domingo, 13 de novembro de 2011

Eu não o conheci - Oswaldo França Junior




Meu filho foi embora e eu não o conheci. Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo. Agora que sua ausência me pesa é que vejo, como era necessário tê-lo conhecido.

 
Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.




Um dia, na sala ele me pegou na barra do paletó e me fez examinar o seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.




Uma outra vez me pediu que consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo. Na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete dormindo e abraçado ao brinquedo velho. O novo estava num canto.




Eu tinha um filho e agora não tenho porque ele foi embora. Este meu filho, uma noite me chamou e disse:
- Fica comigo. Só um pouquinho, pai.
Eu não podia, mas a babá ficou com ele.
Sou um homem muito ocupado. Mas meu filho foi embora.




Foi embora e eu não o conheci.

do livro As laranjas iguais. 2. ed. Rio, Nova Fronteira, 1985.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Canções pra não dormir!

Teco, o poeta sonhador, em: Canções pra não dormir!







Em Canções pra não dormir!, Teco, o poeta sonhador, deita e rola. De rir – e sonhar. Faz valer o seu nome e a tarefa atribuída por Deus aos poetas: ajudá-lo a criar o mundo, todas as horas de todos os dias. Imodesto, Teco dá corda ao sonho e acorda a imaginação. Acelera as batidas do coração e as canções acordam Gabrielo, Laura, Ricardo, Florisbela... Circuito fechado, o sono perde o sono, abre o apetite e devora sonhos; quanto mais fantasia, mais tem vontade de fantasiar. A noite vira um hotel “5” estrelas e os pombos surfam em fios de alta tensão! Tentação. Peraltas Ets em ação. A poesia respira fundo e suas pernas compridas desfilam pelos palcos da invenção: o tempo é um boneco biruta e a criatividade um mosquito elétrico. E são cavalos, dinossauros, tubarões... Um mundo de poesias e canções para que todos caiam em sonho profundo! Ah, quase que me esqueço: um mundo que você está também convidado a criar e colorir, antes que o sol acorde. Então, vamos lá, lápis na mão, mãos à obra e boa viaaagem!


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Passeando na história de Ijuí - Feira do livro municipal





Uma das diversas programações da Feira do Livro, deixou a manhã dos alunos do 1º,2º e 4º ano da Escola Municipal Fundamental Dona Leopoldina mais divertida e animada.

O "Passeando na história" levou os alunos até a Usina Velha com o objetivo de resgatar a história do município e proporcionar uma atividade de estudo diferente.


O professor Américo Piovesan, do Imeab, acompanhou as crianças e foi o “guia turístico” do passeio.

O modo de geração de energia e o potencial energético foram apresentados aos alunos, o museu de fotografia e as máquinas de geração de energia também foram visitados.

O passeio acontecerá em dois horários, 9h e 14h, até sexta-feira,11 mediante agendamento no estande da Secretaria Municipal de Educação (Smed) na Praça da República.









segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ensaio



A vida é um ensaio.
Ensaiamos, como faz
       a orquestra
o tenor, o ator...

Ensaiamos até dormindo
e, acordados, deliramos os sonhos.

Mas de tanto ensaiar
pra não fazer feio
nos acostumamos a repetir
repetir sem improvisar...

Se quando crianças
os ensaios eram como passeios
          na roda gigante,
hoje os ensaios são como
concurso de vestibular.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Os diferentes estilos - Paulo Mendes Campos


Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descrever de todos os modos possiveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.


Estilo interjetivo
Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!




Estilo colorido
Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.




Estilo antimunicipalista (ou estilo Rigoniano)
Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas freqüentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por baixo do pano, a ignominosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam naquele foco de epidemias. Até quando?




Estilo reacionário (ou estilo Edsonlimesco)
Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram nesta manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se já sabe não bastasse para enfeiar aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio.




Estilo então
Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providencias necessárias. Aí então eu resolvi te contar isso.




Estilo áulico
À sobremesa, alguém falou ao Presidente que na manhã de hoje o cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O Presidente exigiu imediatamente que um de seus auxiliares telegrafasse em seu nome à familia enlutada. Como lhe informassem que a vitima ainda não fora identificada, S. Ex., com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das suas apreciadas blagues.




Estilo schmidtiano
Coisa terrivel é o encontro com um cadáver desconhecido à margem de um lago triste à luz fria da aurora! Trajava-se com alguma humildade mas seus olhos eram azuis, olhos para a festa alegre colorida deste mundo. Era trágico vê-lo morto. Mas ele não estava ali, ingressara para sempre no reino inviolável e escuro da morte, este rio um pouco profundo caluniado de morte.




Estilo Complexo de Édipo
Onde estará a mãezinha do homem encontrado morto na Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que o amamentou, ela que o embalou em seus braços carinhosos?




Estilo preciosista
No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua da Estrela-d´Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica.




Estilo Nelson Rodrigues
Usava gravata cor de bolinhas azuis e morreu!




Estilo sem jeito
Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de Rui e o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimentos são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever, mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.




Estilo fofoca
Imagina você, Tutsi, que onte eu fui ao Sacha´s, legalíssimo, e dormi de tarde. Com o tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como a Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror a gente morta!




Estilo lúdico ou infantil
Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construção por baixo. A vitima por baixo nao trazia identificação por cima. Tinha aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo.




Estilo concretista
Dead dead man man mexe mexe mexe Mensch Mensch MENSCHEIT




Estilo didático
Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teologico. Policial:o homem em sociedade; humano: o homem em si mesmo; teologico: o homem em Deus. Policia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores vêem.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...