sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Caneladas e chutões



Dou uma passada pelas redes sociais e 
observo como está o jogo político.
Criaturas de todas as idades se digladiam à direita e à esquerda, 
a maioria fora de forma com relação às regras da argumentação, 
barrigudas, cansadas, amadoras.
Um festival de voadoras e caneladas e chutões pro alto.
Mas seguem jogando.
Sinto que é quase uma obrigação, 
como se o mundo fosse acabar amanhã.
As pessoas estão com raiva, 
inclusive alguns poetinhas.
Parodiando Bukowski, é a única coisa em que são bons.

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Uma calcinha vermelha



No ano em que Elis veio de Curitiba me visitar, eu tinha um fusca azul com umas rodas e um volante e um som que eram a minha cara.
Naqueles dias, enquanto eu cheirava a cachaça, o fuscão cheirava a gasolina.
O pobre do mecânico do bairro tirava o tanque, lavava o tanque, virava o tanque do avesso e nada de encontrar o vazamento.
Assim que chegou, Elis analisou o ambiente do meu lar e disse que umas cortinas nas janelas da sala cairiam bem.
Percebi que ela tinha planos para mim. Isso me deixou em pânico.
Tudo veio abaixo quando ela remexeu o guarda-roupa e encontrou uma calcinha vermelha.
Pegou, de uma gaveta, uma tesoura enferrujada e fez picadinho.
Não consegui esconder certa satisfação com a sua raiva.
 Ela retalhava e gritava:
Cadela! Piranha! Vadia!
Aos seus olhos, CADELÃO era um garoto ingênuo e, por isso, um indefeso aos ataques das vagabundas.
Eu gostava daquele ciúme e me achava.
Falei da loira, suas coxas musculosas, novinha e estudante de psicologia, de lábios carnudos e que mordia minha boca sempre que gozava.
Elis ouvia com atenção e com olheiras e queria saber mais detalhes.
Daí a pouco emputeceu e sumiu o dia inteiro.
Voltou à tardinha e me presenteou com um pijama de seda, trouxe também cortinas pras janelas e umas compras do mercado.
Não quis jantar fora, cozinhou nosso prato preferido: molho de galinha e massa, com muito queijo e alho e pimenta.
Depois de duas taças de vinho, Elis, mais serena, quis saber detalhes de como a piranha loira e musculosa e cadela e novinha transava.
Mais tarde ela disse que ia tomar banho e depois me ensinaria umas coisas.
Fiquei meio nervoso, não queria ser um Cadelão traidor, pensar na loirinha musculosa enquanto Elis cavalgasse.
Rapidinho, suguei três doses de uísque do Paraguai.
Ao sair do banho, Elis não quis saber de conversa e partiu pra aula prática.
Aprofundou-se nos detalhes, repetimos, repetimos a lição.
 Foi a primeira vez que dei uma trepada com alguém rebolando a bunda daquele jeito.
Parecia rainha de escola de samba num ensaio pro carnaval.
Elis era uma especialista. Elis sabia ensinar.
Hoje, contando pra vocês, eu morro de vergonha.        
Eu não sabia trepar.

(B. B. Palermo)

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Pode ser que sim, pode ser que não

Encontros aleatórios                                     
pode ser que sim
pode ser que não
algumas vezes é só beijo
outras vezes a viagem é infinita
e alegra-se um cadelão de alma suja.
Calma, meu brother,
Nenhum sentimento de culpa,
você é um solitário nessas ruas.
As estrelas apostam suas fichas em você.
Do alto, coringas e outras cartas em suas mangas,
você é um cara divertido aos olhos do firmamento.
Aprenda a comunicar-se na hora do rusch.
Seja simples e direto, mostre numa frase o que quer.
Às vezes ganhará, às vezes não.
Nada de romantismo exagerado, vê se aprende meu irmão.
Quando nada funcionar, relaxa e pensa noutra coisa.
Sussurros e gemidos e palavrões, use na dose certa,
ainda mais se um bebê dorme no quarto ao lado
e a porta está aberta.
Não desista do romantismo.
O beijo é muito importante.
Roçar a pele, sentir o cheiro,
não perder de vista o “Império dos sentidos”.
Ginástica sexual é muito pouco,
mas pode ser um bom começo.
Se ela perguntar
“O que você está fazendo?”,
“O que vai fazer daqui a pouco?”,
“Bebendo uma cerveja?”,
é porque ela quer.
Faça o seu melhor.

Se deixar para depois, babau.

(B. B. Palermo)               

sábado, 29 de setembro de 2018

Os movimentos do amor



Quando trouxer uma flor roubada,
não me devolvas uma coroa de espinhos, meu bem.
Mesmo rejeitado, eu tiro de letra,
porque intuo os movimentos do amor,
como disse Drummond:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Podes desdenhar, rir da minha cara,
contar pra todo mundo o quanto sou ridículo,
mas não esqueça que todos fingimos
que deciframos as vontades do amor.
Desejamos reter o amor e-ter-na-men-te.
Mas a vida segue. O tempo brinca
com nossos sentimentos,
ele executa as mesmas funções da diarista,
que varre e lava e limpa e passa...

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Talvez o amor seja como um local de descanso


Experimente como se ganha um amor,
e como se perde um amor,
ouvindo boa música.
Você já experimentou a batida do berimbau?
Quando você se humilha e liga e liga e ela nem aí,
ouça de preferência um blues.
Amores perdidos e ganhos,
os que sequestraram nossas melhores energias,
devem ser lembrados ouvindo sinfonias
ou música erudita.
Não tem graça carregar um par de chifres
e suavizar a dor ouvindo som ruim.
Dor de corno requer bom gosto musical.
Não sofra demasiado se a paquera não deu certo,
ainda mais se a gata tem gosto de quinta.
É bom lembrar que você não é o cara,
ainda mais se não percebeu que teu gosto é ultrapassado.
Você precisa ter paciência
se quiser fisgar aquela garota incomum.
Pode ser chapada, bêbada ou mijada
mas, por favor, que tenha um bom gosto musical.
Você deve se livrar do tédio da unha bem feita,
do cabelo pintado,
de ser tão previsível como se vê por aí.
Evite os impulsos.
A moda passa,
vai e volta,
enquanto envelhecemos.
Fiquei melancólico quando soube que a gata esperta
não tem emprego nem carro,
mora num beco e cria o filho sozinha.
mas ela tem o que procuro numa mulher:                           
senso de justiça e bom ouvido musical.


(B. B. Palermo)

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Rima com ão


Rima com ão:
ela é um bom partido
que consome toda libido
mas eu não passo de um chinelão.

(B. B. Palemo)

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Uma aquariana bipolar



Chegamos os três na boate, meus dois amigos pareciam os Três Porquinhos e eu estava pra Lobo Mau. Logo avistei, numa banquinho junto ao balcão, aquele cabelo e aquela pele morena. Várias gatinhas de minissaia, corpos na feira, e ela numa saia discreta. Nossas mãos se tocaram e um arrepio me percorreu, Meu Deus, encontrei minha alma gêmea. Alcancei-lhe dez reais e disse Escolha as músicas que você gosta e ela foi direto em Raul e Legião Urbana e começou a dançar e quando sentou abriu seu coração e eu escutei durante horas. Ergueu a saia e mostrou a tatuagem na coxa direita, uma Fênix que ia da virilha até perto do joelho e acho que isso foi a gota d’água. Cinco horas da manhã a conta disparou e o Beiço sabia que eu andava duro e então ele passou o cartão.
No carro, Dr. Biza anunciou que não podia voltar para casa, disse à sua companheira que havia viajado. Eles comentaram sobre o belo clima que experimentei com Lili e de imediato me disseram Seu frouxo, como você deixa escapar a oportunidade de fazer um sexo gostoso? Afinal, não é todo dia que o céu nos presenteia com tamanha química. Em vez de nos deixar em casa, Dr. Biza disse que iriamos atrás de uma garrafa d’água e de uns copos descartáveis. Nos dirigimos até um posto de combustíveis, um dos poucos que ainda estava aberto naquela hora. Diluiu dois sachês do Pó do amor nos três copos, brindamos a Eros e voltamos pra boate. Em minutos meu sexo acordou, depois de um tempo hibernando, e queria mostrar suas qualidades, mas já eram seis e pouco e ela precisava voltar pra casa e levar a filhinha ao colégio. O Pó do amor deixou meu voluntarioso endiabrado, ele latejava e protestava, queria libertar-se da cueca e então, horas depois, eu não parei de mandar mensagens apaixonadas e ela só rindo, rindo e curtindo.
No sábado ela veio à minha casa. Estava sóbrio e, por isso, temia me decepcionar, ela poderia não ser tudo aquilo. Assim que desceu do táxi, o cabelão e o salto alto me deixaram babando. Era tudo aquilo e muito mais. Yes, dessa vez não fui enganado pelo puto do Dioniso. Trazia na mão uma garrafa de vinho importado, dos bons, e falou o tempo todo com aquele vocabulário sofisticado e aqueles dentes e boca lindos e o seu cabelo me atraía feito imã. Meus olhos se iluminaram mais e mais. Pode ter sido pelo cabelo ou pelo timbre de sua voz ou aquela boca perfeita ou o lábio inferior generoso ou foi seu gosto musical ou seu vocabulário rico em expressões, quase sempre ausentes em garotas da noite.
Pediu que não a visse como prostituta, ela não era, ela estava, e eu disse Sim e então ela descreveu dúzias de traumas adolescentes e o custo que pagou por ser a negra mais linda entre primas e amigas e tias e outras garotas. Detalhes do estupro que sofreu de um tio, aos quinze anos, umedeceram meus olhos e me levaram a sugar várias latas de cerveja. Mamãe e titias, todas mulheres da noite, e eu pensei no destino e, que merda, parece que tudo se repete, e falou da personalidade explosiva e de tantos empregos que jogou fora. Cenas detalhadas de como chegava aos orgasmos e aí eu cada vez mais sacava que não ia rolar sexo naquela noite. Ela foi pela terceira vez no banheiro e disse que não iria trabalhar na boate porque estava meio alta, fez questão de mostrar todo o seu repertório, mesmo com vinte e poucos anos. Montada naquele corpão, veio com tudo e enroscou a língua úmida e quente na minha e pressionou seu sexo no meu e eu sussurrei Vou te lamber todinha, excitadíssima ela implorou Vamos, vamos pro quarto... Lambi e lambi e ela ergueu a voz Me beija, Cadelão escroto, me beija, daí veio por cima e quis me escravizar, rápido assumi o controle e passei a fazer uns movimentos vigorosos naquela posição que me torna o dono do mundo e murmurei Quem é o pai? Quem é o pai? Logo seus gemidos aumentaram e eu saquei que ela gostou das técnicas que aprendi ao colocar em prática manuais da vida longa que tive. Tudo rolou, rolou e foi bom. Cadelão estava fora de forma, mas é como andar de bicicleta, Cadelão não desaprendeu.
Dias depois emprestei-lhe uma grana pra fazer mercado e farmácia e na quinta-feira baixou um temporal que inundou seu barraco, sua cama estava sem os pés e ficou inutilizada e então consultei uns amigos pra ver quem poderia fazer uma doação.
De novo aquele medo de me apaixonar e assumir uma garota jovem, mãe de uma criança. É que ela é uma aquariana muito louca, uma bipolar, que intercala bom humor com gestos e sentimentos expansivos e ausência no mundo, como quem passa da bebedeira pra sobriedade ou do torpor do pó cheirado e curtido pra realidade deprimente do horas depois que aquilo passa. O pior é que ela quis me enquadrar. Sim, o maior motivo pra me afastar ocorreu depois que ela insistiu pra que eu frequentasse com ela, todos os domingos, a Igreja Evangélica Abominação À Vida Torta.

(B. B. Palermo)

sábado, 15 de setembro de 2018

Bárbara, meu amor



Bárbara, meu amor, eu não me importo que você goste de música sertaneja, nem me importo que você devore, num apetite absurdo, os lanches de mamãe.
Quando você vem do trabalho, quando você desce do carro, quando você atravessa a rua e vem pra mim, dispara meu coração. Mas você não vem pra mim, você vai pro fundo do bar e dá Oi, Benção mamãe, benção papai.
Eu peço outra cerveja, caneta e papel humilhados, apenas meus olhos se alegram.
Bárbara, você dá Oi, tudo bem?, como se quisesse me respeitar, mas sei que você vive me zoando.
Você anda distraída pelo bar. O canto do teu olho me observa... Não, não, não, isso é fruto da minha imaginação.
Você é sereia demais na praia que curto. Teu abraço é aeroporto pra Jumbo, e eu não passo de um vacilão.
Bárbara, posso te ensinar de tudo. Esportes, estética, filosofia e economia, mas não inflaciones meu coração.
Meu amor, eu não me importo que você não me queira. Eu só preciso te ver pra saber que você está bem.

(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...