sábado, 26 de agosto de 2017

Literatura para jornalistas


Literatura para jornalistas: Américo Piovesan fala sobre seu processo criativo

A turma de Oficina de Leitura e Produção de Texto recebeu a visita do escritor Américo Piovesan. Em conversa com os alunos do curso de Jornalismo, Américo trouxe exemplos de sua produção, comentou seu processo de criação e falou sobre o lugar da literatura na contemporaneidade. “A literatura permite dizer o que está oculto”, resume o escritor.
A palestra teve por objetivo aproximar a tradição do jornalismo e a da literatura, a fim de inspirar os acadêmicos da disciplina, voltada para a produção de texto e o incremento do repertório cultural dos futuros jornalistas.
O professor Marcio Granez, responsável pela disciplina, avalia a atividade: “Tivemos a oportunidade de trocar experiências com um escritor que se destaca no cenário atual da produção literária em nosso município. Sem dúvida, foi um grande diferencial para aprofundar a formação dos nossos alunos. Afinal, as narrativas jornalísticas são antes de tudo histórias e como tais devem ser bem contadas para cativar o público”.

Fonte: https://usinacomunica.wordpress.com/2017/06/21/literatura-para-jornalistas-americo-piovesan-fala-sobre-seu-processo-criativo/

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Os espíritos - Mário Cezar Goularte Duarte

Estavam ali os dois conversando sobre assuntos diversos, quando de repente - pum! - o Espírito de Conciliação acertou o estômago do Espírito Esportivo. Afogueado e tremendo, este levantou-se com uma pedra na mão e...
Eu vi. Por todos os espíritos, eu vi. Mas não sabia, então, que eram eles. Eu andava por toda a parte à procura desses entes abstratos - os dois aí citados e mais a porção que, dizem, habitam nosso universo interior. Eu os via nos jornais e revistas, falavam seus nomes no rádio, até na televisão apareciam. Mas espírito mesmo, em carne e osso, eu não encontrava. Ah sim, encontrei muitos, mas só aquelas ovelhas negras de que ninguém fala e que, sim senhor, são tantas e tanto fazem que me admirava não serem notícia.
Assim que ao invés do Espírito de Camaradagem eu via o Espírito de porco, esperto e cínico, caçoando das pessoas, agindo nas repartições públicas. E o Espírito de Luta, tão famoso por sua coragem e persistência, decerto tinha se acovardado, cedendo o lugar para o Espírito de Briga, mal-humorado e agressivo. Via ainda o Espírito Derrotista, cabisbaixo pelas ruas, quando falavam tanto no Espírito Combativo.
E tanto vi desses espíritos que nós - eu e meu Espírito de Complacência - quase desistimos daquela busca inútil. Mas continuei, cheio de fé, achando-me eu mesmo um sujeito bastante espirituoso.
Aí chegou o Natal. É agora, pensei, esse não me escapa - o Espírito Natalino. Sempre ouvira dizer de sua presença nessa época, tão puro e comunicativo, contagiando as pessoas, os velhos e moços, os honestos e os ladrões e, dizem, até os que por força da profissão não têm espírito nenhum: os censores.
Pus-me nas ruas. Olhava, ávido, o rosto das pessoas. Buscava neles um sinal, um sinalzinho, um espiritozinho qualquer. Mas eles só olhavam as vitrinas. E enquanto nestas distinguia claramente o Espírito de Venda (que frases! que ofertas!), nas pessoas notava apenas um medíocre Espírito de Compra.
Onde, afinal, o Espírito Natalino? Tão falado em anúncios comerciais, cantado e decantado em jingles - seria uma invenção da Propaganda e de seu Espírito Criador?
Foi um amigo que o apontou um dia para mim. Mas, Santo Deus, como foi difícil reconhecê-lo atrás de todos aqueles pacotes! desavisadamente eu o tomaria, sem dúvida, pelo desprezível Espírito de Consumo, que aliás estava por toda a parte. Jamais desvendaria naqueles embrulhos ambulantes um mínimo de espírito sequer, muito menos o inteligente Espírito Natalino.
Então percebi que os espíritos que eu buscava continuavam por aí, levando a mesma vida de sempre, apenas um pouco diferentes - ou para encontrá-los me faltava o necessário estado de espírito.
Por isso, de certo hoje só tenho a dúvida de Machado de Assis: mudei eu ou os espíritos é que andam irreconhecíveis?
(Crônica publicada em 1978)

Às vezes com quem amo - Walt Whitman


Às vezes com quem amo fico cheio de raiva,
por medo de estar dando amor não retribuído;
agora penso porém que não há amor sem retribuição,
a paga é certa de uma forma ou outra.

(Amei certa pessoa ardentemente
e meu amor não foi retribuído,
mas desse alguém eu tirei com que escrever
estes cantos.)

 

                                        (tradução de Geir Campos)

Jacaré letrado - Sérgio Capparelli



domingo, 20 de agosto de 2017

Sobre o amor - Paulo Leminski


   Transar bem todas as ondas
a Papai do Céu pertence,
   fazer as luas redondas
ou me nascer paranaense.
   A nós, gente, só foi dada
essa maldita capacidade,
   transformar amor em nada.

***
   o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
   agora, apenas um sopro

   ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
   e socos

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...