terça-feira, 30 de julho de 2013

Sonho de Ícaro - Biafra



Voar, voar
Subir, subir
Ir por onde for
Descer até o céu cair
Ou mudar de cor
Anjos de gás
Asas de ilusão
E um sonho audaz
Feito um balão...
No ar, no ar
Eu sou assim
Brilho do farol
Além do mais
Amargo fim
Simplesmente sol...
Rock do bom
Ou quem sabe jaz
Som sobre som
Bem mais, bem mais...
O que sai de mim
Vem do prazer
De querer sentir
O que eu não posso ter
O que faz de mim
Ser o que sou
É gostar de ir
Por onde, ninguém for...
Do alto coração
Mais alto coração...
Viver, viver
E não fingir
Esconder no olhar
Pedir não mais
Que permitir
Jogos de azar
Fauno lunar
Sombras no porão
E um show vulgar
Todo verão...
Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul...
Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...
Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...
Do alto, coração
Mais alto, coração...
Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...
Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...
Do alto, o coração
Mais alto, o coração...(2x)


http://www.vagalume.com.br/byafra/sonho-de-icaro.html

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Playboy


Fico vidrado
no celular.
Você não liga
ninguém me liga
quando estou só.

Mansamente
mãos descobrem os segredos 
de uma outra geografia.

Atravesso o espelho
viro do avesso
para que não roubes
o meu sossego.

Meus ouvidos 
se postam
bem abertos
para ouvir as sereias
que cantam por perto.

Lábios e mãos entrelaçadas
serpentes a dançar
até o ponteiro do coração
disparar.

É o momento fatal
de virar a página
e imaginar
você sibilar
em ebulição:
"Vem depressa, 
meu garotão!"

Um dia você vai experimentar
essa aventura meio sozinha
meio estranha de namorar.
um jeito sexy de ser
playboy.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Dúvidas - Carlos Queiroz Telles


Às vezes 
 eu sinto que ela quer.
                                       Outras vezes
                                       eu acho que não.

                                        Ah, como grita
                                        o meu peito...
                                        Cala a boca,
                                        coração!

                                         Ela não pode
                                         desconfiar que
                                         este vai ser 
                                         o meu primeiro...
                                         Sufoco de vergonha
                                         e de falta de jeito.
                                         E agora, meu Deus?
                                         O que é que eu faço
                                         com as mãos?

                                          Às vezes 
                                          eu sinto que ela quer.
                                          Outras vezes 
                                          eu acho que não.

                                          Beijo ou não beijo...
                                          eis a questão.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Mala

Mala meu lado mais mala vilhoso virou mala mal maleável meticulosa milagrosa milimetricamente mala miserável mala excesso de bagagem supérflua de inutilidade pública esquecida nos achados & perdidos sem alças vazia e cheia de esperança de me preencher assim que te encontrar.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Medida provisória


Primeiros goles de cerveja
o gosto é amargo
eu soco soco
até descer.

A cabeça turbinada
zonza alucinada
pergunta o que será 
de mim sem você.

Prometo abraçar a natureza
dar ao povo educação e muita arte
muita saúde e pão na mesa
levar o amor pra toda parte.

Temo que a paixão corrupta
faça a cabeça do meu ser
para que venda a minha alma
só pra poder te corromper.

Meu novo projeto decreto
não será debatido no plenário
socado será medida provisória:
fazer decolar a nossa história!


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Poema tirado de uma notícia de jornal - Manuel Bandeira


João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

É urgente, preciso falar...


É urgente.
Preciso falar
qualquer coisa
agora.
A espera
pelo fim do inverno
o re-começo da primavera,
que seja.
Dos projetos da hora
que me chamem pra dançar,
que seja.
Sonhos individuais
sonhos coletivos
meu lado comum, incomum,
adolescente, adulto, criança,
que seja.
Tentativas
acertos e erros
previstos e imprevistos
lembrados por uma amiga
na combustão mais sincera
de sua mais recente bebedeira.
Quero falar qualquer coisa, agora.
Para qualquer mente, ouvido
ou consciência virtual,
que seja.
O silêncio me incomoda.

Maria pintada de praia - Dalton Trevisan


GRANDALHÃO, voz retumbante, é adorado pelos filhos. João não vive bem com Maria ambiciosa, quer enfeitar a casa de brincos e tetéias. Ele ganha pouco, mal pode com os gastos mínimos. Economiza um dinheirinho, lá se foi com a asma do guri, um dente de ouro da mulher. Ela não menos trabalhadeira: faz todo o serviço, engoma a roupinha dos meninos, costura as camisas do marido. Inconformada porém da sorte, humilhando o homem na presença da sogra.

Para não discutir ele apanha o chapéu, bate a porta, bebe no boteco. Um dos pequenos lhe agarra a ponta do paletó:

— Não vá, pai. Por favor, paizinho.

Comove-se de ser chamado Paizinho. Relutante, volta-se para a fulana: em cada olho um grito castanho de ódio.

— O paizinho vai dar uma volta.

Tão grande e forte, embriaga-se fácil com alguns cálices. Estado lastimável, atropelando as palavras, é o palhaço do botequim. E, pior que tudo, sente-se desgraçado, quer o conchego do corpo gostoso da mulher.

Mais discutem, mais ele bebe e falta dinheiro em casa. Maria se emboneca, muito pintada e gasta pelos trabalhos caseiros. Desespero de João e escândalo das famílias, a pobre senhora, feia e nariguda, canta no tanque e diante do espelho as mil marchinhas de carnaval. Os filhos largados na rua, ocupada em depilar sobrancelha e encurtar a saia — no braço o riso de pulseiras baratas.

Com uma vizinha de má fama inscreve-se no programa de calouro:

— Sou artista exclusiva — ufana-se, com sotaque pernóstico. — A féria é gorda!

Aos colegas de rádio oferece salgadinhos e cerveja. João escapole pelos fundos, envergonhado da barba por fazer. Volta bêbado e Maria tranca a porta do quarto, obrigado a dormir no sofá da sala. Noite de inverno, o filho mais velho, ao escutá-lo gemer, traz um cobertor:

— Durma, paizinho.

A cada sucesso de Maria — o quinto prêmio da marchinha, o retrato no jornal, a carta com pedido de autógrafo:

— Ela ainda recebe uma vaia — é o comentário de João. - Com uma boa vaia ela aprende!

Ó não — essa aí quem é de cabelo oxigenado? Acompanhada a casa, horas mortas, pelo parceiro de vida artística. Ora o cantor de tangos, ora o mágico de ciências ocultas. Demora-se aos beijos na porta e as mães proíbem as crianças de brincar com os dois meninos. João sabe que é o fim — dona casada que tinge o cabelo não é séria. Vai dormir no puxado da lenha, encolhido na enxerga imunda, a garrafa na mão.

Dois dias fechado (assusta-lhe a própria força e jamais bate nos filhos), urra palavrão e desfere murro na parede. Maria faz as malas e, sem que os pequenos se despeçam de João, muda-se para casa dos pais.

Lá deixa os meninos e amiga-se com um pianista de clube noturno. Mais uma bailarina, que obriga os clientes a beber. O pianista, vicioso e tísico, toma-lhe o dinheiro e, se a féria não é gorda, ainda apanha.

Cansada de surra, volta à casa dos pais. Então a velha sai em busca de João e sugere as pazes.

— Ela que fique onde está. Não quero Maria, nem pintada de prata.

Despedido da fábrica por embriaguez, sobrevive com biscates. Ao vestir o paletó, da manga surge uma cobra e, aos berros, lança-o no fogo. Aranha cabeluda morde-lhe a nuca; inútil esmagá-la com o sapato, de uma nascem duas e três — enrodilha-se medroso a um canto e esconde nos joelhos a cabeça.

Domingo recebe a visita dos filhos, enviados pela sogra. Divertem-se no Passeio Público a espiar os macaquinhos. O pai compra amendoim e pipoca, que os três mordiscam deliciados. Afasta-se de mansinho e, atrás de uma árvore, empina a garrafa saliente no bolso traseiro da calça — as mãos cessam de tremer. Os meninos desviam os olhos: sapato furado, calça rasgada, paletó sem botão. Alisando a mão gigantesca:

— Não, paizinho. Não beba mais, pai.

Lágrimas correm pelo narigão de cogumelo encarnado. Despede-se com sorriso sem dentes. Na esquina gorgoleja a cachaça até a última gota.

Em delírio na sarjeta, recolhido três vezes ao hospício. A crise medonha da desintoxicação, solto quinze dias mais tarde. Mal cruza o portão, entra no primeiro boteco.

Maria cai nos braços do mágico de ciências ocultas e, proibida de cantar com voz tão horrorosa, consola-se no tanque de roupa. Nem o amante nem os velhos querem saber dos piás, internados no asilo de órfãos.

Cada um aprende seu ofício e, no último domingo do mês, com permissão da freira, vão bem penteadinhos à casa do pai. Ainda deitado, curte a ressaca; com alguns goles sente-se melhor. Os pequenos varrem a casa, acendem o fogo, olhinho irritado pela fumaça. No almoço apresentam café com pão e salame rosa. Sentado na cama, o pai contenta-se em vê-los comer. Sorri em paz, um deles enxuga-lhe o suor frio da testa. Sem coragem de abandoná-lo, os filhos a seu lado durante a noite: fala bobagem, treme da cabeça aos pés, bolhas de escuma espirram no canto da boca.

Os meninos adormecem, ouvindo o ronco feio do afogado. O maior acorda no meio da noite, vai espiar o pai em sossego, olho branco. Fala com ele, não se mexe. Tem medo e chama o irmão:

— O paizinho morreu.

Sem chorar, encolhidos na beira da cama, à escuta dos pardais da manhã.



Texto extraído do livro “20 Contos Menores”, Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 43.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Tinha uma pedra no meu poema



Tinha uma pedra no meu poema
no meu poema tinha uma pedra
jamais esquecerei esse sufoco
nas pupilas de minha vida tão dilatada
tinha uma pedra no meu poema
no meu poema tinha uma pedra.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Pôquer interminável I - Luis Fernando Verissimo



Cinco jogadores em volta de uma mesa. Muita fumaça. Toca a campainha da porta. Um dos jogadores começa a se levantar.
        Jogador 1 - Onde é que você vai? Ninguém sai.
Os outros - Ninguém sai. Ninguem sai.
        jogador 2 - Bateram na porta. Eu vou abrir.
        Jogador 1 - A sua mulher não pode abrir?
        Jogador 2 - A minha mulher saiu de casa. Levou os filhos e foi pra casa da mãe dela.
        Jogador 1 - Sua mulher abandonou você só por causa de um joguinho de pôquer?
jogador 2 - E que nós estamos jogando há duas semanas.
jogador 1 - E dai?
Jogador 2 - Ela disse: "Ou os seus amigos saem, ou eu saio".
jogador 1 - Ninguém sai.
        Os outros - Ninguém sai. Ninguem sai.
        (A campainha toca outra vez. O dono da casa vai abrir, sob
o olhar de suspeita dos outros. É um garoto. O garoto se dirige ao
Jogador 1).
        Garoto - A mãe mandou perguntar se o senhor vai voltar
para casa.
Jogador 1 - Quem é a sua mãe?
Garoto - Ué. A minha mãe é a sua mulher.
        Jogador 1 - Ah. Aquela. Diz que agora eu não posso sair.
Os outros - Ninguém sai. Ninguém sai.
        Garoto - Eu trouxe uma merenda para o senhor.
        jogador 3 - Epa. O golpe do sanduíche. Mostra!
        Jogador 4 - Vê se não tem uma seqüência dentro.
        jogador 1 - Não tem nada. Só mortadela.
        Garoto - A mamãe também mandou pedir dinheiro.
        (todos os jogadores cobrem as suas fichas.)
        Todos - Ninguém dá. Ninguém dá.
        Jogador 1 - Diz pra sua mãe que eu estou com um four de ases na mão. Como ninguém vai ser louco de querer ver, esta mesa é minha e nós estamos ricos.
        Jogador 2- Se você tem four de ases então tem sete ases no baralho, porque eu tenho trinca.
        Jogador 1 - Diz pra sua mãe que o cachorrão falhou.
        (toca o telefone. O dono da casa se levanta para atender.)
        Jogador 3 - Mas o quê? Não se joga mais? Ninguém sai.
        Os outros - Ninguém sai. Ninguém sai.
        (Apesar dos protestos, o dono da casa vai atender o telefone. Volta.)


jogador 2 - Era a mulher do Ramiro dizendo que o nené já vai nascer.
Jogador 4 - O Meu filho vai nascer. Tenho que ir lá.
        Jogador 6 - Ninguém sai.
Os outros - Ninguém sai. Ninguém sai.
        Jogador 4 - Mas é o meu filho.
        Jogador 3 - Você vai pro batizado. Quem é que joga?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Isso ou aquilo


Não sei se fico com a Ritinha
ou se vou pra rua protestar
Ritinha não me dá bolo
Ritinha só me dá bola
Ritinha se a-vi-zi-nha
carinhosa só quer amar

todo mundo foi pra rua
lá eu solto a cantoria
lá eu jogo a democracia
lá eu quero transformar

não sei se vou mudar o mundo
ou se me afago com a vizinha
se ganho abraço se ganho beijo
se levo bala se levo bomba
se levo chute se levo tombo
se levo abraço ou se levo flor

meus olhos são
   espelhos caia
                          dos
que vertem lágrimas
la
   cri
       mo
            gê
                neas
por que não sei 
o que eu faço:
Ritinha pra me amar
ruazinha pra protestar.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...