Garotas do prédio ao lado tomam
sol
e botam pra secar no varal seus
problemas diários.
Não me dão bola, então emito
uns sinais,
nuvens de fumaça subindo pelas
florestas. Digo-lhes:
"Que belo dia de sol... Parece
que a chuva prometida se foi...".
Como eu queria saber o que pensam
desse cavalo cansado
cujo único consolo é contemplar
o copo pela metade!
Sinto-me mal ao tentar uns
contatos tímidos,
como se estivesse chegando
noutro planeta
e uns pequenos centauros coloridos me
observassem, rindo,
"um cara muito estranho
deu o ar da graça".
Janelas se abrem e se fecham, cortinas
sobem, cortinas descem,
meus olhos ficam embaciados
diante dos seus horizontes.
Observo os cabelos, o movimento
dos olhos,
as bocas e o olhar provocador e, ao mesmo tempo, indiferente.
Não sei se deprimo ou se curto
sua juventude,
estou cara a cara com um oceano
de potências
que seus lindos corpos desencadeiam.
Ah, como eu queria ter a senha
de acesso e tudo decifrar.
Interagir, tomar porres de orgias ao meu redor.
Não consigo ser como Bukowski,
ele se fortalecia na solidão,
era a sua comida e sua água.
As garotinhas se enganam se
pensam que estou a fim
de descansar em belas e suaves
tardes no jardim dos mortos.
Ainda sei contar boas
histórias. Lá vai a última:
o sujeito amava tanto sua filha
que, quando ela arranjou um namorado,
ele a matou golpeando sua
cabeça com uma marreta.
O sujeito tinha muito dinheiro.
Deu parte de sua fortuna a um
bom advogado e ficou pouco tempo na cadeia.
Muitos anos depois ele estava
pescando num rio que margeia seu sítio,
quando foi atacado por abelhas
e morreu como besta indefesa e só.
Acredito em fortes emoções,
meus brothers, aguardo
outras proezas, não desejo que
tudo vire cinzas.
O certo é que elas ficariam
radiantes ou decepcionadas
se descobrissem os pensamentos
que tenho a respeito
de seus corpos desenhados por
minúsculos shorts e camisetas.
Eu sou o prendedor de roupas e também o varal
que vai receber as carícias da
brisa e do sol
secando suas calcinhas,
shortinhos e sutiãs.
Sou sensível mas, garanto, não sou tudo
aquilo,
e prometo poemas sujos que as inspiram
a incríveis experiências sensuais.
Eu sei de tudo, enquanto
aguardo o milagre:
um dia essa beleza juvenil vai
desaparecer.
Um namorado hoje, outro amanhã
e depois outro e mais outro...
Eu sei de tudo, e é por isso
que espio por detrás dessas cortinas
sequestradas pelo pó.
(B. B. Palermo)