quarta-feira, 29 de junho de 2011

Dona Santa Eduvirgens - Cezar Dias


Minha namorada, cujos olhos têm propriedade para ver o que é do mundo (flor, estrela, muro), também sabe – e muito bem – contar histórias. E, contando, ela ensina. Outro dia, à hora do almoço, aprendi que às vezes ignorar é melhor que saber, e que, ao contrário do ditado, há benefícios que vêm para o mal.
A avó dela, que teve quinze filhos, enquanto pariu, nunca visitou um consultório médico. Um tio-avô que ela tinha como pai era quem trazia à luz os pequenos Mancini. Contrariando as estatísticas é que seus rebentos nasceram e cresceram saudáveis. E assim ela também ia se mantendo.
Um dia, o útero, sempre tão solícito, cansou. Aproveitando-se desse descuido, um pequeno tumor começou a trabalhar no seu ardiloso intento. Primeiro, uma dorzinha surgiu aqui, depois ali, até que a matrona, preocupada, decidiu ir consultar.
Dona Santa Eduvirgens, cujo nome nada tinha a ver com o número de filhos que tivera, foi, pela primeira vez, à ginecologista. A doutora, formada na capital e especializada no exterior, depois de alguns exames e da melhor maneira possível, deu-lhe a notícia: “a senhora tem um câncer em estágio avançado, Dona Santa”, falou com uma voz trêmula. Depois continuou: “Sinto muito, não há o que fazer”.
“Em casa, minha avó viveu mais duas semanas”, disse minha namorada, “e, de acordo com ela mesma, tudo porque tinha ido ao médico”.

do livro Tubarão com a faca nas costas. Ministério da Educação, Coleção Literatura para todos, 2006. 

domingo, 26 de junho de 2011

Ela não é daqui



As atenções se voltam, como parabólicas bem comportadas, para julho que se atrasou.
Ela virá no inverno para trazer seu calor. Vem de incríveis conjunções dos astros, surpreendendo os mais céticos, que insistem e duelar com verdades em batalhas para ambos perdidas.
Para ela, garra vital não depende da juventude. Amor não se agarra à força bruta.
Procuro segredos nas cores e na tintura dos seus cabelos, no esmalte das unhas bem feitas, nos traçados do batom em sua boca.
Mais do que os desenhos do tempo, que molduram seu olhar, o que me surpreende é seu querer.
Ela sabe o que quer, e ri de minhas dúvidas maduras. Ela sabe onde chegar, e confia nas coordenadas de minha vida. Não importa se eu não sei. "Precisas perder o medo de amar", ela me diz.
Eu brinco com meus vacilos, nas horas mais sérias do dia.
Ela sabe que pousou no meu mundo para ficar, como as melhores músicas que foram temas de novela.
Ela trouxe tanta luz, o sol mudou sua rotina, o dia deixou de temer  a noite.
Muitas folhas em branco aguardam para que eu diga o que sinto. Folhas que se despedem no inverno, que se despem para que volte a primavera, como  livros abertos, páginas marcadas com frases que contornam nossa vida - todos vão me acompanhar pelas manhãs, porque um  sonhador foi pego de surpresa pelas delicias do seu amor.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Rio




Rio de mim
dos meus conflitos
por estar sem roupa
e por falar esquisito.
Rio quando estou só
falo alto e me tomo de assalto
então me assusto pois recordo
a água indiferente a passar
sob a ponte.
Rio do mundo:
mundo novo
velho mundo.
Rio de tudo e até mesmo
das lembranças.
Me visito:
não tenho idéias
nem platéia
além das velhas.
Rio das crenças
e mentiras verdadeiras.
Rio dos filmes que vi
e dos que deixei passar.
Rio sem graça quando penso
que posso perder o rumo sem o rumor
de uma aventura que não vivi.
Rio da vida minha arte.
Rio do dinheiro e felicidade.
Rio o tempo inteiro
só pela metade.
Rio por alimentar
o meu mundo artificial.
Rio por ser escravo conquistador.
Rio do ciúme e do amor.
Rio dos vermes
rio das traças
rio das agendas
rio das desgraças.
rio dos pobres
rio das causas
rio das canções
rio das falas
rio espontâneo
rio sem valor
rio, meu rio,
sem teu riso
nada sou!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Contação de histórias




Na sexta-feira, 17, esteve presente no Colégio Comendador Soares de Barros em Ajuricaba, o escritor Américo Piovesan, autor de livros infanto-juvenis, criador do personagem “Teco, o poeta sonhador”.


O escritor realizou contação de histórias para alunos do 4º ano a 8ª série e Ensino Médio, falou sobre a importância da leitura e autografou livros adquiridos pelos alunos.


O encontro faz parte do projeto de leitura desenvolvido na escola e visa aproximar escritores e alunos, no intuito de incentivar a formação de novos leitores e a difusão da literatura.































quinta-feira, 16 de junho de 2011

FOME


Mendigo 1:

- Eu tive dor de estômago a noite toda.

Mendigo 2:

- Eu também. Será que foi alguma coisa que a gente não comeu?

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...