sexta-feira, 5 de março de 2021

Tua voz

 

Tua voz não quer reproduzir o EU de um morto.

Tua voz quer fugir do cativeiro e dos bandidos que te perseguem.

Tua voz não quer mais tropeçar nas esquinas,

ela quer assobiar leve, sem gaguejar ou soluçar.

Não deverias esquecer o quanto custou ganhar uma voz.

Tu precisa desligar o piloto automático.

Tu precisa assumir o controle dos pensamentos.

Tuas palavras precisam ter música,

só assim farão cócegas

no coração do outro.

 

(Poemas e pensamentos espirituosos)

quinta-feira, 4 de março de 2021

Rezas - Mario Quintana

 


O mais amado

 


Um brinquedo simples

mas calorosamente abraçado

pelas crianças pobres.

Brinquedo que nunca foi exibido

nas vitrines.

Brinquedo que não custa caro.

Um simples brinquedo,

mas no abraço das crianças

torna-se humanizado,

torna-se o mais belo,

porque é o mais amado!

 

(Poemas e pensamentos espirituosos)

quarta-feira, 3 de março de 2021

Segundo olhar


 

Olhemos as coisas

com calma,

carinho,

vamos dar-lhes

uma segunda chance.

Sem pressa,

sem pré-conceito,

até encontrar sua singularidade,

aquilo que espanta,

aquilo que fascina.

O segundo olhar é quem de fato

vai dialogar com a beleza

que há no mundo.


(Poemas e pensamentos espirituosos)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

CONSTATAÇÃO

Assim que comecei a rabiscar

estes "ensaios espirituosos",

notei que minha escrita 

parecia mais agarrada 

ao papel,

parecia mais bem-comportada.

Deve ser porque eu não sei direito

pra onde ir.

E quando é que a gente 

sabe?


(Crônicas e poemas espirituosos)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Até parece que você é o cara

 


Você ouve as conversas

dos amigos no bar,

suas ideias ziguezagueantes,

muitas vezes com pouca lógica nos seus raciocínios,

e você vai dando corda, ouve e se sente bem,

e os amigos se sentem bem 

em botar tanta coisa pra fora.

Algumas bebidas soltam as amarras da censura

e você estufa o peito e se enche de orgulho,

sim, você é um sujeito mais evoluído 

do que a maioria.

Não, você não é O CARA,

você está apenas exercitando a empatia,

um gesto que deveria ser rotineiro,

você sabe como é importante

ter amigos por perto.

Amanhã quem sabe você vai precisar deles,

dos seus ouvidos, conselhos e companhia.

Sim, todos precisamos de umas almas

cheias de paciência por perto,

que ajudem a colocarmos nossas angústias pra fora,

porque isso vai nos fazer bem.


(Crônicas e poemas espirituosos)

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Conhece-te a ti próprio

Hoje pergunto tanto, 

que até o meu guia espiritual 

encheu o saco.

Mas foi Ele quem veio com esse papo 

de "conhece-te a ti próprio".


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Escreva logo teu epitáfio


 

Tantos sinais despertam em você o medo da morte,

como luzinhas piscantes na traseira das bicicletas,

em rodovias movimentadas e com neblina.

Há algo novo no ar, além e por causa de tantos vírus.

Velhinhos com máscaras escondendo o queixo,

com a boca e o nariz implorando ar e bebida,

esgueirando-se nos botecos, às 10 da manhã.

Isso e tantas coisas mais te deixam ansioso,

com medo do desemprego, das contas,

da fome e do futuro imprevisível.

 

Não vou insinuar medos e culpas na conta dos outros,

mas necessito compartilhar as sensações que tenho,

são serpentes invisíveis brotando do chão e do ar,

e invadindo as narinas,

paralisando meu dia.

 

Toneladas de informações...

Faça isso! Não faça isso!

Tome vacina! Não tome vacina!

Põe máscara! Tira máscara!

Você está rifando a tua vida e a dos outros,

você é um otário, você se caga de medo

de uma gripezinha.

Te cuide, ou você vai ter os pulmões apodrecidos

e vai rastejar à procura de cilindros de oxigênio

em avenidas cercadas de cemitérios

superpovoados.

É tanto bombardeio,

que você se sente leão sarnento

obediente aos domadores de circo.

 

Você assiste a todos os noticiários,

lê todas as mensagens

e vê  e revê vídeos que recebe pelo whats.

Você não faz ideia do que é fato ou fake.

Você é simpático com o governo, você odeia o governo

e diz que ele é o responsável por todas as misérias

e tragédias que acontecem por aí.

 

Sem mais você se pega a pensar no teu funeral,

quem vai comparecer,

quais serão os discursos,

quem vai chorar.

Você pensa no depois,

haverá simplesmente o NADA,

ou teu espírito desencarnará

e terá novas chances

de voltar à terra

pra fazer mais merda?

E você sofre por não saber se será lembrado,

mesmo que por pouco tempo

e apenas por alguns parentes e amigos

mais próximos.

 

Você vê uma enxurrada de vídeos reconfortantes no Youtube,

você pendura bilhetinhos pelos cantos da casa

com a mensagem do Chico Xavier:

TUDO PASSA.

 

Você toma vitamina D, toma sol,

toma Extrato de Própolis e teu sovaco exala pelo mundo

um cheiro bem macho de devorador de alho.

E, assim no mais, você se habitua à dieta perfeita

que vai dar aquele UP na tua imunidade.

E então você recebe a notícia aterradora:

o vírus vem sofrendo mutações,

agora está mais agressivo,

ele se espalha mais rápido.

 

Retornam as imagens que desorientam os mestres

do pensamento positivo:

você só pensa nos pulmões podres,

você só pensa nos tubos de oxigênio,

você só pensa em como será teu funeral!

 

Hora de ser criativo,

bolar um poema bonitinho

que servirá de epitáfio.

Bukowski escreveu um que eu acho bem legal:

 

"quando minhas mãos pálidas

deixarem cair a última caneta

em um quarto barato

eles vão me achar lá

e nunca saberão

meu nome

minha intenção

nem o valor

de minha fuga".

 

(B. B. Palermo)

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Eu sei de tudo

 

Garotas do prédio ao lado tomam sol

e botam pra secar no varal seus problemas diários.

Não me dão bola, então emito uns sinais,

nuvens de fumaça subindo pelas florestas. Digo-lhes:

"Que belo dia de sol... Parece que a chuva prometida se foi...".

 

Como eu queria saber o que pensam desse cavalo cansado

cujo único consolo é contemplar o copo pela metade!


Sinto-me mal ao tentar uns contatos tímidos,

como se estivesse chegando noutro planeta

e uns pequenos centauros coloridos me observassem, rindo,

"um cara muito estranho deu o ar da graça".


Janelas se abrem e se fecham, cortinas sobem, cortinas descem,

meus olhos ficam embaciados diante dos seus horizontes.

Observo os cabelos, o movimento dos olhos,

as bocas e o olhar provocador e, ao mesmo tempo, indiferente.

Não sei se deprimo ou se curto sua juventude,

estou cara a cara com um oceano de potências

que seus lindos corpos desencadeiam.

Ah, como eu queria ter a senha de acesso e tudo decifrar.

Interagir, tomar porres de orgias ao meu redor.

Não consigo ser como Bukowski,

ele se fortalecia na solidão,

era a sua comida e sua água.

 

As garotinhas se enganam se pensam que estou a fim

de descansar em belas e suaves tardes no jardim dos mortos.

Ainda sei contar boas histórias. Lá vai a última:

o sujeito amava tanto sua filha que, quando ela arranjou um namorado,

ele a matou golpeando sua cabeça com uma marreta.

O sujeito tinha muito dinheiro.

Deu parte de sua fortuna a um bom advogado e ficou pouco tempo na cadeia.

Muitos anos depois ele estava pescando num rio que margeia seu sítio,

quando foi atacado por abelhas e morreu como besta indefesa e só.

 

Acredito em fortes emoções, meus brothers, aguardo

outras proezas, não desejo que tudo vire cinzas.

 

O certo é que elas ficariam radiantes ou decepcionadas

se descobrissem os pensamentos que tenho a respeito

de seus corpos desenhados por minúsculos shorts e camisetas.

Eu sou o prendedor de roupas e também o varal

que vai receber as carícias da brisa e do sol

secando suas calcinhas, shortinhos e sutiãs.

Sou sensível mas, garanto, não sou tudo aquilo,

e prometo poemas sujos que as inspiram

a incríveis experiências sensuais.

 

Eu sei de tudo, enquanto aguardo o milagre:

um dia essa beleza juvenil vai desaparecer.

Um namorado hoje, outro amanhã e depois outro e mais outro...

Eu sei de tudo, e é por isso que espio por detrás dessas cortinas

sequestradas pelo pó.

 

(B. B. Palermo)

 

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...