domingo, 8 de junho de 2014

Joia rara


Ela disse às amigas:
"Eis aqui a joia rara".

Linda e altruísta
jogou-me a isca
e flechou o coração
do tubarão anarquista.

Presa fácil
um frágil solitário
guloso de aventuras
tornei-me agora
peixinho de aquário.

Prêmio dourado
a ser exibido
em nobre horário
às tantas da tarde
em sua doce
e pacata cidade.

Nobre horário
doce fim de tarde
desde o começo
o seu feitiço
virou-me do avesso.

Hoje eu desenho
coraçõezinhos flechados
nas árvores do bairro.

Ela não tem tempo
pra me sentir e me ver
então eu devoro 
trevos de bem 
e mal querer.

Bem-me-quer
mal-me-quer
o poeta sonhador 
naufragou na maré 
desse amor!

terça-feira, 3 de junho de 2014

Divagar


Com esse jeito di-va-gar
nunca serei o homem
mais procurado 
do mundo.

Snowden Sadan Bin Laden
nem artista velocista famoso

Divagar
não serei nem médico
nem monstro.

Divagar vagueio
como as estrelas 
fugazes e cadentes

divagar
nunca serei 
teu príncipe
mais importante.

Arranchado
com dona preguiça
sou monstro qualquer
a di-va-gar no lago Ness.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

I Colóquio Regional de Formação de professores


Nos dias 22 e 23 de maio apresentamos oficina com o seguinte tema: "Contar e escrever histórias: possibilidades de  emancipação (cura) individual e social".

I Colóquio Regional Formação de Profissionais em Educação
O Instituto Federal Farroupilha - Câmpus Santo Augusto realizou, de 21 a 23 de maio, em parceria com o Grupo de Pesquisa Formação Cultural, Hermenêutica e Educação da Universidade Federal de Santa Maria e a Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Município de Santo Augusto, o I Colóquio Regional Formação de Profissionais em Educação: Catástrofes, Formas de Resistência e Possibilidades de Transformação.
A solenidade de abertura, realizada na noite de quarta-feira, no Clube 7 de Setembro de Santo Augusto, contou com a presença da Diretora Geral do Câmpus Santo Augusto, Verlaine Denize Brasil Gerlach; do Prefeito de Santo Augusto, José Luiz Andrighetto; da Diretora de Ensino do Câmpus Santo Augusto, Clarinês Hames; da Secretária Municipal de Educação de Santo Augusto, Zaira Dias Meirelles Rotilli; da Diretora de Pesquisa Extensão e Produção do Câmpus Santo Augusto, Leidi Daiana Preichardt; do Vice-presidente da Câmara de Vereadores, Ultramar Luiz de Souza; da Coordenadora Geral do Evento, Teoura Benetti; bem como os mais de 400 inscritos.
Na ocasião, os participantes assistiram a apresentação do Grupo de Violão Encanto, da Escola Municipal Antonio João e na sequência a conferência de abertura, intitulada "Resistência, cidadania e educação no contexto pós-traumático", mediada pelo professor do Câmpus Santo Augusto, Me. Mauricio Cristiano de Azevedo, e proferida pelos professores, Dr. Amarildo Luiz Trevisan (UFSM) e Dr. Geraldo Antônio da Rosa (UNC/UNIPLAC).
O evento, promovido através de um projeto de extensão, coordenado pela professora Téoura Benetti, direcionado aos professores e servidores técnicos administrativos das escolas das redes de ensino de Santo Augusto e região, assim como aos acadêmicos do Curso de Licenciatura em Computação do Câmpus Santo Augusto, teve como objetivo principal, promover a formação continuada e estimular o debate em educação.
A programação continuou na manhã de quinta-feira, dia 22, com as palestras: "A (in) sustentável dureza do ser: a questão do medo e da desconfiança como geradoras da busca do controle", ministrada pelo professor Dr. Valdo Barcelos (UFSM), e "O reconhecimento da figura docente diante dos traumas cotidianos", ministrada pela professora Drª. Maiane Hatschbach Ourique (UNIPAMPA). À tarde ocorreram os minicursos e à noite o cine debate como a exibição do filme "Utopia e Barbárie", dirigido por Silvio Tendler.
Na manhã de sexta-feira, dia 23, ocorreram as palestras: "Catástrofe: fazer e sofrer o mal", com o professor Dr. Noeli Dutra Rossatto (UFSM), "Resiliência ao trágico na vivência docente/discente, saber fazer ou saber expressar" com a psicóloga Fabiane Bortoluzzi Angelo (psicóloga do Instituto Condor e Coordenadora do GT Ações por Santa Maria) e "Histórias de fins...histórias sem fins: dor e sinais de recuperação nos espaços público e privado", com a psicóloga Rosana DOrio Boherer (Pós Doutoranda na UFSM, psicóloga do Instituto Condor e Coordenador do GT Ações por Santa Maria). À tarde foram concluídos os minicursos e à noite, encerrando a programação, ocorreu o cine debate com a exibição do filme "Edukators" dirigido por Hans Weingartner.
Carla Maron
Jornalista do Instituto Federal Farroupilha - Câmpus Santo Augusto
Outras fotos no site http://www.sa.iffarroupilha.edu.br/site/conteudo.php?cat=13&sub=2376

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Coragem!


Contracene
agarre o
mistério!

É o mágico
momento
de sabor
cítrico

sentimento frágil
um desejo místico

momento ébrio
que se conta no dedo...

Cadê a coragem
pra se livrar
desse medo?!

terça-feira, 27 de maio de 2014

O Bandido sabia...




Me parece que boa parte do que rola no facebook começa a fazer sentido ao ler este poema do Paulo Leminski:

“Merda é Ouro

MERDA É OURO

Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam pobres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare

à bosta da pessoa amada.”

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Bartolomeu Júnior, o porco de Porto Alegre




Porto Alegre amanheceu interiorana nesta quarta-feira. Enquanto os moradores da suposta metrópole dormiam, um porco de 250 quilos flanava pelas ruas da zona leste da Capital.
Branco, pelos cor creme, focinho rosado, ainda não castrado e com rabo não enroscado, o animal circulou pela Avenida Ipiranga até ser amarrado a uma árvore, pouco antes das 6h, na esquina da Avenida Cristiano Fischer com Avenida Ceres, nas adjacências de um posto BR.
A piada que corria nas ruas era de que o porco havia aproveitado para passear por causa das sinaleiras lentas — referência aos testes feitos pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) na terça-feira pela manhã. A saga suína só seria desvendada uma hora mais tarde, quando o animal foi levado pelo motorista Benhur Barcelos Lopes para uma zona mais tranquila na Avenida Ceres, passando o motel P90. Lopes amarrou o porco e tentou fazê-lo se deitar.
— Faz cócega na paleta que ele deita — sugeriu o também motorista Flávio dos Santos da Cunha, que contou que o pai criava animais no Interior.

O animal, contudo, ignorou o carinho recebido. Quem passava pelo local é que não o ignorava: as pessoas o filmavam e o fotografavam compulsivamente. Se despertava simpatia em alguns, para a maioria, o porco identificado mais tarde como Bartolomeu Júnior, representava fogo, espeto e carne. A maior parte das piadas tinha alguma referência a churrasco.
Parte do mistério foi solucionado às 6h50min com a chegada de Teli Moreira Domingues, que disse ser sócio do dono do porco. Domingues não soube dizer o nome do animal, mas esclareceu a origem: um chiqueiro na vila Bom Jesus, onde morava com outros seis animais. Ele havia descoberto o paradeiro do porco na rádio Farroupilha e correu para lá para cuidar do seu patrimônio enquanto esperava o sócio chegar com com o transporte.
Outras pessoas, como a dona de casa Madalena Schmitz Cruz, também estavam preocupadas com a integridade física do bicho:
— Coitado, tadinho. Achei o pessoal da obra que ia carnear ele — disse .
Às 7h15min, o dono do animal chegou com uma caminhonete Fiorino bordô já com uns bons anos de uso. Gilson (não quis dizer o nome completo), 54 anos, deu os detalhes que faltavam: o nome do bicho (Bartolomeu Júnior), o preço (R$ 2 mil) e causa pouco nobre da fuga:
— Quebrou o chiqueiro para ir atrás de uma porca!
Junto, Domingues, a quem o sócio chamava de Bigode, e Gilson tentaram colocar o porco dentro da caminhonete. Não conseguiram. Gilson ainda convocou alguns transeuntes, mas ninguém prontificou. Com suor escorrendo pelo rosto, ele condenou o egoísmo humano.
Bartolomeu começou então a soltar os primeiros guinchos de desconforto e, quem sabe, revolta. Amarrado a uma árvore por duas cordas, ele começou se debater e conseguiu se soltar de uma delas. A corda teve de ser recolocada no pescoço duas vezes. Os dentes de Bartolomeu apareceram pela primeira vez.
No meio tempo, Gilson buscou reforços, dobrou o egoísmo humano e voltou com mais duas pessoas às 7h45min. Em cinco, eles ergueram os 250 quilos de guinchos e revolta e prenderam Bartolomeu na traseira da Fiorino. Trancafiado, amarrado dentro do camburão informal, o animal aceitou a nova condição, acalmou-se e voltou para a "estância" da qual veio na Vila Bom Jesus. A aventura suína havia acabado.
Claudio Goldberg Rabin - Zero Hora

quarta-feira, 26 de março de 2014

O Pavão - Rubem Braga



Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rio, novembro, 1958

domingo, 23 de março de 2014

Tirada do TECO - na mesa do bar


De nicada
em nicada
não ganho
        o jogo
         titias!

(nem desespero
ao evaporarem
           os dias)

Ganho aos estrelas
quando cativo
as gurias!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Improvisar não dá!

Estava falando aos alunos sobre a questão da linguagem em Platão. De que, para este filósofo, a linguagem convencional não possibilita atingir o "verdadeiro" conhecimento, por ser mutável, aleatória, agarrada às opiniões cotidianas. Vendo que os alunos estavam se interessando "pacas" pelo tema, pedi para que analisassem a palavra (ou conceito) "amor". Deram vários exemplos de amor, e também o que consideram que este seja. Pedi então para uma aluna localizar no google o poema do Vinicius, que segue abaixo. Solicitei para que lesse para a turma. O que mais chamou a atenção de todos foram os dois últimos versos do soneto:



Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

 Depois da leitura do poema, eles disseram que entenderam Platão. E eu não entendi mais nada...



Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Aventuras e tragédias


Tantas tragédias no trânsito, inclusive de crianças e jovens, me parecem ser ofertadas de bandeja à Sra. Morte. Pouca perspicácia (e uso da inteligência) para afugentar o monstro e seguir desfrutando a vida.
Um exemplo de luta com a morte, fazendo uso de uma série de artimanhas - e vencendo-a no final, quando todos os indícios eram de que perderia - está no filme "As aventuras de Pi". O personagem sobrevive a um naufrágio de navio e convive, em pleno bote, com um tigre de bengala, em alto mar.
Para suportar o naufrágio, Pi vai ter que primeiro sobreviver ao tigre. Cada dia de solidão e de luta pela vida significa vencer seu medo de desistir diante de tamanha tragédia, o medo de ser devorado pelo tigre e, enfim, o medo de nunca ser encontrado e resgatado.
Parece-me que esse esforço do personagem para que, no final, a vida triunfe diante da morte traz, entre outras,  uma senhora recompensa: deixar, como legado, uma incrível história pra contar.
Quando fui devolver o filme na vídeo-locadora, minha amiga atendente disse que "As aventuras de Pi" é um filme legal, embora tenha se perdido no final. Isso chamou minha atenção. Tinha me distraído com relação ao desfecho do filme. É que a história, no seu desenrolar, foi demais envolvente. 
Fazendo uma comparação com as coisas da vida, será que não estamos focados no “lá adiante”, no "final" de nossa vida, e esquecendo de viver (se possível) intensamente o aqui e agora? As sequências do filme (e de nossa vida), os avanços e recuos dos personagens, os lugares que o medo e a coragem ocupam em momentos decisivos da vida que optamos levar... A adrenalina posta em jogo...
No filme, a meu ver, o que mais importa é a engenhosidade de Pi, a toda hora, para manter-se vivo num bote, na companhia de uma fera (faminta) em alto mar.
A pergunta se repetia a cada sequência: "Como ele vai escapar dessa?", "Como vai sair de tal armadilha?”
No trânsito há muitas armadilhas criadas por nós mesmos. Imprudência, carros velozes, estradas mal conservadas, etc. Temos pressa de chegar ao destino, em vez de relaxar, traçar um roteiro, checar todos os itens de segurança, visar algum prazer ao pegar a estrada... 
Tantas notícias de acidentes, confirmadas pelas estatísticas, mostram que estamos flertando com a morte, jogando roleta russa com ela.
Nossa história não precisa ser contada pra meio mundo. Ser glo-bal-men-te significativa. Não precisa inspirar um filme que vá concorrer ao Oscar. Mas é a NOSSA história. Ou o que poderia ter sido. Depende, em parte, de como negociamos com a morte. E com a vida. Sabemos que, se a morte vencer o jogo, será definitiva. Resta o “poderia ter sido diferente”, que os mais próximos vão contar – inventando ou não. Isso se fomos significativos para alguns desses "próximos".

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Queria escrever simples



Passarinhos vivem. Com simplicidade. 
Comecei a notar diferente os passarinhos depois de ler o poeta Manoel de Barros. 
Vivi os bichos pelas suas palavras. Cada frase do poeta é uma renovação.
Água nova que jorra de uma pequena fonte, num lugar qualquer.
Sua linguagem é um oásis, em meio a tanta poluição de palavras que não se renovam.
Diz um poema seu, "O provedor":
Andar à toa é coisa de ave. / Meu avô andava à toa. / Não prestava pra quase nunca. / Mas sabia o nome dos ventos / e todos os assobios para chamar passarinhos. / Certas pombas tomavam ele por telhado e passavam / as tardes frequentando o seu ombro. / Falava coisas pouco sisudas: que fora escolhido para / ser uma árvore. / Lírios o meditavam. / Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava / bom-dia aos sapos, ao sol, às águas. / Só tinha receio de amanhecer normal. / Penso que ele era provedor de poesia como as aves e os lírios do campo.
Observo da janela, no pátio, um sabiá coloca comidinha na boca do seu filhote, que ensaia os primeiros vôos. Percebo na hora: passarinho é simples, e é bonito olhar. Tive o impulso de fotografar a cena. Mas pra quê? Mostrar aos outros no facebook? Estampar num porta-retrato?
Bonito ver os passarinhos procriando e se multiplicando por aí. Simples. Como eu queria escrever simples como a vida dos bichos!
A respeito do escrever, Manoel de Barros diz que "as coisas que não existem são as mais bonitas". Ele nos convida, nós metidos a escritores, a "usar algumas palavras que ainda não tenham idioma". A nós que usamos e abusamos da palavra, seu recado é: "repetir repetir - até ficar diferente. Repetir é um dom do estilo". A respeito desse jogo com as palavras, visando reinventá-las, diz o poeta que "as coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças".
Ah, como é difícil escrever de um jeito simples, preciso, sem excessos. Como é penoso se afastar das palavras desgastadas, cansadas de se repetirem.
Sim. Queria escrever como o joão-de-barro constrói a sua casa. Ou como o seguinte poema:
Um passarinho pediu a meu irmão para ser a sua árvore. 
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irão aprendeu de 
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhe ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as 
árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se
transformara envaidecia-se  quando era nomeada para
o entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos
brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela
permanência em árvore porque fez amizade com muitas
borboletas. (Poema "Árvore". Manoel de Barros).

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...