Viajamos no tempo,
chegamos à pré-história,
somos estranhos, nos entreolhamos,
não compreendemos que nossos braços e pernas
são bárbaros,
as ferramentas são rústicas,
não sacamos nada porque não temos cérebro.
A linguagem é simples,
hu, hu, hu, roncos, peidos e arrotos
em nossas cavernas
ao redor de fogueiras.
Nada de mães dominadoras,
nada de pais perdedores e fracos,
ou ausentes batalhando por aí.
Nossa labuta é simples,
continuarmos vivos amanhã.
Édipo não é mito,
sexualidade é o que é,
nenhuma teoria ou conceito
para nos alarmar.
Afinal, cérebros não há,
religiões não há...
É o maior barato
viver sem sentimento de culpa
herdado de bandeja de culturas cristãs, judaicas,
ou de descendentes de europeus etc., etc.
Nenhum mal-estar por causa de conceitos
tais como "justiça", "bem", "mal",
"Deus",
"amor", "propriedade", etcétera e tals...
Acordei num salão de beleza
nu como vim ao mundo,
cabelo e barba
há décadas por fazer.
Uma luzinha me disse que era hora
de desbastar cabelos e pelos
de minha cara
e cuidar com mais carinho
do meu cérebro.
A cabeleireira narrava-me um sonho
que teve dias atrás.
Tinha a ver com Platão,
e como o filósofo discorria sobre o conceito "amor".
Depois de algum blá, blá, blá,
a garota disse que curtia ser andrógina...
Simpatizei com o conceito,
e na hora intuí que ele
poderia ser aplicado
a qualquer orientação sexual.
Um dia ainda vou superar os traumas
que me afastam dos conceitos
(será que conseguirei expurgar tantos recalques?)
vou levar meu cérebro a um mecânico
e vou tentar compreender
as diversas formas
de amar.
(B. B. Palermo)