sexta-feira, 12 de junho de 2009

O AMOR - em tempos de encontros e desencontros dos namorados





Meio que por acaso, tenho em mãos o poema de Carlos Drummond de Andrade, Poema dos olhos da amada. Tudo bem, não é por acaso, já que estamos vivendo o “dia dos namorados”. Diz o poeta, na primeira estrofe do poema:



Eu te amo porque te amo,
não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.



A relação amorosa leva-nos a um conhecimento sobre nós mesmos. A pessoa, a quem amamos, coloca nossa identidade em risco porque, ao nos aventurarmos como amantes, nos deparamos com o incerto. O que ganhamos nessa aventura, onde o outro nem sempre corresponde a nossos anseios? Percebemos que existimos. O filósofo Kierkegaard foi quem primeiro relacionou os conceitos de amor e de vida ao conhecimento de quem somos - no sentido socrático do “conhece-te a ti mesmo”.


Ao pensarmos em amor para além das relações mundanas (provisórias, mutáveis), nos deparamos com a tradição dos gregos (e de Santo Agostinho), que pensam o amor pra além do efêmero, cotidiano e visível. Diz Sócrates, no Banquete: “Quem ama e deseja é porque não tem”. A questão que fica, é: o que amamos e desejamos, que tanto nos faz falta? Na visão socrática, amamos algo desconhecido, invisível, mas que não é efêmero nem passageiro. Amamos a sabedoria, que é universal e eterna. A dificuldade está em admitir essa visão filosófica e cristã sobre o amor. Temos dificuldade de considerá-la porque estamos presos à linguagem permeada de lugares-comuns de nosso cotidiano. Daí também a dificuldade em compreender o poema de Drummond:



Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.



Se o amante busca se assemelhar à sua amada, isto pode ser uma forma de conhecimento de si. O que ele encontra de semelhante é o amor. Diz Agostinho que “encontramos fora de nós o amor que sempre esteve em nós”. “Trata-se de amar os homens humanamente, ou seja, de confiar que em sua essência, e em nenhuma outra coisa no mundo, existe uma infinita capacidade de amar, o que se conhece e o que não se conhece. Pode-se pensar o amor como esse infinito que está sempre a faltar entre duas pessoas. Quando elas se encontram, o amor ganha corpo e o infinito se esvai, até que elas voltem a sentir sua falta”. (Paulo Henrique Fernandes Silveira. Amor sem fim. In: Revista Ciência&vida, ano III, n. 35).


Nessas horas de comemorações, muitas vezes turbinadas pelo “apelo comercial”, fica complicado convidar o leitor a desenvolver idéias requintadas, “pensamentos complexos”, sobre o amor. Discussões mais demoradas e profundas, sobre temas como o amor, não são de nosso hábito. Estamos habituados ao conforto, não ao confronto de idéias. Dia após dia a televisão fornece modelos de amor para que sirvam de nossos guias. Enquanto isso, o conhecimento que recebemos de nossa tradição cultural fica escondido nas estantes das bibliotecas. Mas perder o trem da história e da tradição é uma forma de acomodação, o que é péssimo para nosso intelecto.


Uma questão: se ao amarmos alcançamos um maior conhecimento de nós mesmos, isso pode servir de estímulo para mudar/melhorar nossa visão de mundo? Ficaremos mais autônomos e com maior capacidade na solução de problemas individuais e sociais, inclusive com relação ao amor? Alguns, ao “descobrirem” o amor, afirmam que a vida ficou mais colorida, viver ficou “mais leve”... Seguindo a concepção do filósofo Sócrates, de que o amor “verdadeiro” é o amor ao conhecimento, ao bom e ao belo universais, nos momentos de descoberta e vivência do amor em nosso cotidiano estaremos exercitando nossa inteligência no sentido de ampliar nossa sensibilidade (não no sentido egocêntrico, mais no sentido social/democrático)?



Tendo que parar em algum momento esta reflexão sobre o amor, reconhecemos que, sobre esse tema, é necessário, nalgum momento, recomeçar tudo de novo. A propósito, e para curtir o dia dos namorados com algumas dúvidas na cabeça, que amor é esse que o poeta Drummond evoca no final do poema?



Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem
(e matam)
a cada instante o amor.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O QUE EU QUERIA DIZER



O que eu queria dizer

ficou rabiscado a lápis

numa folha

dentro da gaveta

do escritório.


Lembro que falava

de abraço e de calor

pra aquecer o coração.


Já não lembro

de outras coisas mais.


Quem sabe

terei mudado

até o próximo feriado

e vou guardar num diário

sujo e rabiscado

as façanhas que virão.

domingo, 7 de junho de 2009

UMA PALAVRA SÓ - Angela-Lago



Mineira de Belo Horizonte, Ângela Lago nasceu em 1945. É autora e ilustradora premiada no Brasil e no exterior, com vasta obra para crianças e adultos. Para o leitor interessado em se aprofundar na sua obra, bem como nas suas idéias sobre a importância dos livros (e tantos outros temas, tais como o lugar e papel da internet nos dias atuais), basta acessar o site www.angela-lago.com.br.
O livro que aqui citamos (e recomendamos aos pais, professores e ao público em geral), Uma palavra só, traz a seguinte resenha da editora Moderna:

Era uma vez um rei mandão — como muitos — que resolveu
castigar qualquer um que falasse uma mentira (mentira pelo
menos no seu ponto de vista). Mas a primeira vítima do castigo
real é seu próprio filho, condenado a nunca mais abrir a boca
para falar, a não ser, única e exclusivamente... a palavra “exclusivamente”.
É assim que o príncipe sai pelo mundo, respondendo
a tudo: “exclusivamente”. Até que um dia ele conhece Eva, uma
contorcionista que o ensina a ler e escrever. Ele percebe então
que, a partir das letras E –X – C –L – U – S – I – V – A – M – E – N –
T – E, ele pode formar muitas outras palavras. Ao começar a
dizê-las, porém, é denunciado e levado à presença do rei, que
decide revogar o castigo e até mesmo entregar-lhe a coroa se ele
conseguir responder naquele seu método “exclusivo”, a três perguntas.
O príncipe consegue, ganha a coroa, e o rei descobre que
o melhor que tem a fazer é ir ter aulas com a contorcionista.

Um dos objetivos dessa história é o de provocar uma reflexão sobre o poder, e a intransigência daqueles que provisoriamente detêm sua posse. Nas relações sociais (onde estão em jogo os mais variados discursos, e os interesses em torno da sua verdade ou falsidade), o poder desempenha um importante papel, marcando as ações dos sujeitos.
Quando se trata da ação humana, os imprevistos fazem a diferença, ainda mais se entram em cena sentimentos grandiosos, como a descoberta do amor. Ao mesmo tempo, a descoberta e posse da palavra permite a comunicação e a ampliação da visão de mundo de seus personagens.


COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA (fornecidos pela editora)

Esta história divertida recria os tradicionais contos em que um
rei, prepotente, castiga um inocente e depois é derrotado, quer
pela astúcia, quer pela intervenção de seres mágicos e protetores.
Aqui, zomba-se da prepotência do rei logo no início, com o
ridículo castigo que impõe. A fada protetora aparece na figura
de uma contorcionista de circo, cuja mágica é saber ler e escrever.
E o rei, contrariando as expectativas, não fica furibundo com
a sua derrota: numa atitude muito moderna e original, reconhece
que precisa de aulas com a contorcionista — quem melhor
para ensinar as pessoas a ter jogo de cintura? Outro ponto positivo
deste bem inventado texto é o de brincar com a composição
das palavras, um estímulo prazeroso para a criança que começa a
descobrir os segredos das letras.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

POEMAS DE ADEMIR BARBOSA JR. - Do livro O SAPO VOADOR






BANHO


por que castigo

se é a sujeirinha

que mora no umbigo?



BAGUNÇA


mamãe, não castiga!

eu sou a cigarra

você é a formiga


****


o louva-a-Deus

recita: sou apenas

um inseto


****


a lua respinga

nos olhos atentos

do gato escaldado


****

Pra finalisar, por hoje, um HAICAI

de PAULO LEMINSKI:


de colchão em colchão

chego à conclusão

meu lar é no chão

terça-feira, 2 de junho de 2009

XV Feira do livro da EFA e II Curso de Leitura e Escrita

Participamos (no dia 01/06), como palestrantes, do evento que está sendo promovido pala EFA/UNIJUI. O texto da palestra proferida encontra-se no jornal www.ijuhy.com, no link colunistas.




sábado, 30 de maio de 2009

FELIZ ANIVERSÁRIO

Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan


Você lembra

como o tempo

se vestiu,

no dia do seu

aniversário?


Eu também não lembro,

e talvez isso pouco importe.


tenho a sensação de que

no tempo de criança

aniversariava num dia

de chuva e frio.


Hoje descobri que a chuva e o frio

podem estar no centro de nossos dilemas

e incendiar as lâmpadas dos postes da solidão!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

DIA DO DESAFIO



DIA DO DESAFIO É...


Acordar nocauteado pela insônia, às quatro da manhã, e resignar-se com a derrocada das tarefas que planejou, junto com a queda (em dominó) das mensagens de entusiasmo, sucesso e saúde, que foram cuidadosamente escolhidas da leituras de livros e palestras de auto-ajuda.


DIA DO DESAFIO É...


Saber que a insônia resulta das contas a pagar no início do próximo mês. Com ou sem sono, elas continuam na memória, ou nos lembretes que penduramos na porta da geladeira. Podemos desafiar-nos a ser criativos, a rir e apelar para a auto-ironia. Ou resignar-nos, já que boa parte dos brasileiros estão numa pior. Apesar de que não sei se está na pior o ralado, que não tem muita noção de sua condição - da falta de perspectivas, presentes e futuras - ou você, que se acha na posse de uma visão crítica da sociedade!


DIA DO DESAFIO É...


Botar fé no amor, mesmo sabendo que essa “palavra” significa muito mais do que os clichês das músicas pop, novelas e revistas, que fazem fofoca de gente famosa. O desafio criativo é o de conseguir se convencer que o amor irrompe de inesperado e imprevisível, dos encontros e desencontros, para além do que propõem a moda e o corpo sarado, ou “ficar” com alguém, que não se conhece, só para se gabar na roda de amigos.


DIA DO DESAFIO É...


Ligar para um amigo (a), ou familiar, que não vemos a muitos anos, aceitando sem medo a saudade. O desafio criativo é perceber e admitir que algumas perdas não se deram por causa do destino, mas sim devido a nossas escolhas. Porém, ser criativo é fazer algum esforço para amenizar essas “distâncias” e perdas, e nos darmos a chance de voltar a escolher.


DIA DO DESAFIO É...


Ser bruscamente sacudido por um clic ou estalido, que desperta dentro de nós. Não porque lemos em algum lugar, ou porque andaram comentando. Recortar e guardar textos que consideramos interessantes não tem nada demais, principalmente se nossa memória acusa o golpe da idade. Porém, considero um desafio mais criativo ser despertado por um sentimento espontâneo, que não foi contrabandeado dos outros.


EIS UM SINGELO, mas não menos importante desafio: como ser eu mesmo, original, em meio a tantas cópias e modelos produzidos em série!

domingo, 24 de maio de 2009

PEDRO COLOR PAULO

Desenho e texto de Giovanni Pasquali Piovesan


CDF,

Pedro

Color

Paulo

só pensa

em estudar.

Até hoje

ele não sabe

se tem o nome

por causa do cabelo

ou se tem o cabelo

por causa do nome!

sábado, 23 de maio de 2009

MIRO MALUCO

Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan


Está aí por que quis...

Ele descobriu que,

de vez em quando,

pode desobedecer os outros,

pra libertar da prisão o seu coração!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO IMEAB - João Boboca ou João sabido?




Na Contação de histórias que praticamos no IMEAB/Ijuí, nas turmas de pré até quartos anos do Ensino Fundamental, nos esforçamos para aproximar as histórias mais significativas que foram criadas pelos grandes autores (as), com o universo dos alunos em sala de aula. Ao mesmo tempo, pretendemos que os alunos vivenciem a experiência de serem autores/escritores.

Nosso objetivo é o de despertar o interesse pelos livros por parte das crianças, mas também de desafiá-las a colocar a imaginação pra funcionar, vivendo a experiência de ser autor/escritor (a).

Foi o que aconteceu com a turma 42 (quarta série do ensino fundamental, da professora Vera). Após termos contado a história João Boboca ou João Sabido?, desafiamos os alunos para produzirem um outro final para a história (“como você gostaria que a história acabasse?”), ou: “Imagine outro final para a história”.

Essa história, da escritora Rosane Pamplona, tem como personagens principais o caipira João, e sua esposa Maria. Incentivado por Maria, João vai à cidade trocar sua vaca malhada por uma outra coisa. Só que no caminho ele cruza por outros espertos “negociantes”, e acaba fazendo várias trocas (boas ou más?.. Isso é o leitor que decide). Ele se parecia boboca, e muitos quiseram tirar proveito de sua ingenuidade. De qualquer maneira, vamos manter o suspense e convidar o leitor a ler o livro. Apenas citamos a dúvida final:

No final do troca-troca
quero ver bem respondido:
o sabido era o boboca
ou o boboca era o sabido?

A história a seguir é re-criação da aluna Maria Eduarda Albrecht Schmalz, da turma 42. Observem o vôo imaginário de nossa jovem escritora!


João e sua mulher, Maria, viviam numa casinha simples, num pequeno sítio. Ambos queria reformar a pequena casa, mas o pouco dinheiro que ganhavam não chegava nem para alimentar sua magra vaquinha

Maria, então, pediu para João ir à cidade trocar a vaquinha por algo mais útil para eles. No caminho, João encontrou um pastor cuidando de lindas cabras. Então o pastor perguntou se ele gostaria de trocar sua vaquinha por uma das cabritinhas, e João aceitou e foi andando.

No caminho passou por uma carroça cheia de gansos. João quis trocar a cabrita por um daqueles gansos. Houve a troca e João foi andando.

Mais adiante João encontrou um homem com um galo embaixo do braço. Esse pediu para trocar o lindo ganso pelo seu galo. João aceitou e foi em frente. Mais adiante encontrou um menino que carregava um passarinho dentro de uma gaiola. Fizeram a troca e, logo depois, João chegou à cidade. Ele sentou no banco da praça para descansar com o passarinho, e ficou surpreso ao ouvir o passarinho cantar e dançar. Mas ficou mais surpreso ainda quando ouviu o passarinho dizer:

- João, seu cabeça de melão,
não vá me trocar
por um punhado de feijão!

João não acreditava no que via! O passarinho era mágico!

Nesse instante passou um grande circo pela cidade. Então João teve a idéia de fazer do passarinho uma grande atração. Mostrou seu talento para o dono do circo, o qual na hora topou trocar o passarinho por materiais de construção.

E não é que o João tinha razão? Ele pôde reformar sua casinha e o material que sobrou ele vendeu para uma loja. Com o dinheiro que ganhou João comprou uma vaquinha, uma cabrita, um lindo ganso e um galo... E sabem o que mais apareceu? O tal do passarinho cantor! João e Maria ficaram muito felizes pois, além da casinha nova, eles agora tinham vários bichinhos de estimação!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

RAPOSA



Uma raposa
passeia no sótão...
- Toc, toc, tuc...
Tuc, tuc, toc, tuc!

Se é velhinha e neurótica, não sei...
Não nos conhecemos pessoalmente.
Mas vivemos sozinhos,
mesmo rodeados de gente.

Não sei o que pensa de mim.
Dela, também nada sei...
Nem consigo adivinhar
o que ela faz - se é mãe
tia ou vovozinha...
Apenas sei que,
quando caminha,
com muito estrondo,
sacode a minha vida!

- Tuc, tuc, toc...
Toc, toc, tuc, toc!

Correria no sótão,
e não sei se está saindo
pra dormir fora
ou se está chegando
pra dormir agora...

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...