quinta-feira, 9 de junho de 2016

Emoticons


Não quis ser indireto com ela. Não sei usar truques. Falei do mau tempo e que no meu reino as condições climáticas são imprevisíveis. Tentei obter pelo menos um Oi na conversa no facebook. Como seu silêncio me oprimia, escrevi Desculpe. Alguns segundos depois visualizei sua resposta. Um sinal positivo.
Ela é que foi direta, poeta. O mundo pipoca emoticons e você ainda vive tagarela. Quem se vira com suas emoções, economiza palavras.
Poeta, você não tem o direito de pensar que ela tem uma tristeza nervosa. E o mundo significa emoticons, só você não vê. E muitas garotas se atrapalham num oceano de emoções e não verbalizam aquela insegurança latente. Sossega, poeta, ela deve estar pensando Como anda solitário esse projeto de adulto infantil.
Ela não se tocou que o que senti podia ser amor. E amor, hoje em dia, significa tanto. Mas não delire. Você devaneia porque ficou frustrado. Enquanto esperava um coraçãozinho vermelho apaixonado, ela clicou no emoticon positivo.
Enganos acontecem todo os dias. Você se convenceu de que os poetas, bem como a fauna e a flora, estão em extinção. Ridículo. Você apenas não suportou a sinceridade de um emoticon.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sábado, 4 de junho de 2016

Mantra


Penso nela e tenho uma puta coceira no nariz. A música salta na mente quando respiro devagar. Entoo um mantra e ela começa a desfilar. Respiro fundo relaxo e brotam peitos e bunda de lutadora de Muay thai. Estou perdido é certo por onde vou ela vai. Expia atrás das gôndolas do supermercado com lábios de batom exagerado a me chupar. Sou prisioneiro de um ciclo vital. Mais punheta mais insônia e sua bunda a desfilar. Respiro fundo relaxo e o mantra é Vem! Vem! Vem! Morro de vergonha por ser escravo dessas ideias num frio sábado de manhã. Enquanto isso a humanidade transpira velhos ideais. O marido penetra a esposa que não consegue gozar. Sua mente elabora a lista do supermercado e o presente que vai comprar pro aniversário do afilhado. Preciso arejar meu quarto botar as coisas no lugar. Aprisionar as masturbações e começar a meditar. Mostrar pra todo mundo que sou um cara feliz e que já deixei pra trás a coceira no nariz. É tanta ideia que surge até poderia ser poeta inovador. Mas hoje estou paralisado debaixo do cobertor. A comunidade me censura porque digo palavrão. Mas não consigo ser igual padre num domingo de manhã. Não sou comerciante prefeito ou vereador. Sou apenas xexelento aprendiz de sonhador.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador) 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Do lado de cá


Caminhei pelas ruas da cidade e cães estressados me xingaram atrás de altas grades. As cercas elétricas e os jardins cinzentos derrubam meus sonhos e esvaziam pensamentos. A betoneira da construção em frente me sacode no entardecer: preciso encontrar o que fazer quando crescer!
Em todas as ruas da cidade, cães raivosos me perseguem atrás de altas grades. Eles do lado de lá, eu do lado de cá. Do lado de fora não sei quem está.
Meus olhos e mente não mais se iludem: eu e todos os cães da cidade perdemos a alma e a dignidade!

Depois que decidir o que fazer quando crescer e agradar todo mundo – ser médico, administrador ou advogado – acatarei a vida com maior paciência, quando acabar essa adolescência.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Morre, diabo!


Diz um amigo:
Meu calvário 
foi
não ir pro seminário
masturbar de manhã cedo
ter muitas paixonites e amigos
e crescer longe 
dos livros.

Desse amigo 
sou o avesso:
quase sempre endiabrado
palidamente vermelho
fazendo caretas 
diante do espelho.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador) 

terça-feira, 31 de maio de 2016

Havia no ar um clima


Havia no ar um clima
de rebeldia 
e de saudade
do bom humor
de uma neblina densa
que dá lugar ao sol

um clima 
de miragem
vai dedetizar
as traças
da politicagem

a vergonha na cara
deu lugar a um clima
de apertos de mão
e rima

um clima de impaciência
com a foda malandragem
clima de quem quer fazer 
do cotidiano
necessária 
reciclagem.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...