Quando ela mordeu
seu lábio inferior
eu acordei.
Eu não sei
se nossos desejos
flutuam impacientes
no espaço infinito
ou se fruem
na fornalha
que os separa
em alguns centímetros.
Aconteceu o óbvio:
trocamos olhares
e-mails e telefone
mas não tocamos
os lábios.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
O ROBÔ - Luis Fernando Veríssimo
Tenho contado esta história para meus alunos de sétima, oitava e ensino médio. É mais uma daquelas narrativas do Veríssimo que misturam humor com ironia. Uma daquelas histórias que gostaríamos de ter escrito. Que dizemos, depois de a ter lido: "Como não pensei nisso antes?"
Um dia ele chegou em casa com um robô. O robô era baixinho, redondo e andava sobre rodinhas. A mulher achou engraçado, mas sentiu uma ponta de apreensão. Para que um robô em casa?
- Olhe só - disse o marido. E, dirigindo-se ao robô, disse: - Seis!
O robô foi até o quarto do casal e de lá trouxe os chinelos do homem e a sua suéter de ficar em casa. Voltou para o quarto levando o paletó, a gravata e os sapatos.
- Mas isso é fantástico - disse a mulher, sem muita animação.
- Ele está programado para só obedecer à minha voz - explicou o homem.
Estava tão entusiasmado com o seu robô que a mulher decidiu não lembrar a ele que naquele dia eles faziam dez anos de casados. Ele continuou:
- É um código. De acordo com o número que eu digo, ele sabe exatamente o que fazer.
- Sim.
- Os números vão de 1 a 100 e obedecem a uma sequencia que corresponde, mais ou menos, à importância relativa das tarefas. Entendeu?
- Entendi.
Se ela não tivesse dito nada, seria a mesma coisa, porque o homem não a escutava. Olhava para o robô como um dia, dez anos antes, olhara para ela. Pelo menos ela ficou sabendo que, numa escala de 1 a 100, os chinelos que lhe trazia todos os dias quando ele entrava em casa correspondiam a 6.
Depois do jantar, quando ela começou a limpar a mesa, ele a deteve com um gesto. Disse para o robô:
- Sessenta e um!
O robô rapidamente tirou os pratos da mesa, botou tudo dentro da máquina de lavar pratos, ligou a máquina e voltou para aguardar novas instruções.
Mais tarde, quando o marido disse: "Que tal um joguinho de cartas?", ela levantou-se, alegremente, para pegar o baralho. Logo descobriu que o marido falava com o robô.
- Dezoito!
O robô correu na frente dela, pegou o baralho, pegou o bloco de papel e um lápis, arrumou a mesa para o jogo e ficou esperando. Ele sentou-se para jogar cartas com o robô. Ela perguntou:
- Posso jogar também?
- Este jogo é só para dois - disse o marido. - Você pode ir se deitar, se quiser.
- Você não vai querer mais nada?
- O que eu precisar o robô pega.
Do quarto, ela ficou ouvindo o marido dizer, a intervalos, "vinte e seis" ou "trinta e um", e o ruído do robô, na cozinha, pegando cerveja, salgadinhos, etc.
Tomou uma decisão.
Levantou-se e foi até a sala. De camisola.
- Querido...
- Você não estava dormindo?
- Não.
- Nós fizemos muito barulho?
- Não.
- Então o que é?
- Tem uma coisa que eu faço que esse robô não faz.
- O quê?
- Uma coisa de que você gosta muito.
- Você quer dizer...
- Arrã - sorriu ela.
- É o que você pensa - disse ele. E, para o robô: - Um!
Aí o robô correu até a cozinha e começou a reunir os ingredientes para fazer uma musse de chocolate.
Grupos feministas a apoiaram ruidosamente durante o julgamento, com toda a razão.
Do livro A mãe de Freud, Círculo do livro.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
CENÁRIOS
A maquete dos sonhos
prendeu meu olhar.
Cenários se suscedem
e meus olhos
nem conseguem piscar
ou desviar sua direção.
Quando vem o medo
e implora pra recuar
a maquete sussurra horizontes
que moram juntinhos
do meu coração.
Aí, dá uma vontade
de construir praças árvores
cheiros que a chuva traz
tudo o que um dia vi
e toquei com as mãos.
prendeu meu olhar.
Cenários se suscedem
e meus olhos
nem conseguem piscar
ou desviar sua direção.
Quando vem o medo
e implora pra recuar
a maquete sussurra horizontes
que moram juntinhos
do meu coração.
Aí, dá uma vontade
de construir praças árvores
cheiros que a chuva traz
tudo o que um dia vi
e toquei com as mãos.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
SEGREDO Henriqueta Lisboa
Andorinha no fio
escutou um segredo.
Foi à torre da igreja,
cochichou com o sino.
E o sino bem alto:
delém-dem
delém-dem
delém-dem
dem-dem!
Toda a cidade
ficou sabendo.
escutou um segredo.
Foi à torre da igreja,
cochichou com o sino.
E o sino bem alto:
delém-dem
delém-dem
delém-dem
dem-dem!
Toda a cidade
ficou sabendo.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
FRANKSTEIN
A menina tem
a boca
nas orelhas
não é pela lua
não é pelo sol
é que a menina passeia
com seu frankstein
O rabo é um toco
e o troço
diz pouco
au, au, au
diz pouco
ai, ai, ai...
frankstein não vive
amarrado
não é solto das patas
não tem pedigree
não é vira-latas
só diz au, au, au
quando a menina vem
só diz ai, ai, ai
quando a menina vai.
Assinar:
Postagens (Atom)
O PATIFE tá enrolando de novo
Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...
-
Quando os caras atravessam as fronteiras do sensato e embarcam no ridículo, navegam numa certa loucura. Mas nesse tipo de paraíso vis...
-
Irmãos, está aberta a temporada de fiascos, atiramos pra tudo quanto é lado, sem ligarmos pra possibilidade de cruzar nosso caminho uma b...