sexta-feira, 30 de outubro de 2009
MÁSCARA
Olhar misterioso que veio
disfarçar o seu medo
para gravar
numa caligrafia
insinuosa
a embriaguês
das pernas
quadris e ombros
estremeço como um réu
diante do seu olhar
apenas a minha máscara cai.
Agora sou super-herói
aniquilado pelos vilões
que farão parte
da próxima aventura.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
METADES
Metade de mim quer conquistar
o outro lado do muro
a outra metade quer ficar
e modificar o passado.
Uma aposta na experiência
a outra aposta no futuro.
Olho o horóscopo
e meu signo diz
que o período é excelente
para conversas fáceis
e encontros amorosos.
Tenho coleções de senhas
tenho coleções de chaves
e, no ritmo do possível,
jogo todos os jogos.
Sei de cor
onde vão dar
esses labirintos.
Agora é final da madrugada
e o despertador afugenta
os sonhos das duas metades
e silencia as outras metades
que invento.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
DO LIVRO "TUDOS" - Arnaldo Antunes
Estou cego a todas as músicas,
não ouvi mais o cantar da musa.
A dúvida cobriu a minha vida
como o peito que me cobre a blusa.
Já a mim nenhuma cena soa
nem o céu se me desabotoa.
A dúvida cobriu a minha vida
como a língua cobre de saliva
cada dente que sai da gengiva.
A dúvida cobriu a minha vida
como o sangue cobre a carne crua,
como a pele cobre a carne viva,
como a roupa cobre a pele nua.
Estou cego a todas as músicas.
E se eu canto é como um som que sua.
não ouvi mais o cantar da musa.
A dúvida cobriu a minha vida
como o peito que me cobre a blusa.
Já a mim nenhuma cena soa
nem o céu se me desabotoa.
A dúvida cobriu a minha vida
como a língua cobre de saliva
cada dente que sai da gengiva.
A dúvida cobriu a minha vida
como o sangue cobre a carne crua,
como a pele cobre a carne viva,
como a roupa cobre a pele nua.
Estou cego a todas as músicas.
E se eu canto é como um som que sua.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
LIBERDADE - Fernando Pessoa
Ai que prazer
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
esperar por D. Sebastião,
quer ver ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar, e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca...
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
esperar por D. Sebastião,
quer ver ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar, e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
ALEGRIAS E TRISTEZAS
De vez em quando eu tenho uma tristeza.
Acho que é porque eu fico só.
Meus amigos fogem da minha agenda
e dizem que estão exaustos
numa rotina de dar dó!
Eu tenho a companhia de uma folha em branco.
É daquelas que aguardam, pacientemente,
A visita de dona inspiração.
É meu diário.
Não, não é festa, som alto,
brindes, piadas e outros encontros.
É pôr do sol, céu estrelado
e muito silêncio.
Nessa hora,
triste por ser refém
da deusa da beleza,
encontro algumas palavras
e também, com alguma sorte,
alguns versos e um pouco de amor!
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