

ela vê as séries favoritas,

deixando para trás as pirações

que viveu comigo.


Sentado em algum bar,

acendo o fogo

e faço a fumaça subir.

Envio mensagens para ninguém,

fantasiando quem fui,

parodiando quem sou

e as maravilhas

que tenho a oferecer.


A fumaça sobe

e eu me dissolvo

no ar.

 

(B. B. Palermo)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Consumação

O carinha

foi metralhado

no portão de casa.

Eu vi sua última exibição:

sangue gravado

por algumas horas

na calçada infame.

Nada que me emocione.

Eu sei, nunca mais chutará

as perdas do caminho.

Vai ser difícil

subir aos céus

com tanto

chumbo.

 

(Carleone & Palermo)


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

DE MÉDICO E DE LOUCO

Se baixo a guarda,

eu fico louco!

É que estou cercado de gente

arrotando certezas

a partir de suas leituras bíblicas,

ou de ciências e psicologia,

adoçadas pelo senso comum.

É de chorar bater de frente

com a vontade de falar

desses infelizes.

 

Empresto meus ouvidos, digo sim.

A cabeça vai perambulando

como balão desgovernado.

Desejos insanos que fizeram Bodas de Ouro

aguardam sobre estantes,

repletos de pó e vontade louca

de compartilhar suas balelas.

 

Haja psiquiatras e psicólogos,

haja padres, pastores e pessoas humildes

e sua paciência para deixar seu cérebro

ser encharcado por nuvens de delírios.

 

Você já esqueceu em que lugar se escondem

as minas prontas para explodir.

É lunático tentando persuadir lunático,

psicótico convencendo neurótico...

Você sofre de insônia e tenta adivinhar

em qual ala psiquiátrica qualquer dia vai pousar.

É que somos um bando de malucos

batendo asas e indo

a todo e nenhum lugar.

 

O pior é a má-fé:

você é um cretino que vive meio torto

e mesmo assim distribui um belo repertório

de conselhos a esses pobres diabos.

 

Queremos virar o disco,

queremos esquecer o passado,

nunca mais olhar pelo retrovisor.

Queremos afundar o pé 

e nos afastarmos dos fantasmas

que continuam a nos escravizar.


Talvez sirva de consolo

um ditado de merda

que não cansamos de repetir:

 

DE MÉDICO E DE LOUCO

TODO MUNDO TEM UM POUCO!

 

(B. B. Palermo)


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Abrem-se as portas do inferno

 

Ruy, um ateu

de bom coração

e bom senso,

falou:

 

- HOJE

GOSTARIA

DE ACREDITAR

NO INFERNO!

 

Cadelão,

um filósofo de boteco,

num restinho

de lembranças

sartrianas,

falou:

 

- O INFERNO

SÃO OS OUTROS!

 

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Chuva, cadê você, sua ingrata?



Paira no ar um desejo

messiânico de chuva.

Cada um de nós está ansioso

para captar com suas câmeras

pingos prateados despencando do céu,

transbordando de júbilo

humanos, plantas e animais.

 

Somos viciados nos chutes dos meteorologistas,

suas análises das imagens dos satélites

entupindo os noticiários,

e o que nos resta são os papos

compartilhados o tempo todo

e em todo lugar:

"Amiga, não suporto mais esse calor!".

"Gente, vocês viram quantos graus marcava

o termômetro da praça?".

"Bem feito! O homem tá pagando o preço

pela sua destruição das matas e vertentes!".

 

Um dia qualquer despencarão dos céus

toneladas de água.

Então redirecionaremos nossas preciosas metralhadoras

para outros assuntos ainda mais nobres:

"Esse BBB é um lixo! Eu que não perco meu precioso tempo

vendo essas coisas!".

"Viram só? O povo só quer saber de festa e aglomeração,

não tão nem aí pro Covid!".

 

Até em pesadelos eu imploro pela chuva.

Tenho caprichado na ingestão de líquidos,

é pau a pau a disputa entre água e cerveja.

Acho que é por isso que venho tendo

uns sonhos estranhos nas madrugadas mornas.

Estou olhando pro alto e, então, pregos

atingem minha cabeça,

e a massa cinzenta do meu cérebro

se espalha no ar feito chafariz,

como se fosse lava a jato funcionando a todo vapor,

e não dá outra, a enchente vai entupindo

sarjetas e bueiros.

 

Tem algo que eu possa fazer,

enquanto a chuva não vem

e esse calor não abranda?

E se eu tenho superpoderes,

mas nunca me preocupei com isso?

Às vezes desconfio dessa conversa

de que somos limitadíssimos,

de que não passamos de vermes

passeando na lua cheia.

Danem-se as dúvidas.

Nessas alturas escolho tranquilamente

o meio-termo:

metade água, metade cerveja.

 

(B. B. Palermo)


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

O show tem que continuar

Você mergulha no rio

de águas agitadas

chamado adolescência.

Desce e experimenta

o prazer de piercings,

tatuagens, narguilés

e outras carências 

cômicas.

Você logo sente falta de ar,

hora de voltar 

pra margem.

Tragédias e milagres acontecem,

é o que repetem 

todos os dias

os jornais.

O show tem que continuar,

diz uma música.

 

É a vida passando

com sua 

roleta russa.

 

(B. B. Palermo) 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Parceria

 


Tem o que olha pra um lado e passa pro outro.

Tem o que toca de calcanhar e às vezes acerta.

Tem o que demora pra passar e quase nunca erra.

Tem o que compete como se fosse final de copa.

Tem o que joga como se estivesse na copa

tomando um litrão.

Tem o que come e não engorda.

Tem o fofo que não tá nem aí.

Tem o que joga muito e corre o tempo todo.

Tem o que corre pouco e tem a melhor assistência.

Tem o que conta a história mais louca

na hora da sede

depois do jogo.

O que importa é que a amizade

entra em campo

o tempo todo!

Valeu amigos do grupo Arte/bola/Fernandinho!

 

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...