quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Amar ou odiar - João Villaret


Amar ou Odiar
Poema de Fausto Guedes Teixeira
dito por
João Villaret 

Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser.
A alma tem que estar sobressaltada
Para o nosso barro se sentir viver...

Não é uma cruz a que não for pesada,
Metade de um prazer não é um prazer;
E quem quiser a alma sossegada,
Fuja do mundo e deixe-se morrer!

Vive-se tanto mais quando se sente:
Todo o valor está no que sofremos.
Que nenhum homem seja indiferente!

Amemos muito como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos
Porque é no sentimento que ela está!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Brasileiro, homem do amanhã - Paulo Mendes Campos


 Há, em nosso povo, duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
           A primeira é, ainda, escassamente desconhecida, e nada compreendida, no exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que,direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
         Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (“Nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã”), não é, no Brasil, uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira. Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada). 
Michael Cheval.
        Adiamos em virtude de um verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão, ao surgir, na nossa frente, um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage, de pronto, com as palavras: logo à tarde, só à noite, amanhã, segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
         Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas, tantas vezes, se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista (o dentista nos adia),a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são, mais ou menos, pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral das reformas, uma instituição sacrossanta no Brasil.
         Quanto à morte, não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na “Canção do Exílio”, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que ele morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele poema famoso, cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã...”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
        Sim, adiamos por força de um incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe a gravata sempre mais colorida.
         O brasileiro adia; logo, existe.
         A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei, no fim do volume, algumas informações essenciais sobre nós e a nossa terra. Entre endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:
        DES MOTS : Hier = ontem;
        Aujourd’hui = hoje;
        Demain = amanhã.
        Le seul important est le dernier.
        A única palavra importante é última.

         Ora, esse francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Livros à disposição em geladeiras - Capão da Canoa


Quem caminha por Capão da Canoa e gosta de ler tem uma proposta inusitada: as geladeiras literárias. Ou seja, eletrodomésticos de cozinha antigos e inutilizados que guardam livros em seus interiores. São cinco geladeiras localizadas no balneário: uma na Casa de Cultura de Capão da Canoa, uma na Praça do Farol, outra no Shopping local, mais outra na Praça Flávio Boianovski e mais uma no Centro de Atenção Psicosocial.

Conforme a coordenadora da Casa do Artista Caponense, Eliana Motta, o projeto foi idealizado pelo escritor Sérgio Stangler e colocado em prática a partir de abril de 2018. “É um grande incentivo à leitura”, disse Eliana. Ela falou ainda que tem contado com o apoio dos veranistas, tanto para utilizar as geladeiras, quanto conservar as estruturas. Eliana recorda de um fato que considera curioso. “O primeiro a se interessar e abrir uma geladeira literária foi um morador de rua, que foi lá e pegou um livro de ensino e passou a tarde pesquisando”, vibrou.
A moradora de Capão da Canoa, Gina Furtado, comerciante, é uma das pessoas que aproveita os livros da geladeira. “Acho muito legal este serviço. A pessoa que não pode comprar, vem aqui e pega um livro. Já faz parte da cultura da cidade”, comemorou. “E costumo pegar livros, mas também já doei vários. Às vezes, o livro está lá em casa, largado. Aí eu trago e ponho na geladeira para que outra pessoa possa usufruir”, garantiu ela, que mora no Balneário há 10 anos.
A carioca Inês Guedes, que reside em Capão da Canoa há 11 anos, também é uma que usa muito os livros da geladeira. “Esta ideia é um espetáculo. Com os preços dos livros hoje em dia, nem todo mundo pode comprar. Aí vem aqui e pega um emprestado. Em outros casos pega um e deixa outro. Formidável”, elogiou.
Cândida Freitas e o ex-marido Sandro Freitas, ambos de Uruguaiana, aproveitaram a iniciativa. “Fomos passear e nos deparamos com estas geladeiras cheias de livros. Abri e já peguei um para ler”, contou Cândida. “Também curti a ideia e como pai de três adolescentes peguei um livro que fala sobre esta faixa etária”, revelou Freitas. “O que me deixou admirada foi a conservação das geladeiras. Estão bem cuidadas, pintadas e com uma grande variedade de livros”, finalizou Cândida.
FONTE: Jornal Correio do Povo, de 16/02/2019

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Sei o que fazer para melhorar o mundo



Meus velhos tênis judiados
pela chuva e poeira e barro
pareciam tristes.
Ou talvez desprezassem
esse miserável companheiro.
Esqueço que coloco palavras em sua boca.
Atribuo qualidades e defeitos.
Cidadão mediano, desenvolvo hipóteses, tiro conclusões,
berro em publico e pela internet soluções para melhorar o mundo.
Os tênis, a calça, o cinto, as meias rotas etcétera e tal
não têm nada com isso.
Eu sei o que fazer para melhorar o mundo:
arregaçar as mangas e partir pra luta.
Mas eu ainda não cansei
de jogar  a culpa nos outros.

(Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach



Segundo tempo

Sua gula estava insaciável e, junto com ele, flutuavam acima do peso.

Quilômetros de amor represado, rancor e ciúmes e outras coisinhas o afastavam dos outros.
Era um tanque inflamável que ameaçava explodir ou envelhecer em algum canto.
Seu desejo e querer precisavam de exercícios, os músculos, todos, inclusive os cardíacos, contraiam-se de medo.
Tantas vidas represadas.
Tantas mentes defasadas.
Até que um dia uma luz acendeu e ele vislumbrou:
beijos e abraços e carinho e esperança,
essas e outras tantas coisas haviam entrado de férias 
e não tinham voltado.

O jogo não acabara.
Podia se reorganizar para o segundo tempo.
Foi o que fez.
E, de cara, foi ao ataque, substituindo o medo e o rancor por alegria, esperança e bom humor.

(Teco, o poeta sonhador)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...