terça-feira, 3 de maio de 2016

Os livros e o custo das coisas


Estou lendo um livro do filósofo americano Thoureau, que tem como título Walden. É um daqueles livros que te pega na veia, quando buscamos respostas sobre o que é realmente importante na vida. Para quem pensa em levar um cotidiano simples, sem muito apego às coisas, já que as coisas que nos rodeiam (dependendo de como lidamos com elas) podem nos tirar a liberdade, diz Thoureau: "O custo de uma coisa é a quantidade do que chamo de vida que é preciso dar em troca, à vista ou a prazo".
Dias atrás conversava com um amigo sobre o livro de Thoureau. Disse-lhe que suas ideias confirmam o que venho intuindo sobre o que considero importante fazer no resto de tempo que me resta. Pensei estar exagerando, pois Walden foi escrito em 1854. Foi aí que meu amigo disse que a leitura desse livro "salvou" sua vida. Atravessava uma fase crítica, não via um sentido para continuar a viver. Foi do encontro com as ideias de Thoureau que ele reviveu.
Ontem, em certo momento da leitura do livro, Thoureau confirma o que meu amigo sentiu. Vejam o que ele diz:
"Nos livros, provavelmente, existem palavras exatas sobre nossa condição, as quais, se realmente conseguíssemos ouvir e entender, seriam mais saudáveis para nossa vida do que a manhã ou a primavera, e possivelmente dariam um novo aspecto à face das coisas que vemos. Quantos homens marcaram a data de uma nova época em suas vidas com a leitura de um livro! Talvez exista o livro que nos explique nossos milagres e nos revele outros" (Walden, p. 110).

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Poesia, é o que temos para hoje


Faz uma semana que ela te deixou e você ainda não arranjou um novo amor. Para sublimar a dor você viajou na poesia. Escreveu rimas breves e líquidas, como o amor que você sentiu na carne ou viu nas novelas.
Novo sonho, outra perspectiva no olhar, agora você aborda as pessoas nas ruas, praças, feiras e shoppings. Você grita, para plateias apressadas, dizendo que há pouca sensibilidade, pouca vogal, rimas e gramática. Devora Drummond, Pessoa, Adélia Prado, inclusive o diabo, dorme no máximo cinco horas por dia.
No jantar teu amor flertou com outra, o mundo veio abaixo, nada mais fez sentido. 
Nas festas e feiras todo mundo quer beber e dançar canções simplórias e repetitivas, de dor de corno e sexo parcelado a juros altos, sem dar a mínima pra poesia.
Mas você não pode perder o foco. Tens de ser a número um. A sociedade competitiva e sua meritocracia está de olho em você!
Vai, seja o topo da pirâmide social. Tens um nome e talentos a revelar e, se Deus quiser,  o mundo logo vai aplaudir.
Engole o choro, guarde na gaveta o teu sentimento em forma de poema, providencie roupas de marca, retoque a maquiagem e grite para quem quiser ouvir: "Poesia... É o que temos para hoje!"

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

Imagem do designer polonês Igor Moroski, do site http://www.equilibrioemvida.com/2016/04/designer-cria-imagens-que-nos-convidam-a-filosofar-sobre-a-vida-moderna/.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Início de inverno


Quanto mais você quer que ele fale, mais ele se cala. Curioso pelo seu comportamento perto do inverno, pergunto aos plátanos, quando saio a caminhar.
Com o olhar, pergunto às garçonetes, que insistem em satisfazer minha gula de anjo. Mas de anjo não tenho nada, pois ando curioso com o movimento de suas ancas e pernas, quando sorriem para os clientes em cada mesa que passam.
Minhas perguntas silenciosas dirigem-se aos dramas da amiga que conheci a poucos dias. Mas o que ela sente não tem nada a ver com a profusão de minhas tristezas.
Olho pra todo lado pra evitar olhar o centro. Mas este desliza, torna-se oco. O que se esconde por lá?
Minha gata simplesmente sumiu. O ambiente está abafado, as contas descontroladas, na última semana de abril.
Um conhecido diz que sua prole aumentou. O medo do câncer também. O medo dos agrotóxicos e do excesso de luz.
Um quilinho a mais, o esforço ladeira abaixo.
O conselho da amiga, tão singelo e ingênuo.
Quanto mais você quer falar, mais você se engasga.
Quanto mais você quer emagrecer, mais você engorda.
Devem ser bons presságios, ou sinais imperceptíveis do inferno. Ou, quem sabe (tomara), bons fluidos que sopram com os primeiros frios deste inverno.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sábado, 23 de abril de 2016

Amada amante...


ET - É a bela, recatada e do lar?
TECO - Não. A outra. 
Para o bem da tradição, da família e da propriedade.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

terça-feira, 19 de abril de 2016

Don Juan

Eu sou a alegria da dona de casa, que dedicou sua vida a criar filhos e cuidar do marido.
Sou a esperança daquelas que abriram mão de realizarem suas mais loucas fantasias.
Eu sou o delírio do amor tardio cheio de recompensa.
Desperto as garotas para salão de beleza, academia, a parcelar cremes e perfumes, fazer ioga e massagens, atualizar o dízimo na casa de Deus.
Abro as portas das livrarias para que elas comprem livros que ensinam a arte de ser feliz e de como ter uma alimentação saudável, uma mente saudável, e as estimulo a que decorem as rezas dos gurus da autoajuda.
Abandonei a missão de inventar a minha ficção para ajudá-las a insuflarem a sua.
Deixei de ser fixo, de partir de um ponto fixo, de ter ideia fixa. O que me fixa agora são os movimentos da sua paixão.
Não sei se vai ter segundo tempo. Eu sou o juiz padrão Fifa que deixa o jogo correr.
Eu sou o santuário onde elas rezam. O santo do altar, as velas perfumadas.
Eu sou o tempo da Quaresma, o tempo da Novena, o templo da vitrine do shopping.
Eu sou o apelo para um telefonema na manhã seguinte dizendo “amor, senti tua falta”, “amor, pensei o tempo todo em você!”.
Eu sou a noite mal dormida impichado pelo ciúme febril, as unhas roídas pela alta voltagem do medo de ser abandonado.
Eu sou as fantasias que elas repetem e oscilam como o pêndulo.
O tempo passa, o tempo não passa, e a dor é incompreensível, nasce num lugar e se sente noutro.
E se eu estiver blefando?
Em vez de ser “o cara”, se eu fosse o vírus da gripe, o inseto da zika, o corrupto inocentado, se eu fosse um verme à espera da tua morte para corroer tuas carnes de maneira impiedosa, se eu fosse o Deus tão proclamado, ou um reles mortal pecador promíscuo irresponsável, você me destituiria do cargo?
Muito prazer. Na minha fantasia, sou Don Juan.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...