quarta-feira, 16 de junho de 2021

Um bando de papagaios desmiolados

 

Uns caras surgem vagarosamente,

parecem desconfortáveis,

como se usassem cuecas novas apertadas,

bagos saindo pela boca.

Desconfio que esses malucos

serão os próximos psicopatas

a trucidarem crianças e professoras

numa singela escola de um lugar remoto do país.

Eles me fitam e dizem Estamos juntos nessa, brother.

Ganho tempo, enquanto arroto na cara deles

meia dúzia de ovos cozidos,

agorinha devorados.

Garotos, vivemos uma nova onda,

contamos agora com a grande presença

do Darwinismo social.

Os caras me encararam, creio que não sacando

a grandiosidade do que eu disse.

O dono do bar, o Manetta, buscou um litrão de ceva

e iniciou sua jornada apoteótica em torno da mesa de sinuca,

furungando as novidades da política e do futebol.

Lembrou também de um novo vírus,

parece que proveniente dos frangos

criados em cativeiro, sempre na China.

Radiante, mirei aqueles bonecos sonsos,

psicopatas amadores, e falei:

Sacaram? Nós somos os mais fortes,

vamos dar uma surra nesses vírus de quinta categoria.

Nós estamos no nível mais elevado da cadeia alimentar.

Nossa missão não é explodir crianças inocentes nas escolas,

Nossos verdadeiros inimigos são os "invisíveis",

vírus que estão brotando como chatos

nos pentelhos das putas.

Reparei que os moleques falavam as coisas deles,

como se eu não existisse.

Pena eles não conhecerem o Darwin,

nem saberem que somos macacos disfarçados de antas.

Uma pena mesmo, e isso pouco importa,

já que neste exato momento me convenci

de que não passamos de um bando

de papagaios desmiolados.

 

(B. B. Palermo)

domingo, 6 de junho de 2021

Movimente-se


 

Disse um filósofo:

"Conhece-te a ti próprio".

E então iniciamos o exercício

do autoconhecimento.

Aos poucos tudo ficou claro,

primavera invadiu o inverno,

de dia foi outono,

de noite foi verão,

confundindo, inspirando.

 

Há varias luas em você,

indo e vindo,

às vezes entristecem e ficam pálidas

minguantemente...

Mas apesar do pouco brilho,

uma lua cheia te espera

e acredita que pode iluminar

o caminho dos viajantes.

Somos viajantes solitários

contando às vezes com pouca luz.

Caminhamos porque temos esperança

que vamos mudar de fase...

Lua nova,

crescente,

cheia...

No universo, tudo está

em movimento.

Movimente-se!

 

(Pensamentos & Poemas Espirituosos)

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Dando uns tiros no cafofo

 

Beiço aterrissou aqui em casa

com cara de desconfiado, óbvio,

quis me pegar com a boca na botija.

Invadiu meu lar e encarou minha alma nua.

Eu vestia um pijama surrado,

guardanapos molhados de cerveja sobre a mesa,

cobertores enrolados sobre o sofá,

folhas de jornal espalhadas pelo chão,

a pia entupida de louça pra lavar.

Ele foi logo averiguando quais livros

estavam espalhados sobre a mesa

- que drogas eu andava lendo?

Tudo se confirmou.

Alguém tinha assoprado:

Cadelão, por algum motivo surreal,

ou talvez por estar com medo de morrer,

quis encontrar algum sentido

nos livros de Allan Kardec.

Não sei se o cretino falava sério

ou se apenas debochava:

"Tu para com essa frescura de espirituosismo, Cadelão,

senão um dia desses eu pego meu 38

e dou uns tiros neste cafofo!".

Eu estava realmente oco,

creio que por ter acordado há pouco,

forçava, forçava, e não me vinha

qualquer pensamento bizarro ou austero.

Logo depois olhei pro teto e a verdade se revelou:

Beiço contara a todos os imbecis

que chamamos de amigos

o triste fim do Cadelão,

em sua fraquejada espirituosa.

Eu tenho minhas cartas na manga,

e sei que eles não compreendem,

porque não conhecem os segredos

do escritor intuitivo.

Os cretinos se encheram de existencialismo

e materialismo,

e não sabem a dimensão de minha alegria

ao captar as energias cósmicas que me acariciam

com suas lufadas inspiradoras.

Pobrezinhos desses irmãos céticos,

nunca vão acreditar que, neste exato momento,

estou sendo inspirado por Leminski e Bukowski.

Dois grandes, claro, dentre outros vários FDPs

que de madrugada sopram e assopram

versos perversos.

Meus amigos jamais vão alcançar

minhas "verdades" ocultas.

Quando ouço Mozart, por exemplo,

eu literalmente verto lágrimas,

tamanha é a alegria que a beleza da música

desse espírito da porra

assopra em minha alma.

 

(B. B. Palermo)

terça-feira, 1 de junho de 2021

Eterno retorno

 

Queria ter boa assistência técnica

para descrever meus heróis

dos becos e botecos da cidade.

Eles sabem de tudo,

por isso o que me resta

é beber e observar.

Sua sabedoria joga dados

com assuntos que não ferem

seus desejos.

Quando pergunto sobre o sentido

de estarmos aqui, hoje, vivos,

depois de mais de 4 bilhões de anos

de existência da Terra,

eles pedem para que pare

de falar difícil.

Então eu silencio

e apenas observo.

Seus olhos e ouvidos estão conectados

com o que gira ao seu redor,

as demais paisagens não existem

- por favor, Cadelão, não force o verbo...

Por tudo isso, eu me calo e observo.

Eles são gente como a gente,

e amanhã pouco será lembrado

do que foi hoje palestrado.

O mais importante

é voltar no final do dia seguinte,

acionando os motores

do eterno retorno.

 

(B. B. Palermo)

sábado, 29 de maio de 2021

Isso tudo não importa

 

Sirvam-me um uísque barato

com duas pedras de veneno

para que suba à cabeça

dos que fogem do improvável.

Vamos nos embriagar enquanto é tempo.

Lobos riem dos sonhos

dos cordeiros asseados,

perfumados,

Bíblia debaixo do braço,

negando os perigos da vida.

Algumas doses de Cicuta

para os que se ajoelham

diante do que não compreendem

e não confraternizam a beleza

ao seu redor.

Sirvam uma alavanca de Arquimedes

para os broxas e eunucos,

sirvam uma dúzia de energéticos literários

para os ansiosos,

egoístas,

iludidos.

Sou especialista em desfilar

com essa gente etiquetada,

papos uniformizados,

ideias de linha de montagem.

Tenho epifanias nos lugares onde operários

bebem depois do trabalho,

e diaristas retornam para casa,

idade avançando,

ventre se impondo,

pernas afinando e, que terrível,

elas nunca saberão que eu existo.

Vacilante, caminho sobre a fogueira

que formata meu cérebro

de segunda a sexta-feira.

Somos uns caras legais,

estamos na meia idade,

um pouco curvados, é certo,

mas ainda temos oxigênio

pra queimar.

Foi-se o imponderável,

apagamos o fogo poético

com jatos de cerveja quente,

cigarros, café e a alegria fugaz

por ter ganho no Jogo do Bicho

depois de um bom tempo.

 

O bebum me direciona um olhar sideral                

sugerindo que eu assista noticiários de TV

sensacionalistas,

mergulho com ele no abismo

e tenho orgulho das suas verdades patéticas.

Seja o centro de tudo,

sirva aos amigos em torno da mesa

os entulhos que deserdaram

de tua essência.

 

Isso tudo não importa.

Qualquer mau cheiro existencial se dissipa

ao contemplar a mãe que conduz a filhinha pela mão

retornando da escola para casa

no final de tarde.

 

(B. B. Palermo)

sexta-feira, 28 de maio de 2021

não exatamente nessa ordem

 

eu trotava

cambaleante

atrás de minha

alma

parecendo um centauro

das calçadas

e numa esquina

fiquei tenso

como gato

que perdeu

os movimentos

das orelhas

dos bigodes

e do rabo

é que eu precisava

mijar

então corri

pra casa

abri a porta

e já fui

detonando

peidos ecléticos

bem-vindos

ao-lar-do-ce-lar

e no banheiro

fiquei chocado

com o diálogo

que o mijo

estabeleceu

com minha pessoa

enquanto drenava

o vaso da privada

ele ordenava

hoje você vai meditar

e se masturbar

e lavar

a carcaça

e barbear

os teus pecados

não exatamente

nessa ordem

cadelão

 

(B. B. Palermo)

domingo, 23 de maio de 2021

É tudo mentira

 

Tesão não faltava,

nossos corpos eram robustos,

vivos, ágeis,

como se tivéssemos a linhagem

dos leões,

havia mesmo a tentação

de comer até se empanturrar

com filmes pornôs.

Nossas jogadas eram ensaiadas,

quase nenhum improviso,

éramos peixinhos copulando num aquário

sob o olhar vigilante dos gatos.

havia mais músculos do que banha,

nossos corpos, porcos,

tinham a verve da procriação.

E então pintava uma dor,

pudera, pouco uso de camisinha

ou anticoncepcional,

era inevitável algum aborto,

era inevitável o sofrimento,

afinal, crescemos sob o olhar atento

da Igreja Católica Apostólica Romana.

Hoje acordamos cansados dessas trepadas fáceis,

queremos agora folhear uma boa revista,

porém, não há boas revistas,

como não há bons telejornais,

e chega o momento da gente se perguntar

se isso tudo não é pura mentira,

o sexo,

o câncer,

o infarto,

o suicídio,

a vida eterna,

o amor platônico,

o casamento,

a virgindade...

...

comprimidos pra dor de cabeça,

pra dormir,

pra eterna juventude,

pra eutanásia,

pra trepar na terceira idade.

Chegou o momento de desconfiarmos de tudo,

inclusive quando os amigos insinuam que,

apesar de nossos fiascos,

somos uns caras legais.

 

(B. B. Palermo)

quinta-feira, 20 de maio de 2021

apenas corra

 

somos

complexos

Palermo é apenas a casca

o outro lado

da moeda

e ele quer estar na moda

vivendo do avesso

é que Palermo sabe

como estão tortos

e esburacados

nossos caminhos

ele sabe que seus

irmãos

são filhotes de pássaros

que caíram do ninho

e todos estamos nos braços

de formigas carnívoras

e gatos gigantes

com suas bocas no cio

farejando

nosso calcanhar

monstrinhos

sempre

nos perseguem

haja pernas

não espere algo

definitivo

no final

apenas corra

 

(B. B. Palermo)

 

Pobrezinho do B. B. Palermo

  Uma amiga – hoje – me falou: – Américo, você trata muito mal o B. B. Palermo! Fiquei paralisado. Confesso que tenho algumas dificu...