quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Geleia geral

 
De tanto ela 
se tornar irreal
cresci feito balão
depois eu sumi 
             pra todo
e nenhum lugar...

Até onde eu sei
de abelha operária
quis ser-meu-rei...
mas-me-entornei
zangão de colmeia
dividido no brete
que demarca 
            o sonho
do mundo real.

a  ta    lho   da
         ba  a  men  te

                        escalei
sacadas e janelas
para me lambuzar
               com o mel
do seu beijo fatal!

Os arquitetos

 
Perdemos o grande O. Niemeyer, mas ganhamos sua obra, a qual permanece. Ainda jovem, nosso arquiteto abandonou o ângulo reto em favor das curvas. É o que constatamos em muitos aspectos de sua obra.

Vejam onde o joão-de-barro fez sua obra...
Niemeyer e o pássaro, os dois em perfeita harmonia com a natureza!


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Não basta...


Não basta me alegrar, se estou distante do paraíso
não basta tudo vencer, se amanhece e fico triste
não basta aparecer, se quero ganhar o teu sorriso
não basta me esconder, se quero amor e auto-estima
não basta te conhecer, se não acompanho esse teu ritmo
não basta te desejar, se eu não sei como fazer
não basta me repetir, se eu não quero passar em branco
não basta me esconder, se eu não quero levar um tombo...

A lua veio me seduzir, mas me empolguei e errei o pulo!
O sol veio me consolar, mas eu surfei e caí no mundo!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O trabalho e o lavrador - Sérgio Capparelli



O que disse o pão ao padeiro?

Antes do pão, eu fui farinha,
farinha que o moinho moía
debaixo do olhar do moleiro.

O que disse a farinha ao moleiro?

Um dia eu fui grão de trigo
que o lavrador ia colhendo
e empilhando no celeiro.

O que disse o grão ao lavrador?

Antes do trigo, fui semente,
que tuas mãos semearam
até que me fizesse em flor.

O que disse o lavrador às suas mãos?

Com vocês, lavro essa terra,
semeio o trigo, colho o grão,
moo a farinha e faço pão.

E a isso tudo eu chamo trabalho.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Coração selvagem - David Coimbra



Não sei por que não escrevi nada ainda sobre o Belchior, já que ele marcou tanto minha adolescência, com suas belas canções. Para tentar pagar um pouco essa dívida, vai a seguir essa bela crônica do David Coimbra.


Esse senhor de basto bigode que zanzou feito um fantasma por Porto Alegre dias atrás, Belchior, esse senhor estranho é um símbolo. Belchior é uma estátua viva à juventude, à inconformidade, à contestação reflexiva e, também, à imaturidade.
Você pode aprender muito, se conhecer Belchior, se prestar atenção no que ele escreveu e no que ele se transformou. Belchior foi um poeta inexcedível. Repare neste verso:

“Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção.
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão”.

Não é uma bela imagem, o beijo que ela leva escondido nas dobras do blusão?
Em outro poema, Belchior tomou emprestada a verve de Olavo Bilac:

“Ora, direis, ouvir estrelas! Certo perdeste o senso. Eu vos direi, no entanto: enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”.

Bonito.
Mas o importante de Belchior não é a beleza das suas composições. O importante é quando ele confessa que a sua alucinação é suportar o dia a dia. É a alucinação de todos, certo, mas Belchior não está exagerando sobre si mesmo. Em outra canção ele diz a um parceiro:

“Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava,
De olhos abertos lhe direi:
Amigo, eu me desesperava”.

Ele se desesperava com o dia a dia, ele se desesperava ao perceber que a juventude do seu coração era perversa, uma juventude que só entendia o que era cruel, o que era paixão, porque assim é a juventude.
Belchior sabia que a felicidade é uma arma quente, mas isso não lhe serviu de consolo. A fama, o sucesso e o dinheiro não foram suficientes para aplacar a dor existencial de Belchior. Ele não se conformou. Prova-o o seu futuro, que o futuro dele está acontecendo hoje. Prova-o esse ser humano enigmático que vaga pelo sul do continente meio que sem rumo, hospedando-se em hotéis sem ter dinheiro para pagá-los, doce e arredio ao mesmo tempo, parecendo ora aflito, ora sereno, sendo hoje o que foi sempre.
Belchior ficou congelado nos anos 70. Jamais saiu de sua própria juventude e, suponho, jamais sairá. Em uma de suas grandes composições há uma frase que diz tudo sobre ele, uma frase que resume o que é o coração selvagem de quem começa a se conhecer:

“Ainda sou estudante da vida que eu quero dar”.

É isso. Belchior sabia que a vida de uma pessoa é dada a outras pessoas. Mas que vida ele queria dar? Para quem? Essas eram as perguntas que o inquietavam, e que inquietam a quem quer que pense. Olhando para o Belchior pálido de hoje fico pensando se ele, enfim, descobriu as respostas.

* Texto publicado na Zero Hora desta sexta-feira, 30 de novembro.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...