Querido
diário,
as
máquinas da Corsan estão a mil no meu bairro.
Antes
das 8 da manhã elas dobram as esquinas próximas
e
aceleram os latidos raivosos da cachorrada,
e
eu não consigo dormir cedo, os botecos
não
fecham antes das 2.
Sabe,
ontem foi o velório e o enterro do Golias.
É
um cachorrinho de um amigo, e como o pátio daqui é enorme,
decidimos
que ele faria companhia ao meu gato, o Neno,
que
foi envenenado pouco antes da pandemia.
Meu
amigo estacionou o carro e desceu com uma caixa
que
simbolizava o caixão, e junto com ele veio sua filha e uma amiga.
Cavamos
o buraco e, na despedida antes de enterrar o bichinho,
vi
as lágrimas no rosto da garota,
foi
então que percebi que não estava preparado emocionalmente
pra
cerimônia, pois quando chegaram aqui em casa
devo
ter dito alguma coisa fora de propósito...
Tu
sabe, é difícil sentir as dores dos outros,
muitas
vezes decorrem séculos pra desenvolvermos um mínimo de sensibilidade.
Cara,
num grupo de Whats de meus conterrâneos
uma
senhora Deus Pátria Família compartilhou um áudio
que
circula desde 2018, comprovadamente fake.
Então
fui no Google e copiei o link que atestava ser notícia falsa.
Enviei
nesse grupo e comentei que nos poucos dias antes das eleições
circularão
nas redes muitos boatos falsos, por isso é aconselhável não ser bocó
a
ponto de achar verdadeiras tamanhas sandices.
Moral:
fui expatriado do grupo, e isso trouxe algum sentido pra minha vida.
Mas
o fato que mais me alegra é acompanhar, na horta, um tomateiro.
Um
dos tomates deve pesar quase meio quilo.
Observo
de perto seu amadurecimento.
Já
passou dos tons esverdeados pra amarelados.
Creio
que até domingo vai estar beeem vermelho!
(B.
B. Palermo)