A musa espalha o vírus
de sua beleza
nesse afã de colocar e tirar
máscaras.
Tarde percebi
que seus 40 e poucos anos
ganharam belos contornos
com tantos panos
cobrindo
boca e nariz.
Uma certa experiência
me deixou cético ao ver
essas garotas maduras
competirem com outras pequenas
- quase adolescentes.
Elas parecem comigo:
somos ridículos.
(O que importa
é que não sabemos
o quanto somos ridículos).
Aguardo que corram atrás,
e elas esperam que eu retorne
com o rabo entre as pernas,
o cara pra vida toda.
Cadelão não suportará
e tempos depois terá outro nome,
será chamado de "mais um
erro".
Nem todas são chatas,
carentes,
lamuriosas
e grudentas.
Nem todas falam demais.
Sei que minhas chances
diminuem
a cada dia que passa,
sou metido a intelectual,
pouco macho,
cansado daquele jogo
de se fazer de difícil
pra ter uma princesinha mimada
rastejando a meus pés.
Sei que é estranho
dedicar meu tempo a observá-las
como se eu não tivesse defeitos.
Não é natural, eu sei,
achar que só elas são carentes,
navegando em mares agitados,
sempre procurando desvendar
a fantasia que é correr atrás
da grande glória,
que se chama "cacete".
Conheço apenas a superfície,
não consigo decifrar
tantas esfinges eróticas,
enquanto isso o trem vai passando
e sua porta está aberta.
Mas ainda não arrumei as malas.
Tenho medo de ficar
muito tempo sozinho.
(B. B. Palermo)