Quando
sentei na arquibancada os dois times estavam aquecendo. Reparei na massa
muscular das gurias... Jesus Cristo! Os músculos a mil, vibrando,
principalmente as coxas... Aquelas musas derretiam meu olhar, os cabelos
amarrados, a pele bronzeada de treinos e jogos no sol a pino.
O
suor, a motivação, a vontade de morder a bola. Velho, eu observava tudo aquilo
e também queria ser mordido, ser o cara, no caso, A BOLA... isso, queria ser pisado,
agarrado, chutado.
Pouco
antes de começar o jogo eu via as gurias dos dois times abraçadas, formando
dois círculos perto do meio campo... As CAPITAS dando aquela moral e motivação,
"Todo mundo ligada..." e "Vamos lá, todo mundo comendo a grama,
é o jogo de nossas vidas..." E
então o grito "Inter, Inter, Inter!". A mesma coisa no lado do
círculo com as gurias do Grêmio... "Grêmio, Grêmio, Grêmio!".
Cara,
aí eu também me motivei. O sangue ferveu e o radiador furou e eu decidi ir pra
copa sugar um latão de cerveja, lamber a espuma que ficou nos beiços, olhando e
devorando aquelas deusas que começaram a voar no gramado.
Daí
a pouco um maluco, cara de chapado, e que se desgarrou de uma torcida
organizada, se aproximou com esse papo: Mano, tu viu como elas entram nas
divididas... Mano, tu viu como elas se enroscam e se agarram... Mano, olha só como
elas se agarram!
A
criatura exibiu um punhado de notas de cem reais... e ficou dizendo pra esse Cadelão,
Mano, tu é ingênuo... Mano... o que tu vê aí dentro de campo, desde a
massagista, a fisioterapeuta, a técnica... as jogadoras... Mano, todas elas são
lésbicas... Aí eu falei: Velho, se isso for verdade, eu tô em casa... Eu também
sou lésbico.
O
cara ficou me encarando e deve ter pensado "Sujeito mais estranho, véio!".
Dali a pouco falei pra ele: Tá vendo aquele
filho da puta grudado na tela do alambrado? O infeliz xinga a árbitra, a
técnica adversária, a bandeirinha... Esse retardado está estragando o que o
futebol tem de melhor, que é jogar com alegria.
Botei
filosofia pra cima dele. Falei, Malandro, pra mim o que vale é a arte dos
movimentos... O mais bonito e que me alegra é a estética da coisa...
Foi
então que o inteligente veio com uma de comparar a pouca qualidade do futebol
das gurias, com relação ao futebol da série A do campeonato brasileiro.
"As gurias correm pra todo lado, meio perdidas... quem pensa um pouco e
tem qualidade no passe e no chute vira craque".
Falei
pro cara: Velho, tu tá acostumado com o futebol que passa na TV... Acorda, meu,
95% do futebol dos machos que rola no país é mais feio do que esse aqui. Além
disso, acho muito mais interessante pousar meus lindos olhos nas pernas dessas
gurias do que nas pernas dos marmanjos. Sempre vou preferir ver as deusas
correndo atrás de uma bola.
O
cara foi pro banheiro. Aí o segurança do bar, que observava e ouvia nosso papo,
se aproximou e falou: Fica ligado, meu, esse cara é uma "mula".
No
segundo tempo foi gol em cima de gol. Putz, a comemoração das gurias me pareceu
uma imitação do jeito de comemorar que sempre se vê no futebol masculino. Puta
merda, não acredito que elas estão imitando os caras! Elas deviam se agarrar e
se abraçar e se beijar daquele seu jeito "lésbico" (kkkkk... Claro
que isso só passou pela parte mais "suja" de minha cabeça... Não
falei pra ninguém... Imagina ser carimbado como um simpático machista).
Matutei:
As gurias não tem que reproduzir o que o futebol tem de pior, que é a
violência, a competição... e de valorizar apenas a vitória, ainda mais quando o
jogo é feio... Observei as comissões técnicas, suas olheiras, carinhas de pouco
sono e muito estresse. É o que se ganha quando se encara o futebol apenas da
perspectiva dos resultados, ou seja, quando só interessa a vitória e o lucro.
Pensei: Velho, acho que essas criaturas quase não dormem. Caralho, parece que
estão se transformando em máquinas!
No
final do jogo, não sei por que, fiquei meio triste. Sendo uma decisão de
título, enquanto um time de deusas ficou superfeliz, o outro time de deusas
ficou hipertriste. Velho, eu me dividia. Não sabia se comemorava o título com
as campeãs, ou se abraçava as garotas derrotadas e chorava junto. Como tinha
muita gente comemorando, no gramado e arquibancadas, pensei que minha missão era consolar as gurias que perderam. Foi o que fiz. Me dirigi até o seu
vestiário. Ao chegar, fui barrado por um segurança, um armário de uns dois
metros de altura. Droga... Eita vida cruel. Velho, acho que nasci numa época
errada... Só Pode... Ninguém me compreende!
Mas
ainda não quis me retirar do estádio. Havia algo guardado para mim, pensei.
Observei uma repórter de TV perto da boca do túnel. Era a Kelly Costa. Caramba,
como ela é linda! E ela me viu... Gente, Ela trocou olhares comigo! Sim, me pareceu
interessada em saber quem eu sou...
É
isso aí, velho, com esperança o mundo tem tudo pra dar certo!
(B.
B. Palermo)