segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Ufa, John! Trezentos e sessenta e cinco dias em busca de aplausos, esbarrando nos diversos cenários e figurinos!

Nós dois sabemos, há tempos, o que insinuam os cínicos: “Capriche, faça de conta que estás vivendo o último dia de tua vida!”

Comediantes, dizem-se indiferentes à comédia. Preferem assistir, na primeira fila do cinema, filmes de suspense e de tragédia. Não creio que, no seu íntimo, torcem pra mocinha, em vez da vilã.

Para contrabalançar o stress e correr em busca de elogios, o melhor a fazer é sentar sóbrio no bar, num papo sério, sobre futebol e política, com os ébrios. Na mesa do bar não deves cometer o acinte de quintuplicar tuas desventuras amorosas. Quando fores ao banheiro, e a bebedeira assoprar no teu ouvido que deves jogar conversa mole pra cima da turma, erga a tampa, sente no vaso e dejete alguns fleches de tuas volúpias. Passe uma água gelada no rosto, tome uns goles d’água e volte, em silêncio, para o teu canto.

A ordem é não repetir. Não imitar o relato de façanhas, como o fazem aos borbotões por aí.

No quintal, a roseira fez pose e se ofereceu durante os doze meses que se passaram. Não reparaste se tinham cor, espinhos e perfume. Quantas rosas mulheres, enigmas, olhares e elogios, exibiram-se na mesinha do centro de tua sala, bem animadas no copo de cica com dois terços de água?

Não creio que a oportunidade vá passar apenas uma única vez...

A comédia sobre o palco, depois que o pano subiu, não nos vai convencer se somos tolos ou sábios, por ainda acreditarmos numa natureza humana. Sim. Acreditas no amor. Porém, teus lamentos mostram que há preocupação demais, e pouca ação. Deves conhecer o seguinte provérbio: “Quem ama muito, fala pouco”.

Muito falar e se queixar é supervalorizar os dilemas sentimentais.

O Amor sincero precisa de complemento e cuidado. Vamos carrega-lo nos braços como se fosse um filho amado!

Asseguro-te que dona Razão é péssima conselheira nos assuntos de amor. Em vez de dar-lhe ouvidos em demasia, abra as cortinas e janelas e se deixe inebriar pela brisa da paixão.

Faça parte da trupe, não esqueças de representar teu papel. Porque, nos assuntos de amor, é preferível se ator do que espectador!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

PARIR É PRECISO



Mudança de ares, distanciamento. Afastar-se do espelho, beber imagens do mundo exterior, gestos de maestro conduzindo a orquestra de planos, tentativas, faltas, excessos. Ir em frente sem temer a noite, pois nem todos os gatos são bastardos.

Parir é preciso, como disse o amigo João. Antes disso há que ter solo e semente, e muita vontade aliada aos sonhos. Fazer nascer, e não repetir. Ser original, eis o desejo príncipe dos desejos, que seqüestra o sono. Eis a tarefa quixotesca, mas não vamos ligar se os outros recomendam escutar as censuras e medos.

Parir um filho que deposite seu olhar nas coisas simples, percepções que façam rir, chorar, sem ostentação. Livres de incertezas, receios e clichês. Filho que não vai ser o responsável pelo décimo terceiro e férias. Não é direito adquirido, nem averbado e guardado num cofre para ser usufruído amanhã.

Filho que não se acomoda com o pouco que já possui, e se prende às escassas expectativas que realiza mês após mês. Esse filho tecerá em seu coração, no silêncio da noite, planos audaciosos, afastando de seu caminho os medos do fracasso, e vai, sim, atrair imagens de sucesso e prosperidade.

O filho não perderá tempo com vaidades, inveja, arrogância, falsos elogios para não magoar os amigos. Descerá a ladeira no seu primeiro ensaio na bicicleta do irmão mais velho, pouco importa o quanto a aterrissagem vai ralar seus joelhos. Fará o gol mais bonito, mesmo que seu time não ganhe de goleada.

Parir sem pressa, menos dor e mais prazer, se possível. Obter a sensação mais “estranha” e arrancar, da obsessão de chegar ao novo, a visão incomparável, capaz de rasgar ao meio o lençol da noite sonolenta!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

NATAL E ANO NOVO - Mensagem do Teco aos seus leitores e amigos!



Já é final do mês, e a esperança se renova OUTRA vez.
Chegou o momento de meus avós remarem contra o vento...
É que o remédio está caro, e eles ganham pouco...

Mas não entregam os pontos.
Fazem suas caminhadas
sempre, TOOODOS os dias,
para amenizar as jornadas
e duplicar a alegria!

Eles dizem que não podemos parar
e só ver o TEMPO passar.
Precisamos renovar
nosso estoque de sonhos.

E, agora, no final do ano
as pessoas se reencontram
depois de TAAANTO trabalhar.
Repensam seus papéis
e até se tornam papais noéis!

Na minha cidade, TODOS se enfeitam para o Natal.
Lojas cheias de gente, crianças, adultos,
lista de compras de PRESENTES...

Num piscar de olhos
Papai Noel nem chega e JÁ se vai!
O sol se põe, e no palco da noite
CONTOS DE FADA desfilam histórias e heróis!

- Neste sol quente, não esqueça
o chapéu de palha! - Dizia vovó.

Todo dia ela costurava memórias
sem tirar o olho do seu bordado...

Contava mais uma história
trançava as palhas do trigo.
Sua varinha mágica nos deu de presente
luvas, cachecóis, aventuras
e chapéus coloridos!

Já o vovô, antes de contar novas histórias, SEEEMPRE repetia:

Os sonhos e as lembranças
que brotaram dos verdes anos de meus pais
se ajeitavam na carroça,
e nos enchiam de esperança!

Naquele tempo as máquinas derrubavam o mato
e a fumaça do óleo diesel e o palheiro de meus tios
fumegavam o progresso...

Aí, seu olhar se perdia no horizonte, e ele SUSPIRAVA:

A terra que nos sustenta é a mesma dos velhos tempos...

O trator cava a terra anêmica
faz ela gemer e germinar
milho, arroz, trigo, feijão...

A terra se esforça e pede ajuda
pra chuva, pro sol e pro vento,
e muitas promessas são feitas
pra Santa Padroeira.

Décadas e décadas parindo alimento,
a terra, banguela, implora descanso,
mas esqueceram de avisar
esses HOMENS AVARENTOS!

Para não ver seus netos preocupados
com seu futuro e das crianças que virão,
vovô narrava as façanhas
de seus pais, tios e primos
e também de seus AVÓS...

Otimistas, eles faziam planos
enquanto as mãos ágeis
domavam as palhas do trigo
no sol mais BRAVO do céu
e assim ficávamos protegidos
com aqueles ENOORMES chapéus!
A palha zunia, se retorcia, corria pra TOODO lado,
mas logo logo se acalmava no trançado!

Agora eu percebo que o nascer do chapéu
é o nascimento de histórias,
de saudades e de amizades.
Nosso coração se abre
e acolhe com AMOR
TODOS os nossos irmãos,
sejam ricos ou pobres,
ganhem BRINQUEDOS OU NÃO!

O DIÁLOGO é a semente
que vai brotar, crescer e amadurecer
em TODOS os corações
fará respeitar nossos irmãos,
em qualquer estação,
sejam velhinhos ou não!

Nasce CHAPÉU e AMIZADE
e vai nos proteger de TODOS os males
nesse NATAL e ANO NOVO!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ASSIM NINGUÉM FICA SEM NADA


Basta abrirmos o jornal, e as notícias descem em cascata diante dos olhos. São de todo tipo. Trágicas, “normais” (porque se sucedem e se parecem muito a cada dia), e as cômicas, ou bizarras, ou ridículas... Pessoalmente, simpatizo mais com as últimas. É que elas são meio caminho andado para escrever histórias.



O que a literatura tem a ver com o desfile diário de fatos narrados pela imprensa? Bem, esta pergunta me persegue há algum tempo. Acredito que a literatura e a realidade não se afastam, ao contrário, se complementam. E, também, que o momento presente está repleto de acontecimentos que reivindicam outras (novas) interpretações, a fim de ser melhor compreendidos. Assim, faço abaixo uma tentativa de entender o que tramam nossos personagens, reais e/ou fictícios, nas colunas dos jornais.


ASSIM NINGUÉM FICA SEM NADA



Professor universitário, John dedicou boa parte dos últimos vinte anos de sua vida para compreender os malefícios da sociedade capitalista. De sua casa para a universidade, da universidade para a academia de ginástica, dessa até sua casa, muitos livros de Marx o acompanhavam.


Enquanto pedalava e caminhava na esteira, seus neurônios debatiam-se em busca do título que daria para uma palestra – tinha sido convidado por uma escola para falar aos jovens alunos sobre o seguinte tema: O egoísmo da sociedade capitalista – sua superação rumo à utopia da solidariedade.


Ao retornar do shopping, onde comprara um presente para sua companheira, professora, e outro para seu filho, no dia da criança, foi vítima do primeiro assalto de sua vida. O bandido se aproximou e anunciou o roubo. Assim que recebeu o dinheiro (uma nota de 50 reais), retirou de sua carteira o troco (uma nota de 20 reais).
- Assim ninguém fica sem nada - explicou o ladrão, alcançando o dinheiro.


Ao entrar no prédio, ainda meio tonto com o que presenciara, John prometeu, ao silêncio e à desordem de seus neurônios, que iria rever, com urgência, suas teorias. Apenas acenou com a cabeça ao cumprimento do porteiro. De sua boca som nenhum saía.

Viagem ao fim da noite

O cachorro passa mancando... não me percebe. Compreendo: a vida é busca, é movimento. Quem prova isso é o motoboy e sua descarga barul...