sábado, 24 de dezembro de 2022

Ninguém é o Cara!

 Ninguém é o Cara! em sua própria morada


Conduzo meu pet,

aplaudo as frases 

que dão autoria a Shakespeare, L. F. V.,

Clarice Lispector e Quintana.

Frequento grupos de assistência social, 

sou cara do bem,

sou zen, eclético e

metódico,

enfim, faço meu teatro.

Nada disso me define 

porque não conheço nem domino meus demônios. 

Posso agarrar as muletas de Descartes

gritando aos 4 ventos que se

Penso então sou,

ou lamber o saco do Freud

usando como desculpa

pras cagadas diárias que

O sujeito não é o senhor em sua

morada.

O que importa é que somos especialistas em

Eu finjo,

tu finges,

ele finge,

nós...


(B. B. Palermo)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Eles


bêbados gostam de tocar 

abraçar

acariciar 

uns carentinhos 

que adoram cães abandonados 

circulando próximos 

aos bares

animaizinhos 

bem alimentados 

com olhar mais leve 

e alegre

do que os pobres 

que estão vigiando

pátios 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Papelões de 2022

 

Parece patético,  eu sei,

mas estou sem papel 

para aprisionar alguma

assombração 

que rondar a mente. 

Papel higiênico tem,

papel de parede

no cafofo também tem,

inclusive guardanapos. 

Papelões de conhecidos doidos fazendo cócegas 

em meus poemas,

nem se fala.

Restou o calendário 

de 2022 que a senhoria 

pendurou 

na parede da sala.

Como o ano está findando, 

reservei suas folhas

para rabiscar eventos hilariantes 

que vivi

e os papelões que colecionei,

e que um dia saberei se foram

fundamentais 

em minha história. 


Vontade de rir ou chorar 

eu tenho de montão, 

muito mais do que os estoques

de folhas em branco que possa

comprar.


(B. B. Palermo)

domingo, 18 de dezembro de 2022

Capitu meteu chifres no Bentinho


Pessoas enlouquecidas, 

vespas foram expulsas por tochas de fogo,

criaturas gritam exageradas 

e até desesperadas 

uns bullyings sofridos na infância. 

Fãs de inteligências "superiores",

lembram e idolatram Hitler,

e odeiam os que leem livros. 

Dizem que Machado de Assis, ao escrever Dom Casmurro, sabia Com certeza! que Bentinho

foi chifrado por Capitu.

Quando cheguei no bar

e o maluco veio em minha direção, 

o garçom falou:

Não entre na paranoia dele,

é um louco!

Mas se você quer criar boas histórias,

tipo as do Nelson Rodrigues, 

então preste muita atenção. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Papai Noel vestia vermelho


Numa das artérias principais da cidade,

um Ford T 1929 (primeiro carro do meu finado pai),

passou exibindo um Papai Noel magrinho,

constrangido,

vestindo roupa vermelha.

Foi sorte haver pouca gente na rua.

Seria terrível ver o pobre

ser bombardeado

por pedras arremessadas

por patriotas

enlouquecidos.

 

(B. B. Palermo) 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Acelera, Cadelão!

 

Última semana por aqui,

estou me despedindo das coisas.

Olho pra geladeira e lembro dos latões de cerveja

que "explodiram" no seu congelador, nas madrugadas,

deixando um rastro de manchas nas partes internas

de suas portas.   

São várias as tatuagens do fogão,

manchas de gordura, panelas quase queimando,

enquanto o ridículo cochilava embriagado no sofá.

Há centenas de marcas também na mesa de madeira,

afinal ela está comigo  faz umas 3 décadas.

Nela eu estudo, eu como e bebo.

A cama, idem. É incrível como ela sobrevive,

basta bater uns pregos e apertar os parafusos

da cabeceira.

O guarda-roupa é o soberano do quarto,

tem uma parede só para si,

e reclama que foi pouco lustrado, teve pouco brilho,

embora nunca tenha sido atacado pelos cupins.

A lareira me acompanha há umas 2 décadas e meia.

Sem ela, as noites de inverno seriam terríveis

para o poeta.

4 estantes guardaram os livros, uns bons,

outros ruins e outros mais ou menos.

Fiz questão de colocar os meus, "publicados",

junto aos livros do Dostoievski, do Hemingway

e do Bukowski.

O maluco que agora se despede

nunca foi internado em clínicas psiquiátricas,

não lembra se um dia usou drogas,

tem visão e audição em razoável estado de conservação,

tamanha a sua idade.


Acelera, Cadelão!

 

(B. B. Palermo)


terça-feira, 22 de novembro de 2022

Alice


 Pena que Alice não sabe

que nos conhecemos

no País das maravilhas.

Perdeu a memória

e diz que em toda a sua vida

foi uma diarista.

Chora o aluguel atrasado,

os crediários e mais um fim de ano

que se aproxima.

Suas paixões adolescentes já faz um bom tempo

que foram esquecidas.

Alice é plena,

em seus olhos pulsam oceanos

de vida.

Alice não sabe, e isso é uma pena,

que tem o poder de desatar os nós

em que me enredei

durante toda a minha

vida.

 

(B. B. Palermo)

domingo, 20 de novembro de 2022

Meio bobo


 

Talvez não devesse dizer,

mas estou apaixonado por você.

Isso é meio bobo,

eu sou totalmente bobo,

mas eu preciso dizer,

até porque hoje estou aqui

e amanhã

estarei noutro lugar.

Estou poetizando, eu sei,

é que sou um seguidor do

Fernando Pessoa,

que nunca soube que eu existo.

Podes rir, ainda acredito

que um dia vou encontrar

o meu lugar.

Eu não devia dizer,

mas é que sou meio bobo.

 

(B. B. Palermo)

sábado, 19 de novembro de 2022

Quero me internar

 

Beiço, ontem de tardinha eu e o K. Marx

fomos até a casa do Carleone.

O maluco passou alguns dias no hospital

restaurando tubos e conexões

que distribuem o sangue do seu coração

para o resto do corpinho.

Meu, tive que dar conta de todos os latões de cerveja

que estavam na geladeira,

já que ele está proibido de beber.

Véio, é sério, morri de inveja

do desgraçado.

No hospital, esteve rodeado e paparicado

por uma legião de lindas garotinhas - as médicas

e enfermeiras.

Cara, se eu pedir pra ser internado

será que vão me chamar de

hipocondríaco?

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Acenda a tua luz

 

- Como tu está, meu gatinho?

- Tirando a preguiça, a velhice e o alcoolismo,

me sinto ótimo, baby. Traga a tua lanterna,

que o dia clareou observando sabiás acasalarem

e gatas no cio

nos vigiam.

As noites de novembro são um saco

e os bares andam sem graça.

Acenda a tua luz

antes que o cérebro exploda

e o coração vire pedra.

Baby, dessa vez pinte nossa casa

com as cores certas,

e pare de jurar que a tua rotina

é insuficiente para nos 

derrubar.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Ira

 

A banda Ira consegue acalmar

um lúcido bebum.

Talvez signifique alguma coisa.

Não tem como fugir das tragédias,

vejo no Face, nos sites ou de amigos que me ligam.

Suicídios, o câncer, os negócios estranhos,

listas de inimigos fantasmas.

Não compreendo o fato de ainda ser

um otimista

estranho.

A música desses caras ajuda

a suportar.

 

(B. B. Palermo)



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

As tubulações clandestinas do WhatsApp


Sombras clandestinas

cheiram a urina,

mentiras maravilhosas

alegram ratões

idiotas.

A merda desce faceira

e a todos comove

pelas tubulações do Whats.

Torço para que a bateria do celular volte a ser virgem

e perca sua luz.

Me recolho no quarto escuro

e sozinho me sinto bem.

Uma frase explode na cabeça,

agora de manhã,

segundo tempo do meu sono:

"Alegre-se, talvez alguém se lembre de você

quando morrer".

 

(B. B. Palermo)

 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Mente bloqueada

 

- Beiço, tu não vai acreditar...

- Que manda, Cadelão?

- Uma senhora distinta da city,

daquelas que se enrolam em bandeiras

e rogam aos céus "Oh, Deus! Oh, Pátria! Oh, Família!"

disse que minha mente está bloqueada.

- Putz.

- E complementou:

"Pra um moço cheio de ideias e que poderia

ter um futuro brilhante, isso É LAMENTÁVEL!".

- Deixa eu adivinhar: tu ficou faceiro com algumas cevas

e correu pro Face se divertir um pouco,

debochando dessas mentes notáveis? É isso?

- Rapaz, bem que a monja Coen me disse

que o álcool distrai a mente.

- Acho que a dona da city quase acertou.

O álcool corrompeu a tua mente, hehehe...

- Oh, vida cruel! Eu sempre acreditei

que o álcool me libertaria.

- Deixa de drama, maluco! Vamos beber.

 

(B. B. Palermo)


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Anjo rebelado


 

Hora de chegar de voadora nos lares,

hora de ser um leão celestial, curioso e furioso

entre os bichos domésticos.

Hora de ser meio santo, meio deus,

e aprender, primeiro, a perdoar a si mesmo,

para depois tentar compreender

as proximidades/distâncias entre a terra e o céu.

Hora de roubar a lanterna do Diógenes, o Cão,

para iluminar as máscaras podres do irmãos

zumbis.

Hora de inventar uma vacina eficaz

que possa abrandar a fúria cancerosa

das ações políticas.

Hora de ser um magrão quixotesco

acompanhado de um gordo sonhador,

montados em seus cavalos

e incendiando nossas tardinhas

afogadas no tédio.

Hora de ser um anjo rebelado

dormindo no leito de prostitutas

beatificadas.

Anjo esse que foi até os lixões

e becos

e favelas

para ver nosso futuro.

 

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Como ser um grande escritor - Bukowski

 

você tem que trepar com um grande número de mulheres
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados;

apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana

e vença
se possível.

aprender a vencer é difícil –
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.

lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas
(em 1977).

e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma derrota total
mesmo que a razão para esta derrota
pareça certa ou errada

um gosto precoce da morte não é necessariamente uma cosa má.

fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente
o tempo é a cruz de todos
mais o
exílio
a derrota
a traição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora de sua janela

bata na máquina
bata forte

faça disso um combate de pesos pesados

faça como o touro no momento do primeiro ataque

e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem?
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo

também.


domingo, 23 de outubro de 2022

Amo ser monge

 

Seu olhar é exótico,

de quem não compreende

o que a aproxima deste ser,

planeta ou meteoro invisível

movendo-se num ritmo

imprevisível.

Tu parece um monge - ela disse.

Depois queimou no fogo do inferno

a política, a arte, a ciência.

Tagarelou tanto, que passei a odiar

a política, a arte, a ciência.

Não tive outra escolha senão fazer uma pose

de derrubar as bolsas, falando:

Amo ser monge.

Torto, manco, cérebro enorme e vazio,

bíceps avantajado de quem mora em academia,

pernas finas e um gingado

de capoeira.

 

(B. B. Palermo)


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O último punk

 

- Cadelão, Cadelão... Porra, Cadelão!

- Fala, Beiço... Deixa eu dar mais um pega.

- Não, não, cara. Não quero mais fumar.

Olha ali, do outro lado da rua.

- Quê? Os tiras?

- Capaz. Não viaja.

Olha aqueles dentes tortos,

e o sorriso banguela...

- Onde?

- Ali!

- Porra! É ele? Tu tem certeza de que isso é maconha?

- Bah, Cadelão. Não sei. É ele ou não é?

- Velho... Quem mais seria? Observa, violão detonado,

cantando "cheirando cola em uma sacola de mercado".

Claro que é ele!

- Meu, tenho certeza que um dia cruzei pelo maluco

na praia de Garopaba.

Lembro que carregava uma prancha de surf

e estava cheio de loves com uma fofa.

 

- Wander... Wander!

- Quê?

- Chega aqui. Canta pra nós aquela...

- Bah, garotos, só canto por dinheiro.

Quero 10 pilas ou um pega.

- Claro, claro.

- "Bebendo vinho", pode ser?

- Vai tomar no c*, Wander! Que música é essa?

Toca as tuas. "O último romântico da rua Augusta",

"Canivetes, corações e despedidas".

E, depois, a cereja do bolo:

"Jesus voltará"!

 

(B. B. Beiço)




terça-feira, 18 de outubro de 2022

Plateias

 

- Wolve, tu pedala e corre por aí,

e filma e cronometra tua performance,

pra te exibir nas redes sociais,

ou são as tais redes que te convocam e

"obrigam" a tamanho esforço?

- Véio, eu curto o que tô fazendo,

embora não saiba se no mês que vem

vou persistir com tal esforço.

- Imagine que um de nós sobreviva a um naufrágio,

junto com uma garota belíssima, refugiando-se numa ilha...

Nos sentiremos felizes se não pudermos mostrar

aos amigos e curiosos a diva que nos faz companhia?

- Hehehe... Elementar, Beiço, elementar...

- Acho que não tememos a morte ou a solidão.

Nosso pavor é o de hoje não termos uma plateia.

- Deus me livre, nem quero imaginar que no meu velório

vai ter uma plateia fingindo que algum dia

deu importância pra minha vida!

 

(B. B. Palermo)


Pobres zumbis

 

Carros passam,

pessoas passam,

essa vida é inútil, meu amor.

Seres barulhentos,

opiniões castradas e

castradoras,

olhares faiscando como fuzis.

Tudo são quedas-d'água

que fluem cruelmente em nosso

interior.

Existe algo que nos arrebate

que nos faça ir além

do obscurantismo e do ódio e das intrigas

e dos planos frustrados

pro amanhã?

Ah, pobres zumbis!

Estamos encurralados

e embrutecidos,

somos uns requintados

mortos-vivos.

 

(B. B. Palermo)


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Sonhando com a monja Coen

 

Escuta só, Cadelão, o sonho que tive ontem de noite:

estava numa sala com pouca luz, incensos queimando,

num silêncio que dava até pra ouvir a respiração

e as batidas do coração.

A monja Coen tentava me conduzir ao relaxamento,

ao controle dos pensamentos e tals.

Dizia "Respira fundo, Beiço... depois solta... solta devagar..."

O mais louco é que, durante o sonho, eu estava

numa ereção do caralho, o que acontece com frequência,

depois que passei a consumir açafrão,

alho e pimenta do reino.

Cara, acho que não era tesão pela monja,

creio que era uma mistura entre meu cotidiano relapso

e a vida "ideal" que a monja me inspira.

Meu, nosso subconsciente é surreal.

Mais perto do desfecho do sonho

a monja despontava em imagens sedutoras

e se transfigurava na ministra, aquela,

vestindo uma lingerie pré-adolescente

e usando uns acessórios de sex shop,

me chamando "vem, vem, Beiçudinho escroto!".

 

(B. B. Palermo)


Dia de mudança

  Era um dia especial, então fui cedo pro bar. Desejava contar pros bacanas a novidade: depois de alguma espera, deixaria a pensão pra...