quarta-feira, 9 de junho de 2010

OFICINAS LITERÁRIAS EM PANAMBI/RS

Na terça-feira à tarde (08/06) e quarta-feira pela manhã e pela tarde (09/06) desenvolvemos oficinas literárias nas escolas municipais do município de Panambi. Visitamos as escolas E.M.E.F. Conrado Doeth e E.M.E.F. Bom Pastor.

As atividades deram-se de maneira interativa, com as crianças de terceira, quarta, quinta, sexta, sétima e oitava séries. Os alunos haviam lido, com antecedência junto com suas professoras,  os livros "Teco, o poeta sonhador, em: os mistérios do porão" e "Teco... em: segredos do coração".

Nas oficinas, partimos da importância da leitura como instigadora de nossa imaginação, possibilitando criar/inventar e, assim, desfrutarmos o direito da AUTORIA.

Após a declamação de um poema, ou da contação de uma história, enfatizamos para as crianças os elementos fundamentais que autores se fazem valer, tais como a surpresa no desfecho da história, ou uso criativo de imagens, etc.

Os poemas tornam-se mais atraentes se declamados em voz alta, se repetidos, memorizados, lidos para os outros. Prestando atenção, é claro, ao ritmo e à musicalidade.

Resta-nos agradecer neste blog o apoio do colega e amigo Ezequiel Paula dos Santos, pelos contatos, pela articulação das oficinas junto às escolas, enfim, pelo seu engajamento em questões ligadas à cultura e ao conhecimento.

Da mesma maneira, às direções das escolas, coordenações e ao grupo de profes que estiveram ligadas direta ou indiretamente à motivação dos alunos, para que estes se aproximem cada vez mais  dos livros e da leitura.

Já estamos com saudades dos amigos (profes e alunos) que fizemos em Panambi. Basta um aceno, e voltaremos correndo para lá.

domingo, 6 de junho de 2010

ENCONTRO COM BANDEIRA - Affonso Romano de Sant'Anna




NÃO VAMOS ATROPELAR O BOM GOSTO

Texto literário é aquele que sobrevive ao passar do tempo. Não é descartável dias depois, é, no mínimo, reutilizável. Pode/deve ser reescrito, lapidado, como o artista faz com sua obra.

O que acontece, cada vez mais, principalmente com o velocidade da internet, é o apelo para espalhar pelo mundo nossa "obra". Mas aí estamos enredados mais ao narcisismo e à vontade de "aparecer", do que à necessidade de fazer balançar a sociedade com nossa literatura.

Com essa pressa e presos ao desejo de que olhem para nós, "vejam como tenho idéias brilhantes", ficamos atolados à superfície, e pouco tocamos/alcançamos os conceitos e imagens, que tornam possível pensar e sentir a beleza.

Antes de semearmos nossa "obra" no mundo, deveríamos dar-lhe um tempo para germinar, acostumar-se com as condições ambientais, para que de fato seja fértil. Aguardar alguns dias para então relê-la e perguntar: vai para o lixo? É descartável? Reutilizável? Como pode ser melhorada?

O pior é que a maioria de nós, escritores de província, está convencido de que escreve bem. Claro, nossos familiares e amigos, mesmo tendo ressalvas e algum conhecimento da coisa, quase sempre vão nos elogiar.

Acima de tudo, não quero que meu texto suscite, ou o amor, ou o ódio, mas que possibilite, minimamente, uma abertura para  a reflexão.

Genial, entre outras coisas da crônica abaixo, é a afirmação de Sant'Anna de que "aos 17 anos (...) não entendia por que Bandeira ou Drummond levavam cinco anos para publicar um livrinho com quarenta e tantos poeminhas."

Vejam como a pressa caminha na direção contrária da "boa" poesia/literatura.



Eu tinha uns 17 anos. E Manuel Bandeira era, então, considerado o maior poeta do país. E com 17 anos é não só desculpável, mas aconselhável que as pessoas façam a catarse de seus sentimentos em forma de versos. Os reincidentes, é claro, continuam vida afora e podem pelos versos chegar à poesia.


Morando numa cidade do interior, eu olhava o Rio de Janeiro onde resplandecia a glória literária de alguns mitos daquela época. Então fiz como muito adolescente faz: juntei os meus versos, saí com eles debaixo do braço fui mostrá-los a Bandeira e Drummond.


Toda vez que, hoje em dia, algum poeta iniciante me procura, me lembro do que se passou comigo em relação a Manuel Bandeira. Para alguns tenho narrado o fato como algo, talvez, pedagógico. Se todo autor quer ver sua obra lida e divulgada, o jovem tem uma ansiedade específica. Ele não dispõe de editoras, e, ainda ninguém, precisa do aval do outro para se entender. E espera que o outro lhe abra o caminho e reconheça seu talento.


Ser jovem é muito dificultoso.

O fato foi que meu irmão Carlos, no Rio, conseguiu um encontro nosso com Bandeira. E um dia desembarco nesta cidade pela primeira vez vendo o mar, pela primeira vez cara a cara com os poetões da época.


Encurtarei a estória. De repente, estou subindo num elevador ali na Av. Beira-Mar, onde morava Bandeira. Eu havia trazido um livro com centenas de poemas, que um amigo encadernou. Naquela época escrevia muito, trezentos e tantos poemas por ano. E não entendia por que Bandeira ou Drumond levavam cinco anos para publicar um livrinho com quarenta e tantos poeminhas. A necessidade de escrever era tal, que dormia com papel e lápis ao lado da cama ou, às vezes, com a própria máquina de escrever. Assim, quando a poesia baixava nos lençóis adolescentes, bastava pôr os braços para fora e registrar. E assim podia dormir aliviado.


Mas o poeta havia pedido aos intermediários que eu fizesse uma seleção dos textos. O que era justo. E Bandeira tinha sempre uma exigência: o estreante deveria trazer algum poema com rima e métrica, um soneto, por exemplo. Era uma maneira de ver se o candidato havia feito opção pelo verso livre por incompetência ou por conhecimento de causa.


Abriu-se a porta do apartamento. Eu nunca tinha estado em apartamento de escritor. A rigor não posso nem garantir se havia visto algum escritor de verdade assim tão perto. E não estava em condições emocionais de reparar em nada. Fingia uma tensa naturalidade mineira. O irmão mais velho ali ao lado para garantir.


A conversa foi curta. Tudo não deve ter passado de dez a quinze minutos. Lembro que Bandeira estava preparando um café ou chá e nos ofereceu. Havia uma outra pessoa, um vulto cinza por ali, com o qual conversava quando chegamos. Bandeira se levantava de vez em quando para pegar uma coisa ou outra. E tossia. Tossia talvez já profissionalmente, como tuberculoso convicto.


Lá pelas tantas, ele disse: pode deixar aí os seus versos. Não precisa deixar todos, escolha os melhores. Vou ler. Se não forem bons, eu digo, hein?!


– Claro, é isso que eu quero – respondi juvenilmente, certo de que ele ia acabar gostando.


Voltei para Juiz de Fora. Acho que não esperava que o poeta respondesse.Um dia chega uma carta. Envelope fino, papel de seda, umas dez linhas. Começava assim: “Achei muito ruins os teus versos”. A seguir citava uns três poemas melhores e os versos finais do “Poema aos poemas que ainda não foram escritos”. Oh! Gratificação! ele copiara com sua letra aqueles versos: “saber que os poemas que ainda não foram escritos/ virão como o parente longínquo,/como a noite/ e como a morte”.


Não fiquei triste ou chocado com sua crítica sincera. Olhei as bananeiras do quintal vizinho com um certo suspiro esperançoso. Levantei-me, saí andando pela casa, com um ar de parvo feliz. Eu havia feito quatro versos que agradaram ao poeta grande.


A poesia, então, era possível.


SANT’ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras crônicas. 3 ed. São Paulo: Ática, 2000.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

RECEITA contra dor de amor - Roseana Murray


arte de Miró


chore um mar inteiro
com todos os seus barcos a vela
chore o céu e suas estrelas
os seus mistérios o seu silêncio
chore um equilibrista caminhado
sobre a face de um poema
chore o sol e a lua
a chuva e o vento

para que uma nova semente
entre pela janela adentro

do livro Receitas de olhar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

EXPERIÊNCIA - Luis Fernando Veríssimo

Nesta história nos deparamos com a intertextualidade. Todos assistimos ao filme Dr. Frankstein, em suas diferentes versões. Nos filmes há uma dose de terror e a necessidade de reflexões filosóficas, tais como: quem tem o direito de gerar a vida? Quais os limites ético-morais para a ação do homem?
Veríssimo retoma o tema do filme, que é a "criação" de um ser em laboratório, um "monstro", feito pelo próprio homem. Mas o andamento da história, e as consequências de tais façanhas, tomam um rumo diferente ao dos filmes. Ah, e os personagens da história (bem-humorada) do Veríssimo são três simpáticos loucos, mais engraçados até do que a criatura por eles criada.
Antes do contar a história para os alunos na escola, não havia me dado conta da relação com Frankstein. Os alunos de quinta série do Ensino Fundamental me chamaram a atenção para isso. 


Em vez de um, são três os cientistas loucos. Mesmo trabalhando em conjunto durante anos, os três têm dificuldades em terminar sua obra: um homem criado no  laboratório, com os restos de outros homens. Resta-lhes pouco tempo. Os camponeses estão subindo na direção do castelo, com seus archotes, para linchá-los.

Uma descarga elétrica percorre o corpo da Criatura estendida sobre a mesa. É a centésima descarga que ele recebe. Mas desta vez a criatura desperta. Abre os olhos. Estica os braços. Estica as pernas.

- Ela vive! - Exclama o primeiro cientista louco.
- deu certo! - Grita o segundo.
- Levanta-te e anda! - Ordena o terceiro.

Lentamente, a criatura começa a se erguer. Senta na mesa. Olha para os seus criadores. Um olho é castanho e o outro é azul. Tudo bem, não se pode pensar em tudo. O importante é que a Criatura está viva. Finalmente, a Criatura está viva e funciona!

A Criatura desce da mesa, dá um passo. Cai. É cercada pelos três cientistas. O que houve?
- Já vi tudo - diz o primeiro cientista, o mais gordo. - Ela tem duas pernas esquerdas. Quem era o encarregado das pernas?
- Eu - confessa o segundo cientista, o de bigode. - Errei, pronto. Mas os braços também estão errados e braço não era comigo.
- Peguei dois braços direitos de propósito - defende-se o terceiro cientista, o de óculos grossos. - Assim ela seria ambidestra e...

- Está bem, está bem. Não podemos perder tempo. Vamos substituir uma perna por um braço, e vice-versa.
- Mas aí ela fica renga.
- Na hora de bater palmas, vai cair no chão.
- No futebol, quando dominar com a direita, vai ser mão.
- Vocês deviam ter pensado nisso antes! Me ajudem a botá-la de novo na mesa. Rápido, que os camponeses já estão na porta.

A criatura é recolocada sobre a mesa. Começa a operação.
- Bisturi.
- Está aqui.
- Ai! Olha aí, me cortou...
- Desculpe.
- Pinça.
- Eu estou pensando. É que...
- "Pensa" não, Pinça!

Os reimplantes são completados. A Criatura, mesmo renga, pode andar. Mas agora a sua cabeça, inexplicavelmente, está ao contrário.

Os camponeses já estão dentro do castelo. Forçam a porta do laboratório.

- Temos que recorrer a toda a nossa engenhosidade, saber e talento - diz o cientista mais gordo. 
- Para fazer a criatura funcionar?
- Não. Para dar uma explicação aos camponeses. Afinal, há anos que eles se sacrificam pelas nossas experiências. Nos deram suas economias e seus órgãos. E só o que temos para lhes mostrar é este monstro.

Os camponeses invadem o laboratório e avançam sobre os três cientistas loucos. O mais gordo os detém com um sorriso, no entanto.

- Parem! Nós não somos os culpados.

- Então quem é?
- Bem. Em 1973 teve a crise do petróleo e...

                                                   *

Na carruagem, a quilômetros do castelo, o segundo cientista louco pergunta para o primeiro:
- O que é que a crise do petróleo teve a ver com o fracasso da nossa Criatura?
-  Nada. Mas, até eles se darem conta, estaremos na fronteira.

domingo, 30 de maio de 2010

TOMBO - Maria Dinorah

A rua ri
de meu tombo.

Henrique
ri que se rola.

João se rola de rir.

levanto
meio sem jeito
e rio
riso sem graça,

enquanto
de tanto riso
se sacode toda a praça!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

"Chatear" e "encher" - Paulo Mendes Campos


Contei esta história nesta semana na escola. Descobri que algumas profes, em outras escolas (públicas), haviam teatralizado com seus alunos do Ensino Médio. O livro que garimpei na biblioteca é da década de oitenta, da coleção Para gostar de ler, da Editora Ática. Saudosismo à parte, esta coleção de fato nos levou a gostar de ler, e hoje continua a despertar na gurizada o gosto pela leitura. Não tem como negar: com muito amor pelos livros, e com o olhar atento ao nosso redor, podemos despertar muitíssimo as crianças e os jovens para a descoberta dos livros e da leitura.



Um amigo meu me ensina a diferença entre "chatear" e "encher".



Chatear é assim: você telefona para um escritório qualquer na cidade.


- Alô! Quer me chamar por favor o Valdemar?


- Aqui não tem nenhum Valdemar.


Daí a alguns minutos você liga de novo:


- O Valdemar, por obséquio.


- Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.


- Mas não é do número tal?


- É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.

Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:


- Por favor, o Valdemar já chegou?


- Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?


- Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.


- Não chateia.

Daí a dez minutos, liga de novo.


- Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado?


O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.

Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:

- Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou para mim?



quinta-feira, 27 de maio de 2010

COMEÇAR DE NOVO

Queria trocar o ranger de dentes
da escada rolante dos compromissos
pela harpa e suas cordas dedilháves
que acalmam os ouvidos.

Abolir os roncos
de lábios sedentos
raspando a lata de refri
com a flauta de um canudinho.

Queria libertar-me
dos toques de celulares
que atropelam as horas
como um sino
e espantar a cacofonia
das conversas diárias
como estrondo
de terremoto
imprevisto.

Gostaria de reaprender a ouvir
como se fosse a primeira vez
e como se fosse pra nunca mais.

Beber gole após gole
novos acordes
e notas musicais. 

terça-feira, 25 de maio de 2010

A MORTE DA TARTARUGA - Millôr Fernandes

O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi ao quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino. "Cuidado, senão você acorda o seu pai". Mas o menino não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria, queria aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra, mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu animalzinho de estimação.
Afinal, com tanto choro, o pai acordou lá dentro, e veio, estremunhado, ver de que se tratava. O menino mostrou-lhe a tartaruga morta. A mãe disse - "Está aí assim há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei mais o que fazer. Já lhe prometi tudo mas ele continua berrando desse jeito". O pai examinou a situação e propôs: - "Olha, Henriquinho. Se a tartaruga está morta, não adianta mesmo você chorar. Deixa ela aí e vem cá com o papai". O garoto depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou garoto no colo e disse: - "Eu sei que você sente muito a morte da tartaruguinha. Eu também gostava muito dela. Mas nós vamos fazer para ela um grande funeral". (Empregou de propósito a palavra difícil). O menino parou imediatamente de chorar. "que é funeral?" O pai lhe explicou que era um enterro. "Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa bem bonita, bastante balas, bombons, doces e voltamos para casa. Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o "Happy Birth-Day-To-You"pra tartaruguinha morta e você assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra em cima com o nome dela e o dia em que ela morreu. Isso é que é funeral! Vamos fazer isso?" O garotinho estava com outra cara. "Vamos papai, vamos! A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar ela". Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal. "Papai, papai, vem cá, ela está viva!" O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. A tartaruga estava andando de novo, normalmente. "Que bom, hein?" - disse - "Ela está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!" "Vamos sim papai" disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande - "Eu mato ela!"...

domingo, 23 de maio de 2010

FLORES E BORBOLETAS


À noite



desligo o celular


e os outros laços


que me prendem


à vida real.






Desejo que a memória


não me abandone


se algum pesadelo me raptar.






Mesmo que a noite insinue vários perigos


faço viagens a lugares desconhecidos.






O melhor de tudo é despertar


com flores e borboletas


para poder cruzar


a barreira dos sonhos.






Elas vão me aquecer


quando a solidão


for de doer.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

LABIRINTO - Hermínio Bello de Carvalho


Acho bonito falar alemão.
Por isso, talvez, eu não queira aprender a falar alemão.
Se eu falasse alemão
as pessoas iriam dizer, simplesmente, "ele fala alemão"
e aí perderia toda a graça.
A graça está em achar bonito falar alemão.

Por isso, às vezes,
eu deixo de fazer algumas coisas.
Deixo de dizer que te amo
porque dizer que te amo soaria como uma banalidade
  a mais
nesse mundo cheio de banalidades.
E simplesmente me calo, deixo a barba crescer,
escrevo poemas para depois apagá-los de minha lembrança
e esqueço coisas que seriam inesquecíveis
simplesmente porque perdi a capacidade
de reter as coisas boas em minha memória.


Do livro Trem de Alagoas e Outros Poemas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SEMAFORO

Ficar ou ir em frente.
Eis a dúvida.

Ela sorri
mas seus lábios
não se movem.

Parecem dizer:

- Até quando você
vai ficar aí parado?

Ovelha desgarrada

  Manhã de domingo, Beiço deu as caras: – Velho. Andei pensando. Está na hora do Cadelão parar de cair nas sarjetas próximas a bares para ...