Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan
Chegar em primeiro, subir no pódio, é tudo que esperam de mim. Nem bem saí da barriga de minha mãe, já escolheram meu nome - um nome de craque.
As roupas que vou usar, as cores preferidas, o time que vou torcer, não ajudei a escolher. A cor dos meus olhos não puderam escolher... Mas a torcida foi intensa, organizada, e só o tempo fez eles buscarem outras coisas.
Meu pai é canhoto e sabe de cor as mil e uma vantagens de chutar com a esquerda. Porém, até hoje ele não sabe dizer por que só escreve com a mão direita. Canhoto é mais inteligente, ele diz, mas não sabe explicar por que ganha tão pouco. Aí ele fala: inteligente não significa ganhar muito dinheiro, mas viver bem. Ter muitos amigos, saúde e alegria, sem temer, de vez em quando, algumas decepçõezinhas – do tipo levar uma goleada em grenal.
Abro o jornal, ligo a TV, converso com os amigos, e o futebol está sempre no meio. Faz companhia, a mim e aos meus amigos, até nos nossos sonhos. Sim. Até nos sonhos. Dia desses, era véspera de jogo - competição que sempre chamam de “Copa Integração” - e de noite sonhei que meu time começou perdendo por dois a zero. Muita aflição, correria, e no final viramos pra quatro a dois. Fiz dois gols, é claro!
Como vocês podem ver, não decepcionei meus pais. De novo estou no pódio. Mas não vou dizer quem sou dos três. Se sou o terceiro colocado, sou o menos estressado em ter que sempre vencer. E já vou avisando: a cor não interessa. Não é por que visto vermelho que sou colorado! Não parece que, por não ter a obrigação de chegar em primeiro, estou menos tenso, nervoso, e sim mais relaxado?
Como vocês podem ver, se sou o segundo, meu prazer maior não é estar ali, e sim no banheiro, fazendo xixi. Mas sabe como são as solenidades. Dizem que é feio quebrar o protocolo!
Se sou o primeiro colocado, parece que dos três sou o mais entediado, por ter que ficar no topo da escada, talvez nem tenha feito tanta força pra chegar lá em cima... Ou isso é papo furado, coisa dos comentaristas de rádio, colunistas de jornal, que todo dia precisam dizer alguma coisa, e fazem de conta que não sabem que vivem repetindo, repetindo, sempre o mesmo assunto. “Segundo o matemático Osvald de Sousa, o time x tem 89% de chance ganhar o campeonato”, “o time y tem 90% de chance de ser rebaixado”, e tantos outros papos furados!
Pensando bem, até que eu gostaria de chegar em primeiro lugar, mas não tem problema se for de mentirinha, de faz de conta. Acho que o mais importante é brincar. Não é isso o que está faltando ao Ronaldinho Gaúcho? Ele joga sem alegria, o seu corpo, molenga, passeia no meio do campo, e o seu coração vagueia noutro lugar!