segunda-feira, 8 de outubro de 2018
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
Uma calcinha vermelha
No
ano em que Elis veio de Curitiba me visitar, eu tinha um fusca azul com umas
rodas e um volante e um som que eram a minha cara.
Naqueles
dias, enquanto eu cheirava a cachaça, o fuscão cheirava a gasolina.
O
pobre do mecânico do bairro tirava o tanque, lavava o tanque, virava o tanque
do avesso e nada de encontrar o vazamento.
Assim
que chegou, Elis analisou o ambiente do meu lar e disse que umas cortinas nas
janelas da sala cairiam bem.
Percebi
que ela tinha planos para mim. Isso me deixou em pânico.
Tudo
veio abaixo quando ela remexeu o guarda-roupa e encontrou uma calcinha vermelha.
Pegou,
de uma gaveta, uma tesoura enferrujada e fez picadinho.
Não
consegui esconder certa satisfação com a sua raiva.
Ela retalhava e gritava:
Cadela! Piranha! Vadia!
Aos
seus olhos, CADELÃO era um garoto ingênuo e, por isso, um indefeso aos ataques
das vagabundas.
Eu
gostava daquele ciúme e me achava.
Falei
da loira, suas coxas musculosas, novinha e estudante de psicologia, de lábios
carnudos e que mordia minha boca sempre que gozava.
Elis
ouvia com atenção e com olheiras e queria saber mais detalhes.
Daí
a pouco emputeceu e sumiu o dia inteiro.
Voltou
à tardinha e me presenteou com um pijama de seda, trouxe também cortinas pras janelas e umas
compras do mercado.
Não
quis jantar fora, cozinhou nosso prato preferido: molho de galinha e massa, com
muito queijo e alho e pimenta.
Depois
de duas taças de vinho, Elis, mais serena, quis saber detalhes de como a
piranha loira e musculosa e cadela e novinha transava.
Mais
tarde ela disse que ia tomar banho e depois me ensinaria umas coisas.
Fiquei
meio nervoso, não queria ser um Cadelão traidor, pensar na loirinha musculosa
enquanto Elis cavalgasse.
Rapidinho,
suguei três doses de uísque do Paraguai.
Ao
sair do banho, Elis não quis saber de conversa e partiu pra aula prática.
Aprofundou-se
nos detalhes, repetimos, repetimos a lição.
Foi a primeira vez que dei uma trepada com
alguém rebolando a bunda daquele jeito.
Parecia
rainha de escola de samba num ensaio pro carnaval.
Elis
era uma especialista. Elis sabia ensinar.
Hoje,
contando pra vocês, eu morro de vergonha.
Eu
não sabia trepar.
(B.
B. Palermo)
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Pode ser que sim, pode ser que não
Encontros
aleatórios
pode
ser que sim
pode
ser que não
algumas
vezes é só beijo
outras
vezes a viagem é infinita
e
alegra-se um cadelão de alma suja.
Calma,
meu brother,
Nenhum
sentimento de culpa,
você
é um solitário nessas ruas.
As
estrelas apostam suas fichas em você.
Do
alto, coringas e outras cartas em suas mangas,
você
é um cara divertido aos olhos do firmamento.
Aprenda
a comunicar-se na hora do rusch.
Seja
simples e direto, mostre numa frase o que quer.
Às
vezes ganhará, às vezes não.
Nada
de romantismo exagerado, vê se aprende meu irmão.
Quando
nada funcionar, relaxa e pensa noutra coisa.
Sussurros
e gemidos e palavrões, use na dose certa,
ainda
mais se um bebê dorme no quarto ao lado
e
a porta está aberta.
Não
desista do romantismo.
O
beijo é muito importante.
Roçar
a pele, sentir o cheiro,
não
perder de vista o “Império dos sentidos”.
Ginástica
sexual é muito pouco,
mas
pode ser um bom começo.
Se
ela perguntar
“O
que você está fazendo?”,
“O
que vai fazer daqui a pouco?”,
“Bebendo
uma cerveja?”,
é
porque ela quer.
Faça
o seu melhor.
Se
deixar para depois, babau.
(B.
B. Palermo)
sábado, 29 de setembro de 2018
Os movimentos do amor
Quando
trouxer uma flor roubada,
não
me devolvas uma coroa de espinhos, meu bem.
Mesmo rejeitado, eu tiro de letra,
porque intuo os movimentos do amor,
como disse Drummond:
João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Podes
desdenhar, rir da minha cara,
contar
pra todo mundo o quanto sou ridículo,
mas
não esqueça que todos fingimos
que
deciframos as vontades do amor.
Desejamos
reter o amor e-ter-na-men-te.
Mas
a vida segue. O tempo brinca
com nossos
sentimentos,
ele
executa as mesmas funções da diarista,
que
varre e lava e limpa e passa...
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Talvez o amor seja como um local de descanso
Experimente
como se ganha um amor,
e
como se perde um amor,
ouvindo
boa música.
Você já experimentou a batida do berimbau?
Quando
você se humilha e liga e liga e ela nem aí,
ouça
de preferência um blues.
Amores
perdidos e ganhos,
os
que sequestraram nossas melhores energias,
devem
ser lembrados ouvindo sinfonias
ou
música erudita.
Não
tem graça carregar um par de chifres
e
suavizar a dor ouvindo som ruim.
Dor
de corno requer bom gosto musical.
Não
sofra demasiado se a paquera não deu certo,
ainda
mais se a gata tem gosto de quinta.
É
bom lembrar que você não é o cara,
ainda
mais se não percebeu que teu gosto é ultrapassado.
Você
precisa ter paciência
se
quiser fisgar aquela garota incomum.
Pode
ser chapada, bêbada ou mijada
mas,
por favor, que tenha um bom gosto musical.
Você
deve se livrar do tédio da unha bem feita,
do
cabelo pintado,
de
ser tão previsível como se vê por aí.
Evite
os impulsos.
A
moda passa,
vai
e volta,
enquanto
envelhecemos.
Fiquei
melancólico quando soube que a gata esperta
não
tem emprego nem carro,
mora
num beco e cria o filho sozinha.
mas
ela tem o que procuro numa mulher:
senso
de justiça e bom ouvido musical.
terça-feira, 25 de setembro de 2018
Rima com ão
Rima com ão:
ela
é um bom partido
que consome toda libido
mas
eu não passo de um chinelão.
(B.
B. Palemo)
segunda-feira, 24 de setembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Uma aquariana bipolar
Chegamos os três na
boate, meus dois amigos pareciam os Três Porquinhos e eu estava pra Lobo Mau.
Logo avistei, numa banquinho junto ao balcão, aquele cabelo e aquela pele
morena. Várias gatinhas de minissaia, corpos na feira, e ela numa saia discreta. Nossas mãos se tocaram e um arrepio me percorreu, Meu Deus, encontrei
minha alma gêmea. Alcancei-lhe dez reais e disse Escolha as músicas que você
gosta e ela foi direto em Raul e Legião Urbana e começou a dançar e quando
sentou abriu seu coração e eu escutei durante horas. Ergueu a saia e mostrou a
tatuagem na coxa direita, uma Fênix que ia da virilha até perto do joelho e
acho que isso foi a gota d’água. Cinco horas da manhã a conta disparou e o
Beiço sabia que eu andava duro e então ele passou o cartão.
No carro, Dr. Biza
anunciou que não podia voltar para casa, disse à sua companheira que havia
viajado. Eles comentaram sobre o belo clima que experimentei com Lili e de
imediato me disseram Seu frouxo, como você deixa escapar a oportunidade de fazer
um sexo gostoso? Afinal, não é todo dia que o céu nos presenteia com tamanha
química. Em vez de nos deixar em casa, Dr. Biza disse que iriamos atrás de uma
garrafa d’água e de uns copos descartáveis. Nos dirigimos até um posto de
combustíveis, um dos poucos que ainda estava aberto naquela hora. Diluiu dois
sachês do Pó do amor nos três copos, brindamos a Eros e voltamos pra boate. Em
minutos meu sexo acordou, depois de um tempo hibernando, e queria mostrar suas
qualidades, mas já eram seis e pouco e ela precisava voltar pra casa e levar a filhinha
ao colégio. O Pó do amor deixou meu voluntarioso endiabrado, ele latejava e
protestava, queria libertar-se da cueca e então, horas depois, eu não parei de
mandar mensagens apaixonadas e ela só rindo, rindo e curtindo.
No sábado ela veio à
minha casa. Estava sóbrio e, por isso, temia me decepcionar, ela poderia não
ser tudo aquilo. Assim que desceu do táxi, o cabelão e o salto alto me deixaram
babando. Era tudo aquilo e muito mais. Yes, dessa vez não fui enganado pelo puto
do Dioniso. Trazia na mão uma garrafa de vinho importado, dos bons, e falou o
tempo todo com aquele vocabulário sofisticado e aqueles dentes e boca lindos e
o seu cabelo me atraía feito imã. Meus olhos se iluminaram mais e mais. Pode
ter sido pelo cabelo ou pelo timbre de sua voz ou aquela boca perfeita ou o
lábio inferior generoso ou foi seu gosto musical ou seu vocabulário rico em
expressões, quase sempre ausentes em garotas da noite.
Pediu que não a visse
como prostituta, ela não era, ela estava, e eu disse Sim e então ela descreveu
dúzias de traumas adolescentes e o custo que pagou por ser a negra mais linda
entre primas e amigas e tias e outras garotas. Detalhes do estupro que sofreu de
um tio, aos quinze anos, umedeceram meus olhos e me levaram a sugar várias
latas de cerveja. Mamãe e titias, todas mulheres da noite, e eu pensei no
destino e, que merda, parece que tudo se repete, e falou da personalidade
explosiva e de tantos empregos que jogou fora. Cenas detalhadas de como chegava
aos orgasmos e aí eu cada vez mais sacava que não ia rolar sexo naquela noite.
Ela foi pela terceira vez no banheiro e disse que não iria trabalhar na boate
porque estava meio alta, fez questão de mostrar todo o seu repertório, mesmo
com vinte e poucos anos. Montada naquele corpão, veio com tudo e enroscou a
língua úmida e quente na minha e pressionou seu sexo no meu e eu sussurrei Vou
te lamber todinha, excitadíssima ela implorou Vamos, vamos pro quarto... Lambi
e lambi e ela ergueu a voz Me beija, Cadelão escroto, me beija, daí veio por
cima e quis me escravizar, rápido assumi o controle e passei a fazer uns
movimentos vigorosos naquela posição que me torna o dono do mundo e murmurei
Quem é o pai? Quem é o pai? Logo seus gemidos aumentaram e eu saquei que ela
gostou das técnicas que aprendi ao colocar em prática manuais da vida longa que
tive. Tudo rolou, rolou e foi bom. Cadelão estava fora de forma, mas é como
andar de bicicleta, Cadelão não desaprendeu.
Dias depois
emprestei-lhe uma grana pra fazer mercado e farmácia e na quinta-feira baixou
um temporal que inundou seu barraco, sua cama estava sem os pés e ficou
inutilizada e então consultei uns amigos pra ver quem poderia fazer uma doação.
De novo aquele medo de
me apaixonar e assumir uma garota jovem, mãe de uma criança. É que ela é uma
aquariana muito louca, uma bipolar, que intercala bom humor com gestos e
sentimentos expansivos e ausência no mundo, como quem passa da bebedeira pra
sobriedade ou do torpor do pó cheirado e curtido pra realidade deprimente do
horas depois que aquilo passa. O pior é que ela quis me enquadrar. Sim, o maior
motivo pra me afastar ocorreu depois que ela insistiu pra que eu frequentasse
com ela, todos os domingos, a Igreja
Evangélica Abominação À
Vida Torta.
(B. B. Palermo)
sábado, 15 de setembro de 2018
Bárbara, meu amor
Bárbara, meu amor, eu
não me importo que você goste de música sertaneja, nem me importo que você
devore, num apetite absurdo, os lanches de mamãe.
Quando você vem do
trabalho, quando você desce do carro, quando você atravessa a rua e vem pra
mim, dispara meu coração. Mas você não vem pra mim, você vai pro fundo do bar e
dá Oi, Benção mamãe, benção papai.
Eu peço outra cerveja,
caneta e papel humilhados, apenas meus olhos se alegram.
Bárbara, você dá Oi,
tudo bem?, como se quisesse me respeitar, mas sei que você vive me zoando.
Você anda distraída
pelo bar. O canto do teu olho me observa... Não, não, não, isso é fruto da
minha imaginação.
Você é sereia demais na
praia que curto. Teu abraço é aeroporto pra Jumbo, e eu não passo de um
vacilão.
Bárbara, posso te
ensinar de tudo. Esportes, estética, filosofia e economia, mas não inflaciones
meu coração.
Meu amor, eu não me
importo que você não me queira. Eu só preciso te ver pra saber que você está bem.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Saco de pancadas
Preso a labirintos surreais, estou embriagado de ilusões.
Uma parte de mim é
estatística, outra parte é mitologia.
Não me conformo, pois
sinto nos ossos que a estatística, raio-x, atravessa meus órgãos feito
ultrassom.
Algo resiste, não
quantificável, um sensível bebedor.
As pesquisas conhecem
uma fatia de mim, o rosto da vitrine, outdoors nas esquinas.
Os números me chamam
pra dançar, mas os ritmos estonteiam. Dá vontade de vomitar.
No embalo da dança,
socos bem direcionados me embretam, jabs de esquerda e de direita entram
direto, golpes na linha da cintura e supercílios e rins mutilados.
Lutador vencido, aqui
estou, saco de pancadas, jogado aos leões.
(B. B. Palermo)
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