segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ausência

Durante minha ausência bolinei com a saudade. Retirei-me da tomada, precaução pra respirar um mundo novo. Salvo, não quis ser confundido com um pen drive carregado de dramas e conflitos. Quis abrir as portas das percepções e mergulhar num para-universo, me afastar desses humanos quase-máquinas barulhentas e ansiosas. A vida é jogo rápido e monótono. Um jardim da infância habitado por monstros. Sobreviva. Acomode-se. Sorria, você está sendo devorado.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)


sábado, 15 de agosto de 2015

O que é que tem?

Se você é banguela, míope ou careca, narigudo, surdo ou furta-cor, o que é que tem? Você pode ser espinhento, gordo e tímido, chegar por último e dançar sozinho, ter pais ridículos ou ser adotado... Mas você pode ter amigos e amores invisíveis, e provar pra todo mundo – de Ijuí a Boa Vista do Cadeado – que todos, todos menos você, são estranhos e retardados!

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Doce sonho


Sonhei que competia com crianças, numa disparada frenética. Quem se aproximava da linha de chegada tinha água na boca. É que os troféus eram doces, lindas tortas, sorvetes, sucos e quindins. Quanto mais corria, mais distante do pódio ficava – e minhas pernas flutuavam sem sair do lugar, tamanha era a sede e a fome. Foi tanta aflição, tanta dor, que pra minha sorte fui salvo com o berro do despertador!

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

domingo, 9 de agosto de 2015

The day after - Antonio Prata



ET - E acabou por quê?
Último Remanescente da Humanidade (URH) – Resumindo bem, a Terra esquentou muito e a gente, tipo, cozinhou.
ET – Ah… Foi meteoro? Vulcão? Gigante Vermelha?
ÚRH – Não, no caso, foi vacilo, mesmo. A gente queimou petróleo, muito petróleo, até o mundo virar uma sauna seca.
ET - E queimaram petróleo pra quê?
ÚRH – Pra se locomover, basicamente. A gente criou umas caixas de metal que queimavam petróleo e te levavam de lá pra cá, sem você ter que cansar as pernas.
ET - E vocês iam de lá pra cá, pra quê? Pra fugir de predadores?
ÚRH – Não, não. Os predadores viraram bolsa e tapete bem antes. A gente queimava petróleo pra ir e voltar do trabalho, da padaria, do posto, onde a galera ia encher a caixa de metal com mais petróleo e fazer uma social na lojinha, tomando Skol latão.
ET - E por que vocês não iam a pé pro trabalho, pra padaria, pro posto, fazer social na lojinha, tomando Skol latão?
ÚRH – Porque todo mundo se aglomerava numas cidades enormes e acabava ficando meio longe do trabalho, da padaria, do posto.
ET – E por que vocês não se dividiam em cidades menores, onde dava pra fazer tudo a pé?
ÚRH – Porque nas cidades enormes tinha mais possibilidade de trabalhar e de ganhar dinheiro pra poder comprar uma caixa de metal maior e mais cara, que gastasse mais petróleo.
ET - E por que alguém quereria isso?
ÚRH - Porque dava status e status era tudo. No trabalho, na padaria, no posto, neguinho via tua caixona de metal, capaz de ir a 240 km/h e dizia: “Pô, ó o cara!”.
ET - Nossa, olhando esses escombros, agora, nem dá pra imaginar que por aqui passavam caixas de metal a 240 km/h.
ÚRH – Não, na verdade, não era assim, não: como eram muitas caixas de metal e todos queriam se locomover ao mesmo tempo, ficava tudo engarrafado. Nos horários de pico a média era de 8 km/h.
ET – Ué, até onde eu sei, com as pernas vocês podiam ir mais rápido que isso, não?
ÚRH – Poder, podia. Mas a gente preferia ir devagarinho na caixa de metal, com os vidros fechados, ar condicionado e insulfilme, de boa, ouvindo notícias sobre o trânsito e tirando meleca do nariz.
ET – Tirando meleca do nariz? Dava algum prazer físico, isso?
ÚRH – Dava um prazer medíocre. E uma culpinha, também. Prazer mesmo dava era o sexo, mas no fim ninguém mais tinha tempo pro sexo, porque tava ou trabalhando que nem louco pra comprar uma caixa de metal, ou parado dentro da caixa de metal, por horas, tentando chegar ao trabalho, onde trabalharia que nem louco pra comprar outra caixa de metal.
ET – Então vocês todos morreram porque gostavam de ficar parados em caixas de metal que queimavam petróleo pra levar vocês de lá pra cá a uma velocidade inferior à das próprias pernas?
ÚRH – É. Por causa disso, das bandejinhas de isopor e de umas pessoas que insistiram até o fim em empurrar folha na calçada com o esguicho.
ET – Oi?
ÚRH – Esquece. Podemos falar de outro assunto? E lá de onde cê vem, é bonito? Fresquinho? Tem praia?
(Antônio Prata é escritor. Publicou livros de contos, entre eles “Meio Intelectual, Meio de Esquerda”. Filho do escritor Mário Prata, escreve aos domingos na Folha de São Paulo).

Carreira solo



Dizem que devo planejar, pra encontrar o caminho certo. No momento, apenas quero inventar minha carreira solo. As bugigangas que carrego, em vez de celular, serão alegres histórias pra inspirar. Príncipe ou mocinho, lúcido ou louco como Quixote, montado no Rocinante. Parceiro de Alice, Emília e Maluquinho, darei rédeas pra aventuras, charadas e adivinhas. Nos porões, torres, escadas, contracenarei com princesas encantadas, duendes e fadas. Farei acordos políticos com lobos e três porquinhos, bruxas e chapeuzinhos, maças envenenadas e anõezinhos. Um mágico, o mago mais belo, vou namorar nas torres dos castelos. Deus me traga sonhos à vontade, me livre da insanidade de competir com todo mundo, pra exibir medalhas e diplomas na parede. Meus planos A e B não passam de maestro da orquestra. Basta alguma afinação pra vida virar festa! 

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Quero-me-encontrar



Sou do planeta Quero-brilhar e, quando os sonhos são pretensiosos, sonho que sou jogador de futebol. Quando são humildes, sou frentista ou padeiro. Motorista, de janeiro a janeiro. Médico e advogado, de fevereiro a março. Depois que meus sonhos foram roubados, persigo o sonho dos outros. Já não me reconheço diante do espelho. Meu planeta saiu dos trilhos. Hoje sonho que sou astrônomo e vasculho os céus para ver se localizo o planeta Quero-me-encontrar, porque é lá que eu quero morar!

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sábado, 1 de agosto de 2015

Metafísica


(São João Batista, de Leonardo da Vinci)

TECO – Parece bobeira perguntar, mas por que você olha tanto pro céu?
ET – Bobeira maior é responder àquilo que você já sabe!
TECO – Por que me ensinaram que, se é possível encontrar respostas pras grandes perguntas, elas virão quando olho pra cima?
ET – Quais perguntas?
TECO – “De onde viemos?”, “Para onde vamos?”
ET- Eu desci do céu, kkkkkk. Mas não sei pra onde vou... Procurar respostas para a morte e a vida após a morte é como procurar agulha num palheiro... É como dormir e não saber se vai acordar... E, se por acaso acordar, viver a surpresa de não saber o que virá pela frente!


(Tiradas do Teco, o Poeta Sonhador)

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Sonhos


Perdidos no universo, meus sonhos são pequenos, parecem brinquedos que carrego no bolso. Mas quando anoitece, eles são gigantes que me protegem, e aquecem as avenidas frias do meu coração.
(TIRADAS do Teco, o poeta sonhador.)

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Todos os poemas de amor são ridículos


- Tchê, aconteceu... Não consegui evitar...
- Mas o que foi que houve??
- Acho que tô apaixonado...
- Ah, não! Vai começar tuudo de novo! Vai ser duro te aguentar escrevendo aqueles poemas ridículos!!


 (Tiradinhas do Teco, o poeta sonhador)


(do poema Todas as cartas de amor são ridículas, de Álvaro de Campos).

terça-feira, 30 de junho de 2015

Homo roboticus



Teco – Muitos humanos, no início do século XX, dedicaram boa parte de sua vida apertando milhões de parafusos em fábricas de automóveis.
ET – Meu Deus! Deixaram de ser homo sapiens e se tornaram homo roboticus!
...
ET – Ah... Robôs com defeitos humanos: mal-humorados, deprimidos, fracassados...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Teco e os devaneios sobre a garota de Ijuí



Primeira tirinha do Teco, e da parceria Téoura&Américo



Primeira tirinha do Teco, e da parceria Téoura&Américo.`
É com muita alegria aceitei o convite do Américo pra desenhar as tirinhas do Teco, o que está sendo um desafio muito recompensador para mim. Grande parceria, muitas possibilidades. Estou feliz. Agradeço ao Américo Piovesan por colocar o Teco nas minhas mãos e também ao Mauricio Azevedo pelo apoio no processo de criação.
Até mais!
Téoura.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Me dê motivos



    TECO - Ele foi pregado na cruz                ET - Caramba! Eles arranjam
porque dizia que os humanos deviam             cada motivo para matar!
    ser legais uns com os outros.

sábado, 30 de maio de 2015

GRANDE PRESENÇA!



TECO - Você acha que o Américo merece presente de aniversário?
ET - Você não ama a vida que leva? Graças a ele você tá aqui!
- Tá... mas ele é muuuito chato. Não me deixa fazer o que quero!
- Relativiza, relativiza... Já disse Renato Russo que teus pais são crianças como você...
- Sim. E a Elis Regina disse que nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. kkkk...

- Já sei o presente que o Américo vai ganhar!
- Qual?
- Ele sempre poderá contar com minha GRAAANDE PRESENÇA!! 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Sentimento TUMTUMTUM



Eis que passa um carro com o som a toda...
TUM, TUM, TUM, TU, TU, TU, TUM, TUM, TUM!!!
ET – O que eles querem com tanto barulho??
TECO – Sei lá... Acho que é falta de assunto.

Teco apresenta algumas músicas para seu amigo.
TECO – Quando ouço as “Quatro estações” do Vivaldi, parece que sinto a mudança das estações do ano...
Nisso, passa um carro com o volume do som a mil...
TUM, TUM, TUM,TU, TU, TU, TUM, TUM, TUM!!!
ET – Caramba! Que estação é essa??
TECO – Isso tá mais pra terremoto ou tsunami!...

Pouco depois circula outro carro:
TU, TU, TU, TUM, TUM, TUM, TU, TU, TU!!!
TECO – O que será que eles sentem nessas horas??
ET – Captei o sentimento deles!!
TECO – E qual é??

ET - É o sentimento TUMTUMTUM!!!

terça-feira, 26 de maio de 2015

Assassinaram a Mafalda



ET – Vê se não enrola. Deve haver algum personagem que você se identifica...
TECO – Bem, não queria espalhar isso... Você sabe como tem gente fofoqueira por aí.
ET – Então conta só pra mim. Sabes que sou um túmulo!
TECO – Certo. Eu me amarro na Mafalda.
ET – E quais tirinhas dela te vêm à mente agora?
TECO – Pra dizer a verdade, gosto de todas as tiras dela. Mas fiquei chocado com o que um amigo argentino falou a respeito da pessoa dela...
ET – O que ele falou??
TECO – Ele disse que a Mafalda está com 65 anos. E um amigo dele, que a conheceu, disse que ela trabalhou numa boate e namorou um traficante. Ah, e passou seis meses numa clínica de reabilitação por ter se viciado em bugigangas de camelódromos.
ET – Por acaso esse teu amigo argentino se chama Gustavo Héctor Brun?
TECO – sim.

 ET – Não embarque na conversa dele! Ele morre de ciúmes dela!!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Fome



ET – Mas... Boa parte da angústia adolescente deve-se à dúvida sobre a possibilidade de haver vida após a morte...

TECO – Fodam-se! Eu tento não me angustiar quando penso que quase um bilhão da população mundial passa fome!

(Fotografia de Sebastião Salgado. Do livro Gênesis)

domingo, 24 de maio de 2015

Meu carro minha vida


ET - Cara, você não acha estranho as pessoas desfilarem em carros de luxo, escondidos pelos vidros escuros?
TECO – Não. Hoje em dia os carros valem mais do que as pessoas.

ET – Hum... Palmas para o presidente Mujica, que dirigiu seu país pilotando um fusca!


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...