sábado, 14 de setembro de 2013

Dalton estava hibernando


Decidi criar um pseudônimo. Anotei na agenda algumas de suas características. Óbvio, para não me repetir, dei-lhe mais qualidades do que defeitos. Dalton Naseton - este é seu nome provisório -  não coloca em primeiro plano bens materiais, nem se preocupa em agradar os outros. Prefere ter opinião própria. É um sujeito insatisfeito com a vida agitada que vivemos. Chegou a confidenciar a alguns amigos que sonha viver uma vida simples, afastado dessa zoeira urbana. Diz que está mais do que na hora de nos reaproximarmos do ambiente natural, visando uma harmonia, por menor que seja, com a natureza. Outra qualidade do Dalton é a sua consciência de que pode e deve fazer algo, mesmo com seus textos, para dar exemplo e melhorar o mundo em que vivemos.
Imprudente, mencionei esse desejo para alguns amigos e eles, na mesma hora, criticaram, até zombaram...  “Medroso, preguiçoso... não dá conta nem de si mesmo e ainda quer criar Outro para falar o que tem medo de dizer em público!?” Tiranos, me compararam aos deputados lá de Brasília, que usam do voto secreto para escamotear seus conchavos anti-éticos.
Contra-argumentei dizendo que, manuseando os fantoches de um personagem, eu poderia me expressar de maneira muito mais solta, no caso, escrever, liberto da minha e também da censura dos outros.
Um dos amigos foi demasiado cruel: “O quê? Preguiçoso como você é, ainda quer duplicar o teu trabalho?” E, definitivo: “Seja você mesmo, não coloca mais uma máscara nessa tua cara de pau, e escreva algo interessante pra nós!”
Dei-lhe razão. Se eu queria escrever umas coisas legais, por que necessitava da carapuça de um nome desconhecido, em vez de enfrentar a crítica de cara limpa? Sim. Ninguém vai entender (e meus amigos demonstraram isso) essa nóia de criar um Robin Hood verbal, meu justiceiro. Seria perda de tempo explicar que Dalton seria um super-herói, e sua palavra agiria coma bala de borracha no coração dos maus, e um brinquedo nas mãos  dos bons e das crianças.
Quem me dera que Dalton fosse igual a uma estátua viva, tentando nos acordar para outros sentidos do cotidiano, sem nos importarmos com quem se esconde por trás do personagem...
Aqui estamos, eu e o Dalton, olhando em volta, escutando a natureza anunciar a primavera, sonhadores, e tentando compreender por que algumas pessoas são tão cruéis conosco. Decidimos não ligar para as tagarelices dos outros, nem seguirmos suas verdades. Agora, escutamos o silêncio.
Nesses anos todos, Dalton esteve hibernando? Precisava esperar tanto para se manifestar? Hoje ele me faz companhia quando caminho pela cidade. Sobre a critica dos amigos, prefere silenciar. Respeito sua decisão. Afinal, como disse Gibran K. Gibran, “a verdade de outra pessoa não está no que ela te revela, mas naquilo que não pode revelar-te. Portanto, se quiseres compreendê-la, não escutes o que ela diz, mas, antes, o que não diz”.

Mudei de ideia. Agora, em vez de escutar a voz de um outro, mesmo que seja minha própria invenção (ficcional), vou tentar escutar a mim mesmo, minha consciência. Mas isso é doloroso. Meu tribunal interior, percebo, é muito mais tirano do que meus amigos!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Acordar


Tudo anda tenso na pátria amada, salve salve. Não me obriguem a fazer a crônica dessas águas agitadas, meio insensatas, dada a nossa história, a antiga e a de agora. Venho para quebrar o ritmo, parar com a correria, erguer a cabeça e pedir um minuto de silêncio, para ouvir grilos, sabiás, goteiras e cachoeiras. Guerras, tragedias, conflitos, bombas, cansei do crepúsculo e aurora que não vê o nascer e o pôr do sol. Suave, suave é minha opinião. Não estou nem aí pra verdade, sua razão veio tarde, trocou de lugar com o vento, o riso, o silêncio e o contra-senso. Tudo anda tenso na pátria amada. Em meio ao trânsito, buzinas e freadas, ouço a sirene da ambulância sem rumo no final de tarde. Calma. Serenidade nessa hora. Talvez o bicho não seja tão frágil. E sobreviva. Pode, quem sabe, acordar e dar o bote. Ou dar o fora.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

As vantagens de ser invisível - FILME



Acho que, se um dia eu tiver filhos e eles ficarem perturbados, não vou dizer a eles que as pessoas passam fome na China nem nada assim, porque isso não mudaria o fato de que eles estão transtornados. E mesmo que alguém esteja muito pior, isso não muda em nada o fato de que você tem o que você tem. É bom e mau.
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Eu sei que tudo isso serão apenas histórias algum dia. E nossas fotos se tornarão velhas fotografias. E todos nós nos tornaremos mãe ou pai de alguém. Mas agora, exatamente agora, esses momentos não são histórias. Está acontecendo. Eu posso ver. E nesse momento, eu juro, nós somos infinitos.

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É muito mais fácil não saber das coisas de vez em quando.
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É duro ver um amigo sofrendo tanto. Especialmente quando você nada pode fazer, a não ser ‘estar lá’. Queria fazer com que ele parasse de sofrer, mas não posso. Então eu só o acompanho aonde quer que ele queira ir para me mostrar seu mundo.
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Não pode colocar a vida das pessoas à frente da sua.
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As coisas mudam e os amigos se vão, mas a vida não pára para ninguém.
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Quando estava indo para casa, só conseguia pensar na palavra 'especial'. E pensei que a última pessoa que me disse isso foi tia Helen. Foi muito bom ter ouvido isso novamente. Porque eu acho que todos nós nos esquecemos ás vezes. E eu acho que todo mundo é especial á sua própria maneira. É o que eu penso.
...
Sei que sou quieto, e que devo falar mais, mas se soubesse as coisas que passaram pela minha cabeça, você saberia o que significou de verdade.
...
Sempre acho que um livro é meu favorito até eu ler outro.
Eu sinto o Infinito.
...

-Por que as pessoas boas escolhem as pessoas erradas? 
-A gente aceita o amor que acha que merece.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Antielegia eterea - Carlos Nejar




Na medida em que caem

os frutos, caem os homens,

caem as folhas, o sol cai

para o alto com as estrelas.

E eu, como um tronco

envelhecendo, vou ficando

oco por dentro e começo

a ser ocupado pelos passarinhos.

Começo a ser passarinho

no tronco. Até que o musgo

no céu me torne eterno.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Adote um poeta

 


Adote um poeta mesmo que seja pra guiar pela mão como bicho de estimação. Poodle, shitzu, pequinês, vira-latas. Asseado, perfumado, Don Juan das calçadas. Poeta galanteador, você sabe minha pouca intimidade com coleira, focinheira e roupinha do time do coração. Alimente a minha coragem pra entender as maluquices do mundo em suas viagens. Adote um poeta, meu algodão-doce, pra conduzir pela mão, como se Don Juan fosse...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Palestra sobre prática de leitura nas escolas



A SMED de Ijuí promoveu palestra com o professor e escritor Américo Piovesan na última terça-feira, 13, para os mediadores de leitura das escolas da rede municipal. A atividade fez parte do programa Todos pela Leitura, que visa a incentivar a prática da leitura nas escolas.
Primeiramente foi o abordado o tema da infância nos nossos dias. “Constata-se que essa, em boa medida, está sendo substituída pelo universo corporativo dos adultos, o qual é perpassado pela competição e individualismo. As crianças são submetidas à rotina adulta, com uma excessiva carga de atividades. O tempo da infância necessita ser o do lúdico e da imaginação. Ao abrir mão desse tempo, e das vivências nele envolvidas, estaremos sonegando das crianças uma formação mais humanizada. Isso leva a uma defasagem na sua formação ética, o que implica conseqüências quanto ao futuro, que é o de buscar um mundo melhor”, diz o escritor.
Um segundo tema debatido diz respeito ao papel do mediador de leitura. Para o escritor é fundamental que esse exercite sua sensibilidade e empatia, no sentido de ouvir o outro - no caso, as crianças e jovens das escolas. Empatia significa o esforço de se colocar no lugar do outro, e fazer pontes, para aproximar as gerações, tendo como elo de ligação os livros e a leitura. O mediador necessita diversificar seu repertório de histórias prestando atenção nas demandas dos alunos, tão diversificadas quantas são as faixas etárias.
Num terceiro momento, para sublinhar a importância das histórias, o palestrante enfatizou que necessitamos apostar na palavra viva - ou seja, de que um livro pode entrar na vida de uma pessoa a ponto de levá-la a mudar sua forma de pensar e de viver. A partir da psicanálise, que afirma que um dos objetivos das palavras como instrumento terapêutico é o de "diminuir o peso que cada um carrega" (Abrão Slavutski, Zero Hora de julho de 2013), vemos que as histórias que lemos possibilitam alcançarmos alguma leveza, isto é, suporta a vida pesada, com suas perdas, frustrações, privações.
 Para finalizar, Américo Piovesan procurou relacionar o poeta Vinicius de Morais à necessidade de formar leitores visando a um mundo melhor. Além da contribuição do grande poeta para popularizar a poesia através da música, o mesmo, com o espírito sensível (humanista) de sua obra, serve de contraponto à nossa sociedade pautada pelo individualismo, competição, vazio existencial, e onde os negócios perpassam boa parte das relações entre as pessoas.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Grilado


Tua música
não é hip hop nem rock
regae foxtrot ou rap.
Tua música é estado de graça.

Se meu coração
parece um vulcão,
como posso querer
que se abram flores
em minhas mãos?

Minha aura 
Frankenstein
num vermelho incerto
acusa o golpe
quando passas
por perto.

De que modas preciso
de piercings e brincos
alegres e doloridos
para te encantar?

Minha vontade
é invadir teu território
e fazer  a loucura
de cantar o meu amor
pra todo mundo ouvir
do décimo primeiro andar.

Quem sabe eu mude
minha estratégia:
invista numa TV 
celular internet crediário
e carregue sempre comigo
códigos e senhas
gramática e dicionário.

Sei, no apagar das luzes,
somos pouca coisa
quase um “Eu, etiqueta”
como disse o poeta.
No final da festa
não sou grande coisa
e, tudo quanto é coisa,
me locupleta!

Anote e (a)guarde:
ainda não tenho idade
pra cair em desgraça.
Com tua presença
afundo na fossa
sem identidade reputação 
nem nome limpo na praça!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Areia e espuma - Gibran Khalil Gibran




Somente uma vez fiquei mudo: quando alguém me perguntou: "Quem és tu?"

***
A verdade de outra pessoa não está no que ela te revela, mas naquilo que não pode revelar-te.
Portanto, se quiseres compreendê-la, não escutes o que ela diz, mas, antes, o que não diz.

sábado, 3 de agosto de 2013

QUE TAL, POETA? - Jorge Costa Melo


Neste universo
de amores tão dispersos
o poeta se agarra a seus versos
e vai seguindo um caminho.

Talvez lhe faltem carinhos
talvez se sinta sozinho...

Mas, poeta, 
que tal uma namorada?
dessas bem assanhadas,
despudorada, atrevida
que te mostre um recomeço
que te revire do avesso
e te devolva pra vida!!

Não é uma boa pedida?

terça-feira, 30 de julho de 2013

Sonho de Ícaro - Biafra



Voar, voar
Subir, subir
Ir por onde for
Descer até o céu cair
Ou mudar de cor
Anjos de gás
Asas de ilusão
E um sonho audaz
Feito um balão...
No ar, no ar
Eu sou assim
Brilho do farol
Além do mais
Amargo fim
Simplesmente sol...
Rock do bom
Ou quem sabe jaz
Som sobre som
Bem mais, bem mais...
O que sai de mim
Vem do prazer
De querer sentir
O que eu não posso ter
O que faz de mim
Ser o que sou
É gostar de ir
Por onde, ninguém for...
Do alto coração
Mais alto coração...
Viver, viver
E não fingir
Esconder no olhar
Pedir não mais
Que permitir
Jogos de azar
Fauno lunar
Sombras no porão
E um show vulgar
Todo verão...
Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul...
Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...
Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...
Do alto, coração
Mais alto, coração...
Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...
Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...
Do alto, o coração
Mais alto, o coração...(2x)


http://www.vagalume.com.br/byafra/sonho-de-icaro.html

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Playboy


Fico vidrado
no celular.
Você não liga
ninguém me liga
quando estou só.

Mansamente
mãos descobrem os segredos 
de uma outra geografia.

Atravesso o espelho
viro do avesso
para que não roubes
o meu sossego.

Meus ouvidos 
se postam
bem abertos
para ouvir as sereias
que cantam por perto.

Lábios e mãos entrelaçadas
serpentes a dançar
até o ponteiro do coração
disparar.

É o momento fatal
de virar a página
e imaginar
você sibilar
em ebulição:
"Vem depressa, 
meu garotão!"

Um dia você vai experimentar
essa aventura meio sozinha
meio estranha de namorar.
um jeito sexy de ser
playboy.


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...