Pelas veias abertas
da cidade
o negócio rola para
além do que você pode imaginar.
De dia há a ordem,
embora surjam alguns obstáculos
para nosso ir e vir
distraído e ansioso.
De madrugada o
pulso da cidade bate acelerado.
Ego e Superego saem
de cena e o bebê Id balbucia Yes, yes!,
e suga com sua boca
infantil todo álcool e pó
de que a cidade
dispuser.
Poucas são as chances
de felicidade nessa rotina que diz
que devemos produzir
e consumir mais e mais.
Meu brother, o
trampo é fugir do cerco das pesquisas
e estatísticas e
das ligações do telemarketing.
O sinal amarelo do
semáforo da esquina roda a saia e pergunta:
Quais as tuas
chances, Cadelão, de morrer de amor?
Faz tantas perguntas
absurdas e eu boto pra foder,
assumo o lugar do
agente de trânsito e grito, manipulando o sinal:
Não, não, não! Morrer
de amor é tudo!
O que não suporto é
a indústria farmacêutica,
muito menos os
Black fridays.
Fodam-se as
religiões e terapias
que prometem a
harmonia entre corpo e alma,
e tem mais, não sou
simples número de CPF!
A música no bar é
repetitiva
e não me oferece
nenhum sentido.
Antes de sair de
casa ouvi algumas do Bach
e deve ser por isso
que as canções populares
não espantam meu
tédio e melancolia.
Eis a culpa por
fugir do lar doce lar.
Estou cansado de
saber que, se não suporto os programas diários, repetitivos,
basta doar minha TV,
ou então jogá-la pela janela.
Mesmo tardiamente,
este ingênuo se convenceu de que tanta informação
sistematicamente jogada
em seu cérebro o afasta do essencial,
que é a
possibilidade de pensar.
Esses dias o Beiço
quis me pegar:
- Cadelão, tu é
feliz?
Joguei duro com o
Insolente:
- Meu, pare de se preocupar
com abstrações,
viva a vida, seu miserável!
Seja teu próprio
cobaia, corra atrás dos teus desejos,
mesmo sabendo que
esses monstrinhos
é que alimentam o
sofrimento.
Aproveitei o embalo
e informei ao Beiço
minhas últimas
bravatas pro futuro.
Disse-lhe que estou
aderindo aos ideais minimalistas
e que pretendo
viajar pelo mundo,
e que minha moradia
será, no máximo, num container
de uns 20 e poucos
metros quadrados,
o que desejo é um
enorme quintal de onde virá meu sustento
com frutas,
verduras, criação de galinhas e porcos e etc.
Vou viver apenas
com as coisas essenciais
que darão prazer em
vez de dor.
O que é UP é a
ideia de que "menos é mais".
Então o Beiço veio
com esta:
- Tu vai ser
minimalista também no consumo de bebidas?
Tu vai beber apenas
o essencial?
- Bah, cara, não
tinha pensado nisso...
- Diga, maluco, dá
pra simplificar também na vida amorosa?
- Velho, o
minimalismo se aplica a tudo: aos bens que consumimos,
aos amigos que
escolhemos e também aos amores, claro.
(B. B. Palermo)