terça-feira, 9 de dezembro de 2008

LUIZ CORONEL


Quadro de Vincent Van Gogh (1853-1890)

Início da manhã, na escola, bocejos, muito calor e a biblioteca, impassível. Ao remexer a pilha de livros que as crianças dexaram jogada sobre a mesa, dou de cara com um livro de poemas do Luiz Coronel - Um girassol na neblina. Então, acontece o milagre. Começo sua leitura e a manhã passa voando, até chegar ao final...


FUGAS & CULPAS


Se a felicidade

não veio

não se ponha a maldizer

o pão

e o vinho.


Sem agendas

ou mapas

a felicidade se perde

a dançar

pelos caminhos.


Se os sonhos

naufragaram

credite às ondas

e ao vento.


Se o amor

não deu certo

a culpa é das flores

que nunca chegam

a tempo.



CATARSE


Cantores existem

que cantam

com a voz.


Os braços

dos verdadeiros

são claves de sol.


Os cabelos

partituras

e os olhos

notas musicais.


Existem atores

que dizem: "sou peixe".

Lancem anzóis

tarrafas

para me pescar.


Os verdadeiros

são pães

que se repartem

de forma imediata

e milagrosa.


Certos poetas

vacilam, aromatizam,

impermeabilizam as palavras.


Os verdadeiros

criam metáforas

e dentro delas as palavras

viram cambotas

e comem bergamotas

num banco de praça.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

LIGAÇÃO A COBRAR


Triiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnn...
São três horas da manhã
a ligação é a cobrar.
O dragão
que veio e se foi
nos tempos de outrora
pede agora pra voltar!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

DISFARCE

CRÉDITOS: Le Fabuleux destin d' Amélie Poulain - Jean-Pierre Jeunet


O sol seduz a vidraça
e desmascara teus olhos.
Viras de lado
num disfarce.
Prometes que,
pelo menos hoje,
serás a outra
decidida e meio louca!

O calmante do fim de noite
ajeita os cobertores
e tuas promessas
preferidas
- e não cumpridas!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MEUS SONHOS

Paul Klee - Na cidade do sonho



Não me aventuro
mais pelos cantos.
Os sonhos vêm
pé ante pé
tiram a roupa
põem pijama
contam histórias
fazem dormir.

Não domino meus sonhos.
Sou por eles escravizado.
Cochilo na rede
cochilo na sala de aula
cochilo no sofá
na hora da novela.

Na tenra espera
do sonho mais lindo
vem o pesadelo
e arrasa o meu cochilo...

Não confeccionei
troféus
para enganar
meus sonhos.
Riem de mim
quando, alucinado,
extravio as chaves
que fecharão suas portas!

domingo, 30 de novembro de 2008

AMADA LEITORA


Minha querida leitora, Senhorita (ou senhora) Rose. Toda vez que tento escrever poesia, me vem à memória um poema do Manuel Bandeira, cujo título é Nova poética. Diz o poema, na íntegra:

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
sai o sujeito de casa com a roupa de brim branco
muito bem engomada, e na primeira
esquina passa um caminhão, salpica-lhe
o paletó de uma nódoa de lama:
é a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as
virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.

Querida leitora. Se você for ler A metamorfose, do Kafka, vais ficar mais familiarizada com os insetos... No caso do Kafka, o personagem vive o drama de ter-se transformado numa barata! A essa literatura muito é comentado... Pode ser chamada de realismo fantástico, ou surrealismo. Está muito próxima da psicanálise, a “ciência do inconsciente”. Um grande escritor da atualidade, Gabriel Garcia Marques, vai nessa direção, por exemplo, nos Cem anos de solidão. Embora seja complicado enquadrar esses ícones da literatura em alguma escola, ou teoria...

Mas não pense que o TECO esteja se colocando à altura daqueles que citou. Ainda estou na fase de brincar com as palavras, como fazem as crianças... Aliás, enquanto pequenas as crianças não tem medo/nojo dos insetos, aprendem a ter medo com os marmanjos... De qualquer maneira, como fez o Kafka, em que seu personagem tinha uma vida “de inseto”, a literatura (ou toda a nossa vida?) lida muito com as metáforas e as alegorias, inclusive as imagens que usamos.

Aliás, O MUNDO DAS IMAGENS que perpassa nossas vidas necessita de uma reflexão mais aprofundada. Recomendo que você leia o Zero Hora de domingo, 30/11/2008, as reportagens do caderno Donna, que falam que fotografar e filmar viraram mania cotidiana.

O que isso significa, nos dias de hoje?
Vou dar um exemplo que vivi, dias atrás. Estava numa apresentação do colégio onde estuda meu filho, quando as crianças e professores fizeram lindas apresentações artísticas para os pais e comunidade em geral. Enquanto as crianças faziam suas apresentações, muitos pais (havia mais de cem máquinas em punho!) faziam malabarismos para obter a melhor imagem, melhor ângulo – o de seus filhos, é claro! Na hora fiquei me perguntando se eles estavam DESFRUTANDO algum prazer estético com o que assistiam, ou se desejavam apenas registrar para o futuro aqueles momentos. Fiquei pensando se eles não confiam na memória, têm medo de esquecer o que viram...

Leio o texto da Martha Medeiros, no caderno que citei acima, e ela fala mais ou menos isso. “Se você não documentar suas experiências e emoções, elas deixam de existir? Você deixa de existir? Não deveria, mas dá a impressão que sim.”

Aposto muito mais nas imagens que se tornam fortes lembranças, por causa da emoção e sentimento que vivi, quando dei de cara com elas. O que vemos, de maneira intensa, até brutal, é a BANALIZAÇÃO da vida, através da imagem. Exemplos: as tragédias, como a morte da menina que foi jogada do apartamento, em S.P. e, agora, das enchentes em Santa Catarina. Creio que o mais importante não é a imagem em si, mas o fato de vive-las com sensibilidade e, principalmente, podermos interpretá-las... Eis aí o grande desafio... A propósito, essa enxurrada de fotos das tragédias em Santa Catarina despertam nossa sensibilidade para a SOLIDARIEDADE, que é algo fundamental nos dias de hoje, onde há intenso narcisismo? Além das questões ambientais e de organização dos espaços geográficos/urbanos (tanta população ocupando as margens dos rios são um apelo à tragédia, mais cedo ou mais tarde)...

Como poeta sonhador, persigo a imagem poética, que são as metáforas e alegorias, e aí até as baratas podem posar pra foto!

Abraço do TECO.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

MATA-MOSCAS



Minha tia comprou
um mata-moscas
no “Um e noventa e nove”.

Renova-se
a cada
inseto
decepado.

Chicoteia o ex-marido
a vizinha fofoqueira
o funcionário da prefeitura.

Não perde a paciência
se ficar horas a fio
na tocaia dos insetos
pelos cantos escuros.

No verão a cidade
Recebe os turistas.
As baratas saem dos esgotos
e são apresentadas à minha tia.

Ela diz para seus netos
que os insetos
são os maestros
da orquestra
da família!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

AGENDA


Nesta sexta-feira, dia 28/11/2008, a Turma do TECO estará no município de Cerro Largo/RS, na escola E. E. F. Eugênio Frantz, com bate-papo com o Autor Américo Piovesan, oficina de música (com o Guerrinha) declamação de poemas e performance teatral do poersonagem TECO (com a atriz Eloisa Borkenhagen). Na proxima semana postaremos comentários e fotos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

NÃO TENHO TEMPO


Não tenho tempo
pra ler teus bilhetinhos
nem pra responder
a perguntas impossíveis.

Queres saber
se choro,
rio ou não ligo
pro Bob Esponja,
Branca de Neve
e os Três Porquinhos?

Se torço pro bandido
ou pro mocinho?

Quero saber, apenas,
se hoje tem futebol...

Não tenho tempo
pra tirar
tuas dúvidas teimosas,
nem pra curar
teus finiquitos...

Tenho tempo apenas
para abrir as cortinas
olhar pela janela
e me esconder nas esquinas!

sábado, 22 de novembro de 2008

MEU NOME


Meu nome
é uma sombra
que me persegue
por onde vou...

Teimoso,
faço de conta
que me escondi
e que não estou nem aí...

-
TECO!

Fico zonzo
quando me chamam...
É a surpresa
de um grito
no ouvido...

Culpada
é a sombra
que espreita
atrás da moita!

Com essa sombra a reboque
arrasto a vida e sonho
ator, jogador de futebol,
escritor, desenhista,
motorista de caminhão...

Comigo cresceu
comigo saiu do mato
gritou e silenciou
até se acostumar
com o chamado
dos outros.

-
TECO!

Às vezes estranho
ouvir o eco do meu nome.
Deve ser porque estranho
o mundo que me cerca.

Hoje até gosto
que meu nome
- igual cascata de rio -
salpique e regue
a vida ao seu redor...

Meu nome
minha sombra
meu carimbo
é sonâmbulo
e grita
e ecoa
e berra
e alerta
até que, finalmente,
meu anjo da guarda
- destrambelhado -
desperta!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

TURMA DO TECO NO CSCJ


No dia 20/11/08 estivemos no Colégio Sagrado Coração de Jesus-IJuí/RS participando da sua mostra de ciências e artes. A Turma do Teco levou música, declamação de poemas e teatro para a escola. Foi uma tarde de alegria e de encontros, onde a literatura e outras manifestações artísticas estiveram "à flor da pele". Agradecemos aos alunos, à direção e professores pelos momentos marcantes que lá vivemos. Em 2009 a escola completará 75 anos de existência e será homenageada com diversas atividades, que se estenderão durante todo o ano.


O CSCJ foi a primeira escola a abrir suas portas para o escritor Américo Piovesan desenvolver oficinas de poesia com seus alunos, isso no ano de 2006. Dada essa "parceria", que envolve amor e amizade, fomos convidados para lançar o próximo livro Teco, o poeta sonhador, em: Canções pra não dormir, junto à programação de aniversário da escola. Já estamos planejando várias atividades, que culminarão na apresentação do espetáculo de música, teatro e poesia, no mês de março de 2009.









O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...