sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019
Sei o que fazer para melhorar o mundo
Meus velhos tênis judiados
pela chuva e poeira e barro
pareciam tristes.
Ou talvez desprezassem
esse miserável companheiro.
Esqueço que coloco palavras em sua boca.
Atribuo qualidades e defeitos.
Cidadão mediano, desenvolvo hipóteses, tiro
conclusões,
berro em publico e pela internet soluções para
melhorar o mundo.
Os tênis, a calça, o cinto, as meias rotas
etcétera e tal
não têm nada com isso.
Eu sei o que fazer para melhorar o mundo:
arregaçar as mangas e partir pra luta.
Mas eu ainda não cansei
de jogar a
culpa nos outros.
(Teco, o poeta sonhador)
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
Segundo tempo
Sua gula estava insaciável e, junto com ele,
flutuavam acima do peso.
Quilômetros de amor represado, rancor e ciúmes e
outras coisinhas o afastavam dos outros.
Era um tanque inflamável que ameaçava explodir ou
envelhecer em algum canto.
Seu desejo e querer precisavam de exercícios, os
músculos, todos, inclusive os cardíacos, contraiam-se de medo.
Tantas vidas represadas.
Tantas mentes defasadas.
Até que um dia uma luz acendeu e ele vislumbrou:
beijos e abraços e carinho e esperança,
essas e outras tantas coisas haviam entrado de
férias
e não tinham voltado.
O jogo não acabara.
Podia se reorganizar para o segundo tempo.
Foi o que fez.
E, de cara, foi ao ataque, substituindo o medo e
o rancor por alegria, esperança e bom humor.
(Teco, o poeta sonhador)
terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
Obrigado, doutor - Fernando Sabino
Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as mãos à cabeça:
- Minha Santa Efigênia!
Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez sentir a causa de sua perturbação:
- É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.
Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta dimensões de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:
- Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.
Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A chamada dose cavalar.
- Não adiantou nada – queixa-se ele. – Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa dentro de minha barriga.
Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:
- Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.
No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem entende de mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório: tirou-lhe radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado hoje está que nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a mão aqui”.
- É lápis mesmo, aí no seu bolso.
- Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.
Vive lendo bulas de remédio: “Este é dos bons” - e seus olhos se iluminam: “justamente o que eu preciso. Dá licença de tomar um, para experimentar? Quando visita alguém e lhe oferecem alguma coisa para tomar, aceita logo um comprimido. Passa todas as noites na farmácia: “alguma novidade da Squibb?”
Acabou num psicanalista: “Doutor, para ser sincero eu nem sei por onde começar – dizem que eu estou doido? O que eu estou é podre”. Desistiu logo: “Minha alma não tem segredos para ninguém arrancar. Estou com vontade é de arrancar todos os dentes”.
E cada vez mais forte, corado, gordo e saudável. “Saudável, eu?” - reage como a um insulto: “Minha Santa Efigênia! Passei a noite que só você vendo: foi aquele bife que comi ontem, não posso comer gordura nenhuma, tem de ser tudo na água e sal”. No restaurante, é o espantalho dos garçons: “Me traga um filé aberto e batido, bem passado na chapa em três gotas de azeite português, lave bem a faca que não posso nem sentir o cheiro do alho, e duas batatinhas cozidas até começaram a desmanchar, só com uma pitadinha de sal, modesta porém sincera”.
De vez em quando um amigo procura agradá-lo: “Você está pálido, o que é que há? “Ele sorri, satisfeito: “Menino, chega aqui que eu vou lhe contar, você é o único que me compreende”. E começa a enumerar suas mazelas – doenças de toda a espécie, da mais requintada patogenia, que conhece na ponta da língua. Da última vez enumerou cento e três. E por falar em língua, vive a mostrá-la como um troféu: “Olha como está grossa, saburrosa. Estou com uma caverna no pulmão, não tem dúvida: essa tosse, essa excitação toda, uma febre capaz de arrebentar o termômetro. Meu pulmão deve estar esburacado como um queijo suíço. Tuberculoso em último grau”. E cospe de lado: “Se um mosquito pousar neste cuspe, morre envenenado”.
Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” – e se abre numa gargalhada: “Vocês querem acabar de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta que de uns dias para cá está de namoro sério com uma jovem, recém-diplomada na Escola de Enfermagem Ana Néri.
In: O homem nu. Rio de Janeiro: Record, 1977.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
O mundo não está aí pra virar poesia - Ricardo Silvestrin
o mundo não está aí pra virar poesia
embora a árvore parada aguarde em silêncio
pronta pra ser fotografada
o gato de preto e punhos brancos
ande sempre com seu melhor traje
e os pássaros em voo sincronizado
denunciem pela perfeição dos movimentos
que ensaiaram durante horas
o vento orquestra uma sinfonia muda
os panos de chão dançam pendurados nas janelas
as formigas
fingindo trabalhar
desfilam com suas folhas verdes
alegorias de mão
e mesmo as paredes se deixam cobrir de limo
descascam voluntariamente
em permanente exposição
Psicologia sentimental de Nelson Rodrigues
Até uma esposa deve, de vez em quando, RESISTIR. E com muito mais razão uma mulher que tem uma severa autocrítica, que se acha feia (...). A mulher feia precisa jogar, até a última hora, com uma premeditada "dificuldade". Precisa se fazer, por bastante tempo, "inconquistável". E esta será uma maneira simples e eficiente de fazer o homem lhe conferir um alto valor. Conheço um caso típico. O cara que se apaixonou é um homem rico, sadio, bonito e dono de automóvel. Deve estar habituadíssimo a conquistas fáceis. Uma maneira de impressioná-lo é se fazendo de difícil, dificílima, contrariando-o a torto e a direito e insinuado discretas ironias, sugerindo que sem automóvel ele jamais conquistaria uma mulher.
(Do livro "Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo").
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Um dia qualquer no final de janeiro
Um
calor persistente
e
a TV falava sem parar da barragem que rompeu em Minas Gerais.
Disseram-lhe
que vivemos novos tempos,
que
devia ter uma sensibilidade menos rasa,
aprender
a se colocar no lugar do outro.
A
palavra demorou para chegar, mas chegou...
era
"empatia".
Pensava
nessas coisas altamente filosóficas
e
esqueceu os quatro ovos que ferviam na panela,
sobre
o fogão.
Depois
de meia hora na fervura,
eles
ficaram emborrachados.
O
aparelho celular o devolveu à realidade.
Era
uma mensagem pelo Whatsapp, do Jurandir.
O
cretino inventava uma desculpa qualquer
para
o fato de não ter trazido a puta
que
havia prometido na noite anterior.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Ela parece com todo mundo
Aquela
dos peitos siliconados mais perfeitos da cidade,
e
que brilha feliz no face e instagram,
cruzou
por mim na rua, sem maquiagem e sorriso e pose de encantadora,
e
isso me decepcionou e então eu quis me colocar no seu lugar,
e
passei a odiar essa gente que morre de inveja por ela receber centenas de likes
e brilhar tanto e acima de todas.
Vocês
devem concordar que a competição está cada vez mais acirrada no espaço virtual.
Ainda bem que algumas não levam muito a
sério.
Ela
é normal como todos nós.
Ela
está meio perdida, como meio mundo.
Ela
acerta e erra como qualquer humano.
Ela
não suporta ser acordada pelo despertador,
e
ter o melhor sono arrebentado no meio.
Ela
só vai a todas as festinhas e também se empanturra de doces e salgados
pra
não ser vista como chata.
Mesmo
contrariada, ela dá likes e elogia posts ousados de amigas que ela sabe que são
carentes,
apenas
pra retribuir as gentilezas.
Vocês
devem saber que as fotos com gatos e cachorros é uma recompensa,
depois
de se virar a semana toda com limpeza e carnês e idas e vindas ao pet shop.
Ela
cumpre as obrigações com filhos e sobrinhos e afilhados
e
lava a louça e coloca roupas na máquina
e
segue grupos no watts que compartilham política e gastronomia
e moda e
caçadores de notícias,
de
preferência de tragédias de pessoas que todos conhecem
e
que se pode ou deve compartilhar e comentar "Deus sabe o que faz",
"Deus
vai cuidar disso" e "Nada podemos fazer diante do destino".
Sim,
Ela parece com todo mundo.
(B.
B. Palermo)
domingo, 20 de janeiro de 2019
Essa vidinha sem graça
Aguardo a noite chegar,
como uma criança que
teme voltar pra casa
e sofrer um castigo por
causa de uma travessura qualquer.
Assim,
estou livre de esbarrar num desses chatos,
boa
parte gente conhecida, que leva uma vida reta.
A
vida perfeita desses caras me deixa com dificuldades
pra
compreender o que realmente pensam.
Amam
mais ou fingem amar,
disfarçando
com gentilezas seu ódio aos outros?
Gostam
do que fazem?
Curtem
a rotina diária de canalizar boa parte das energias para manter seu status
e
serem bem-vindos no circo social?
Às
vezes tenho a impressão de que, dado o atual estado de coisas,
o
número de suicídios anda meio baixo.
Mas
não se preocupem.
Estou
sendo simplório.
Boa
parte das coisas que vejo se dá de maneira estrábica.
Tenho
feito exercícios pra combater a miopia.
Não
sou aluno disciplinado.
Muitas
vezes rolo na cama, ao acordar,
sem
encontrar qualquer motivação pra cumprir meus turnos
de
guarda nesse canil.
Não
tenho certeza se sou guarda que observa de fora,
ou
se faço parte da alcateia feroz.
O
que compensa é o tempo pra fazer algumas leituras.
Por
exemplo, li esses dias o livro "Relato de um náufrago",
de
Gabriel García Márquez.
Enquanto
eu fico aqui contando pra todo mundo minha vidinha sem graça,
o
personagem do livro sobreviveu durante dez dias a um naufrágio,
sem
água e comida, num pequeno bote em alto mar.
Esse
cara sim levou a vida no limite
e
herdou boas histórias pra contar.
E,
constato, boas histórias poucos vivem.
Os
mais velhos replicam o mesmo filme
"no
meu tempo"... "no meu tempo era assim...".
Coitados.
Não
percebem que a plateia escasseou.
Seu
cinema e roteiro estão falidos.
(B.
B. Palermo)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
O amigo de um amigo me falou
A
mulherzinha do amigo de meu amigo tem um grande desejo,
e
conta pra todo mundo.
Quer
colocar silicone nos peitos.
Já
fez um preenchimento no bumbum, e está fazendo o maior sucesso.
Ela
e o marido e a filha pré-adolescente sabem que a mãe é a bússola.
Diante
da esposa, nada de bate-boca, nada de disputar território.
A
função do amigo de meu amigo é dizer "sim" e ser o provedor.
Óbvio
que há válvulas de escape, para arejar a relação.
Ambos
dão suas escapadas.
O
sujeito sonha ser palestrante famoso e também editar muitos livros,
alguém
tão bem-sucedido como Mario Sergio Cortela.
Foi
o que ele me falou, esses dias, no bar.
Então
eu disse que sonhava ser um stand up famoso e polêmico,
algo
como um George Carlin.
O
problema é que, enquanto eu sugava cervejas e cervejas,
ele
bebericava coca-cola.
Sua
imaginação não conseguiu me acompanhar no delírio.
(B. B. Palermo)
segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
Amor, mais um jogo de palavras?
Para
essas criaturas quase divinas,
bem-sucedidas
em tudo,
o
amor é perfeito,
pouco
importa se muitas vezes não tenha fogo e paixão e corpo.
Cruzei
diversas vezes por esse estranho cidadão.
A
cada dia com seus disfarces e máscaras
e
promessas e desculpas.
Ouço
as criaturas cantarem em verso e prosa seu amor impossível,
tramado
por um jogo de palavras, retas e redondas e quadradas,
claras
ou obscuras, estressadas ou surdas, solitárias ou bem-resolvidas,
bem-mastigadas ou mal-comidas.
Cantam
o amor jogando para o alto tais jogos de palavras,
enquanto
as últimas sempre debocham de seus sonhos idealizados de amor.
(B.
B. Palermo)
quarta-feira, 2 de janeiro de 2019
Donas do mundo
Contemplo
essas garotas poderosas que passam pela rua.
Olham
pro lado, olham pra cima, olham pra baixo, menos os meus olhos.
Donas
do mundo, eu poderia me dar por vencido.
Assim
que elas passam me viro e mapeio quadris e bumbuns,
paraísos
que os panos não mostram.
-
E daí? - Você me pergunta.
-
Daí que foi um jeito que eu inventei pra suportar a indiferença delas.
(B.
B. Palermo)
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
Passarinho engaiolado - Rubem Alves
Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranquila como seguras e tranquilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos.
Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.
Bem se lembrava do dia em que, enganado pelo alpiste, entrou no alçapão. Alçapões são assim; têm sempre uma coisa apetitosa dentro. Do alçapão para a gaiola o caminho foi curto, através da Ponte dos Suspiros.
Há aquele famoso poema do Guerra Junqueiro, sobre o melro, o pássaro das risadas de cristal. O velho cura, rancoroso, encontrara seu ninho e prendera os seus filhotes na gaiola. A mãe, desesperada com o destino dos filhos, e incapaz de abrir a portinha de ferro, lhes traz no bico um galho de veneno. "Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa… Ó filhos, voemos pelo azul!… Comei!"
É certo que a mãe do passarinho nunca lera o poeta, pois o que ela disse ao seu filho foi: "Finalmente minhas orações foram respondidas. Você está seguro, pelo resto de sua vida. Nada há a temer. Não é preciso se preocupar. Acostuma-se. Cante bonito. Agora posso morrer em paz!"
Do seu pequeno espaço, ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores, com seu mágico bater de asas; os urubus, nos seus voos tranquilos da fundura do céu; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah! Os prudentes conselhos maternos não o tranquilizavam Ele queria ser como os outros pássaros, livres… Ah! Se aquela maldita porta se abrisse.
Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!
Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais distante. Teve vontade de ir até lá. Perguntou-se se suas asas aguentariam. Elas não estavam acostumadas.
O melhor seria não abusar, logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento, um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.
— Ei, você! – era uma passarinha. – Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinha de pimentas vermelhas. Deliciosas. Apenas é preciso prestar atenção no gato, que anda por lá… Só o nome gato lhe deu um arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.
Tremeu de medo. Nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudades da gaiola. Voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta.
Neste momento, chegou o dono. Vendo a porta aberta disse:
— Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar…
Assinar:
Postagens (Atom)
Viagem ao fim da noite
O cachorro passa mancando... não me percebe. Compreendo: a vida é busca, é movimento. Quem prova isso é o motoboy e sua descarga barul...
-
Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...
-
Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...