O texto a seguir é a reprodução do bilhete-desabafo
escrito por um adolescente que ameaçou suicidar-se. O texto é reproduzido na
íntegra, para preservar sua autenticidade. Comenta-se que o autor desta carta
leu meia dúzia de vezes o livro “O apanhador no campo de centeio” e que,
portanto, sua atitude deve ter sido influenciada pelo mesmo.
Como são
cretinos esses escrotos, bando de exibidos, punheteiros, tronchos!
Se todo mundo
finge, eu finjo. Se todo mundo mente, eu minto. Não dá nenhum trabalho ser
escroto. O cinismo escancarado, sem culpas, provoca meu vômito.
Grande coisa,
dizer que nos colocamos no lugar dos outros!
Tradição,
família, propriedade, os que se autoproclamam do bem, ou do mal... Como sempre
alopramos, pobres vítimas de um sistema injusto!
Vou entrar na onda e dizer que
não estou cagando para a cretinice de todo mundo!
Se todos querem
o paraíso, basta pronunciar com toda pompa “Amém!”, “Aleluia!”, e fazer de
conta que somos puros. Citar dezenas de frases surradas e colocar na boca de
alguns gênios: Shakespeare, Clarisse Lispector, Manuel Bandeira, Drummond,
Quintana... e espalhar por aí.
Patéticos, dizemos que tudo isso pertence a uma
força maior, o movimento harmônico do universo!
Papagaiamos que
esse é o melhor dos mundos possíveis, e que amanhã seremos outros, após lermos
meia dúzia de receitas de autoajuda!
Já não tem graça
parecer todo certinho e, ao mesmo tempo, dançar no ritmo perverso. O que me
admira é que gostamos de ser cínicos escrotos, e quando ninguém vê atropelamos
quaisquer regras sociais, fazendo de conta que não temos nada com isso.
Vou fazer de
conta que não há depravação no cair da noite. E que entre as quatro paredes não
há ironia, deboche, depressão e suicídio!
Vou fazer de conta que agarro a
felicidade com dois litros diários de coca-cola, e que tenho a meus pés as mais
lindas pequenas do pedaço!
Vou fazer de
conta que sou narciso, que rende segredos, comentários, paqueras e cochichos entre as garotas.
Vou fingir que
sou ingênuo, e que não tenho noção de pra onde tudo vai nos levar!
(TIRADAS do
Teco, o poeta sonhador)