segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Levantadores de copo - Stanislaw Ponte Preta




Eram quatro e estavam ali já ia pra algum tempo, entornando seu uisquinho. Não cometeríamos a leviandade de dizer que era um uísque honesto porque por uísque e mulher quem bota a mão no fogo está arriscado a ser apelidado de maneta. E sabem como é, bebida batiza­da sobe mais que carne, na COFAP. Os quatro, por conseguinte, esta­vam meio triscados.

A conversa não era novidade. Aquela conversa mesmo, de bêbedo, de língua grossa. Um cantarolava um samba, o outro soltava um palavrão dizendo que o samba era ruim. Vinha uma discussão inconseqüente, os outros dois separavam, e voltavam a encher os copos.

Aí a discussão ficava mais acalorada, até que entrasse uma mu­lher no bar. Logo as quatro vozes, dos quatro bêbedos, arrefeciam. Não há nada melhor para diminuir tom de voz, em conversa de bêbedo, do que entrada de mulher no bar. Mas, mal a distinta se in­corporava aos móveis e utensílios do ambiente, tornavam à conversa em voz alta.

Foi ficando mais tarde, eles foram ficando mais bêbedos. Então veio o enfermeiro (desculpem, mas garçom de bar de bêbedo é muito mais enfermeiro do que garçom). Trouxe a nota, explicou direitinho por que era quanto era etc. etc., e, depois de conservar nos lábios aquele sorriso estático de todos os que ouvem espinafração de bêbedo e levam a coisa por conta das alcalinas, agradeceu a gorjeta, abriu a porta e deixou aquele cambaleante quarteto ganhar a rua.

Os quatro, ali no sereno, respiraram fundo, para limpar os pul­mões da fumaça do bar e foram seguindo calçada abaixo, rumo a suas residências. Eram casados os quatro entornados que ali iam. Mas a bebida era muita para que qualquer um deles se preocupasse com a possibilidade de futuras espinafrações daquela que um dia — em plena clareza de seus atos — inscreveram como esposa naquele livrão negro que tem em todo cartório que se preze.

Afinal chegaram. Pararam em frente a uma casa e um deles, depois de errar várias vezes, conseguiu apertar o botão da campainha. Uma senhora sonolenta abriu a porta e foi logo entrando de sola.

—   Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbedos, não é?
Foi aí que um dos bêbedos pediu:

—   Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros três querem ir para casa.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Otávio, o temerário

Desde a infância ouvi falarem do Otávio, o temerário. É o grande olho e ouvido da cidade. Dos avisos fúnebres aos bailes. Dedicado em tempo integral à palavra - escrita, falada ou cantada - é o pombo correio que todos escutam.
Ele é o que se pode chamar de o revisor. Pequenos textos, seja científicos ou literários, dissertações, teses, livros... Os esboços que algum iniciante, depois de muita dúvida, decidiu publicar passam por seu olho de águia.
Vinte e quatro horas por dia, com amigos, em rodas de bar, está sempre farejando. Qualquer deslize nas palavras, pronúncias distorcidas, metáforas fora do contexto, e o temerário capitão anuncia “Veja bem...” e derrama meia hora de explicação lógica. Observador da linguagem e linguarudo, tem opinião para tudo.
Dorme com o rádio ligado. Sintoniza emissoras castelhanas. Tangos, polcas, milongas, chamamés. Quem me contou foi Tininha Meia Luna: enquanto dorme, os sonhos são espantados pelas canções que invadem seus ouvidos. É por isso que ele conhece todas as canções. Nunca lembra do que sonhou, mas sempre tem uma música nova pra cantarolar.
Quando conhece novos amigos, faz questão de filosofar: “Meu fígado acostumou a trabalhar no limite. Junto a outros órgãos vitais deste corpinho, ainda vão me levar à marca dos setenta anos. Cara, meu medo é o de me acostumar a viver, e depois não mais querer morrer!”
Embora metido a filósofo, Temerário sente-se em casa na poesia, e por isso tem o maior número de namoradas impossíveis de sua cidade. A mesa de trabalho está cheia de bilhetes e recortes de notícias engraçadas que ele retira de jornais. Os poemas são fragmentos dos amores rompidos, trágicos, que ele vive.
Escrevi umas historias e levei pra ele avaliar se tenho alguma veia literária.
Grave, como só ele sabe ser, deu uma olhada relâmpago e perguntou:
- Tchê, quantas vezes tu corrigiu e reescreveu isto daqui?
E, antes de eu sussurrar qualquer palavra, ele disse:

- Escrever qualquer merda, isso quase todo mundo faz. Piá, não dáaa pra ser comum!

TIRADAS do Teco, o poeta sonhador

terça-feira, 19 de agosto de 2014

De post e de circo


Todo mundo vive de pão e de circo.
Todos têm razão com seus belos motivos.
Pobre de mim, perdi dois amigos
 num dia épico de overdose. 
Era falta de pão e muita cirrose.
Menos eu, todos são príncipes - dizia o poeta.
Devoro Pessoa, com se fosse profeta.

Pensava perguntar, do alto do prédio, como faz o suicida:
Por que insistir em viver?
Suicidar-se significa enganar a morte, que dizem ter dia e hora marcada para nos visitar?
Hoje em dia, perguntas assim não emocionam ninguém.
Muita gente só quer ser curtida no facebook. Virar celebridade. Abrir as janelas da privacidade, escancarar-se para o mundo. Fazer sua dança, apresentar seu número. Mostrar a mais nova tatuagem, as fotos do casamento, as alianças do noivado, a aquisição do carro.
Inclusive o suicida, a maioria implora pra ser notada.
Saídas de emergência. Gritos desesperados: Olhem, estou aqui!
Apenas o eco, solidário, responde. Nossos gritos são garrafas jogadas em alto mar.
Quanto mais esperneamos para chamar a atenção, os outros dão a mínima para isso. Boiamos no mar confuso da solidão. Subimos e descemos ao sabor da maré do desamparo.
Privacidade jogada aos leões.
Cada um por si, maquiando as tatuagens ao redor do umbigo. Se preciso for, com muita dor. Mas dói muito mais se ninguém liga pra isso. Compartilhamos (virtualmente, claro) o bolo da mamãe. Os primeiros passos do filho. Os sentimentos e a inteligência de nosso cão. O início e o fim da festa. O aniversário. A viagem. A formatura.
Tem prazer maior do que as curtidas que visualizamos depois, em nossa página?
Tem sofrimento maior do que a indiferença para com nosso post, inteligente, original, criativo?
Somos e não somos o centro do mundo. Depende do tamanho de nossa ilusão. Somos e não somos o início e o fim de tudo. Depende da imaginação. O problema são os outros. Boa parte de mim resulta do que me fizeram. Nasci livre, mas me deixaram prisioneiro. Mas eu o permiti. Agora, ao reclamar, não passo de eco.
Teses e teses. Meras pretensões de verdade. E a verdade lá fora, disfarçada de qualquer coisa, ri da nossa cara, e se afasta quando estendemos a mão.
Aqui estou, com estes fragmentos, cheio de pretensão para que se torne um texto, lido por muitos. Também quero ser curtido, escutado, comentado. Igual todo mundo.
Rabisco estas linhas nos guardanapos do bar, enquanto aguardo o início do jogo. O jogo vai terminar empatado, vitória de um time ou de outro. O texto talvez não passe de vaga mensagem, presa numa garrafa, boiando solitária em alto mar.


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

As impressões digitais - Eduardo Galeano


Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul.
Aonde quer que eu vá, elas me perseguem. Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino.
Não tenho nenhum deus. Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar à morte: ainda não. Falta muito o que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do paraíso, que dizem que são quatro.
Em Montevidéu, existe um menino que explica:
- Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre.

(Do livro: O livro dos abraços. L&PM POCKET).

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Minha cadela se chama Tina



Tenho uma boxer que chama Tina e um vira-latas que chama Arthur. Três vezes por semana separamos nossas armas, coleiras e focinheiras, afinamos os cheiradores e vamos passear. 
Posso ser pedinte, virar o lixo e ser imundo, mas no meu íntimo sou o dono do mundo.
Meu tio abraçou as convenções para se acostumar com o som do seu nome. A acústica, o tom da voz, lembram sempre seu continente, tão vasto e tão algoz.
Quando entoavam sua pronúncia, as pedras uivavam e abafavam o seu silêncio de nuvem derradeira. Foi assim que fracassou na décima primeira missão de curar a dor das pedras.
Hoje meu tio ouve a música do seu nome com orgulho, pois tem uma cadela que chama Tina e um vira-latas que chama Arthur. Conhece todas as pets da cidade, e quando ouve os cães uivarem seus olhos de ET se enchem de luz.
Mas eu não consigo me acostumar completamente, com o fato de os bichos aceitarem o meu desejo de se tornarem gente. Se eu quero um dia voltar pro mato, por que eles precisam vir pra cidade, e me imitar?
Já não liguei, quando estava no bar com amigos, ceiando e brindando às pencas, e os vira-latas se aproximavam com seus olhares humildes, orelhas, pulgas e pelos, a implorar não só comida mas também carinho.
Repentinamente eu vi, com estes lindos olhos que a terra há de comer, que também sou vira-latas catando abraços, olhares e suspiros poéticos. E o que agora me preocupa é nem ligar pra isso.
Sei que estou pretensioso demais ao ver com certo medo os bichos se tornarem gente. Embora eu também seja guaipeca que fugiu das vitrines e correu até os lugares apinhados de gente, a implorar um novo lar.
Mas me soa estranho minha cidade ter quase o mesmo número de animais do que de gente. E minhas orelhas empinam quando vejo humanos passarem mais necessidade do que os bichos. Nessas horas lembro de um pedaço de uma música do Caetano: “Algo parece estar fora da ordem, da nova ordem mundial...”.
Temo pelos animais domésticos. Tenho pesadelos quando penso numa possível revolução dos bichos. E sofro também por mim, que me tornei doméstico.
Mas sei também que se eu forçar até o limite do meu olhar, até o limite da minha compreensão, se eu dobrar as vontades mais urgentes, então compreenderei feliz que não sou mais do que aranha, cobra, gato, cão e carrapato, pois todos nós temos nossos humores, manhas e artimanhas, para sobreviver pelo menos até amanhã de manhã.

O que me consola é que tenho uma boxer que chama Tina e um vira-latas que chama Arthur. Três vezes por semana agarramos coleira e focinheira e, faceiros como as árvores e os postes, deslizamos a passear.


TIRADAS do Teco, o poeta sonhador

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Existe educação ideal?


Penso na educação ideal. Penso muito sobre isso, afinal sou pai e professor.
Penso na idade ideal para se alcançar a aprendizagem ideal. Repito tanto a palavra “ideal” porque é esse o objetivo (e sonho) de nós adultos.
Alguém já perguntou às crianças sobre qual é o seu ideal?
Abrimos um pouco mais os olhos, tentamos outros ângulos de observação, e percebemos chocados que a gurizada pouco está ligando para esse ideal dos adultos. Então, esperneamos e chegamos à conclusão (meio resignada) de que o futuro deles vai ser uma catástrofe.
Outro dia um pai queixou-se do seu filho, de 12 anos de idade. As velhas e conhecidas dificuldades: notas baixas, repetência de ano, déficit de atenção, enfim, o menino manifesta grande indiferença para com a escola.
Com sofrimento desenhado pelos pés de galinha em torno dos olhos, o pai desfiou uma ladainha de preocupações a respeito do futuro do rebento. O menino não serve pra nada, é um inútil – e essa conclusão é reforçada ao comparar a “performance” de seu filho com o desempenho de alguns filhos de amigos e vizinhos.
Os pais sonham e projetam nos filhos, muitas vezes, aquilo que eles não alcançaram. E investem, inclusive boa grana, para que os filhos realizem o que eles não puderam realizar.
Parece-me cada vez mais comum: quanto mais a família, a escola e a sociedade apertam o cerco, impondo regras de utilidade, mais se fazem notar crianças e jovens “inúteis”.
Nessas horas vemos coisas interessantes. A criança pode ter déficit de atenção e aprendizagem, mas não de alegria e de poesia. E procura ganhar fôlego indo à biblioteca, e mergulhar nas histórias dos livros, para respirar um ar mais leve.
Porém nós adultos, obcecados pela ideia de utilidade, não percebemos esses sintomas – e um deles é o de rejeitarem esse alimento que não lhes apetece. E é por isso que a escola esperneia, tentando empurrar goela abaixo aqueles saberes que podem ser “úteis” a esse modelo de sociedade, mas que dão pouco prazer a quem deles se alimenta.

No fundo no fundo, estamos bastante desamparados. Pais, professores, crianças e jovens. E então nos agarramos com desespero à primeira corda de salvação que nos jogam. Carentes de luzes (próprias) que mostrem quais possíveis caminhos escolher, agarramos com unhas e dentes o que a sociedade utilitarista oferece. Com muita renúncia, estresse, e quase nenhum prazer.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Como é bom ser brasileiro


Brasileiro pede tanto a Deus, é uma colcha de retalhos que vira manto do tamanho do céu para pedir que não chova, ou faz do pranto água santa pra regar a terra seca.
Brasileiro tem tanta força no olhar que chega a espantar a luz do sol.
Agora eu sei por que Deus é brasileiro.
Brasileiro lê pouco mas em compensação pede muito. Compra compra livros de autoajuda que Deus ajuda, ajuda tanto tanto, e por isso é tão bom viver aqui.
É tanto sol é tanta chuva e frio e calor que ser brasileiro cai como luva como o relógio suíço e a pontualidade britânica.
No Brasil cabe tanta alegria e tanto amor porque todo mundo pede implora paz saúde prosperidade e chega a ser uma pena tantos pedirem e tão poucos serem os escolhidos no sorteio da loteria.
Como é bom ser brasileiro. Casado divorciado e solteiro, sou como todo mundo quero quero grito delibero autorizo reivindico fico torto de tanto pedir é tanto ensaio e teatro que meu corpo virou depósito das dores do mundo. É dor na coluna reumatismo ciático aflição ansiedade e consultório apinhado de gente pedindo espaço pra ficar doente. Como é bom viver aqui e poder pedir.
Deus, não me abandone no meu canto não me esqueça no teu céu ou em qualquer canto saiba que peço de maneira genuína eu imploro canto grito e às vezes até choro.
Eu sei que você tem tanto problema pra resolver. Palestinos e israelenses teimam em brigar. Russos e americanos vivem a se insultar. Aqui mesmo é tanto crime tanta droga tanto vício que imagino você louco pra largar de mão, bem feito pra ti deu liberdade a esse tal de ser humano e olha no que deu.
O primeiro verbo que aprendi foi “pedir”. Acredito piamente no que peço e se levo no tranco essa carreira solo é porque falta o teu sopro pra mim decolar.
Não invejo não odeio não rejeito as próximas basta que os mais próximos estejam embriagados de tanto pedir, insatisfeitos com o que já têm. Não bebo não fumo não mato por isso peço tanto e sei que estou bem na foto credenciado a sentar ao teu lado convicto de que aprendi no catecismo da vida que você é brasileiro e sempre vai olhar pra mim.

Valha-me Deus! Ajudai-me, e eu amanhã prometo que vou tentar lembrar de te agradecer.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Não me abandone papai



Papai, não me deixe só aqui neste balão de ensaio.
Não permita que os pesadelos apaguem a luz do meu quarto.
Não movimente as mesmas peças de ontem
quando você se esqueceu de mim para cuidar dos negócios.
Papai, você não podia abandonar teu menino.
Hoje ele é teu mas depois vai crescer e será do mundo.
Seja pai, cuide dos negócios e também do filho.
Teu filho dormia o sono dos anjos no banco do carro.
Mas no meio dessa noite de sonhos ele acordou.
Estava sozinho num mundo gigante a viver seu percurso estranho.
Papai, sinta a dor do menino jogado em meio a essa louca engrenagem.
Papai, você não devia esquecer do menino.
Negócios são apenas negócios.
Filhos são outros quinhentos.
Viver como pai como filho como amigo viver assim são outras engrenagens.
Negócios se esquecem.
Tragédias marcam pra sempre.
Não deixe elas voltarem seja as dez da manhã ou as cinco da tarde.
Viver é uma aventura constante. Mas não me deixe aqui sozinho.
Adultos querem currículo emprego e passar no vestibular.
Basta à criança poeta ensaiar na roda gigante do parque com adrenalina e frio na barriga a marcarem sua vida.
Papai, hoje teu filho teve olhar de terror.
Aprendeu de vez a dor da solidão.
Papai, nunca mais abandone o teu filho.
Acorde. Evite o pesadelo de o menino te abandonar amanhã.

sábado, 12 de julho de 2014

Ela disse que sou mala


Ela perguntou meu signo, de pronto eu disse gêmeos. Um elogio eu aguardei, afinal eu via nela brilhante inteligência, que sabia interpretar os recados do zodíaco.
Mas ela apenas disse: Chiii, isso é muito case!
Na hora eu não liguei, mas depois fiquei grilado por não saber a tradução da palavra no velho e bom português. Humilhado, decidi finalmente estudar inglês. 
Em casa, voei ao dicionário: case é “causa”, “questão”, e mais outros adjetivos... Até que veio a revelação: case também significa “mala!”.
Penei pra assimilar que ela (num cruzado em minha cara) disse que eu sou um delirante mala!
A star nunca ligou para os meus sonhos de ganhar na loteria, estudar algumas línguas e pelo mundo viajar.
Tão brabo eu fiquei, a ponto de inventar mil defeitos daquela megera cheia de dedos.
Como pode falar do poeta, uma garota que se exibe na passarela cheia de tatuagens e piercings, como se fosse imitação barata de Gisele Bündchen?
Nunca chamaria de mala se soubesse que tenho planos secretos de escrever grande obra que abrirá todas as portas e me fará pertencer à Academia de Letras.
Meu consolo é saber que posso superar sua crítica com muita força de vontade: ser um mala pra ela e um virtuoso pra comunidade!
Tarde eu descobri os motivos pra ser tão mala. É que ela volta e meia diz:
Não te faça de difícil. Não invente um roteiro, não critique meu script. Não me venha com milongas, não te ache songamonga. Não me roube a paciência, é impossível amar sem rir dessa cara de guri. Um romance apimentado, risos, lágrimas inocentes, amar de noite e de dia, amor cheio de repentes. Amar com rima ou sem rima, teu amor nem de longe se aproxima de roteiro pra obra-prima!
E no final ela elevou o som:
Se você quiser romance, é melhor escrever um!

(TIRADAS do Teco, o poeta sonhador)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Quando alguém desapaixona


Quando alguém desapaixona
não fica mais vermelho
o coração não dispara
quando a criatura passa

quando a gente desapaixona
do amor sobra desgraça
a paixão vira fumaça

mas não ganhamos sossego
a loucura não silencia
na hora mais solitária
dá uma vontade danada
de devorar cada sonho
                   da padaria

quando a gente desapaixona
as ondas do mar se acalmam
prometemos voltar a estudar
prometemos arrumar o quarto

levar todo lixo pra rua
e dar um jeito na vida

basta desapaixonar
pra tudo virar rotina.

(TIRADAS do Teco, o poeta sonhador)

sábado, 21 de junho de 2014

Comedor de gilete (pau de arara) - Carlos Lyra (cantado por Ari Toledo).


http://letras.mus.br/carlos-lyra/576933/

(Cantado) Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha
Eu não tinha nada que fome que eu tinha
Que seca danada no meu Ceará
Eu peguei e juntei um restinho
De coisas que eu tinha
Duas calça velha e uma violinha
E num pau-de-arara toquei para cá
E de noite eu ficava na praia de Copacabana
Zanzando na praia de Copacabana
Cantando o xaxado pras moças olhar
Virgem Santa! Que a fome era tanta
Que nem voz eu tinha
Meu Deus quanta moça, que fome que eu tinha...
Zanzando na praia pra lá e pra cá

(Recitado) Foi aí então que eu arresolvi a comer gilete...Tinha um cumpadre meu lá de Quixeramubim que ganhou um dinheirão comendo gilete na praia de Copacabana. Eu não sei não, mas eu acho que ele comeu tanta, mas tanta, que quando eu cheguei lá aquela gente toda já estava até com indigestão de tanto ver o cabra comer gilete. Uma vez eu disse assim prum moço que vinha passando: Ô decente, vosmecê não deixa eu comer uma giletezinha pra vosmecê ver?
"Tu não te manca não, ô Pau-de-Arara?"
"Só uma, que eu ainda não comi nadinha hoje."
"Você enche, ein?"
Aquilo me deixou tão aperreado que se não fosse o amor que eu tinha na minha violinha, eu tinha rebentado ela na cabeça daquele...filho de uma égua!

(Cantado) Puxa vida, não tinha uma vida pior do que a minha
Que vida danada que fome que eu tinha
Mais fome que eu tinha no meu Ceará
Quando eu via toda aquela gente num come-que-come
Eu juro que tinha saudade da fome
Da fome que eu tinha no meu Ceará
E aí eu pegava e cantava e dançava o xaxado
E só conseguia porque no xaxado
A gente só pode mesmo se arrastar
Virgem Santa! A fome era tanta que mais parecia
Que mesmo xaxando meu corpo subia
Igual se tivesse querendo voar

(Recitado) Às vezes a fome era tanta que volta e meia a gente arrumava uma briguinha pra ver se pegava a bóia lá do xadrez. Êta quentinho bom no estômago! Com perdão da palavra, a gente devolvia tudo depois, que a bóia já vinha estragada. Mas enquanto ela ficava quietinha lá dentro, que felicidade! Não, mas agora as coisas tão melhorando. Tem uma dona lá no Lebron que gosta muito de ver é eu comer caco de "vrídrio". Com isso eu já juntei uns quinhentos merréis. Quando juntar um pouco mais, vou-me embora, volto pro meu Ceará!

(Cantando) Vou voltar para o meu Ceará
Porque lá tenho nome
Aqui não sou nada, sou só Zé-com-fome
Sou só Pau-de-Arara, nem sei mais cantar
Vou picar minha mula
Vou antes que tudo rebente
Porque tô achando que o tempo tá quente
Pior do que anda não pode ficar!

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...