terça-feira, 14 de outubro de 2008

NÓS

Quando você menos espera, os cadarços do sapato se desatam. É um embaraço breve e passageiro, e não perdemos a máscara, como acontece quando nos olhamos no espelho, no banheiro de uma festa, e não conseguimos disfarçar olheiras e pés de galinha, e aí resta o apelo à embriagues ou sair de fininho.
No lance decisivo, na hora de evitar o gol, ou no contra-ataque, ao tentar fazer um gol de letra, o cadarço da chuteira se solta, e passamos batidos. Resta lamentar e, da próxima vez, sem distração, mudar o jeito de fazer o nó.
Os cadarços precisam estar bem amarrados, a cara não. Amarremos casas, instrumentos, ferramentas, e liberemos os sentimentos. Mas quantos fazem confusão, e invertem a ordem!
As obras concretas precisam de liga, de ferro, para não serem levadas pelo vento. As amizades precisam de laços para nos aproximar uns dos outros.
Existem nós que nos prendem aos outros que precisam ser desamarrados. São fraquezas, medos, timidez. Não, não somos uma ilha, pertencemos a uma teia de relações. Cabe refletir sobre a liberdade de ir e vir em meio a essa teia.
O amor não deve amarrar a paixão. Nossas vidas, sem paixão, não têm combustão, não têm arranque, como carro velho com bateria pifada.
Amor convencionado é como sapato apertado, e os calos doem cada vez mais. Quando voltamos para casa, a primeira coisa que fazemos é tirar os sapatos e as meias, e colocamos os pés sobre a cadeira.
Pena que o alívio e o prazer ficam entre quatro paredes.
Amor que se satisfaz com as regras tem medo da paixão, é gravata que usamos de vez em quando, e nos sufoca porque não estamos habituados.
Afrodite, deusa do amor, livrai-nos das amarras sociais, que nos fazem desfilar o amor e a paixão numa ordem unida, para um futuro pré-determinado que não escolhemos.

sábado, 11 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

SÁBADO NO SUPERMERCADO


É sábado de tarde, entramos no supermercado, assumo a direção do carrinho, e meu pai tira do bolso uma lista quilométrica de compras. Isso mesmo. Ele anota tudo o que precisa, antes de sair de casa. Mas quase sempre esquece o mais importante – iogurte e a revista “Recreio” pra mim.


Passa por todos os corredores e gôndolas, observa atentamente a composição dos produtos - validade, quantidade de gordura, se são orgânicos, etc. etc.. Pra isso, ele procura os óculos de uns quatro graus, no estojo guardado no bolso. Mira, vira, desvira, olha contra a luz, a tarde passa voando, e eu ainda nem joguei bola!


Começam os acidentes e o congestionamento nos corredores... Monstrinhos de quatro, cinco anos, pilotando o carrinho de compras de seus pais, passam a toda velocidade, tiram de fininho, derrubam os pacotes das prateleiras!


Aí surgem os funcionários. Hoje em dia não tem mais aqueles que usam maquininha para remarcar os preços. Meu pai sempre fala que AN-TI-GA-MEN-TE havia o monstro da inflação, e todo dia os funcionários empunham suas maquininhas e tac, tac, tac... Em compensação, hoje tem que cuidar a qualidade dos produtos... Os funcionários estão aí para colocar ordem na bagunça, e aumenta o congestionamento, como se fosse hora do rush, na grande São Paulo.


Senhoras vagarosas, de calculadora mão, fazem das compras no supermercado o passeio de sua vida! A calculadora é a arma que usam para espantar o monstro da inflação!!


Legal são as promotoras de vendas. Desde erva-mate até chazinho pra bebê. Meu pai não fica provando tudo, só porque é de graça. Mas meu tio, Carola, sim. Prova fermentado de uva, suco de goiaba, queijo, salame... Depois, ele fica apertado e vai voando pro banheiro do supermercado!


Se eu me perco do meu tio, é só ir direto pra sessão de vinhos, que lá está ele. Parece um especialista... Pesquisa os rótulos, o ano da safra, se é cabernet ou merlot... No final, ele compra um “sangue de boi”, um daqueles vinhos baratos que nossas mães usam para fazer sagu!


Na hora de passar no caixa, sou eu quem escolhe qual a moça que vai nos atender. Tenho umas três preferidas. Primeiro, olho a cor dos seus olhos, como enfeita os cabelos, descubro o seu nome olhando o crachá, presto atenção nos seus dentinhos, no desenho dos lábios...


Como sou poeta sonhador, observo todos os detalhes do rostinho de minhas caixas preferidas. Acho que o meu pai nem desconfia. Está estressado com o monstro da inflação, que anda louco pra abocanhar o seu sagrado salário – é o que o meu pai diz!




TRAQUINAGEM

(Para Rosemeri)
Obrigado pelas flores
as cores de tua pele
o sorriso.

De nada importam
teus amores indecisos.
De teu cheiro preciso
passear contigo
andar, voar
da traquinagem preciso.

Vamos fugir de tudo?
Ir pra algum lugar
sem ter que se levantar
nem assinar o ponto
pra passar do ponto
em qualquer canto...

Vamos beber no primeiro bar
tirar as asas da sarjeta
e não fazer a barba
uma dança num bordel
inventar perfumes de flores
numa tarde qualquer.

Já temos tudo
que nos dê prazer.
a lua
o horizonte
cada manhã pra viver.

Acorde-me
quando o velho dia amanhecer.
Aprendi a fazer a barba
a mil sonhos desfazer
e à liberdade sufocar.

Traze flores se quiseres
O que quiseres serei
Escravo, lírio trêmulo,
menino ingênuo outra vez!



terça-feira, 7 de outubro de 2008

CADÊ A CHAVE?


Você tem medo do escuro?
Você tem velas e lanterna guardadas em casa?
Se de noite faltar luz, você demora para lembrar onde guardou?
Seus pais esquecem onde deixam os objetos?


Dia desses, no campeonato de pais do colégio, meu pai perdeu a chave da moto. Ele costuma guardá-la no bolso da calça. Diz que é mais seguro, que assim não vai perdê-la, e blábláblá...
Fardou-se no vestiário, carregou a mochila e as roupas até o banco de reservas e foi fazer seu aquecimento. Perdeu o jogo por 6X2, saiu mancando por causa de uma pancada na canela, tomou meia garrafa de água, gargarejou e cuspiu, juntou a mochila e suas roupas, passou pela torcida na arquibancada, levou vaia e foi, cabisbaixo, se vestir no vestiário.

Pôs a mão no bolso e... Nada! “- Tenho certeza de que guardei no bolso! Sempre foi mais seguro!” Revira a mochila, de seis compartimentos, tira pra fora as coisas todas que ele carrega - caneta, clips, trident, lenço pro nariz, aspirina, band-aid, três celulares, sendo dois pifados que eu uso para jogar, cartões de amigos, bilhetes com recados, óculos para o sol, protetor solar, etc., etc., etc. – e nadica da chave!
Refaz, então, o percurso para ver se não está caída no chão, fala com o guarda, chama a atenção de meio mundo... Aí, antes que eu fique vermelho de vergonha, resolvo ajudá-lo...
No cantinho mais escuro do vestiário está a chave, sossegadinha no chão. Meu sexto sentido farejou a maldita!!
Depois de rir meio amarelo e dizer que esquecimento é coisa da idade, papai me chamou de “meu herói” e me deu um beijo na testa!
Ufa! Ainda bem que não foi na arquibancada, na frente de todo mundo... Foi na penumbra do vestiário, e só o guarda viu a cena! Ele fez uma cara de feliz. Coisas de pai!

domingo, 5 de outubro de 2008

Adoro as pizzas e os salgados da padaria do meu bairro. Mas desconfio que o meu pai goste bem mais! Quando vai até lá, ele sempre visita o freezer, onde são guardadas as pizzas, e o balcão dos salgadinhos.

Pizza tem que ser de frango. Acho que comecei a gostar com ele. A primeira coisa que ele faz é olhar a data de fabricação. Quanto aos pastéis, risolis, cochinhas, pão de queijo e croquetes, ele pergunta se foram feitos naquele dia. A moça que atende faz uma careta e responde sempre que sim.

Acho que meu pai tem medo de comer coisas estragadas. Ah, tem a ver com os recortes de jornais que ele guarda falando dos alimentos saudáveis e dos vilões – para o coração, rins,
pulmões, baço, fígado... E aí, ele não faz economia nos conselhos que me dá para me alimentar bem.

A quantidade de chás que ele compra é de fazer inveja a qualquer curandeiro. Parece que faz coleção. De tantos tipos que ele tem, a maioria perde o prazo de validade, sem ele ter usado.
Mas a sua maior paixão é o alho. Ele descobriu que o alho é ótimo pra saúde. Não é que ele mastiga o dente de alho a qualquer hora do dia? Precisa ver a cara que ele faz! Ele prende a respiração, dá umas quinze ou vinte mastigadas bem rápidas e vai correndo tomar um copo d’água.

Acho que os vampiros querem distância de meu pai... Ele deve fazer parte da lista de pessoas que não são bem-vindas na sociedade vampiresca .




Meu pai deve ter mascado muito chicle quando era criança. Hoje ele quer me assustar, dizendo que o chicle foi feito com as patas do cavalo.


Porém, quanto ao sorvete, nem preciso pedir para irmos à sorveteria. É ele quem convida a gente. Claro, ele leu numa tal de “Vida e saúde” os benefícios do sorvete para o organismo, além da alegria e das lembranças (meio poéticas?) que tomar sorvete traz. Nessas horas ele sempre fala das coisas de antigamente. Não sei por que mas, para meu pai, antigamente tuuuuudo era melhor!

Ele gosta de falar dos cheiros das coisas, no tempo de criança. Do pão feito no forno de tijolos e barro, cheiro de puxa-puxa e de açúcar no tacho, cheiro da uva madura depois de uma chuva de verão... Ah, e o cheiro da óstia de toda missa de domingo. Se ele não ía pra missa, estava proibido de jogar futebol!


Quando não estou jogando futebol, vou à padaria com meu pai. É que ele me deixa gastar, com o que eu quiser (desde que não seja chicle), 0,99 de cada vez. E, é claro, adoro ver ele perguntar pra moça se os salgados “foram feitos hoje?”, e ver a carranca que ela faz quando responde que sim.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

VIRA-LATA

Sou vira-lata
acuado no canil
que cansou
de farejar
e latir...

Horas e horas espero
pela gatinha caridosa
que passa e não me dá bola
rente ao meu quintal...

Ela se exibe, rebola,
e um perfume de love
agita uns quantos buldogues...
Meu vira-latas desespera
murcha as orelhas e espera...

Quando ela vem
e fica pertinho
faz um cafuné
no meu focinho
eu abano o rabo...
Faceiro, lato
pro que vejo
ou não vejo...
Até mesmo...
Até mesmo pro diabo!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O MELHOR

Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan

Chegar em primeiro, subir no pódio, é tudo que esperam de mim. Nem bem saí da barriga de minha mãe, já escolheram meu nome - um nome de craque.
As roupas que vou usar, as cores preferidas, o time que vou torcer, não ajudei a escolher. A cor dos meus olhos não puderam escolher... Mas a torcida foi intensa, organizada, e só o tempo fez eles buscarem outras coisas.
Meu pai é canhoto e sabe de cor as mil e uma vantagens de chutar com a esquerda. Porém, até hoje ele não sabe dizer por que só escreve com a mão direita. Canhoto é mais inteligente, ele diz, mas não sabe explicar por que ganha tão pouco. Aí ele fala: inteligente não significa ganhar muito dinheiro, mas viver bem. Ter muitos amigos, saúde e alegria, sem temer, de vez em quando, algumas decepçõezinhas – do tipo levar uma goleada em grenal.
Abro o jornal, ligo a TV, converso com os amigos, e o futebol está sempre no meio. Faz companhia, a mim e aos meus amigos, até nos nossos sonhos. Sim. Até nos sonhos. Dia desses, era véspera de jogo - competição que sempre chamam de “Copa Integração” - e de noite sonhei que meu time começou perdendo por dois a zero. Muita aflição, correria, e no final viramos pra quatro a dois. Fiz dois gols, é claro!
Como vocês podem ver, não decepcionei meus pais. De novo estou no pódio. Mas não vou dizer quem sou dos três. Se sou o terceiro colocado, sou o menos estressado em ter que sempre vencer. E já vou avisando: a cor não interessa. Não é por que visto vermelho que sou colorado! Não parece que, por não ter a obrigação de chegar em primeiro, estou menos tenso, nervoso, e sim mais relaxado?
Como vocês podem ver, se sou o segundo, meu prazer maior não é estar ali, e sim no banheiro, fazendo xixi. Mas sabe como são as solenidades. Dizem que é feio quebrar o protocolo!
Se sou o primeiro colocado, parece que dos três sou o mais entediado, por ter que ficar no topo da escada, talvez nem tenha feito tanta força pra chegar lá em cima... Ou isso é papo furado, coisa dos comentaristas de rádio, colunistas de jornal, que todo dia precisam dizer alguma coisa, e fazem de conta que não sabem que vivem repetindo, repetindo, sempre o mesmo assunto. “Segundo o matemático Osvald de Sousa, o time x tem 89% de chance ganhar o campeonato”, “o time y tem 90% de chance de ser rebaixado”, e tantos outros papos furados!
Pensando bem, até que eu gostaria de chegar em primeiro lugar, mas não tem problema se for de mentirinha, de faz de conta. Acho que o mais importante é brincar. Não é isso o que está faltando ao Ronaldinho Gaúcho? Ele joga sem alegria, o seu corpo, molenga, passeia no meio do campo, e o seu coração vagueia noutro lugar!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

HOMENAGENS



Vamos dar um tempo aos desenganados, para que a solidão invada seus leitos e faça o inventário de suas vidas. Falemos dos vivos, os outros deixarão suas obras gravadas em nossa memória, boas ou más, por muito tempo depois, nas datas comemorativas.
Falemos dos que se esforçam e rastejam, passo a passo, Everest acima em busca da pureza. Dos nietzchianos que, solitários, vão até a montanha trocar confidências com Zaratustra.




Os que acreditam na missão do homem, ser bom, belo e justo. Os que lutam contra as forças maléficas do inferno e do purgatório, e almejam a brancura de sua alma indolor, falemos com devoção. Aqueles que dedicam um terço da vida a plantar mistérios em Platão, que dormem e acordam com a idéia e a essência na cabeça, falemos com admiração.
Falemos das crianças vistosas, bem-vindas às milhares de informações processadas com alegria por seus cérebros piscantes.
Falemos dos loucos, que atravessam os séculos como pombos-correio, dizendo muito, o que é pouco, para nossa atrofiada razão. Que causam calafrios e estranhamento nos burgueses, operários, humildes, caquéticos. Seus faróis alucinados apontam para todas as direções, e derramam jatos de luz nos personagens pálidos da noite.
Falemos da primavera, da seiva em disparada antecipando brotos, flores e frutos, nos quintais, pomares e sítios. Do canto dos pássaros e de nossa sapiência com o riso de novas melodias. Da cadência da chuva, qual banda afinada de colégio, ansiosa por agradar a platéia.
Dos moribundos cochichemos preces antecipadas, choros e lamúrios, fé e esperança, até se dissiparem em nuvens nômades de verão. Todavia, achemos graça, sem culpa, dos graciosos e ridículos momentos de suas vidas, e marchemos de cabeça erguida para outras direções, sabendo que a vida nem sempre concordou com o nosso desejo.




Falemos das empregadas domésticas, que torcem, lavam e passam nossos pijamas, calças, camisas e cuecas. Dos pernilongos, aranhas e baratas, que usurpam nosso tempo nas gôndolas sortidas de marcas de inseticidas nos hipermercados.
Falemos do varal, do vento e do sol, que não cobram ágio e, alegres, secam nossas roupas.
Sobretudo, falemos dos vivos, os que renascem dia após dia, sejam calvos, brancos, amarelos, pardos, pálidos também, que se esforçam para vencer seus venerados hábitos, e que descobriram que o conhecimento é um ato corajoso, uma corrida vertiginosa ladeira abaixo, buscando no final tudo desaprender.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A RAPOSA

Uma raposa passeia no sótão...
- Toc, toc, tuc...
Tuc, tuc, toc, tuc!

Se é velhinha e neurótica, não sei...
Não nos conhecemos pessoalmente.
Mas vivemos sozinhos,
mesmo rodeados de gente.

Não sei o que pensa de mim.
Dela, também nada sei...
Nem consigo adivinhar
o que ela faz - se é mãe
tia ou vovozinha...
Apenas sei que,
quando caminha,
com muito estrondo,
sacode a minha vida!

- Tuc, tuc, toc...
Toc, toc, tuc, toc!

Correria no sótão,
e não sei se está saindo
pra dormir fora
ou se está chegando
pra dormir agora...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

CARPA DE PESQUE-PAGUE


Peixe sênior de pesque-pague, seduz carpas graúdas e veteranas, incumbindo-lhes a missão de cupido, para puxar suas orelhas, e as da sua pretendente, a qual espera o dourado vistoso, que amanhã vai enfrentar confiante as corredeiras do rio Uruguai.
Ninguém percebe, ou disfarça muito bem, que se lamenta porque a tempo não sobe a corredeira. Piracemas pertencem a um mundo ideal de utopias distantes que quase deletou da memória.
Carpa de pesque-pague, já não se entedia com a ração fracionada, embora sua alma de dourado jogue sob pressão e, por isso, às vezes, tem a coragem de piruetar no meio do açude.
A ração e o pesqueiro não o afastam totalmente da fúria, quando seu instinto assassino olha de atravessado para as carpas domésticas. Às vezes, em sonho, aventura-se com alma de tubarão. Mas boa parte das vezes é medroso e faz de conta que não enxerga a lama que se deposita no fundo do lago, vê apenas um límpido azul na parede de seu pequeno horizonte, como se fosse painel de publicidade.
Não deixa seu lago desembocar nas ruelas escuras e pútridas dos subúrbios, pois está hipnotizado pelas vitrines dos shoppings do centro da cidade.
Não se deixa arrastar pelas correntes furiosas que atracam em novos portos e mundos, prefere a água parada de sempre, mal-cheirosa e turva, pois a conhece de antemão, e as reações dela não mais o assustam e surpreendem.
As safras se repetem e, sênior, é apanhado por redes de malhas cada vez mais grossas. Mas o tédio da domesticação deixa alguma liberdade para se divertir com as carpas salvacionistas e, ambos, mergulham fundo no barro da futilidade, com demasiada seriedade, que até esquecem de rir de si e tirar o pó dos móveis da sala de visitas, e sua alegria monótona e previsível, como o choro de um cãozinho faminto, já não os surpreende.

ALGODÃO DOCE

Algodão doce
é neve
colorida

primavera
que roubou
o cardápio
da sorveteria

e espalhou
por aí
essências
de framboesa
maracujá
chocolate
morango
abacate
e abacaxi.

É neve
pra lamber
os dedos
e o beiço.

Não gela
refresca
desmancha
e derrete
na boca.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...