Raposas passeiam sobre o meu telhado
com a leveza de estarem a par
de minhas histórias.
Tive mais sorte na vida
do que soja e milho transgênico.
Fui amado por algumas mulheres,
seus dedos tamborilando meu peito,
descendo e subindo,
calcinhas e cuecas imortalizadas no corredor
que leva da sala até o quarto.
Também fui maltratado pela vida,
empregos,
negócios,
profissão.
Meus olhos estavam desconectados dessas coisas,
como se elas fossem restos de feira.
Autopiedade...
considerar-se uma árvore
sufocada
e podada
desde o início.
Rotas de fuga
que não servem pra nada.
Ela me diz:
"Você aí, rolando como pedra,
um velho desleixado,
que foge do banho,
não faz a barba,
veste roupas fora da moda...
Eu tenho mais de 40 anos mas sou linda!
Os homens dizem Nossa, você nem parece ter 40!
Você não percebe o que a passagem do tempo
está fazendo com sua carcaça?
Mulher não gosta de homem jogado!".
Dou o troco:
"Ora, ora, quem falando...
Teus olhos eram mais vivos, não?
Agora me parecem jabuticabas murchas.
E essas rugas entre o queixo e o pescoço
banho nenhum vai apagar.
Vejo por aí o faz de conta,
pessoas obedecem a regra geral
e não me sinto em casa
para fazer o mesmo.
Amores entediantes virão
e você vai morrer de medo
de saltar fora,
não vai pressentir a serpente
rondando,
o retorno daquele louco desejo
de suicídio.
Devolva minha inspiração...
assim terei minha roupa ajustada
e meu corpo cheiroso...
e eu te transformo numa deusa
esculpida num altar,
fazendo babarem olhos e bocas
da multidão".
(B. B. Palermo)