quarta-feira, 7 de outubro de 2009

DENGO



Até parece

que você

não existe

e eu nem te vejo

quando me aproximo.


Eu procuro abrigo

pra me esconder

do teu sorriso...


É que ele me enfeitiça

e viver assim

eu não consigo!


Ando cheio de dengo

vivo no negativo

porque mais do que tudo

mais do que tanta coisa no mundo

é de você que eu preciso!


LIÇÕES



Das lições que aprendi na escola

muitas foram por obrigação.

Suas marcas não estão na alma

- se alojaram no currículo,

pra todos verem e elogiarem.

O que faz meus sentimentos

ferverem de madrugada,

não sai de diplomas

e porta-retratos.

Sai de lembranças

que tatuaram

- com pés de galinha -

o extrato do meu rosto.


domingo, 4 de outubro de 2009

A IMAGINAÇÃO DA SARACURA




Ao espiar o montão de arquivos esquecidos no computador, me deparei com esta história que meu filho, Giovanni, ajudou a escrever, quando ele tinha uns sete anos.


Era uma vez uma saracura que adorava passear, sempre vestida de saia.


Ela tinha pernas compridas e bumbum alto, igual um avião a jato.


Toda vez que ventava, ela levantava vôo e subia para o céu, pensando que era um balão.


Um dia o balão estourou e sua imaginação, que estava dentro do balão, saiu voando alegre por aí.


Imediatamente a saracura partiu à procura de sua imaginação. Voou para o sul, voou para o leste, para o oeste e, também, para o norte.


A saracura encontrou, finalmente, o primeiro pedaço de sua imaginação.


Nesse lugar havia uma flecha que apontava para baixo. A saracura voou nessa direção e, daí a pouco, encontrou uma cidade. Então a saracura procurou procurou, em cada uma das janelas das casas.


Na ultima janela a saracura encontrou cinco pedaços do quebra cabeça, cujo nome era “imaginação.”


A saracura saiu dali feliz da vida, achando que tinha recuperado a imaginação inteira, mas ela não sabia que o pior ainda estava por acontecer: o menino que, com uma flecha, tinha furado o balão da saracura, havia chegado em casa e visto que o balão da saracura era um troço que nem ele chamava de balão.


O menino saiu rapidamente de casa e foi atirando todas as flechas de brinquedo que ele tinha nas coisas que as pessoas tinham nas mãos.


A saracura fugiu e foi se esconder na floresta.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AS SEM-RAZÕES DO AMOR - Carlos Drummond de Andrade


Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.


Amor é dado de graça

é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante o amor.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FRANKENSTEIN



Pode ser esquisito

enxerto

e broto

milagrosamente

concebido

dos becos

e esgotos


é livre

farrapo

e, por ser livre,

compreende as vozes

de todos os bichos...


Não sou Frankenstein:

sou monstro hurbano

de garras afiadas

e ouvidos alongados

por tantos sons estranhos...


Nem o fundo do mar

compreende a minha voz!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PRA DESPERTAR A MANHÃ



Numa folha dobrada, sobre a mesinha de centro da sala de espera, estava escrito:


PRA DESPERTAR A MANHÃ


Até quando vou deixar que os outros decidam por mim?

Sei que sou responsável pelo que faço, mas alguma força maior do que eu entra em jogo... Falta indignação e força de vontade de minha parte?

Não tenho certeza sobre o dia de amanhã. Mas o que serei depende, em boa medida, das decisões que tomar aqui e agora.

Deve-se aprender a conviver com o inesperado.


Mesmo num mundo de incertezas, não tem como fugir destas questões:


-saber qual o melhor momento para agir.


-decidir o que é mais importante.


- saber qual a coisa certa a ser feita.


Acabo de ler a mensagem manuscrita que encontrara, e percebo que as preocupações de quem escreveu são também as minhas preocupações.


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

VAMOS APRENDER A ANDAR DE BICICLETA



As coisas vão de mal a pior

você se sente sozinho

cercado de lobos insensíveis.


Você olha para o céu

e nenhuma estrela aponta o caminho.


Nessa hora, precisamos captar uma energia invisível

que está em todo o lugar - mas que não se oferece assim no mais...


Organizar os pensamentos, mesmo que, no limite,

temos à mão apenas uma folha em branco do velho diário,

abandonado em algum instante do passado.

Rabiscarmos palavras, frases, pode ajudar a organizar

o mapa de nossos agitados pensamentos.


Esse é o processo.

Nisso eu acredito.

Minha religião é a do inesperado,

do imprevisível e inusitado

- e por que não mesmo do surreal?


Não vamos tremer, se de novo voltamos a ser aquela criança

que pedalou, pela primeira vez, a bicicleta, sem qualquer proteção. Tínhamos que ir em frente, senão cairíamos e nos machucaríamos.

Vencemos o medo, domamos a bicicleta, e tudo se normalizou.

Agora estamos crescidos.

Os desafios são outros.

Se vencemos o medo uma vez,

num mundo totalmente estranho,

habitado por bruxas e monstros,

podemos agora aprender a encontrar

outras maneiras de espantar o medo.


Acho que é pra isso que escrevo.


Minha bicicleta perdeu o freio,

e eu tenho medo de parar e levar um tombo.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

POEMINHA NA GARRAFA - José de Castro



Poeminha na garrafa

foi lançado para o mar.

Longe vai este meu verso

na espuma a velejar...


Poeminha na garrafa,

meu amor vai procurar.

Sopra o vento, fura a onda,

não se deixe afundar...


Poeminha na garrafa

veio um peixe espiar...

Curioso, bica o vidro,

cuidado, pode quebrar...


Poeminha na garrafa,

tem alguém a esperar?

Chega logo ao destino:

“Para sempre vou te amar.”


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

UM JEITO DE SER - Flávia Menegaz


Às vezes eu como mamão com açúcar

outras, a palavra crua

Às vezes eu finjo que tenho asas

ou que sou boazinha

Às cinco horas eu tomo suco de acerola

depois de caminhar pelas ruas de Pequim

E assim eu brinco de viver:

meus olhos captando cores

meus dedos as traduzindo em palavras.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

PRECISO DESCOBRIR


Preciso descobrir

um jeito de dizer

que gosto de você!


MSN ou e-mail

carta ou pombo correio

preciso com a pressa

do supersônico


um jeito de você saber

e mesmo assim não rir...


De mim

da minha pressa

da minha audácia

e pretensão

em fazer o diagnóstico

dessa praga e doença

que me deixa neurótico

e com dor de cabeça

e que todos elogiam

cantam dançam

e proclamam:


- O amor!


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

TUDO BEM


Se você é banguela

narigudo cego careca

ou tem cor diferente,

o que é que tem?


“Era uma vez

um gato chinês


que morava em Xangai

sem mãe e sem pai,


que sorria amarelo

para o rio amarelo,


com seus olhos puxados,

um pra cada lado.


Era um gato mais preto

que tinta nanquim,


de bigodes compridos

feito mandarim,


que quando espirrava

só fazia ‘chin!’


Era um gato esquisito:

comia com palitos


e quando tinha fome

miava ‘ming-au!’


mas lambia o mingau

com sua língua de pau”.


Esse poema se chama

“Gato da China”

e foi inventado

por José Paulo Paes.


Você pode ser orelhudo

grandão ou miúdo

usar óculos e ser tímido

chegar em último

e dançar sozinho

ter pai ou mãe diferente

ou ser adotado

ter amigos e sonhos invisíveis

e ainda assim ser livre

e descomplicado!


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...