Penso na educação
ideal. Penso muito sobre isso, afinal sou pai e professor.
Penso na idade ideal
para se alcançar a aprendizagem ideal. Repito tanto a palavra “ideal” porque é
esse o objetivo (e sonho) de nós adultos.
Alguém já perguntou às
crianças sobre qual é o seu ideal?
Abrimos um pouco mais
os olhos, tentamos outros ângulos de observação, e percebemos chocados que a
gurizada pouco está ligando para esse ideal dos adultos. Então, esperneamos e
chegamos à conclusão (meio resignada) de que o futuro deles vai ser uma
catástrofe.
Outro dia um pai queixou-se do seu filho, de 12 anos
de idade. As velhas e conhecidas dificuldades: notas baixas, repetência de ano,
déficit de atenção, enfim, o menino manifesta grande indiferença para com a
escola.
Com sofrimento desenhado pelos pés de galinha em
torno dos olhos, o pai desfiou uma ladainha de preocupações a respeito do
futuro do rebento. O menino não serve pra nada, é um inútil – e essa conclusão é
reforçada ao comparar a “performance” de seu filho com o desempenho de alguns
filhos de amigos e vizinhos.
Os pais sonham e projetam nos filhos, muitas vezes,
aquilo que eles não alcançaram. E investem, inclusive boa grana, para que os
filhos realizem o que eles não puderam realizar.
Parece-me cada vez mais comum: quanto mais a
família, a escola e a sociedade apertam o cerco, impondo regras de utilidade,
mais se fazem notar crianças e jovens “inúteis”.
Nessas horas vemos coisas interessantes. A criança
pode ter déficit de atenção e aprendizagem, mas não de alegria e de poesia. E
procura ganhar fôlego indo à biblioteca, e mergulhar nas histórias dos livros,
para respirar um ar mais leve.
Porém nós adultos, obcecados pela ideia de
utilidade, não percebemos esses sintomas – e um deles é o de rejeitarem esse
alimento que não lhes apetece. E é por isso que a escola esperneia, tentando
empurrar goela abaixo aqueles saberes que podem ser “úteis” a esse modelo de
sociedade, mas que dão pouco prazer a quem deles se alimenta.
No fundo no fundo, estamos bastante desamparados.
Pais, professores, crianças e jovens. E então nos agarramos com desespero à
primeira corda de salvação que nos jogam. Carentes de luzes (próprias) que
mostrem quais possíveis caminhos escolher, agarramos com unhas e dentes o que a
sociedade utilitarista oferece. Com muita renúncia, estresse, e quase nenhum
prazer.