domingo, 10 de julho de 2016

Na fila do banco


Observo as testas franzidas, olhares tristes e apreensivos, na fila do banco. Mesmo que resultem angustiadas, as pessoas precisam se ocupar. Ter dívidas, negócios complicados, sonhos adiados.
Se tiverem muito tempo para o ócio, para ler e pensar, definharão no tédio, perguntarão pelo sentido da vida. Talvez, então, acenda a luz da desconfiança, de que não há um sentido. Se assim for, é bem provável que disparem as estatísticas de suicídios.
Mantenha o povo ocupado. Noventa por cento com muito trabalho e pouco salário.
Desperte na massa o desejo de alimentar alguns sonhos. Apresente a ela astrólogos, padres e pastores, pensadores de autoajuda. De acordo com o sábio mercado, neste mundo tudo pode ser vendido. Como num afago ou aperto de mão, parecendo fazer um favor, ofereça ao rebanho fartos pacotes, programas e produtos.
A publicidade deve bater nas mesmas teclas: “Não desista dos sonhos!” a cada ano adiados, do prêmio na loteria, do troféu do clube de futebol favorito, de um Ano Novo feliz. De que, com sangue, suor e lágrimas cada um vai chegar lá.

Quando presto atenção nas testas franzidas e nas carinhas tristes na fila do banco, tenho vontade de chorar. Ou, talvez, isto seja sinal de que preciso identificar meu rebanho e me ocupar.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Esqueça a tocha, pense no poeta


Depois de algumas taças de vinho barato, versos embalam minha cabeça e acordam deus Baco. 
Igual a vocês, também não me safo. 
Gostaria de ser exibido e bajulado como a Tocha Olímpica. 
Ser motivo de tantos elogios, manchetes e cliques, e circular a cada quatro anos pelas esquinas enfeitadas do planeta. 
Ela jamais voltará ao país, ao menos enquanto estivermos vivos. 
O cometa Halley retorna, mais ou menos,  a cada setenta e cinco anos. 
A Tocha, talvez, demore muito mais. 
Então, curta, vibre, se ela passou perto de você.
Mas é tanto tempo de TV, espaço no jornal, tanta repetição das histórias desse Olimpo, que o poeta prefere se retirar...  
Um ímã existencial atrai meu olhar para mendigos, refugiados, favelas e suas mazelas, órfãos nos abrigos e animais abandonados. 
O poeta não perdeu sua memória, por isso engole as lágrimas durante o show. 
Boa parte da humanidade perambula, cega, muda e surda. A vida esperneia pra se fazer notar. 
Muitos isso poderiam ser aquilo. 
Transforme água em vinho e salve o poeta. 
Faça um milagre. 
Ou peça pra ele se refugiar. 
Nada de flaches e manchetes, fotos e vídeos. 
Deixe-o viver sua arte mais sublime: vomitar.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Escravos da realidade


Queria um amor que transbordasse.
Amor para acalmar a secura dessas fontes.
Apressado, mergulhei em amores de água rasa
ridículos, como cartas de amor pessoanas.
O amor veio de uma outra melodia.
Alucinado, esse amor rasante me fez escrever,
depois de muitos anos, breves livros de poesia.
O amor roubou meu tempo
tamanha a vontade de eternidade.
Porém, a necessidade do "eu te amo"
deixou-nos escravos da realidade.

domingo, 19 de junho de 2016

Forever



Dizem que o boom da vida
é ter rodas esportivas
e passear a todo som.
Mas a top realidade
anda frágil de amor.

Não acredito no forever
porém há séculos estacionei 
no teu olhar.

Óvnis estão chegando 
e sua verdade é um mistério,
não sei se vamos nos dar bem.

Parece haver harmonia 
em vários sóis
e iremos de cá pra lá
como vamos a um jardim.

A ficção científica é real
mas não consigo viajar
nesse futuro redentor.

Gabaritei astronomia
devorei ufologia
e na minha biologia
flor é semente e flor.

Na retina do meu olho
a paixão botou ferrolho
e não consigo escapar
desse sonho milenar
de que você é meu amor!


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Dar de ombros


Já estava sem sede
e a vida não é só balada
mesmo tarde se entende
que sofrer não leva a nada.

Em vez de cair na rede
vá nadar em outras águas
com o tempo você aprende
a escutar sem dar palavra.

Apenas um dar de ombros
um dane-se foda-se
e mais nada!


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...