sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O repórter policial - Stanislaw Ponte Preta



Vi hoje a foto no jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Confesso que senti náuseas. A publicação dessa foto não poderia ser evitada? Por que tanta necessidade de sensacionalismo? Apenas para vender jornal? Agora eu encontrei a mesma foto no google. Aí está.
O texto abaixo, do Stanislaw Ponte Preta, ajuda a pensarmos um pouco sobre parte de nossa imprensa.
 
O reporter policial, tal como o locutor esportivo, é um camarada que fala uma língua especial. Imposta pela contingência: quanto mais cocoroca, melhor.
Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter policial é um entortado literario. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição intestinal, foi parar num hospital. Só vai pra nosocômio.
 
E assim sucessivamente. Qualquer cidadão que vai à policia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar), é logo apelidado de testemunha-chave. Suspeito é Mister X. advogado é causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada a vítima de um crime - de costas ou de barriga pra baixo - fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral.
 
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se veste, tirante a Luz del Fuego, mas basta virar vitima de crime, que a rapaziada sacha ignora o verbo comum e mete lá: a vítima trajava terno azul e gravata do mesmo tom. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao metier para morar no noticiario policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata... a manchete no dia seguinte dá lá: Suíno atacou comerciante.
 
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se - ao contrário - em vez de morrer fica estendida no asfalto, está indefectivelmente prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira facada". Desafeto - para os que são novos na turma devemos explicar que é inimigo, adversário etc. E mais: se morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
 
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os hospitais, perdão, para os nosocomios, onde sempre tem um cumpincha de plantão. O cumpincha atende lá, e ele fala: "Alô, é do Quinto? Fala Fulano. Alguma novidade? O quê? Estupro? Oba! Vou já para aí. Ou então é pro pronto-socorro: Alô. É Fulano, da Luta. Sim. Atropelamento? Ah... mas sem fratura exposta não interessa. E há também a concorrência entre os coleguinhas da crônica sangrenta, primo Altamirando, quando trabalhou nesse setor, se fez notar pela sua indiscutível capacidade profissional para o posto. Um dia, ele telefonou para o secretario do jornal:

- Alô, quem está falando é Mirinho. Olha, manda um fotógrafo aqui na estação de Cordovil, pra fotografar um cara.
 - Que é que houve?

- Foi atropelado pelo trem, está todo esmigalhado. Vai dar uma fotografia linda para a primeira página.

- O cadáver está sem cabeça?
 
-Não.
 - Então não vale a pena.
 -Não diga isso, chefe. Mande o fotógrafo que, até ele chegar, eu dou jeito de arrancar a cabeça do falecido.
 
 
do livro  Dois amigos e um chato. São Paulo: Moderna, 1986.

Samba do approach - Zeca Baleiro




Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do rush
Eu ando de ferryboat...

Eu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
Minha casa é hi-tech
Toda hora rola um insight
Já fui fã do Jethro Tull
Hoje me amarro no Slash
Minha vida agora é cool
Meu passado é que foi trash...


Fica ligado no link
Que eu vou confessar, my love
Depois do décimo drink
Só um bom e velho engov
Eu tirei o meu green card
E fui pra Miami Beach
Posso não ser pop-star
Mas já sou um noveau riche...

Eu tenho sex-appeal
Saca só meu background
Veloz como Damon Hill
Tenaz como Fittipaldi
Não dispenso um happy end
Quero jogar no dream team
De dia um macho man
E de noite drag queen...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mistério


Quando segurou minha mão
as duas teimaram em ficar.
Não sei se foi o clic de um mistério
ou a rebeldia de um desejo vespertino...
 a fração de segundo conseguiu acelerar 
                        o trem do meu coração.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Quero sofrer por amor




Quero dosar as emoções
              fazer a catarse 
                         correta

que resta a um poeta.

Sofrer por amor
não sofrer por futebol

e mandar para o inferno
                        a inveja
                          a gula 
                        o medo

me embriagar de amigos
                           amores
                          e humor

seus prazeres
              flores
      e segredos

não quero ser escravo
            e propriedade

não quero me submeter 
a qualquer feudo

quero teu amor
aleatório e casual
amor de ano novo
férias e carnaval...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Você é importante - Ricardo Azevedo



Mesmo se eu te abandonar
mesmo se eu te disser não
mesmo se eu ficar louco
e quebro tudo no chão

Mesmo se eu me encontrar
mesmo quando eu te perder
mesmo se eu nunca explicar
por que eu dei o fora

Você precisa saber
você precisa entender
pode me ouvir um instante?
Você é importante

Mas se um dia eu voltar
(tudo pode acontecer)
sei que corro o risco 
de quebrar a cara

Se você me maltratar
me ferir, me desprezar
pode me ouvir um instante?
Você é, mesmo assim
você é importante

Do livro, Ninguém sabe o que é um poema. Abril Educação.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...