domingo, 24 de janeiro de 2016

Rádio Batuta


Vai o link de um site com literatura em voz alta. Ouvir poesia, crônica e outros textos em voz alta é uma experiência gratificante. Vale a pena experimentar...

http://www.radiobatuta.com.br/Episodes/view/210

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Xantipa me adotou


Quando ela me adotou, estava desanimado, gordo e sem autoestima. Não vislumbrava qualquer perspectiva a respeito do futuro. Viciado em smartphone, facebook e watshapp, demorei para descobrir que a serventia destas ferramentas digitais era nos distrair daquelas coisas que realmente são interessantes.
Se na primeira vez que ela veio senti algo estranho, por ela ser magricela, descuidada e sozinha, já no dia seguinte invadiu-me um sentimento de culpa por não lhe servir ao menos um prato de comida.
Com o passar dos dias mapeei seus pontos fracos. Bastou acariciar seu pescoço e seios. Tinha no olhar e no jeito de se comportar a súplica por um carinho. Vacilei... Mas o que pode fazer um poeta diante de uma gata tri-liberal?
Mão-de-vaca, comecei a fazer cálculos, relutante em sustentar a gatinha com cama, mesa e banho, remédios e vacinas. Até duvidei de sua fidelidade, pois tinha hábitos noturnos, como outras gatas por aí. Porém, embora capitalista insensível, à noite matutei sobre o nome que lhe daria.
Sim! A batizaria de Xantipa. Era como se chamava a esposa do filósofo grego Sócrates, o qual preferia estar no meio de jovens, discípulos e amigos, em vez de cuidar da mulher e dos filhos. É compreensível, pois ele tinha lá sua missão...
Lembro de um tio que era apaixonado por uma loira de olhos azuis. Toda noite ela o procurava. Cúmplice, ele deixava aberta a basculante do banheiro, e ela adentrava pra lhe fazer companhia e alegrar o seu lar, bebericando uma taça de leite. Filósofo, meu tio homenageou sua loira com o nome da esposa de Sócrates. Histórias sempre se repetem e também acabam no final. Xantipa, companheira de meu tio, da mesma maneira que o filósofo Sócrates, morreu por causa do veneno.
Um acontecimento me deixou espantado, e fez com que mudasse meu conceito a seu respeito. Certo dia servi-lhe iscas de tilápia. Tive a intuição de que ela adorava peixe. Para minha surpresa, ela não comeu. Mas bastou uma distração e ela recolheu a comida e se deslocou para um lugar qualquer. Matutei: será que tinha filhos? Até desconfiava, pois suas tetinhas andavam meio caídas. Três criaturas brotaram do escuro da noite. Observei, de longe, para não espantar a novidade que surgia diante dos olhos.

Eu não conquistara apenas uma gata. Era ela e três filhotes. Mas eis que, agora que todos fomos apresentados, surge o primeiro drama. Durante o ano planejei uma viagem. Mochila às costas, pouca grana, vontade de conhecer uma aldeia qualquer. Adiando o sonho maior de juntar grana suficiente para conhecer Atenas, a cidade onde o grande filósofo fez história... E agora, enquanto eu viajar, quem vai alimentar e matar a sede de Xantipa e suas crias?

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

De marca do


não sou ninguém homem marca parte de um todo nenhuma parte todos os gêneros estranho número amarrado à teia enlaço estranhos nós de marca do por todo lado me sinto só

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
* Imagem do site http://www.equilibrioemvida.com/2015/12/16-ilustracoes-que-retratam-o-pior-lado-da-sociedade/

domingo, 10 de janeiro de 2016

Todo mundo sabe


Todo mundo sabe que sou louco. Pais, amigos, até o padre da província. Louco, quando não estranho as minorias saírem da caverna em busca do sol. Quando não me zango com casais homo e hétero passeando numa boa, falando da disparada do dólar, da nova cor do cabelo ou do pôr-do-sol.
Todo mundo sabe que sou louco, quando olho com desdém àquilo que é normal, e medito guiado pelos cavalos alados que conduzem minha carruagem, numa cruzada pelo espaço sideral. O ar que vagarosamente sai e entra de meus pulmões é uma luta corporal pela escolha entre a razão e a sabedoria, ou a preguiça e os vícios, atento a tudo o que disse o filósofo.
Todo mundo sabe que sou louco, quando fico paralisado a observar, no meio da balada, a máscara por trás de um rosto.
Louco, em vez de fake ou ghost, pateta que conversa com os postes da avenida. Louco, como a lâmpada preguiçosa no alto do poste, com pouca vontade de luz.
Louco, digo que todas as coisas são fingidas, como a lua que, nesta altura da noite, escala o prédio em frente e se aproxima para dividir comigo suas manias.
Não sou ghost nem fake. Apenas trituro meu tempo no vídeo-game e no face, devorando páginas de humor que desdenham da seriedade dos mortais.
Louco, que não tem tempo para pirar de vez. Para o desconsolo das autoridades e das forças débeis da cidade.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Grave

Começa janeiro e as cigarras estão graves. Sua voz, sua ânsia e som. Grávidos, como outros janeiros e a gestação do ano novo. Cigarras vêm e passam, são e deixam de ser, enquanto vivo por aqui com esse medo louco de morrer. 
Chegou janeiro e as cigarras estão grávidas. Elas devem morrer pra vida continuar...
Amigo, pensas que hoje o poeta anda melancólico. Mas não. Ele apenas observa a realidade. Com toda a gravidade que ela nos dá.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...