Se não tenho certeza de que o que penso seja verdade, devo deixar de opinar?
Mas a opinião não se emancipou da verdade?
A verdade é propriedade da tradição?
Nossos pais, avós, especialistas, autoridades, detêm exclusividade sobre ela?
Einstein, aos vinte e quatro anos, revolucionou, na sua época, a teoria física. Efetuou uma ruptura com a tradição. E a verdade precisou então olhar para frente, e dar um grande giro sobre suas bases anteriores de sustentação.
Hoje, o filósofo alemão Habermas diz que devemos efetuar um “giro lingüístico”. Quer dizer, mais comunicação, entendimento verbal com os outros, sem a muleta da autoridade e da violência. Claro, com a luz da lanterna apontando para o horizonte da clareza e coerência dos argumentos.
Habermas propõe um "agir comunicativo" que não seja refém dos personalismos, egoísmos, idiossincrasias.
Se a verdade depender dos especialistas, até que ponto não estaremos fritos (até no sentido do aquecimento global, por exemplo...)?
É que os especialistas têm um conhecimento profundo, mas estreito. Ao se especializarem, abriram mão de uma visão da totalidade, desejando a profundidade.
O problema é que as questões que envolvem nosso papel e lugar nesse tempo e espaço não dependem dos especialistas, mas da discussão pública em busca de soluções para os problemas que não são individuais, e sim globais.
Obviamente, a comunicação virtual tem andado apressada, com suas diversas faces, côncavas e convexas. Mesmo rasteira e simultânea, não vacila em abordar temas polêmicos e/ou complexos, que inflamam nossas paixões.
Muitas abordagens parecem mais “abortagens”, discursos prematuros, meio pré-refletidos.
É que a comunicação virtual mexe, provoca, nossos impulsos de parecer/aparecer, isto é, queremos ser notados – e o quanto antes melhor.
Há um descompasso: o tempo virtual é instantâneo, embora acionado pelo tempo subjetivo (nossa consciência). Mas esta precisa, necessariamente, de tempo para pensar.
Para ela decidir, a consciência, é fundamental que pare para pensar– como diziam nossos pais: conte até dez, para não agir levado pelo impulso.
Assim... vamos abrir o olho para não sermos escravos da tradição, dos especialistas e das idiossincrasias ultracrepidárias!