terça-feira, 25 de agosto de 2015

O enforcado - Lendas e fábulas do Brasil


Era uma vez um homem que veio de longe, apoiado a um bordão, como um peregrino, e que, como um peregrino, trazia sandálias de couro e roupas em farrapos. Andou dias e dias, noites e noites, semanas e meses a fio, buscando sabe Deus o que.
Certa vez as sombras da noite o alcançaram em pleno descampado e ele não saberia dizer se estava longe ou perto de uma cidade, porque uma alta montanha em frente lhe fechava o horizonte. E então, cansado de andar, vendo uma árvore copada, no campo, resolveu nela passar a noite. Descalçou as sandálias, subiu agilmente pelo tronco, acomodou-se entre os galhos e adormeceu, como as aves.
Em torno era tudo silêncio. Pouco a pouco, os animais noturnos, silenciosos, saíram de suas tocas e iniciaram a caça pelos arredores.
Era tarde já, quando o homem acordou com um rumor de vozes humanas. Depois, ouviu um longo canto, e, erguendo a cabeça que tinha apoiado à forquilha formada por dois galhos, viu ao longe pequeninas luzes que ondulavam com o vento, endireitavam-se, iam de um para o outro lado, porém caminhavam, evidentemente, para o lado onde ele estava.
- Que será? – pensou, com um arrepio na espinha.
Ao aproximarem-se, reparou que eram homens vestidos com longas camisolas brancas e que levavam velas acesas. Na frente caminhava um padre, com uma cruz nas mãos.
O homem empoleirado esfriou.
- Será procissão das almas? – pensava, batendo os dentes de medo. Decidiu permanecer imóvel, para que não percebessem que ele estava ali.
Qual não foi, porém, o seu espanto e o seu susto, quando os homens pararam justamente sob a árvore, onde ele estava, e um deles falou:
- Qual de nós vai subir à árvore para trazer o homem?
Viu que eles se entreolhavam e que nenhum parecia disposto; no entanto, acabariam por se decidir. E mal pôde falar, de tanto que tremia:
- Ninguém precisa subir. Eu desço.
Nem podia acreditar no que viu em seguida, tão esquisito lhe pareceu tudo aquilo. Assim que lhe ouviram a voz os homens largaram as velas, o padre jogou a cruz para um lado, e saíram todos correndo, como se tivessem visto, naquele momento, Satanás em pessoa e, atrás dele, um milhão de demônios.
- Santo Deus! – gemeu o homem, benzendo-se.
Pulou da árvore e saiu correndo também, mas em direção oposta à dos outros.
Assim que o dia clareou, o peregrino voltou ressabiado, curioso para ver se descobria o que havia acontecido naquele malfadado lugar.
- Eu com medo deles e eles com medo de mim, essa é boa! – resmungava intrigado.
Foi direto à árvore e correu-lhe um frio pela espinha. Lá estava, balouçando no ar, um homem enforcado.
Então, compreendeu tudo. Os que iam retirar o criminoso enforcado, para enterrá-lo em algum cemitério, pensaram que fora o morto quem respondeu que ia descer.
Mais tarde, quando o peregrino chegou à cidade, havia lá uma grande agitação. Faziam-se grupinhos em todas as esquinas, nas praças, diante da casa do padre.
Ele parou ali, para ouvir as conversas. Diziam que um enforcado respondia ao que lhe perguntavam.
- Vai-se ver é alguém que morreu inocente – opinavam.
- É capaz.
- Que aconteceu? – perguntou o peregrino, acercando-se.
- Pois foi um criminoso enforcado, fora da cidade, num angico que há no meio do campo, e ontem à noite Seu Padre e os homens das irmandades religiosas foram buscá-lo, para fazerem o enterro dele, que é falta de caridade deixar um corpo pendurado para os urubus comerem. Pois não é que na hora de irem buscar o corpo, quando confabulavam para ver quem ia subir, o defunto falou lá em cima, que não precisava ninguém subir não, que ele descia!
O peregrino nada disse.
Em suas andanças pelo mundo havia aprendido que às vezes é de boa política ocultar a verdade.
Atravessou a cidade em silêncio, em silêncio se foi, e nunca souberam os habitantes do lugar o que havia realmente acontecido.


Do livro Lendas e fábulas do Brasil. Selecionadas, prefaciadas e recontadas por Ruth Guimarães. Ed. Cultrix.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Morreu mesmo - Lindolfo Gomes

Um novato foi mandado podar umas árvores. Como não tinha prática nesse serviço e era muito tapado, apoiou a escada num dos galhos e pôs-se a serrá-lo. Passava por ali o vigário da freguesia (o padre da paróquia) e o advertiu:
- Olha, amigo, desse modo vens abaixo!
O moço era, além de estúpido, teimoso. Sem dar maior atenção ao padre, continuou o trabalho.
O padre prosseguiu o seu caminho. Vai por um pouco... Zás! Parte-se o galho e vem ao chão tanto a escada como o podador, que ficou com um dos braços em petição de miséria.
Quando se recuperou, ficou admirado com a adivinhação do padre, e pensou consigo mesmo que, se o padre tinha adivinhado seu tombo, poderia também adivinhar o dia de sua morte. Foi ao encontro do padre e falou-lhe:
- O senhor disse que eu ia cair da árvore e, dito e feito, caí mesmo. Bem que eu queria agora que o senhor adivinhasse o dia da minha morte.
O padre achou aquilo engraçado e resolveu zombar um pouco dele.
- Olha, bem sei quando você vai morrer. Será na hora em que, indo de viagem, montado na sua mula, você a vê soltar três puns seguidos.
O rapaz agradeceu muito e foi-se.
Todas as vezes que viajava, tranquilo na ruana, ia muito atento pra ver quando a mula soltava os tais puns.
Certa feita, ao chegar a uma volta do caminho, a mula preparou-se toda e soltou um, dois, três puns...
O novato, que os havia contado com o coração aos pulos e acreditando na previsão do padre, julgou chegada a sua hora extrema, atirou-se da sela pro chão e soltou um grito:
- Morri!
Não se moveu mais, seguro de que estava morto.
Vai depois, passaram por ali uns trabalhadores que deram com ele estendido no meio do caminho. Crendo-o morto, foram buscar uma rede no vizinho mais próximo, puseram-no dentro dela e o conduziram para sua casa, rezando todo o terço.
Lá muito adiante, obra de uma légua, havia duas encruzilhadas.
Os homens ficaram indecisos: qual delas seria o caminho mais curto para chegar ao cemitério?
Começaram a teimar entre si, até que o defunto ergueu a cabeça do fundo da rede e disse-lhes:
- Olhem, amigos, no tempo que eu era vivo, o caminho mais curto era à esquerda.
Assombrados, os homens atiraram a rede ao chão com o defunto e tudo e fugiram em disparada.
Com a queda o rapaz morreu de verdade.
E a adivinhação do padre foi acertada: o bicho morreu mesmo!

(do livro Contos populares brasileiros, edições Melhoramentos)


domingo, 23 de agosto de 2015

Vejo televisão, logo penso

- TRIMMMMMMMMMMMMMMMM...
- TRIMMMMMMMMMMMMMMMM...
- Alô?
- Teco, o que você está fazendo?
- Estou vendo televisão.
- Televisão? Pra quê?
- Pra saber o que pensar.
- Puta que pariu! "Temo mal, hem"?


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Tão tão distante...


Sonda chega ao ponto mais próximo de Plutão após nove anos de viagem

Planeta-anão fica na borda do sistema solar, na órbita mais distante do sol.
New Horizons viajou quase cinco bilhões de quilômetros no espaço.



TECO - Cara, você mora muito longe daqui?
ET - Bah, é tão longe que se começo a pensar não paro mais!!

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Vocês que fazem parte dessa massa


- Teco, não consigo entender como vocês humanos conseguem, ao mesmo tempo, conceber figuras históricas geniais, como Galileu, Da Vinci, Mandela, Drummond, etc. e tal, e massas tão decadentes, como racistas, fascistas, homofóbicos, intolerantes, etc.... Consegues me explicar?
- Hum... Como você anda ácido hoje. Estou me sentindo naquela confusão intelectual que me pede pra colocar de molho todos os meus julgamentos...
- Entendi. Você já não sabe o que é certo ou errado, bom ou ruim... Só não me venha com o papo de que cada um tem a sua opinião.
- O que você quis dizer com isso?
- Massa. Boa parte de vocês é massa de manobra, manada que segue o rumo que a maioria toma!
- Putz! Hoje você tá pegando pesado com os humanos, hem?


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...