quarta-feira, 13 de julho de 2016

José - Drummond


Bela contribuição da MPB para a poesia brasileira...


Poema do Menino Jesus - Alberto Caeiro


Alberto Caeiro, heterônomo de Fernando Pessoa, busca com sua poesia uma visão original da natureza, sem o véu da linguagem (sem se apoiar no sobrenatural ou no místico). Para o poeta, "pensar é estar doente dos olhos"; e "conhecer é nunca ter visto pela primeira vez".


Memórias do subsolo - Fiódor Dostoiévski


Literatura totalmente filosófica. Nele está a visão de mundo do autor. Quando Nietzsche localizou Memórias do subsolo numa livraria, ele vibrou. Sua filosofia também está contida neste livro.



segunda-feira, 11 de julho de 2016


Acho que Fernando Pessoa sacou o que todos nós, num dia qualquer, vamos sentir.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?



Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


domingo, 10 de julho de 2016

Na fila do banco


Observo as testas franzidas, olhares tristes e apreensivos, na fila do banco. Mesmo que resultem angustiadas, as pessoas precisam se ocupar. Ter dívidas, negócios complicados, sonhos adiados.
Se tiverem muito tempo para o ócio, para ler e pensar, definharão no tédio, perguntarão pelo sentido da vida. Talvez, então, acenda a luz da desconfiança, de que não há um sentido. Se assim for, é bem provável que disparem as estatísticas de suicídios.
Mantenha o povo ocupado. Noventa por cento com muito trabalho e pouco salário.
Desperte na massa o desejo de alimentar alguns sonhos. Apresente a ela astrólogos, padres e pastores, pensadores de autoajuda. De acordo com o sábio mercado, neste mundo tudo pode ser vendido. Como num afago ou aperto de mão, parecendo fazer um favor, ofereça ao rebanho fartos pacotes, programas e produtos.
A publicidade deve bater nas mesmas teclas: “Não desista dos sonhos!” a cada ano adiados, do prêmio na loteria, do troféu do clube de futebol favorito, de um Ano Novo feliz. De que, com sangue, suor e lágrimas cada um vai chegar lá.

Quando presto atenção nas testas franzidas e nas carinhas tristes na fila do banco, tenho vontade de chorar. Ou, talvez, isto seja sinal de que preciso identificar meu rebanho e me ocupar.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...