quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pejuçara - Escobar Nogueira



O jornal publicou os finalistas do 16º prêmio Açorianos de literatura. Corro os olhos para ver quais os indicados, em quais categorias. Detenho-me em Poesia. 
Não é que o Escobar Nogueira, com o livro Pejuçara, é um dos indicados ao prêmio?
Conheci o Escobar em fevereiro de 2010. Conversei com ele no dia em que ele fez uma palestra para os professores municipais, na abertura do ano letivo, no município de Ijuí/RS. 
Extrovertido, simpático, como o é um professor de cursinho pŕe-vestibular. Após a palestra ganhei seu livro, autografado, de presente. Cheguei em casa, coloquei o livro na estante, mas não dediquei o tempo suficiente, que ele merecia, para desfrutar de sua companhia.
A questão que me faço, agora, é: por que  damos valor às coisas só depois que elas se tornam conhecidas/reconhecidas?
Hoje, após saber de sua indicação ao prêmio, lí o livro com afobação. Vou ter muito tempo, nessa época do ano, para lê-lo e relê-lo, bem devagar, como toda poesia merece.


SLOW CITIES

Eu,
o cachorro,
o trator,
tudo vai devagar.
Como não lembrar
do poema do Drummond?
Itabira,
Pejuçara,
cidadezinha qualquer,
onde não é preciso correr
pra viver,
nem pra morrer.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sina





Obedientes
  ao mundo
 as pombas
    ciscam.

Amanhã
o mundo pode
        ruir...

Tudo precisa ser feito:
        arrumar o ninho
     por ovos, chocar...

O destino ordenou
  para ter pressa
  que a vida vale
     o entardecer.

Observo a sina
atrás da cortina
        da janela

choca-me a corrida
         desigual:
         sou pombo
  que não tem asas
        para fugir.

domingo, 7 de novembro de 2010

Gata




Ela é toda
ardilosa
com sorrisos
e guizos


caninos
molares
me paralisam


ela é dona
do pedaço
que mandou
meus sonhos
pro espaço


o espaço
confunde
na porcentagem:
100% felicidade
ou 100% realidade?!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pai não entende nada - L. F. Verissimo



-Um biquíni novo?

-É, pai.

-Você comprou um no ano passado!

-Não serve mais, pai. Eu cresci.

-Como não serve? No ano passado você tinha 14 anos, este ano tem 15. Não cresceu tento assim.

-Não serve, pai.

-Está bem. Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior.

-maior não, pai. Menor.

Aquele pai, também, não entendia nada.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

GODOFREDO






Sou refém do Godofredo
um celular cheio de dengos
que vibra fora de hora
aloprando os meus medos!


Vivo numa casa
sem flores na sacada
no mais não tenho nada
além dos tiques do Godofredo...


Ele sempre me acorda
até num sonho profundo
com seus fricotes estranhos
de coisa do outro mundo!


Extravia caminhos
elimina meus sonhos
de desejo e esperança
com sotaque de criança!


Sei que posso desligar Godofredo
seja dormindo ou acordado,
mas o que posso fazer
com o tagarela do outro lado?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DIÁLOGO - Moacyr Scliar





- Pai, Deus existe?
O homem deixou de lado o livro que estava lendo e ficou olhando para o garoto sem dizer nada.
- Pai, eu perguntei se Deus existe.
- Eu ouvi. Estou pensando.
- Precisa pensar? Eu só quero saber se Deus existe ou não - disse o garoto irritado.
- Bom - o homem, cauteloso - para algumas pessoas existe, para outras não.
- Para mim não existe - disse o menino.
- Não existe?
- Não, quer ver? - Olhou para cima: - Deus, eu quero uma bicicleta nova. Agora.
Esperou um pouco - muito pouco - e disse, triunfante mas amargo:
- Viu? Viu como Deus não existe?
- Bem - disse o pai, sentindo o terreno movediço - isto não chega a ser urna prova. As pessoas não conseguem logo o que querem.
- Ah, mas se Deus existe, ele tinha de me dar uma bicicleta. Deus não existe.
O homem não disse nada.
- Deus não existe - insistiu o garoto. - Ouviu? Não existe. Ou então está morto. Deus morreu, pai.
Meu Deus, pensou o pai, o garoto está dizendo aquilo que Nietzsche levou anos para descobrir. O seu bom humor, porém, logo desapareceu: o menino estava chorando. Está cansado, pensou o homem. Tomou-o nos braços, sentou com ele na cadeira de balanço, embalou-o, até que o menino adormeceu. Então colocou-o na cama; mas aí já não tinha vontade de ler; de modo que pôs o pijama e foi dormir também.
Acordou de manhã cedo. O menino estava ao lado da cama do casal, uma expressão de triunfo no rosto:
- Sabe o que sonhei, pai? Sonhei que estava cercado de inimigos que queriam me matar. Aí caiu do céu uma metralhadora, e eu matei todos os inimigos. Todos, pai! Com a metralhadora! Foi Deus quem mandou aquela metralhadora!
O pai suspirou, aliviado. Finalmente, Deus estava dizendo a que vinha.

SCLIAR, Moacyr. Diálogo. In: Para gostar de ler - vol. 18 - crônicas - Ática, 2010.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

DESCOBERTA

Tudo corria bem
obrigado
até notar a flor 
amarela
na cabeça dela
claro que fiquei 
grilado
uma flor desse tamanho
a enfeitar sua cabeça
castanha
até pensei dizer a ela
meu deslumbramento
com a descoberta
porém desisti
é claro
não queria passar
por sujeito estranho
que ainda não aprendeu
a ser poeta.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pontos de vista - Marina Colasanti




Quando Nero queria ver
o mundo melhor
olhava-o através de
uma esmeralda.

Quando quero ver melhor
o mundo
eu o olho através
das palavras.

sábado, 23 de outubro de 2010

Anjo da guarda




Escapulário
fez ZÁS!
e escapuliu
do pescoço...

o tempo passou
e ninguém
dele se lembrou.

Esquálido
desnutrido
lamentou
ser um anjo esquecido...

Zangou-se
com você
comigo
todo mundo!

Nem pensou dez segundos
foi logo reverberando:

Anjo da guarda
nunca mais
nunca mais
serei!

Quando desaparecer
que todos se arrependam...

Ninguém nunca mais
vai me encontrar
nos postos de venda!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cecília Meireles



Há pessoas que nos falam
e nem as escutamos;
há pessoas que nos ferem
e nem cicatrizes deixam.
Mas há pessoas que,
simplesmente,
aparecem em nossa vida...
... e que marcam
para sempre.

POMBO - Leo Cunha


O pombo correio
não gosta de sê-lo.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...